Vacarisses, Mataró, Blanes, Zaragoza, Santa Coloma de Gramanet, Barcelona, Sant Boi de Llobregat, Caldes de Montbuí e Logroño vão receber Danilo Facelli e apresentar o mais recente livro “Material Inflamable. Veinte años extendiendo palabras en voz alta” (Ed. 2023)
24/02/2024 — Cinquenta anos após o 25 de Abril de 1974, o poeta António Manuel Monteiro Mendes apresentou o seu mais recente livro de poesia “Sul“, na Figueira da Foz. Terra que acolheu o autor como refugiado, em fuga à violência que escalou o processo de independência de Angola entre 1974 e 1975.
Álvaro Poeira é um pseudónimo de António Manuel Monteiro Mendes. O poeta nasceu no Mavoio, muito próximo de Maquela do Zombo e de Mbanza Kongo (São Salvador do Congo).
Na apresentação do livro “Sul” na Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, estiveram na mesa de honra para além do autor e do editor da Perfil Criativo, os antigos colegas São Simão, José Veríssimo e Carlos Santos, director deste estabelecimento de ensino. Os antigos colegas do liceu encheram a sala e levaram praticamente todos os exemplares disponíveis.
O autor, António Manuel Monteiro Mendes, e o editor da Perfil Criativo – Edições têm o gosto de convidar V. Ex.ª para a apresentação do livro “SUL“, de Álvaro Poeira, na Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, no Sábado, 24 de Fevereiro de 2024, às 15h00.
O Outro Lado da Poesia
Nasci entre paredes cobertas no Miombo,
numa casa muito simples de cor branca,
colocaram-me num cesto de verga em colchão
almofadado, num país de Vales Verdes,
Mandioca, Penhascos de Arenito, Imbondeiro, Múcua seu fruto inteiro.
*
Ali nascido, como diria mais tarde a poetisa,
“de eu te dar sem tu dares(…)
morre o florir de mil pomares(…)
*
Cresci sem ver as Rosas de porcelana,
fendas do Bimbe, o Morro Maluco
só vi de longe nas viagens
para Capunda-Cavilongo.
Nunca aspirei a brisa molhada
das Quedas de Kalandula nem vi,
na copa das árvores
o Macaco azul, nem as pedras
em Pungoandongo.
*
Ali crescido, ainda não lido, como escreveu
outro poeta, “não me deixes perder o que me é,
acrescento eu, que por amor do outro lado,
me foi dado”.
*
Depois, numa madrugada ou manhã,
de avião aterrei, num local onde meu pai e mãe
foram gerados, cada um em praias e rios,
montes e montanhas separados…
*
Me abraçaram sem culpa nos seus olhos e,
o poeta, de novo me deu alento, acenando-me que,
os meus pais o que queriam era um outro eu,
o do outro lado da poesia, dito agora sem alarde
ao senhor, “que por eles, sim,
vim decorar as águas dos seus rios com folhas
deste Continente, agora, meu outono
para sempre perturbado(…)
*
A Serra do Pingano, Rio Curoca, as halófitas,
Dunas brancas, Lírios d’agua da Lagoa
dos Arcos, a Palanca Negra Gigante, Golungo
e Boi-Cavalo, Zebra e Pacaças, que chegavam mortas,
Todos os textos são da autoria de António Manuel Monteiro Mendes, bem como os seus pseudónimos.
Nasceu em 1959. Numa pequena povoação no norte de Angola. Mavoio. Junto ao rio Tetelo. Filho de pais sem posses, mãe doméstica e pai serralheiro mecânico, viajou com eles e sua irmã, por Angola. Pouco tempo foi.
Em 1974, foi expulso da sua terra Natal.
Não conheceu a casa nem a terra onde a sua mãe o deu à luz. Veio como refugiado para Portugal. Quebrado.
Em estilhaços que ainda hoje tenta colar.
Tem três filhas de dois casamentos.
Viveu em tantas casas que só algumas retêm a sua memória.
Escreve desde sempre. Este é um pequeno grito de outros milhares que redigiu. Sabe, tem consciência que outros contos, lendas, prosas poéticas e poemas barafustar sob um Embondeiro,aclamando na sua justiça, pela identidade do autor, que aqui teriam lugar.
Não dá… Um dia, todas letras voarão por lá…
*Alberto Poeira e Álvaro Poeira, são pseudónimos de António Manuel Monteiro Mendes
Na próxima semana estes pequenos livros, carregados de poesia irreverente, chegam a Luanda.
NOTA DO EDITOR: JOÃO RICARDO RODRIGUES
Depois de termos publicado, na colecção “Poesia no Bolso”, a geração mais recente de poetas de Angola, decidimos, no início de 2024, dar voz a “Frei Maneco”, um pseudónimo de Manuel Fonseca de Victória Pereira, um poeta de humor e sarcasmo virtuais, com intervenção crua nas redes sociais, ao estilo de “Literatura de Cordel” (ler o texto de introdução “Uma Poesia Distópica para Míopes”, de E. Bonavena, na página 10).
Manuel Fonseca de Victória Pereira nasceu em 1958, ao Sul de Angola, em Moçâmedes, na Província do Namibe. Estudou no Instituto Superior de Ciências e Educação de Angola, foi professor, formador de professores e ocupou o cargo de vice-presidente no sindicato de professores de Angola, SINPROF.
Tem sido uma voz inconformada, com uma incisiva intervenção política, fruto do seu principal lema de vida: “Servir a sociedade e os seus ideais e mudar o que puder dentro das minhas possibilidades”.
Faz parte da tradição da família Victória Pereira a intervenção política e cultural. Na memória colectiva fica a intervenção musical “JÁ”, de Manuel Fonseca no concerto “Liberdade JÁ”, pela libertação dos presos políticos na República de Angola, no Elinga Teatro, em Agosto de 2015.
Neste pequeno livro, isento de qualquer censura, encontramos também um conjunto alargado de desenhos — irreverentes — de Manuel Fonseca.
A publicação da obra de “Frei Maneco” é uma homenagem dos amigos da escola primária 55, amigos de sempre, Pedro Lara, Mário Ferrão, Mário Vaz e Victor Torres.
“Eu sou o doido d’Aldeia Global, Eu babo muito, mas não faço mal. Graças a mim, o mundo avança, E quando eu toco, todo o mundo dança.(…)”
Mais uma vez, Gemma Almagro e Izaskun Barbarie animaram o público em “Patas Arriba” na RAI-Associació Cultural, no centro de Barcelona, no dia 19 de Janeiro de 2024. Armadas, como sempre, com o melhor dos seus explosivos, a palavra e a música, conseguiram esgotar a sala e se entregar completamente a este espetáculo subversivo, divertido, crítico e profundo.
O público passou das gargalhadas a uma verdadeira emoção com a poesia de trincheira de Gemma Almagro e ovacionou a grande pianista Izaskun Barbarie nos seus extraordinários e originais solos no piano. “Patas Arriba” demonstrou, mais uma vez, que o circuito emotivo com que envolve os espectadores é capaz de combinar com o lado guerrilheiro e violento com a ternura e a emoção mais pura.
“Patas Arriba – Alta comédia para pessoas ousadas” tornou-se uma sátira moderna sem precedentes, e suas duas integrantes formam, sem dúvida, a dupla mais sincrónica e disparatada do momento. Siga-as nas redes para não perder seus vídeos mais divertidos! @patasarriba21
Para saber mais aconselhamos a leitura, em castelhano, dos livros de Gemma Almagro:
Partilhamos com os nossos leitores a gravação em vídeo de um fragmento do espectáculo “La Terra y el Barrio”, de Ana Alfaro, Danilo Facelli e Hugo Martínez.
Video registado no Cabaret del Lokal de Risc do Ateneu Popular de 9Barris a 12 de fevereiro de 2022, onde é possível ouvir o poema “Tarde” e a música “Gallo Rojo Gallo Negro”.
Espetáculo poético-musical em constante percurso, o planeta gira. A vida movimenta-se, pulsa, ocupando tudo, e todo o universo cabe numa xícara de café. Continuamos girando. Do outro lado do mundo, é noite, e alguém dança, alguém observa, alguém morre. Ao lado de casa, alguém morre, alguém observa, alguém dança, é dia.
A Terra e o Bairro é um espetáculo de poesia cénica com música e canto ao vivo, baseado no livro de poesia com o mesmo título escrito por Danilo Facelli e publicado pela Edicions Tremendes (Girona). Este livro aborda as verdades que podem ser intuídas quando se está em contato com a natureza selvagem (tanto no mundo vegetal e animal quanto na natureza selvagem das pessoas) e com o pequeno grande universo que é cada bairro. Entendendo o bairro como um terreno de resistência, comunicação e autogestão.
Gallo Rojo Gallo Negro
Cuando canta el gallo negro es que ya se acaba el día. Si cantara el gallo rojo, otro gallo cantaría
¡Ay! Si es que yo miento, que el cantar de mi canto lo borre el viento
¡Ay! Que desencanto, si me borrara el viento lo que yo canto.
Se encontraron en la arena los dos gallos frente a frente. El gallo negro era grande, pero el rojo era valiente.
¡Ay! Si es que yo miento, que el cantar de mi canto lo borre el viento
Se miraron cara a cara y atacó el negro primero. El gallo rojo es valiente, pero el negro es traicionero.
¡Ay! Si es que yo miento, que el cantar de mi canto lo borre el viento
Gallo negro, gallo negro, gallo negro te lo advierto: no se rinde un gallo rojo más que cuando está ya muerto.
¡Ay! Si es que yo miento, que el cantar de mi canto lo borre el viento
“Quem está preparado para viver? Qual é o limite entre a poesia e a vida? O canto das palavras mudas, a dança… a neurociência não desvenda o mistério, embora tente.”
Crisal Rodriguez
Com esta descrição, Crisal Rodriguez trará no dia 18 de janeiro de 2023, ao Café de Mar de Mataró (ao norte de Barcelona), o seu espectáculo com a participação do poeta Danilo Faceli, autor do livro “Material Inflamable. Veinte años extendiendo palabras en voz alta”. Danilo Faceli intervém com improvisações, poemas e factos do dia à dia, tudo acontecendo no momento em que entra em cena.
Crisal Rodriguez é uma poetisa cénica e performer. Uma neurocientista que fugiu da Academia. Reconhecida na cena da poesia cénica europeia, esta artista entrelaça a arte, a ciência e a contemplação, propondo novas narrativas mais sensíveis à vida, a partir da neurociência corporal. Actua regularmente em competições de Poetry Slam e participou em diversos festivais e exposições.
Sobre esta obra Danilo Faceli afirma: “O pouco que posso dizer sobre os textos que compõem Material Inflamável é que, depois de recitá-los ou lê-los em voz alta, por um lado, me sinto melhor e, por outro, ocorre um acto comunicativo com o público que vai muito para além da troca de informações. Algo se move no grupo que formamos, e esse movimento gera uma sensação mais agradável do que a que existia antes de começar o recital. Assim, colocar em prática as palavras resulta numa melhoria colectiva. Essa é a razão principal pela qual continuo escrevendo.”
A ‘Plataforma de projectos para a transformação social’ acolhe a comédia para gente atrevida “Patas Arriba”, das surpreendentes e irreverentes artistas, Izaskun Barbàrie e Gemma Almagro, na noite de 19 de Janeiro 2024, no centro da cidade de Barcelona.
Dizem que “Patas arriba” não é um recital comum. É um espectáculo irreverente que combina as composições de piano de Izaskun Barbàrie com a rapsódia de Gemma Almagro a falar, cantar e improvisar sobre as mulheres, o ser humano, a poesia doméstica, o feminismo, o erotismo, a vida… Uma guerrilha poético-musical sem filtros nem moralismos que atinge diretamente o coração e o espírito crítico, contando com a cumplicidade do público.
RAI – Recursos d’Animació Intercultural
A RAI é uma associação independente que actua como uma plataforma de projetos para a transformação social, cultural e educativa. Oferece uma ampla gama de recursos e iniciativas por meio da interculturalidade, antirracismo, feminismo, participação ativa, autonomia e “empoderamento” individual e colectivo.
Funciona também como um espaço de co-criação artística, mas também de reflexão e agregação capaz de criar sinergias e promover a participação.
Está instalada na C/ Carders 12 principal 08003 Barcelona
“Patas Arriba” é também um livro de poesia com a primeira edição (esgotada), publicado em 2022, ficando a segunda edição disponível em Barcelona e Lisboa a partir do primeiro dia de Fevereiro de 2024.
Lo que nos pasa es el tiempo, el tiempo que nos ha tocado, hermanas queridas. Nos pasa que es tiempo de prisas y de mostrarse y de no saber qué somos pero tener que aparentar. Nos tocó un tiempo moderno, dicen, pero llevamos tatuados los mandatos de un pasado hostil, de mujeres reventadas de injusticias que se vieron con la enorme responsabilidad de educarnos. A nosotras, sus crías. A nosotras que nacimos con las venas empapadas ya de sudor de tanta fuerza que vinimos a hacer, de tanto que hemos venido a luchar, de tanto carro por empujar. Nosotras vamos a vivir esta fiesta de disfraces quitándonos las máscaras por vez primera. Honraremos a nuestras preciosas madres rompiendo a machetazos estas pesadas cadenas y las de nuestres hijes. Y pondremos patas arriba un tiempo que no nos toca.
Para responder a esta questão e para melhor percebermos as consequências das grandes transformações “macro” no universo “micro” de cada um de nós, o editor da Perfil Criativo e o poeta angolano, António Manuel Monteiro Mendes, têm o prazer de convidar V/ Excelência para o lançamento do livro SUL, de Álvaro Poeira, na Casa de Angola, em Lisboa, no próximo Sábado, 16 de Dezembro, às 16h00. Morada: Travessa da Fábrica das Sedas, nº 7, ao lado do Largo do Rato, em Lisboa
A apresentação e crítica do livro SUL estará a cargo de Paula Catarino, Victor Torres e do poeta angolano João Fernando André. A não perder!
Em jeito de balanço de fim de ano, recordamos que em 2023, publicámos catorze novos títulos, maioritariamente de autores angolanos, na sequência do trabalho editorial que temos estado a realizar desde 2015, já com um total de cento e oito títulos editados em Portugal.
Sem esquecer que este ano, vindo de Barcelona, publicámos também, na língua de Cervantes, o poeta, Danilo Facelli Fierro, autor com uma intervenção pública teatral e circense nas ruas da Catalunha, dando, desta forma, corpo à “Colección Aquelarre”.
Com a aproximação do fim do ano, a semana passada foi muito activa na divulgação dos nossos autores: realizámos dois lançamentos de novas obras.
Neste encontro, no Chiado, durante a apresentação da obra, o Prof. Doutor Guilherme D’Oliveira Martins voltou a confirmar uma realidade que temos denunciado em muitas das nossas actividades, em Portugal “conhece-se pouco a realidade de Angola”.
A confirmação desta realidade dá-se depois do nosso autor, investigador e professor catedrático, Carlos Mariano Manuel, Uina yo Nkuau Mbuta, um africano, bantu, mukongo, de nacionalidade angolana, ter recebido em Lisboa o Prémio Personalidade Lusófona 2023, atribuído pelo Movimento Internacional Lusófono.
Já o segundo livro, apresentado na Casa de Angola, a 7 de Dezembro, é uma obra aparentemente mais política, “EU E A UNITA”, do jornalista Orlando Castro, director adjunto do jornal Folha 8.
Neste encontro, o jornalista William Tonet referiu-se ao autor do livro como “incolor” e “os nossos brancos” ao grupo étnico caucasiano angolano. Segundo ele, este grupo define-se pelos que “foram encaminhados para a Arca de Noé da retornança, no processo de transição do Acordo do Alvor”, Identificando de uma forma muito objectiva a questão “racial” como sendo uma temática de grande fragilidade na construção da República.
No ar ficou a pergunta: o que é feito dos “nossos brancos”?