Terceiro volume da obra de Maurício Francisco Caetano chega a Luanda

Terceiro volume da obra de Maurício Francisco Caetano chega a Luanda

TEXTO DE JOSÉ CAETANO EM LUANDA

Chegaram ao princípio da noite desta quarta-feira, 25 de Junho, a Luanda os primeiros dois exemplares do terceiro e último volume da colectânea póstuma «OS BANTU NA VISÃO DE MAFRANO – QUASE MEMÓRIAS», um dos quais foi oferecido no mesmo dia ao arcebispo emérito de Lubango, Dom Zacarias Kamwenho, momentos antes do seu embarque para a capital da província da Huíla.

Com um total de 327 páginas e dezoito capítulos, este volume III da colectânea de Mafrano está dividido em três partes que incluem: temas dedicados à civilização Bantu, temática religiosa, questões sociais e episódios vividos pelo autor entre os anos de 1947 e 1982.

O Arcebispo emérito do Lubango, Dom Zacarias Kamwenho, mostrou-se bastante satisfeito com a conclusão desta obra e convidou a família do autor a estar presente a 10 de Agosto deste ano no Cuanza-Sul, para apresenta-la no Sumbe, por ocasião do jubileu da sua nomeação como bispo daquela província, precisamente a 10 de Agosto de 1975.

Distinguida a título póstumo, em Novembro de 2024, com o Prémio Nacional da Cultura e Artes, na modalidade de Investigação em Ciências Humanas e Sociais, num reconhecimento unânime da sua riqueza histórica, a colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano» foi apresentada pela primeira vez na cidade do Lubango, em Abril de 2022, e semanas mais tarde em Luanda, a 14 de Maio. O segundo foi apresentado um ano depois, em Julho de 2023, enquanto este terceiro e último volume tem previsões de ser lançado muito brevemente.

A exemplo dos anteriores, o volume três desta colectânea sobre antropologia cultural Bantu inclui um ÁLBUM FOTOGRÁFICO de memórias, em que se destacam imagens como a oferta desta obra ao cardeal do Vaticano para o pelouro da cultura e educação, Dom José Tolentino de Mendonça; a presença do presidente da CEAST (Conferência Episcopal de Angola e São Tomé e Príncipe) no lançamento do volume II desta colectânea, em Luanda; a entrega do Prémio Nacional da Cultura e Artes 2024 à família; a cerimónia de apresentação na Biblioteca Nacional de Cabo-Verde, cidade da Praia, a 20 de Dezembro de 2023, com a presença do cardeal Dom Arlindo Gomes Furtado e do falecido escritor e ex-diplomata cabo-verdiano Eugénio Inocêncio, e outras memórias do autor e de contemporâneos seus, com enfase para o ex-embaixador de Angola no Vaticano, José Bernardo Domingos “Kiosa” e do seu amigo e fiel companheiro de tertúlias literárias, Lídio Marques da Cunha.
Destaque ainda para a presença da escritora moçambicana Paulina Chiziane no Lubango, província da Huíla, ao lado de Dom Zacarias Kamwenho, autor do prefácio desta obra histórica.

Terceiro volume da obra de Mafrano (Maurício Francisco Caetano)

A neta de Maurício Francisco Caetano, Luisíndia Caetano, entrega o terceiro volume ao arcebispo emérito de Lubango, Dom Zacarias Kamwenho

Os bantu na visão de Mafrano — Volume I
Os Bantu na visão de Mafrano — Volume I
Os Bantu na visão de Mafrano — Volume II
Os Bantu na visão de Mafrano — Volume II
Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias — Volume III
Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias — Volume III

Jornalistas, investigadores e historiadores angolanos encerram presença da Perfil Criativo | AUTORES.club na 95.ª Feira do Livro de Lisboa

Jornalistas, investigadores e historiadores angolanos encerram presença da Perfil Criativo | AUTORES.club na 95.ª Feira do Livro de Lisboa

Parque Eduardo VII, Domingo, 22 de Junho de 2025

O último domingo da Feira do Livro de Lisboa foi marcado por uma intensa e plural celebração da literatura angolana. Entre sessões de autógrafos, debates sobre a edição de livros e reflexões críticas sobre o papel do jornalismo e da história, a Perfil Criativo | AUTORES.club encerrou a sua participação com uma jornada memorável que mobilizou leitores, autores, investigadores e jornalistas.

15h00 – Sessões em dois palcos

Junto ao stand D48Eugénio Monteiro Ferreira recebeu leitores e apresentou a sua mais recente obra Kimamuenho: Intelectual Rural (1913–1922) (2025), uma pesquisa profunda sobre uma figura marcante do pensamento rural angolano no início do século XX. O autor partilhou bastidores do trabalho de arquivo e conversou com leitores interessados na história intelectual africana.

Em simultâneo, no Auditório Norte, decorria o debate “Publicar livros em Angola: desafios e caminhos”, com a participação de Tomás Lima Coelho (escritor e investigador), Sedrick de Carvalho (jornalista e coordenador da Elivulu), Armindo Laureano (autor e jornalista e director do Novo Jornal), e Catarino Luamba editor independente presente na assistência.

A conversa destacou as dificuldades da produção editorial em Angola: da escassez de apoios à falta de canais de distribuição e à necessidade de publicar obras em línguas nacionais com menor presença. O público participou com entusiasmo, especialmente quando foi apresentada a edição de “Autores e Escritores de Angola (1642–2022)” (Ed. 2024), uma obra de referência coordenada por Lima Coelho e Sedrick de Carvalho.

16h00 – Sessão de autógrafos

Após o debate, Sedrick de Carvalho e Tomás Lima Coelho estiveram no stand da editora para uma sessão de autógrafos. Os dois autores aproveitaram para falar em privado do livro Autores e Escritores de Angola (1642–2022) revelando o papel das bibliografias como ferramentas de investigação cultural.

18h00–20h00 – Um grande encontro com a literatura e a comunicação social angolana

O Auditório Norte voltou a encher para uma sessão que juntou três autores e três livros, numa apresentação conjunta, Há Dias Assim… (2024), de Armindo Laureano, Ensaios – I (2024), de Eugénio Costa Almeida, Angola: Cinco Séculos de Guerra Económica (2025), de Jonuel Gonçalves.

A conversa sobre a Comunicação Social na República de Angola contou com a participação especial da jornalista Luzia Moniz. Falou-se da censura económica, do jornalismo de opinião, da crítica literária, do papel dos media no desenvolvimento democrático, e da escassez de acesso a jornais em várias regiões de Angola.

Os autores apresentaram depois os seus livros: Armindo Laureano revelou os bastidores da redacção e destacou o compromisso com a crónica política e o olhar de proximidade sobre o quotidiano destacando particularmente a voz das senhoras nas páginas de opinião do semanário Novo Jornal; Eugénio Costa Almeida expôs a importância do ensaio como forma de intervenção intelectual, numa selecção de textos que cruzam política, cultura e ciência tendo o jornalista Armindo Laureano lido o surpreendente prefácio de Celso Malavoloneke; Jonuel Gonçalves que acabou por não falar, tinha acabado de chegar a Lisboa de uma cansativa viagem que atravessou o Atlântico, trazia como tema a perspectiva histórica ampla, mostrando como Angola foi, durante séculos, cenário de sucessivas formas de exploração económica.

A sessão foi vivamente participada, com perguntas do público e intervenções que prolongaram o debate na sessão de autógrafos. O auditório esteve lotado e a energia sentida entre leitores e autores deu ao encerramento da Feira do Livro de Lisboa um tom de celebração.

Porto, Belém e novos lançamentos

Antes da despedida, o editor da Perfil Criativo | AUTORES.clubJoão Ricardo Rodrigues, anunciou a presença da editora na Feira do Livro do Porto (22 de Agosto a 7 de Setembro), e na Festa do Livro em Belém (4 a 7 de Setembro), acrescentando que novos lançamentos de grande relevo estão previstos até ao final do ano, com especial atenção à literatura angolana e às temáticas africanas.

Balanço final

A presença angolana na Feira do Livro de Lisboa não terminou com aplausos formais, mas com conversas prolongadas, trocas de contactos e promessas de reencontro. A literatura revelou-se, mais uma vez, um território de memória, combate e criação.

Uma verdadeira festa do livro, da crítica e do pensamento angolano — no coração de Lisboa.

Entrega do terceiro volume da extraordinária obra de Mafrano

Entrega do terceiro volume da extraordinária obra de Mafrano

Lisboa, 22 de Junho de 2025 — No passado domingo, durante a Feira do Livro de Lisboa, realizou-se um momento simbólico e de grande significado cultural: a entrega, em nome da família de Maurício Francisco Caetano (1916-1982), de um dos primeiros exemplares do terceiro volume da obra Os Bantu na Visão de Mafrano ao Prof. Doutor José Octávio Serra Van-Dúnem, secretário do Prémio Nacional de Cultura e Artes da República de Angola.

O gesto, que decorreu no Auditório Norte, representou o agradecimento ao júri do Prémio Nacional de Cultura pelo seu trabalho e revelar que a nova edição apresenta na capa a marca do prémio recebido e que muito dignifica esta obra.

Identidade angolana

O terceiro volume de Os Bantu na Visão de Mafrano aprofunda as abordagens filosóficas, sociológicas e cosmológicas da visão bantu, tal como interpretadas por Mafrano. Esta obra centra-se em temas como a concepção do tempo e da ancestralidade, o papel da oralidade e da memória, bem como os fundamentos morais e metafísicos das comunidades bantu. Trata-se de uma reflexão crítica e contextualizada que contribui para uma compreensão mais densa da cultura angolana em diálogo com os saberes tradicionais.

O volume integra-se numa trilogia iniciada nos anos 1950, que ao longo dos últimos anos tem sido relida e reeditada com o objetivo de promover uma recuperação crítica do pensamento a partir de dentro, dando visibilidade às categorias culturais próprias da África subsaariana.

Grandes encontros em Lisboa

O encontro com o Prof. Doutor José Octávio Serra Van-Dúnem — sociólogo, professor universitário e figura central da política cultural — decorreu num dia particularmente intenso de programação angolana na Feira do Livro de Lisboa, que reuniu autores, jornalistas, investigadores e leitores em torno da literatura, da história e da identidade nacional.

A entrega do volume, feita com emoção e sentido de continuidade, reforça a importância da memória bibliográfica angolana e da sua salvaguarda para as futuras gerações.

Grande encerramento na Feira do Livro de Lisboa 2025!

Grande encerramento na Feira do Livro de Lisboa 2025!

No dia 22 de junho, o Auditório Norte será palco de uma maratona literária imperdível com apresentações e sessões de autógrafos de obras que nos fazem pensar Angola — no passado, no presente e no que ainda está por vir.

15h00 | “Kimamuenho: Intelectual Rural (1913-1922) de Eugénio Monteiro Ferreira
18h00 | “Há Dias Assim… de Armindo Laureano
19h00 | “Ensaios – I de Eugénio da Costa Almeida
20h00 | “Angola: Cinco Séculos de Guerra Económica de Jonuel Gonçalves

E a partir das 15h00, sessão extra de autógrafos no stand D-48 – Poente 4 (PROMOBOOKS.NET | PAPA-LETRAS) com os autores de:
Autores e Escritores de Angola (1642–2022), de Tomás Lima Coelho e Sedrick de Carvalho
Prisão Política de Sedrick de Carvalho

Tambwokenu – Viagens Pela Minha Terra” de Sandra Poulson

Venha descobrir histórias poderosas, refletir sobre a realidade angolana e conversar diretamente com os autores.

Não perca este dia repleto de cultura, memória e literatura!

Feira do Livro de Lisboa
Feira do Livro de Lisboa: Intelectual rural 1913-1922
de Eugénio Monteiro Ferreira 
Feira do Livro de Lisboa
Feira do Livro de Lisboa: Há Dias Assim…
de Armindo Laureano 
Feira do Livro de Lisboa
Feira do Livro de Lisboa: Ensaios I
(Compilação de textos, comentários, palestras e conferências – Entre 2007 e 2018)

de Eugénio da Costa Almeida 
Feira do Livro de Lisboa
Feira do Livro de Lisboa: Angola – Cinco Séculos de Guerra Económica
de Jonuel Gonçalves 

“Nuvem Negra – O Drama do 27 de Maio de 1977” em destaque na RFI 

“Nuvem Negra – O Drama do 27 de Maio de 1977” em destaque na RFI 

No dia 11 de junho de 2025, a Rádio France Internationale (RFI) destacou a reedição em Portugal do livro Nuvem Negra – O Drama do 27 de Maio de 1977, da autoria de Miguel Francisco “Michel”. Esta obra relata, na primeira pessoa, a experiência de um sobrevivente dos campos de concentração criados após os acontecimentos de 27 de maio de 1977, em Angola.

Veja aqui a reportagem da RFI (texto e vídeo):
Reedição em Portugal de livro sobre o 27 de Maio de 1977 em Angola – RFI

Onde comprar Nuvem Negra

LivrariaPreçoDestaque
WOOK15,30 € (PVP: 17 €)Promoção ativa
AUTORES.club17,00 €Envio rápido (2 a 4 dias úteis)
Bertrand.pt15,30 € (PVP: 17 €)Portes grátis em Portugal
FNAC.pt17,00 €Disponível online

Uma obra essencial para a memória histórica

Nuvem Negra é mais do que um livro — é um testemunho poderoso sobre um dos períodos mais traumáticos da história recente de Angola. O autor, Michel, descreve com coragem a repressão política de 1977, as detenções arbitrárias, os campos de concentração e os desaparecimentos forçados.

A reedição desta obra pela Perfil Criativo | AUTORES.club surgiu no contexto dos 48 anos dos acontecimentos, tendo sido lançada oficialmente em Lisboa a 27 de maio de 2025, na Biblioteca Palácio Galveias, com a presença de diversas personalidades da cultura e da academia.

Sessões e destaques

Apresentação oficial: 27 de maio, Biblioteca Palácio Galveias, Lisboa

Participação na Feira do Livro de Lisboa 2025, com sessões de autógrafos e debates

Destaque na imprensa, incluindo o programa Artes da RFI

Contexto histórico — O 27 de Maio de 1977

A 27 de maio de 1977, em Luanda, uma tentativa de protesto contra o regime do MPLA resultou numa violenta repressão. Milhares de pessoas foram presas, torturadas e executadas sem julgamento. Décadas depois, o tema permanece sensível, mas cada vez mais urgente de ser discutido.

Nuvem Negra é uma contribuição fundamental para essa discussão, dando voz a quem sobreviveu para contar.

Ajude-nos a divulgar esta obra essencial!

Partilhe esta notícia e apoie a leitura de obras que preservam a memória histórica em língua portuguesa.

“Angola e o Atlântico” encerra jornada cultural com debate vibrante sobre colonialismo

“Angola e o Atlântico” encerra jornada cultural com debate vibrante sobre colonialismo

O encerramento do ciclo de apresentações do dia 10 de junho de 2025, promovido pela Perfil Criativo | AUTORES.club na Feira do Livro de Lisboa, deu-se com a apresentação de um livro vocacionado para estudantes universitários Angola e o Atlântico: Colonialismo, Colonialidade e Epistemologia Descolonial, de Luís Gaivão — um momento de forte densidade intelectual e cultural.

A sessão contou com a presença especial do jornalista angolano Gabriel Baguet Jr, convidado pelo editor João Ricardo Rodrigues para compor a mesa de honra e dialogar com o autor sobre o conteúdo e o impacto da obra.

Luís Gaivão iniciou a sua intervenção com uma explicação abrangente sobre o livro, abordando temas centrais como o legado do colonialismo, a persistência da colonialidade e os desafios de pensar Angola com epistemologias descoloniais. As suas palavras geraram uma reação imediata da plateia, que se envolveu num debate vivo e participativo sobre a história, a identidade e os caminhos da Angola contemporânea.

O autor partilhou ainda as suas experiências pessoais em Luanda: primeiro como kandengue, até aos onze anos, e décadas depois, como Adido Cultural da Embaixada de Portugal em Angola. Essa vivência direta deu profundidade ao seu testemunho e reforçou o valor do seu trabalho.

Gabriel Baguet Jr retomou a conversa com uma abordagem centrada na importância da cultura como instrumento de afirmação internacional de Angola. Destacou Luanda como espaço de efervescência criativa e reforçou o papel da cultura na construção de uma narrativa angolana autónoma e plural.

No final, Luís Gaivão apresentou um conjunto alargado de livros de sua autoria, todos com Angola como ponto de partida e de chegada, reafirmando o seu compromisso com a investigação, a escrita e o pensamento sobre o País.

Com esta apresentação, a editora Perfil Criativo | AUTORES.club encerrou um dia memorável na Feira do Livro de Lisboa, marcado por três livros, três momentos intensos e uma multiplicidade de vozes que revelaram Angola sob diferentes prismas culturais e intelectuais.

Este livro foi considerado em 2023, pelo Centro Nacional de Cultura (Portugal), como uma das mais importantes obras publicadas em livro

“Expansão” lota auditório e abre espaço para um debate frontal sobre Angola

“Expansão” lota auditório e abre espaço para um debate frontal sobre Angola

Num dia em que a Feira do Livro de Lisboa recebeu milhares de visitantes, a apresentação do livro Editoriais do Expansão (2019–2021), da autoria de João Armando, atraiu tal interesse que o Auditório Norte revelou-se pequeno para acolher todos os que quiseram ouvir e debater sobre a actual realidade de Angola.

Na mesa de honra estiveram três protagonistas do jornalismo e da edição de pensamento crítico e da democratização do conhecimento: João Armando, diretor do semanário económico ExpansãoArmindo Laureano, diretor do Novo Jornal; e João Ricardo Rodrigues, editor da Perfil Criativo | AUTORES.club, responsável pela publicação da obra.

João Armando começou por partilhar com a assistência o processo exigente e criterioso de construção de um editorial semanal, explicando o papel de responsabilidade que cada jornalista deve assumir. Com firmeza e serenidade, contou episódios em que agentes do poder – ministros e responsáveis institucionais – tentaram influenciar a linha editorial do Expansão. A sua resposta, sempre clara, tem sido: “Façam bem o vosso trabalho, que eu farei o meu.” Uma afirmação que ecoou com força entre os presentes.

João Armando e Armindo laureano na Feira do Livro de Lisboa
Os jornalistas João Armando e Armindo Laureano na Feira do Livro de Lisboa

Durante o diálogo com o público, surgiu a inevitável questão sobre a Democracia na República de Angola. João Armando respondeu com clareza: exerce o jornalismo de forma profissional e independente, afirmando que o único ativo que possui é a credibilidade do seu jornal. Detalhou ainda os desafios da gestão financeira de um projeto editorial privado, num ambiente frequentemente hostil.

Armindo Laureano, autor do livro de editoriais “Há dias assim…“, reforçou essa visão, sublinhando o esforço constante para preservar a credibilidade e autonomia do Novo Jornal, contrastando com a situação da imprensa pública angolana. Relatou inclusive episódios de intimidação e a invasão das instalações do seu jornal — um testemunho que marcou a audiência.

A participação foi intensa, com o público a ultrapassar largamente os lugares disponíveis. A sessão de autógrafos, que se seguiu à conversa, prolongou-se por muitas horas, num sinal claro do interesse despertado pelo tema e pela obra.

O editor da Perfil Criativo | AUTORES.club concluiu destacando que a parceria com a Comunicação Social livre de Angola representa uma oportunidade para conhecer a República de Angola a partir de dentro, ouvindo vozes que resistem, informam e constroem pensamento.

Lisboa celebra a cultura e a literatura angolana

Lisboa celebra a cultura e a literatura angolana

A apresentação do livro Evangelho Bantu, da autoria do poeta Kalunga, realizou-se conforme previsto às 15h00 do dia 10 de junho, no Auditório Norte da Feira do Livro de Lisboa 2025. Mais do que uma simples apresentação, o momento transformou-se numa rica conversa literária entre o autor, João Fernando André e o editor João Ricardo Rodrigues.

João Fernando André ofereceu à assistência uma envolvente resenha histórica da literatura angolana, começando pelos autores do século XIX, passando pela vibrante geração dos anos 40 do século XX e chegando aos escritores ligados à luta pela independência e à criação da República de Angola. Destacou, com entusiasmo, a emergência da chamada “Nova Poesia de Angola”, rótulo atribuído pela editora Perfil Criativo | AUTORES.club, que vê em Kalunga uma das vozes mais promissoras desta nova vaga.

O diálogo culminou com uma reflexão profunda sobre as línguas regionais de Angola. João André defendeu o português como língua nacional, mas sublinhou a importância de preservar e valorizar as línguas locais. Recordou que, durante o período colonial, existiram jornais escritos em línguas regionais, algo que hoje desapareceu do panorama editorial. Apontou, no entanto, o papel ainda ativo da rádio e televisão na divulgação dessas línguas, lamentando a ausência de imprensa escrita contemporânea nesse domínio.

A plateia da Feira do Livro de Lisboa acompanhou com grande atenção e interesse esta sessão que se revelou um verdadeiro tributo à identidade cultural angolana. No final, Kalunga foi calorosamente aplaudido e recebeu um abraço da escritora angolana Luísa Fresta, num gesto que simbolizou o reconhecimento e a continuidade da tradição literária de Angola.

Nota do Editor: Foi vista uma reconhecida figura pública da área financeira, hoje governador de uma província do Sul, a rondar o auditório onde decorria a apresentação. No entanto, acabou por não ganhar coragem para se juntar ao povo da Feira do Livro de Lisboa para ouvir a excelente intervenção de João Fernando André sobre as culturas de Angola. Ficou uma pergunta no ar: estarão estas elites conscientes da existência da chamada “Nova Poesia de Angola”?

“Venho do Sul, quero conhecer o Norte (…)”

Irmã Isabel Mata, memória viva de O Apostolado, reencontra-se com a família de Mafrano aos 95 anos

Irmã Isabel Mata, memória viva de O Apostolado, reencontra-se com a família de Mafrano aos 95 anos

Coimbra, junho de 2025 – Um momento emocionante e histórico marcou o recente encontro entre a Irmã Isabel Mata, hoje com 95 anos, e dois dos filhos de Maurício Francisco Caetano, conhecido pelo pseudónimo “Mafrano”. A religiosa, figura discreta mas fundamental na história da imprensa católica em Angola, fez parte da equipa de redação do jornal O Apostolado, em Luanda, durante décadas. Nas imagens, a Irmã Isabel Mata aparece em sua residência em Coimbra, rodeada por exemplares da obra Os Bantu na visão de Mafrano, que revisita o pensamento e o legado de Maurício Francisco Caetano, de quem foi colega na redação do jornal da Conferência Episcopal de Angola. Apesar de já não ir a tempo de ser incluída no Volume III da coleção dedicada a Mafrano, os organizadores já garantem: “Fica para a próxima coleção.” O reencontro, carregado de simbolismo, reforça os laços históricos e afetivos entre antigos colaboradores do jornal católico e as novas gerações empenhadas em preservar a memória cultural e intelectual angolana. Na ficha técnica de O Apostolado, constam nomes como P. Pedro Luís, Padre António Morais, Maurício Caetano e Maria Isabel Mata, que assumiu também funções técnicas e de ilustração, sob a direção de Manuel Franklin da Costa.

Este gesto de homenagem e reconhecimento serve também como apelo à valorização dos protagonistas muitas vezes esquecidos da história da comunicação social em Angola.

Reportagem: Um diálogo entre fé, direito e história

Reportagem: Um diálogo entre fé, direito e história

Lisboa, Feira do Livro — Um encontro entre culturas e saberes

No topo da Feira do Livro de Lisboa, decorreu a apresentação da obra Direito Eclesiástico Angolano à Luz do Acordo Quadro entre a República de Angola e a Santa Sé, da autoria do padre Clément Mulewu Munuma Yôk. Natural do Congo Democrático, residente e missionário em Angola, o padre é também jurista e estudante de mestrado em Direito Civil Eclesiástico em Lisboa. O evento reuniu público interessado, figuras religiosas e académicas, e contou com três intervenções de destaque.

A sessão foi aberta por João Ricardo Rodrigues, editor da Perfil Criativo | AUTORES.club, que salientou a importância do livro e o percurso do autor:

“Estamos a falar de um dos nossos autores com quatro livros publicados. Esta é uma obra profundamente necessária para compreender a relação entre o Estado Angolano e a Igreja Católica. Um livro que, além do seu rigor jurídico, presta um serviço à memória histórica e à identidade cultural.”

O editor sublinhou ainda o valor simbólico de apresentar a obra em Lisboa, aproveitando a presença do autor em Portugal, onde prossegue os seus estudos académicos.

O Padre Clément Mulewu Munuma Yôk iniciou a sua intervenção agradecendo à organização da Feira do Livro de Lisboa e ao editor, explicando o percurso que o levou à publicação deste livro:

“Sou sacerdote, missionário e advogado. Trabalhei nas prisões em Angola e no Congo, e vi de perto os desafios humanos e espirituais da justiça. Este livro nasce de uma preocupação pastoral e jurídica: dar a conhecer e ajudar a aplicar o Acordo Quadro assinado em 2019 entre Angola e a Santa Sé.”

Ao longo da apresentação, o padre Clément destacou os principais tópicos do livro, dividido em três capítulos:

  1. História das relações entre a Igreja e o Estado em Angola.
  2. Fundamentos e condições da Concordata.
  3. Análise detalhada do Acordo Quadro.

Entre os temas abordados, destacou-se o reconhecimento jurídico das igrejas, a assistência religiosa em instituições públicas, o regime fiscal da Igreja, a educação católica e os efeitos civis do matrimónio canónico.

“O nosso objetivo foi explicar, cláusula por cláusula, este instrumento legal. É um contributo não apenas para católicos, mas também para juristas, agentes do Estado e membros de outras religiões.”

O autor aprofundou ainda a dimensão histórica das relações entre Angola e o Vaticano, remontando ao Reino do Congo, e sublinhou a importância da inculturação no cristianismo africano, onde “a fé se exprime através da cultura local — na música, na dança, no rito”.

Coube ao cónego, doutor José Manuel dos Santos Ferreira, uma intervenção pontual mas significativa, ao sugerir que “o príncipe do Reino e império do Congo terá sido ordenado bispo”, hipótese que o padre Clément confirmou com entusiasmo:

“O filho da rainha estudou, fruto da evangelização, e essa nomeação foi expressão da fé vivida na região. Há muito que o Vaticano reconhece a África como um pulmão vital da Igreja.”

O diálogo entre os intervenientes revelou a atualidade e pertinência do tema, estendendo-se ainda a questões relacionadas com a missão, a evangelização e o sistema prisional.

Missão e prisões — o outro lado da obra do autor

A conversa resvalou para temas de justiça social, com o padre Clément a partilhar a sua experiência com reclusos:

“As prisões estão superlotadas em África e na Europa. Mas o problema não é só estrutural: é espiritual, humano. A missão da Igreja é reeducar, reintegrar, reconciliar. A prisão moderna precisa de aprender com o tribunal tradicional africano, que promovia a reconciliação e não a vingança.”

Conclusão: Uma ponte entre dois mundos

A apresentação do livro Direito Eclesiástico Angolano revelou-se mais do que a descoberta de um livro: foi um testemunho vivo da ligação entre fé, direito, cultura e história. A obra, está disponível na plataforma www.AUTORES.club, e convida o leitor a refletir sobre o papel da Igreja na sociedade moderna e a compreender melhor a riqueza das tradições africanas no seio do catolicismo global.

Direito Eclesiástico Angolano – À luz do Acordo-Quadro entre a República de Angola e a Santa Sé (2019)
Direito Eclesiástico Angolano – À luz do Acordo-Quadro entre a República de Angola e a Santa Sé (2019)