Crítica Literária de Su Maia* [1]: “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa)

Crítica Literária de Su Maia* [1]: “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa)

7/10

Rating: 3.5 out of 5.

Em questão de conotações formais, teria de categorizar o livro “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa) como 7/10 e passo já a justificar o porquê disso:

MÚRCIA” aborda de forma equiparada as suas temáticas, no sentido em que, em termos de pontos positivos, esta obra mostra-nos um lado oculto da homossexualidade em Cabo Verde, de forma realista, dando-nos elementos de libertação (flamingo, garoupa, cavalo, etc) do lado animal do ser, que ruge face à opressão! 

O armário, surpreendente, quebra o seu estereótipo e aparece como, na minha opinião,  uma segunda vida, bem como a ilusão de alcançar algo que a empatia falsa da máscara nos proíbe:

” — E se a máscara toma conta do indivíduo?

— É outro risco que o indivíduo corre.” – Eugénio Inocêncio (Dududa) em “MÚRCIA“.

Dentro da temática da empatia, o capítulo de “contextualização” foi absolutamente delicioso, pela maneira como abordou por exemplo, as parecenças e diferenças entre democracia e ditadura.

Entre os pontos positivos devo ainda salientar como a ideia do divino é lançada de forma assombrosa.

Porém, devo confessar que a ideia de que as consequências surgem como punições intrínsecas e não extrínsecas (ou seja, é uma reforma íntima de cada pessoa), foi algo que, para mim, criou uma descredibilização de todo o percurso a que o livro se predispôs desde o início, dando a ideia de duas correntes literárias opostas na mesma obra.

A minha personagem preferida foi o Tchibiliu, que é apresentado como uma não-pessoa dentro seu círculo — de certa forma, uma pessoa que nunca chega a existir para os seus parceiros — tornando-se na narrativa um personagem-adereço cujo propósito é somente servir de acessório à criação de uma outra personagem.

Por fim, gostava de elogiar o autor pela sua graciosa auto inserção passiva no livro, insinuando a importância dos seus próprios escritos na sociedade cabo-verdiana.


* Su Maia é uma dramaturga e atriz do Porto, formada na área de Interpretação pela Academia Contemporânea do Espetáculo.

Por entre as suas enumeras paixões, surge a arte crítica literária. Adora ler e esmiuçar as suas leituras, a fim de convencer as pessoas a dar uma oportunidade aos livros que a apaixonam.

A única coisa maior do que o seu amor à literatura é a sua lista de livros por adicionar à suas estantes.


Narrating Namibia, Narrating Africa Literary Festival

Narrating Namibia, Narrating Africa Literary Festival

A capital Windhoek (Vinduque), da Namíbia, recebe esta semana encontro literário com o título NARRATING NAMIBIA, NARRATING AFRICA LITERARY FESTIVAL, uma série de conversas organizadas pela Sociedade Científica da Namíbia, de 7 a 9 de Setembro de 2022, na Avenida Robert Mugabe, 110. As sessões começam às 18h00 e a entrada é gratuita.

7 DE SETEMBRO DE 2022
“Night of the Poets”, participam Hugh Ellis, Keamogetsi Joseph Molapong, Mimi Mwiya e Prince Kamaazengi, moderados por Sylvia Schlettwein e Rémy Ngamije, editor chefe da revista Doek!.

8 DE SETEMBRO DE 2022
“Writing Back For The Future”, participam Lauri Kubuitsile, Chuma Nwoloko e Valerie Tagwira, moderados por Annette Bühler-Dietrich e Rémy Ngamije.

9 DE SETEMBRO DE 2022
“Continental Violence, African Silence” participam George Seremba e Hugh Ellis, moderados por Joseph Molapong e Sylvia Schlettwein.

“Prisão Política” marcada para 11 de Setembro de 2022

“Prisão Política” marcada para 11 de Setembro de 2022

5/9/2022 — No próximo Domingo, 11 de Setembro, às 14h30, a Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, irá receber o antigo preso político de Angola (2015 a 2016), interveniente no processo judicial 15+2, para nos revelar as suas memórias de cárcere no livro “Prisão Política” (Ed. 2021) .

O relato começa a 20 de Junho de 2015, na Vila Alice (Luanda) quando um grupo de jovens se encontrou no ILULA para realizar uma leitura colectiva da obra “Da Ditadura à Democracia”, de Gene Sharp. Estes jovens foram violentamente presos por uma força especial de intervenção rápida do Serviço de Investigação Criminal (SIC), e mais tarde, assistiram a um bizarro julgamento no qual foram acusados de terrorismo. Sofreram uma prisão prolongada até 29 de Junho de 2016, data em que foram libertados por ordem do Tribunal Supremo.

Biblioteca Almeida Garrett recebe poeta desterrado

Biblioteca Almeida Garrett recebe poeta desterrado

5/9/2022 — Ontem o livro “Egosismo (o sismo de magnitude máxima que atingiu o meu ego). Poemas escritos entre fins de 1975 (saída de Angola) e 1980” (Ed. 2022), de Orlando Castro, integrado na colecção “Poesia no Bolso“, e publicado pela Alende (Angola) e Perfil Criativo (UE – Portugal) foi apresentado na Biblioteca Almeida Garrett, nos jardins do Palácio de Cristal, um evento integrado na Feira do Livro do Porto 2022.

Orlando Castro nasceu em 1954 em Nova Lisboa, Huambo, Angola. Jornalista com carteira profissional nº 480, é actualmente director adjunto do jornal Folha 8. Autor de várias obras como:

— “Algemas da Minha Traição” (Ed. 1975),
— “Açores – Realidades Vulcânicas” (Ed. 1995)
— “Ontem, Hoje… e Amanhã?” (Ed.1997).
— “Memórias da Memória” (Ed. 2001).
— “Alto Hama – Crónicas (diz)traídas” (Ed. 2006).
— “Cabinda – ontem protectorado, hoje colónia, amanhã Nação” (Ed. 2011).
Co-autor dos 16 volumes da colecção “Guerra Colonial – A História na Primeira Pessoa”, distribuída em 2011 pelo “Jornal de Notícias” e “Diário de Notícias”.
— “António Marinho e Pinto – Mudar Portugal” (Ed. 2015).

Durante o encontro na Feira do Livro do Porto foi apresentada esta nova e desconhecida faceta, de Poeta, de Orlando Castro ao mesmo tempo que foi sublinhado a importância do trabalho realizado pelo jornal Folha 8, e a necessidade de existir na República de Angola uma Comunicação Social profissional e independente do poder político. O editor agradeceu também a oportunidade que o jornal tem dado aos jovens na publicação de artigos originais.

A Biblioteca Municipal Almeida Garrett é uma biblioteca pública situada nos Jardins do Palácio de Cristal, na freguesia de Massarelos, na cidade do Porto, Portugal. O edifício, da autoria do arquitecto José Manuel Soares aloja, para além da biblioteca, uma galeria, uma cafetaria com esplanada e um pequeno auditório.

Participaram neste encontro o interventivo Dr. Paulo Morais, presidente da Frente Cívica, responsável por trazer o tema da corrupção para a agenda mediática, e o juiz Dr Rui Moura, natural do planalto central em Angola.

O presidente da Frente Cívica, Dr. Paulo Morais, visitou o pavilhão 76 da Feira do Livro do Porto 2022 e ficou regozijado com os surpreendentes livros de autores angolanos

Sinais de tempestade acordam o “Pensador”

Sinais de tempestade acordam o “Pensador”

4/9/2022 — Hoje a cidade do Porto acordou com um forte vento e nuvens carregadas de tempestade. Os gloriosos e inéditos volumes da História de Angola, do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, são “Livro do Dia” na Feira do Livro do Porto, em condições muito especiais, motivos para trazer ao nosso pavilhão (76) o “Pensador de Angola”. Mais logo, pelas 19h45, na Biblioteca Almeida Garrett a poesia de Orlando Castro vai cantar Angola. A biblioteca está a 100 metros do nosso pavilhão.”

Pensamento de Marcolino Moco em destaque na Feira do Livro do Porto

Pensamento de Marcolino Moco em destaque na Feira do Livro do Porto

3/9/2022 — Os livros do Prof. Doutor Marcolino José Carlos Moco “Contribuição para Um Novo Pensamento Jurídico Pan-Africano e Direito de Integração Regional” (Ed. Dezembro 2019) e “Angola: Por Uma Nova Partida” (Ed. Fevereiro 2020) são Livro do Dia na Feira do Livro do Porto.

O público da cidade invicta tem mostrado um grande interesse na edição da Marmoco Criações “Angola, Estado Nação ou Estado Etnia-Política?” (Ed. 2016), apresentado na Liga Africana em Luanda, em 2019.

Marcolino Moco foi primeiro-ministro de Angola, de 1992 a 1996 e secretário-executivo da CPLP  (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) de 1996 a 2000.

Descendente de uma importante linhagem de chefes tradicionais Ovimbundu, conhecidos em Angola pela designação de sobas, um dos quais foi Tchítue, fundador da aldeia onde nasceu, na província do Huambo.

Actualmente é docente universitário, advogado, consultor, conferencista e interventor cívico-político no domínio jus-constitucional, dos direitos humanos e na construção de uma República moderna e democrática em Angola.

TOP dos livros mais vendidos na Feira do Livro do Porto 2022

TOP dos livros mais vendidos na Feira do Livro do Porto 2022

A Feira do Livro do Porto é um certame que se realiza anualmente, desde 1930, na cidade do Porto. As nossas editoras passaram a estar presentes neste festival literário desde 2021.

Este ano o pavilhão (76) está localizado junto à Capela Carlos Alberto, que é considerada o maior cenotáfio romântico em Portugal.

No passado Domingo, 11 de Setembro de 2022, terminámos a nossa presença na Feira do Livro do Porto. Dezenas de milhares de leitores da cidade invicta observaram as nossas surpreendentes edições, e uma pequena parte escolheu para ler os autores e os livros sobre Angola.

No TOP de vendas, em número de exemplares vendidos, no nosso pavilhão (76) na Feira do Livro do Porto (26/8/2022 – 11/9/2022), ficou destacado em Primeiro Lugar, a “Crónica da fundação do Huambo | Nova Lisboa — 5ª edição, inclui fotografias da época“, de Xavier de Figueiredo, com 11,4% das vendas.

Em Segundo Lugar registámos o livro de memórias de Victor Torres, “Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX“, com 8,11% das vendas.

Em Terceiro Lugar com 7,43% das vendas, a surpreendente reedição do livro “Senhores do Sol e do Vento — Histórias verídicas de Portugueses, Angolanos e outros Africanos“, de José Bento Duarte.

Por fim em Quarto Lugar nas vendas, com 4,73%, o primeiro volume da colecção “Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase memórias — Volume I“, do “antropólogo maior de Angola” Maurício Francisco Caetano (1916–1982).


TOP dos leitores da Feira do Livro do Porto 2022 (26/8/2022 – 5/9/2022):

PRIMEIRO LUGAR:

Crónica da fundação do Huambo | Nova Lisboa — 5ª edição, inclui fotografias da época (11,58%)

SEGUNDO LUGAR:

Senhores do Sol e do Vento — Histórias verídicas de Portugueses, Angolanos e outros Africanos (10,53%)

TERCEIRO LUGAR:

Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX (7,37%)


Ao sétimo dia o nosso TOP é apresentado na edição do Jornal de Angola. Até ao primeiro dia de Setembro indicamos as escolhas dos leitores da cidade do Porto (26/8/2022 – 1/9/2022):

PRIMEIRO LUGAR — Dois títulos no TOP de vendas:

Senhores do Sol e do Vento — Histórias verídicas de Portugueses, Angolanos e outros Africanos (10,71%)

Crónica da fundação do Huambo | Nova Lisboa — 5ª edição, inclui fotografias da época (10,71%)

SEGUNDO LUGAR — Dois títulos partilham o segundo lugar do nosso TOP de vendas:

Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX (8,93%)

Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase memórias — Volume I (8,93%)

TERCEIRO LUGAR — MPLA — A Revolução Traída. 13 Teses em minha defesa – Nito Alves (5,36%)


Os livros de História marcam presença no TOP de vendas dos nossos livros nos primeiros cinco dias na Feira do Livro do Porto (26/8/2022 – 30/8/2022):

PRIMEIRO LUGAR — Senhores do Sol e do Vento — Histórias verídicas de Portugueses, Angolanos e outros Africanos (13,04%)

SEGUNDO LUGAR — Crónica da fundação do Huambo | Nova Lisboa — 5ª edição, inclui fotografias da época (8,70%)

TERCEIRO LUGAR — Dois títulos partilham o terceiro lugar:

Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX (6,52%)

Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase memórias — Volume I (6,52%)


Os livros de História estão no TOP de vendas dos nossos livros nos primeiros quatro dias na Feira do Livro do Porto (26/8/2022 – 29/8/2022):

PRIMEIRO LUGAR — Senhores do Sol e do Vento — Histórias verídicas de Portugueses, Angolanos e outros Africanos (12,82%)

SEGUNDO LUGAR — Crónica da fundação do Huambo | Nova Lisboa — 5ª edição, inclui fotografias da época (10,26%)

TERCEIRO LUGAR — Nove títulos partilham o terceiro lugar:

Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX (5,13%)

Angola, Estado Nação ou Estado Etnia-Política? (5,13%)

Depois das Mangas Vêm os Abacates (Duplo Laço) (5,13%)

Marítimos (3ª edição) (5,13%)

MPLA — A Revolução Traída. 13 Teses em minha defesa – Nito Alves (5,13%)

O Homem e a sua Abordagem sobre Realidade-Mente-Consciência (5,13%)

Uma-Viagem-para-Além-do-Mundo do Tempo-e-do-Espaço (5,13%)

O Lado Ovimbundu de Agostinho Neto (5,13%)

BOBA KANA MUTHU WZELA – Aqui é proibido falar! (5,13%)

Viajantes procuram informações sobre a República de Angola

Viajantes procuram informações sobre a República de Angola

O livro de crónicas de Sandra Poulson, “Tambwokenu – Viagens Pela Minha Terra” (Ed. 2019), tem recebido uma atenção especial, na Feira do Livro do Porto, dos viajantes residente na cidade invicta. Fechada ao turismo nas últimas décadas a República de Angola tem seduzido a atenção de potenciais turistas nos livros em exposição neste importante festival literário de Portugal.

Sobre este livro no prefácio o escritor Pepetela afirma que a autora apresenta um filme de Angola, nas suas paisagens deslumbrantes e nas suas gentes hospitaleiras.

homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola

homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola

Hoje, 31 de Agosto, na Feira do Livro do Porto é dia de homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola. O encontro está marcado com o Livro do Dia, “Autores e Escritores de Angola (1642-2018)“, de Tomás Lima Coelho, que tem um desconto especial de 40%. Com esta obra inédita nos Países de Língua Oficial Portuguesa podemos descobrir milhares de livros e escritores especiais como José da Silva Maia Ferreira (1827-1881), Agostinho Neto (1922-1979), Uanhenga Xitu (1924-2014) e Alda Lara (1930-1962).

No nosso pavilhão (76) todos os livros estão disponíveis com descontos de 5% a 50%, uma oportunidade única para todos os curiosos da cidade invicta, que nos jardins do Palácio de Ferro, junto à Capela Carlos Alberto, podem descobrir uma Angola muito diferente da que é apresentada na televisão.

“Egosismo” de Orlando Castro na Biblioteca Almeida Garrett (convite)

“Egosismo” de Orlando Castro na Biblioteca Almeida Garrett (convite)

Lançamento do livro de poemas “Egosismo” (Ed. 2022), de Orlando Casto, no próximo Domingo, 4 de Setembro 2022, às 19h45.

A Biblioteca Municipal Almeida Garrett é uma biblioteca pública situada nos Jardins do Palácio de Cristal, na freguesia de Massarelos, na cidade do Porto, Portugal. O edifício, da autoria do arquitecto José Manuel Soares aloja, para além da biblioteca, uma galeria, uma cafetaria com esplanada e um pequeno auditório.


PREFÁCIO | Eugénio Costa Almeida (ou Lobitino Almeida N’gola)

Quando o poeta é livre como o catuituí, nada há que o engaiole…*

Diz o adágio popular que de poetas e loucos todos temos um pouco. Eu acrescentaria de poetas, de loucos e de projectistas, na realidade além de tudo termos um pouco, também todos somos pouco realistas.


As nossas realidades estão sempre para além do que é convencionalmente definido como normal. Caminhamos sonhadores na lua, navegamos indolentes nas ondas marinhas dos nossos pensamentos, planamos nas vagas livres do vento. Ou seja, de facto, somos loucos, mas…


Somos loucos, porque queremos sempre mais e melhor o impossível, no que a verdade mostra, na maioria dos casos, ser impraticável, inexequível; como projectistas, nem sempre – em muitas vezes, nunca – conseguimos transmitir e reproduzir, convenientemente as nossas, para alguns estapafúrdias, ideias; como poetas, não raramente, somos pouco levados a sério porque brincamos com as palavras, fazemo-las dançar e misturamos a realidade concreta com a emoção afectiva, por vezes, dolorosa.


Por isso – e a culpa, uma grande parte da culpa do que nas palavras sou, é dele – me senti tanto honrado, como à vontade, para prefaciar esta obra de Orlando Castro.


Não vou me alongar muito sobre quem é – ou na lírica, mas não romântica, definição de José Filipe Rodrigues continua a ser, – Orlando Castro. Direi que a escola lhe disse que, se porfiasse, jornalista seria. Mas Orlando não quis ser só isso: ele é poeta e dramaturgo, pensador livre sem pensos para curar ou calar, jornalista firme nas ideias e nas convicções. Mas também, alguém que tem dado a mão e lançado nas acéticas páginas brancas de muitas folhas muita gente, Angolanos, principalmente ainda que não unicamente, que procuravam ser escritores.


Tem sido um Kamba que, alguns muitos, se acoitaram na sua simpatia, no seu companheirismo, no seu saber e, depois, se esqueceram de retirar as pedras que ele, como todos nós, foi encontrando ao longo deste seu sinuoso caminho que a vida lhe concedeu.


Alguns, muitos – embora Orlando Castro nunca o mostre claramente e nunca os denunciou –, não só não lhe tiraram as tais pedras no caminho como ainda ajudaram a montar mais pedras que lhe atulhassem essa vereda da vida.


Só que os poetas têm uma virtude, para muitos estranha, para outros, incompreensível, para outros mais, esotérica: as pedras no caminho não são escolhos, mas partes de uma via que nos fortalece e nos torna melhores entendedores das “loucuras”, do “farol”, da “desleixação” que – eternamente – “fecunda” o poeta, como Orlando Castro nos mostra no seu poema “Poeta” inserido na primeira parte da obra.


Orlando Castro tenta nos caracterizar a sua poesia, principalmente aquela que vem do seu mais profundo sentimento de Angolanidade, como se de um moderno bardo se cuidasse que canta as profundas mágoas que se adivinhavam, à época – como adiante perceberão –, na História nacional.


O seu primeiro livro de poesia, escrito e publicado na sua, então, Nova Lisboa – Huambo –, em 1975, intitulado “Algemas da Minha Traição” – que mereceu um louvor de um dos membros do então Colégio Presidencial do Governo de Transição, José Ndele, conforme se pode constatar pelo fac-simile da página 6 [a confirmar, posteriormente pelo editor] – mostrava já o que Orlando Castro previa, como todos nós que amamos o nosso País o sentíamos: Angola tinha entrado num perigoso vórtice que iria mudar a vida de muitos.


Mas, Orlando Castro, tal como todos os que sentem Angola como a proteína indispensável para uma boa e correcta fluidez sanguínea, sentia que teria, ou poderia vir a ter, a necessidade de procurar paragens, outros chãos, de certa forma agrestes – sempre que de nós saímos, / em nós nos enfermamos, / nos desconformamos, / e outros chãos nos achacam (inédito ) –, para não calar o sentimento que nele crescia de trovar o chão-pátrio onde o sol é mais forte, o vento mais longe as loas leva e a chuva mais pura a vida torna, na esperança de, como António Agostinho Neto cantou, Às casas, às nossas lavras / às praias, aos nossos campos / havemos de voltar. Porque, como Tomaz Vieira da Cruz escreveu, cantando a nossa Angola, esta é Jardim que é sol em cada flor selvagem, / Jardim que é febre em cada fruto amargo”! / E as flores dessas montanhas aromáticas, / céus e paisagens dramáticas, / são iluminuras / de apagadas criaturas / sepultadas nos caminhos / por onde a raça existe para além desses caminhos. / Caminhos que são almas legionárias / marcando novos trilhos…


E foi o que Orlando Castro procurou, fez, escreveu no período de 1975 a 1980 e que agora nos dá a ler. Com a devida vénia a Jorge Dario Santos Lapa, em comentário ao livro de Óscar Ribas, Misoso, “trata-se de um documento muito pessoal e cheio de valor sócio-cultural e até histórico” como se poderá ler nas cerca de 180 páginas que compõe o seu, e, em breve, nosso “Egosismo”.


A obra está dividida em duas partes e temporalmente compila toda uma colectânea de poemas que escreveu nos primeiros anos do seu – e ainda inacabado – nomadismo por terras lusitanas.


São versos, são carmes, que cantam e desafiam o seu mais íntimo ser, os seus mais profundos e introspectivos neuro-alvéolos, num desencadeamento livre, mas não desocasionados, são fluidos, mas não esconsos, são livres, mas não despendidos.


São versos, são poemas, que nos transportam para uma realidade dura e crua onde o autor sentiu que um terrível abalo lhe transmitiu uma nova verdade mais desnuda, mais desapiedada, mais neo-real. Tão real como na ode “Arco-íris do desterro” em que o autor descanta Vou sorrir, para ti bonina violeta, / No lídimo rosa do vento / Vou erguer meu roxo punho; / Soprar a bonómica laranja corneta, / Chorar a branca alegria, sem talento / Da guerra, bélica negra sem cunho.


Apesar de Orlando Castro temer – não esqueçamos, recordo, qual o período temporal a que esta obra se reporta – que o seu e nosso País entrasse, como trovoa no poema “Angola desespero” onde Filhos dolentes / Sem braços / Chorando; / Mães descrentes / Sem passos, / Orando. também se encanta na temperança e na esperança de um horizonte longínquo que o pólen derramado haveria de fazer florir numa Angola mais livre, mais fraterna, mais cristalina, mais próspera como se infere nestas primeiras estrofes do poema “Não chores poeta” Porque choras poeta / Que vagueias na minha rua / Lacrimejando o odor de uma fonte; / Diz-me qual a tua meta, / Amemo-nos como uma nuvem nua / Que se fecunda no pólen do horizonte.


Refirmando pelo eterno princípio da palavra, é a doce loucura do poeta que nos faz caminhar sonhadores pelo platinado luar, navegar indolentes nas ondas marinhas das nossas ideias, planar pelas desocupadas frívolas noites do vento livre que nos permite, ainda que sem perder o são sentido linear de um bom e claro trilho, estar desperdido da realidade e temperado na preservante vontade de nada deixar esmorecer.


Como escreveu aquele que alguns consideram o maior poeta romântico britânico William Wordsworth (1770-1850) – poeta, não escritor lato senso, que este é, como comummente é reconhecido, William Shakespeare (1564-1616), – no poema “O Carvalho de Guernica”, Como podes florir em tempos tais? / Que esperança o Sol te traz, ou que alegria? / São-te trazidas pela maresia, / Ou por leves orvalhos matinais? / Benvindo seja o golpe que em ti caia, / E em terra alongue a tua fronde imensa, / Se nunca mais, à sua sombra densa, ou seja, Orlando Castro não tendo a perene idade do secularíssimo carvalho, onde os Reis Católicos, Fernando TII e Isabel, de Espanha, prometeram, em Guernica, em 1476, que Biscaia veria os seus foros sempre respeitados, é todavia, um Mais Velho respeitado não só pela sua principal arte profissional, o Jornalismo, como pela poesia nos continuou a transmitir após este período temporal que o “Egosismo” nos transmite.


Como depois de um cataclismo natural, vem sempre a bonança e a fruição temperadas com os viridantes frutos da engenhosidade humana, espero – esperamos – que emerja uma nova obra complementar ao “Egosismo” porque, e como referia Orlando Castro sobre o seu primeiro “fruto” das florestas da província do Huambo, “Algemas da Minha Traição”, que para ele, valia o que valia, mas, sobretudo, mostrava que nunca há comparação “entre o que se perde por não tentar e o que se perde por fracassar”.


Até lá, porque esta obra não irá fracassar, desbravemo-la como se pelas chanas Angolanas penetrássemos esquecidos do tempo e embalados pelos alegres e sonoros chilreios do catuituí.

* Eugénio Costa Almeida (ou Lobitino Almeida N’gola) Investigador académico, ensaísta, escritor e poeta (nas horas vagas, quando as há…) Algures nos aromas atlânticos em 20 de Dezembro de 2021