José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

Apresentação do autor no lançamento de “A Primeira Travessia da África Austral”

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025

O autor José Bento Duarte fez uma intervenção extensa, luminosa e apaixonada no lançamento de A Primeira Travessia da África Austral, situando a obra como o fecho de uma trilogia de evocações históricas sobre o expansionismo português e as relações com os povos africanos. Entre recordações pessoais, método de investigação e leitura crítica das fontes, apresentou a travessia documentada de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811) como um feito de “primeira grandeza”, e como um teste moral à memória pública de Portugal, Angola e Moçambique.

“Coloquei Pedro João Baptista e Anastácio Francisco no termo do livro porque pertencem à galeria dos melhores que encontrei em quatro séculos de História.”

A trilogia e a motivação do autor

Bento Duarte enquadrou o novo título na trilogia composta por Senhores do Sol e do VentoPeregrinos da Eternidade e A Primeira Travessia da África Austral. Natural de Moçâmedes (Namibe), com raízes familiares de várias gerações em Angola, explicou que a obra nasce do “desejo de investigar de perto o longo convívio histórico entre portugueses e africanos”, com especial foco nos antepassados dos angolanos e moçambicanos.

  • Senhores do Sol e do Vento (1482–1917) abre com Diogo Cão e fecha com Mandume ya Ndemufayo, articulando figuras portuguesas e africanas num arco que desmonta simplificações coloniais.
  • Peregrinos da Eternidade revisita a ascensão de D. João I e da burguesia mercantil, preparando a expansão para lá das fronteiras (1415).
  • A Primeira Travessia da África Austral (1415–1815) caminha deliberadamente para o capítulo final, a proeza de Pedro João e Anastácio, “os meus conterrâneos”, que ligam Cassange–Lunda–Cazembe–Tete.

“Não escrevi um livro de figuras portuguesas em África; escrevi sobre portugueses e africanos que coexistiram: Bacongo, Ambundo, Ovimbundu, Herero, Nyaneka, Kwanyama, Ganguela, Kioko, Ambo, Chindonga…”

Como o livro está construído

O autor descreveu três blocos narrativos:

  1. Mitos antigos sobre a África Central e Austral (2 capítulos) — cinocéfalos, homens sem cabeça, antropofagia: imaginários que deformaram mentalidades e criaram preconceitos com efeitos históricos.
  2. Da orla atlântica à índica: fixações e rotas (cap. 3–18) — feitorias, portos, penetrações fluviais (Cuanza e Zambeze), Ilha de Moçambique como base para a Índia, e a centralidade do ouro de Sofala (Monomotapa) para sustentar o comércio de especiarias.
  3. Tentativas de travessia e a primeira travessia documentada:
    • Correia Leitão (1755–56): travado pelos Jagas do Cassange; ensinou a lógica das três etapas(Cassange → Lunda; Lunda → Cazembe; Cazembe → Tete).
    • Francisco José de Lacerda e Almeida (1798): parte de Tete, chega moribundo ao Cazembe e morre; “um homem trágico, de extraordinário espírito de missão”.
    • Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811): realizam a primeira travessia documentada. Partem de Cassange (nov/1802), chegam a Tete (2/fev/1811) e regressam a Angola (1814). Pedro João, alfabetizado, mantém diários e entrega carta oficial ao governador dos Rios de Sena, a prova administrativa do feito.

“Não foi acaso: foi projeto da Coroa. Está documentado. E Pedro João cumpriu ordens, levou a carta e entregou-a em Tete.”

Esclarecimentos históricos cruciais

Anastácio Francisco, não “Amaro José”: Bento Duarte desmonta o equívoco e identifica a fonte mal lida que gerou décadas de erro.

Os diários: parte perdeu-se, sobretudo no início (Cassange → Lunda) e no regresso (Moçambique → Angola), mas interrogatórios oficiais e reescritas posteriores preenchem lacunas.

Logística e anónimos: a travessia implicou mercadorias, guias, portagens e muitos carregadores (em regra, escravizados). O autor homenageia “os anónimos da História” sem os quais as grandes proezas não acontecem.

“Sem os anónimos não teríamos História. Estes 33 do monumento (Padrão dos Descobrimentos) não existiriam sem milhares de braços invisíveis.”

Reconhecimento em vida… e a injustiça no mapa de Lisboa

O feito foi reconhecido dentro e fora de Portugal. Em 1815, no Rio de Janeiro, o Príncipe Regente D. João quis conhecer Pedro João Baptista e determinou:

  • criação de companhia pedestre para rotas comerciais Angola–Moçambique,
  • nomeação de Pedro João como comandante,
  • promoção a capitão e vencimento (10$000 réis/mês).

“D. João VI não quis o governador, quis Pedro João. É extraordinário.”

Mas o autor confronta a memória toponímica: o edital de 23 de março de 1954 da Câmara Municipal de Lisboa criou ruas para várias figuras do “Ultramar” (como Lacerda e Almeida), mas não para Pedro João e Anastácio.

“É uma grande injustiça por reparar. Conhecemos o feito, sabemos da sua importância; falta poder para decidir.”

Encomende os livros por email (indicar nome e morada de entrega): encomendas@autores.club

Seis ideias-chave que o autor deixa a Portugal

Antiguidade do objetivo: a travessia era um projeto antigo (já no horizonte do Infante D. Henrique, entre mitos do Preste João e a luta geopolítica com o Islão).

Proeza documentada: a primeira ligação transcontinental provada é a de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco.

Quem eram: presumivelmente pombeiros, mas aqui em missão oficial; ambos escravizados do Tenente-Coronel Honorato da CostaPedro João lidera e escreve.

Nome correto: o companheiro é Anastácio Francisco, o erro “Amaro José” nasce de má leitura de fonte.

Diários e método: diários parciais, fontes cruzadas (interrogatórios, despachos, cartas, edição de 1843 nos Anais Marítimos e Coloniais).

Memória e reparação: reconhecimento histórico existiu (1815), mas a reparação simbólica na toponímia falta há 71 anos, 7 meses e 6 dias (contados até 29/10/2025).

Um apelo final à justiça histórica

Bento Duarte concluiu com um pedido simples e contundente: inscrever Pedro João Baptista e Anastácio Francisco na toponímia de Lisboa, e, por extensão, em Luanda, Moçâmedes, Tete, como gesto de reparação, reconhecimento e fraternidade.

“Se tivéssemos poder, já estava resolvido. Fica a esperança: que alguém com poder decida finalmente reparar esta injustiça.”

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Cartas que Atravessam Histórias

Cartas que Atravessam Histórias

A historiadora Constança Ceita escreve sobre a intervenção do Prof. Carlos Mariano Manuel: “Um gesto simbólico de fraternidade e reconciliação”

AUTORES.club | Perfil Criativo — Novembro de 2025

Perfil Criativo | AUTORES.club inaugura um novo espaço de diálogo, “Cartas que Atravessam Histórias”, dedicado a textos de reflexão, recensão e crítica provenientes de académicos, cientistas, escritores, artistas e cidadãos do mundo.
Um espaço aberto a quem deseja pensar os livros, os autores e as intervenções que têm marcado o reencontro entre Angola, Portugal e o mundo lusófono, a partir das publicações editadas pela Perfil Criativo | AUTORES.club.

O primeiro contributo chega da Professora Catedrática Doutora Constança Ceita, historiadora angolana, regente da Cadeira de História de Angola na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, que escreve sobre a intervenção do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, prefaciador e orador no lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, apresentado no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, a 29 de outubro de 2025.

Carta da Prof. Doutora Constança Ceita

(Reprodução integral)

Prezado Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel,

Permita-me, como historiadora que acompanha atentamente a investigação e a redação científica da África Central/ Austral, expressar a minha profunda admiração pelo seu artigo intitulado “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um acto redentor”. A sua intervenção — que reflecte não apenas um domínio rigoroso das fontes como também uma consciência crítica da dimensão simbólica da História — revela-se um contributo de excepcional relevo para a nossa compreensão do passado colonial, da memória e da identidade.

Em particular, valorizo:

A sua delicada articulação entre os factos históricos — em especial ao referir-se à morte por decapitação de Dom António I (Nkanga Vita Lwa Mvemba/Mwana Nlaza) e ao percurso da Coroa de prata que poderá ter sido levada para Portugal em 1666 — e o chamamento a uma reparação simbólica entre Angola e Portugal.

O modo como associa a narrativa histórica à noção de “redenção”: não se trata apenas de recuperar artefactos ou factos esquecidos, silenciados, mas de restituir dignidade às vozes e aos agentes históricos africanos que o cânone colonizador marginalizou.

O tom científico e ao mesmo tempo humanista da abordagem — que conjuga erudição, rigor crítico e sensibilidade perante as implicações morais e identitárias da história partilhada de ambas as margens do Atlântico.

Este tipo de escrita — que não se limita à catalogação de factos mas avança para a reflexão sobre o significado social e simbólico da História — constitui um verdadeiro exemplo para a comunidade científica.

A sua proposta de redefinir, por exemplo, o Monumento do Padrão dos “Descobrimentos” como “Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas”, ou de considerar a recuperação da Coroa do Soberano do Reino do Kongo como “gesto simbólico de fraternidade e reconciliação”, são indicações fortes de como a História pode (e deve) intervir no mundo contemporâneo, para além do arquivo.

Em nome da academia e em reconhecimento do seu contributo valioso, gratidão pelo seu trabalho.

Espero que esta reflexão inspire novas pesquisas que sigam a mesma linha — exigente no método, audaz no tema e sensível ao impacto histórico-social.

CONSTANÇA CEITA
Professora Catedrática

Regente da Cadeira de História de Angola
Faculdade de Ciências Sociais — Universidade Agostinho Neto

Carlos Mariano Manuel: “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um ato redentor”

Carlos Mariano Manuel: “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um ato redentor”

Historiador angolano exorta Portugal e Angola à reparação simbólica durante o lançamento do livro “A Primeira Travessia da África Austral”

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025
(Registo em vídeo: Victor Hugo Mendes)

No lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, o Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, historiador e prefaciador da obra, proferiu uma intervenção que uniu erudição, emoção e apelo moral. Diante de um público composto por representantes de Angola e de Portugal, defendeu o reconhecimento dos feitos dos exploradores angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco e lançou um desafio à consciência histórica dos dois países.

“Revisitar a História é sempre pertinente, contanto que sirva para elucidar a sociedade sobre o seu património imaterial mais valioso: a sua própria identidade.”

Reparar o esquecimento e valorizar a História partilhada

O professor catedrático angolano, autor do tratado de História “Angola desde antes da sua criação pelos portugueses até ao êxodo destes por nossa criação” (Ed. 2021), recordou que a travessia de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, realizada entre 1802 e 1811, antecedeu as expedições europeias do século XIX, e que a sua omissão dos registos oficiais é “um erro histórico e moral que deve ser corrigido”.
Assinalou também que o livro de José Bento Duarte vem “restaurar a verdade” e mostrar que a História da África Austral foi escrita também por africanos sob bandeira portuguesa.

“Estes dois angolanos negros, escravos por condição, foram pioneiros de uma travessia que, em dignidade e coragem, não fica atrás de nenhuma das grandes expedições europeias.”

Um olhar crítico sobre o passado colonial

Na sua intervenção, Carlos Mariano Manuel revisitou a história das relações entre África e Europa desde o século XV, analisando as fases de cooperação inicial, domínio e colonização.
Citou o discurso do primeiro presidente de Angola, proferido em 1975, para recordar que o povo português também se libertou do fardo colonial com o 25 de Abril de 1974, recuperando a sua dignidade.

“Portugal contribuiu para a libertação de Angola e, ao fazê-lo, libertou-se também de um peso histórico. O 25 de Abril foi um ato de justiça para ambos os povos.”

A primeira Travessia da África Austral
A primeira Travessia da África Austral

O simbolismo do Padrão e o apelo à redenção

No local emblemático do Padrão dos Descobrimentos, o historiador sugeriu uma reflexão sobre o nome do monumento:

“Talvez um dia o possamos chamar Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas, pela sua natureza histórica e pela dignidade que representa.”

Recordando que o lançamento ocorreu no aniversário da Batalha de Ambuíla (29 de outubro de 1665), destacou o papel trágico do Rei do Congo, Dom António I (Muana Malaza), decapitado na batalha, e revelou que a coroa de prata oferecida pelo Papa Inocêncio VIII foi trazida para Portugal em 1666.

“Se conseguíssemos recuperar essa coroa, seria um acontecimento redentor. Um gesto simbólico de fraternidade e reconciliação entre Angola e Portugal.”

Um discurso de fraternidade e de futuro

Professor Doutor Carlos Mariano Manuel encerrou a sua intervenção elogiando o autor, José Bento Duarte, e o editor, João Ricardo Rodrigues, pela coragem intelectual e pela relevância histórica da obra:

Este livro é um ato de cultura e de consciência. Um convite a restaurar a verdade e a celebrar a fraternidade entre os nossos povos.”

A sua presença, vinda expressamente de Angola, e o discurso vigoroso gravado por Victor Hugo Mendes, transformaram o lançamento de A Primeira Travessia da África Austral num marco de diálogo histórico entre Angola e Portugal, onde a História e a memória se encontraram num mesmo ideal: o da verdade e da justiça.

Os livro podem ser encomendado pelo email: encomendas@autores.club

A Primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

Miguel Anacoreta Correia: “É tempo de devolvermos o nome e o lugar que estes homens merecem”

Miguel Anacoreta Correia: “É tempo de devolvermos o nome e o lugar que estes homens merecem”

Intervenção no lançamento oficial do livro “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025
(Reportagem vídeo de Victor Hugo Mendes)

Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, figura histórica da vida política portuguesa, protagonizou uma das intervenções mais marcantes do lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa.

Com a serenidade e clareza que lhe são conhecidas, começou por recordar a sua ligação direta a África, onde nasceu (Moçambique) e cresceu (Angola), reconhecendo-se “um homem de duas margens”. Essa vivência serviu de ponto de partida para uma reflexão sobre a omissão do contributo africano nas grandes narrativas históricas.

“Livingstone elogiava os portugueses, mas quis reservar a glória para si, depois para os britânicos, e, no fim, apenas para os brancos. Os negros, sem os quais nada teria sido possível, foram omitidos”, afirmou.

O engenheiro sublinhou que os angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco foram os verdadeiros pioneiros da travessia documentada da África Austral, um feito que a História portuguesa apagou e que o livro de José Bento Duarte agora restitui.

“É tempo de compensar o esquecimento de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, em Angola e em Portugal”.

No cenário simbólico do Padrão dos Descobrimentos, a sua intervenção ecoou como um apelo à reconciliação histórica, entre povos, memórias e verdades partilhadas.

Intervenção de Eng. Miguel Anacoreta Correia no Padrão dos Descobrimentos na fim de tarde de 29 de Outubro de 2025, durante o lançamento oficial do livro “A Primeira Travessia da África Austral” (Ed. 2025), de José Bento Duarte. Gravação em vídeo de Victor Hugo Mendes

A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, no Padrão dos Descobrimentos

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

29/10/2025 — O monumental Padrão dos Descobrimentos, em Belém, foi o cenário escolhido para o lançamento oficial do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, numa cerimónia que se transformou num marco de reencontro entre a História de Angola e a História de Portugal.

O evento reuniu personalidades de relevo das duas nações: representantes da Embaixada da República de Angola em Portugal, da Liga Africana, do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas, da Academia da Força Aérea, além de membros de instituições civis e militares de ambos os países.

Na mesa de honra destacaram-se o Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, o Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, que se deslocou de Angola especialmente para o evento, o editor João Ricardo Rodrigues, e o próprio autor José Bento Duarte. O Dr. José Ribeiro e Castro, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, enviou uma mensagem em vídeo, impossibilitado de comparecer por compromissos de agenda (ver vídeo da transmissão em directo).

Eng. Miguel Anacoreta Correia, Dr. José Ribeiro e Castro, Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel e o autor José Bento Duarte

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Um encontro de angolanos em Lisboa que ecoou desafios à História

O lançamento revelou-se mais do que uma celebração literária: foi um encontro de angolanos em Lisboa que lançou desafios históricos e culturais às instituições portuguesas.

O autor, José Bento Duarte, de uma família muito antiga do sul de Angola, defendeu com veemência a necessidade de corrigir erros históricos e administrativos que, segundo ele, “por discriminação ou descuido”, apagaram da História de Portugal dois heróis luso-angolanos: Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, os verdadeiros primeiros exploradores a realizarem a travessia documentada da África Austral.

“Seria um acto de justiça democrática, 50 anos após a independência de Angola, reconhecer e repor a verdade sobre estes dois heróis. A História deve ser corrigida, e é aos olhos da Democracia que o pedimos”, afirmou o autor, num discurso direto à Câmara Municipal de Lisboa e às instituições portuguesas.

História, reparação e justiça

Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, prefaciador da obra e considerado o mais importante historiador da República de Angola, sublinhou que Portugal tem hoje uma oportunidade única de fazer justiça histórica.

“Reconhecer o papel de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco é um gesto de reparação. É afirmar que a História da África Austral também foi escrita por africanos, e que estes devem ocupar o lugar que lhes pertence na memória comum”, afirmou.

Carlos Mariano Manuel foi ainda mais longe, propondo uma reflexão sobre o próprio nome do Padrão dos Descobrimentos, sugerindo que venha a chamar-se “Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas”, uma designação mais inclusiva e historicamente ajustada.

E lançou um desafio simbólico e poderoso:

“Peço aos portugueses que investiguem onde está a coroa do Rei do Congo, Dom António I, Muana Malaza, herói e mártir da Batalha de Ambuíla. Encontrá-la seria um acto redentor.”

A voz da História partilhada

O Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, que nasceu em Moçambique e cresceu no sul de Angola, recordou a figura de David Livingstone, destacando as contradições do explorador britânico, que, embora admirasse os portugueses, pretendia reservar toda a glória para os britânicos e os europeus brancos, excluindo os africanos.

“Livingstone elogiava os portugueses, mas omitia os africanos. Essa exclusão precisa de ser corrigida na narrativa histórica. Os africanos também foram protagonistas das grandes travessias e explorações”.

O apelo do editor: uma História em construção

Durante o encontro, o editor João Ricardo Rodrigues, da Perfil Criativo | AUTORES.club, apelou às instituições históricas portuguesas, como a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Academia Portuguesa da História e a própria Câmara Municipal de Lisboa, para que assumam uma posição pública sobre os factos revelados na obra.

“Estas instituições confirmaram presença, mas não compareceram. É tempo de abrirmos os olhos para a História que partilhamos. Este livro é um convite à verdade”.

O editor recordou ainda que o evento coincidiu com o 360.º aniversário da Batalha de Ambuíla (1665), acontecimento determinante na História de Angola e do Reino do Congo. Citando o Prof. Carlos Mariano Manuel, lembrou que “se quem escolheu o 11 de novembro como data da independência de Angola conhecesse profundamente a nossa história, teria escolhido o 29 de outubro”.

Um final inesperado e simbólico

No encerramento do evento, um momento inesperado emocionou os presentes: o jovem músico angolano Gari Sinedima, que se encontra em Lisboa, realizou uma performance espontânea em homenagem à origens comuns com o autor, num registo cultural do Sul de Angola.
Foi um gesto de gratidão, mas também uma afirmação simbólica da ligação viva entre as gerações angolanas e o seu património.

Gari Sinedima

Um novo capítulo para a História Luso-Angolana

O lançamento de A Primeira Travessia da África Austral foi mais do que uma apresentação literária, foi um ato de afirmação cultural e de revisão histórica, com ecos que ultrapassam a literatura e tocam a diplomacia.

O evento, transmitido em direto por Victor Hugo Mendes e disponível em vídeo, marca o início de uma série de artigos que o portal AUTORES.club publicará nos próximos dias, aprofundando as intervenções de cada participante e os desafios lançados ao conhecimento histórico entre Angola e Portugal.

A primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

Fundação Mário Soares e Maria Barroso recebe exemplar de “Memórias das FALA”

Fundação Mário Soares e Maria Barroso recebe exemplar de “Memórias das FALA”

O editor da Perfil Criativo | AUTORES.clubJoão Ricardo Rodrigues, realizou uma visita à Fundação Mário Soares e Maria Barroso, em Lisboa, onde foi recebido pelo director executivo, Dr. Filipe Guimarães da Silva.
Durante o encontro, o editor ofereceu à Fundação um exemplar do livro Memórias das FALA — O Avanço no Norte e a Guerra Psicológica (1975-1992), da autoria do brigadeiro Fonseca Chindondo.

O principal objetivo desta visita foi envolver a Fundação na futura apresentação da obra, tendo em conta o enorme interesse do antigo Presidente da República PortuguesaDr. Mário Soares, pelas questões políticas e históricas relacionadas com Angola e com os processos de libertação e a difícil luta pela democratização.


A Fundação Mário Soares e Maria Barroso: um centro de memória e investigação

A Fundação Mário Soares e Maria Barroso, criada em 1991, tem como missão preservar, estudar e divulgar o legado histórico, político e cultural associado à democracia portuguesa, aos movimentos de libertação africanos e às personalidades que marcaram o século XX.
A instituição mantém um extenso e valioso acervo documental disponível para consulta presencial e online, incluindo:

  • Arquivo Mário Soares — com correspondência, discursos, diários, fotografias e documentação política de mais de cinco décadas;
  • Arquivo Maria Barroso — dedicado à vida cívica, política e artística da antiga deputada e primeira-dama;
  • Arquivo Mário Pinto de Andrade — figura central do nacionalismo angolano e fundador do MPLA, com documentação fundamental para o estudo dos movimentos de libertação africanos;
  • Arquivo da Casa dos Estudantes do Império (CEI) — espaço que foi berço da geração de intelectuais africanos que viriam a liderar as independências;
  • Arquivo Amílcar Cabral — com correspondência, textos políticos e materiais de formação do líder histórico da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Estes arquivos constituem um repositório inestimável para investigadores, sendo um terreno fértil para novos projetos académicos e editoriais que possam resultar em livros de grande valor histórico, especialmente se desenvolvidos por investigadores angolanos interessados em revisitar e reinterpretar as fontes originais disponíveis em Lisboa.


“Memórias das FALA” desperta interesse em Angola

Entretanto, em Angola, alguns exemplares do livro Memórias das FALA — O Avanço no Norte e a Guerra Psicológica (1975-1992) já começam a ser consultados por leitores e investigadores interessados.
O crescente interesse pela obra está a impulsionar a preparação de um grande encontro para o lançamento oficial em Luanda, que pretende reunir académicos, jornalistas e antigos combatentes para discutir este período dramático da história contemporânea.

O autor Fonseca Chindondo tem estado a apresentar as suas memórias e a promover debates em Luanda

“Memórias Aparições Arritmias”: um encontro poético no Palácio Baldaya

“Memórias Aparições Arritmias”: um encontro poético no Palácio Baldaya

Hoje, 4 de outubro, às 18h30, o Salão Nobre do Palácio Baldaya (em Benfica) será palco de um diálogo poético entre Yara Nakahanda Monteiro e do poeta angolano João Fernando André, centrado na obra Memórias Aparições Arritmias. O evento, promovido pela livraria Lulendo, terá entrada livre.

Esta obra marca a estreia de Yara Nakahanda Monteiro na poesia. Segundo a sinopse, o livro conduz o leitor por “outros tempos e espaços”: pela infância e adolescência vividas na periferia de Lisboa, mas também pelas memórias da Angola, transmitidas pela avó, numa mescla de geografias e afetos.

Detalhes do evento

  • Local: Palácio Baldaya, Estrada de Benfica 701A
  • Data e hora: 4 de outubro, às 18h30
  • Organização: Livraria Lulendo
  • Entrada: livre

Este encontro oferece uma oportunidade única de imersão no universo literário de Yara Nakahanda Monteiro, em diálogo com a experiência e a leitura de João Fernando André, propondo uma viagem emocional entre memórias, aparições e arrítmias literárias.

Autores angolanos brilham em Belém com atenção especial do Presidente da República

Autores angolanos brilham em Belém com atenção especial do Presidente da República

Lisboa, 30 de setembro de 2025 – A presença de autores angolanos marcou de forma memorável a edição deste ano da Festa do Livro em Belém, evento anual acolhido pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa.

Num ambiente de proximidade e diálogo, os jovens escritores angolanos tiveram a oportunidade de conversar com o Chefe de Estado, que manifestou grande interesse pelas temáticas africanas de não ficção, sublinhando a importância destas obras para a compreensão das histórias partilhadas entre Angola e Portugal.

Livros adquiridos para a biblioteca do Palácio de Belém

Como é habitual, o anfitrião da Festa do Livro adquiriu algumas das novidades editoriais para integrar a biblioteca do Palácio de Belém:

Num gesto simbólico, o editor João Ricardo Rodrigues ofereceu ao Presidente, em nome da família do autor, o terceiro volume da surpreendente obra Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase Memórias, de Maurício Francisco Caetano.

Diálogos marcantes

Durante o encontro, Marcelo Rebelo de Sousa manteve uma conversa em particular com Sedrick de Carvalho, preso político, autor e editor, num momento de forte carga humana e política.

O poeta Kaluga trouxe a frescura da nova poesia angolana, enquanto Fernando Kawendimba partilhou com o Presidente os seus novos projetos ligados à psicologia em Angola. Ao contrário do que é habitual, o poeta, autor e diretor-adjunto do Folha 8Orlando Castro, optou pelo silêncio, deixando espaço para os restantes autores.

O investigador Domingos Cúnua Alberto transportou Marcelo Rebelo de Sousa a memórias dos primeiros anos da democracia portuguesa, destacando o processo das independências africanas como um marco incontornável da história contemporânea.

Um momento inesquecível

O encontro em Belém ficará registado como um momento inesquecível para a literatura angolana em Portugal, reforçando a importância do diálogo entre gerações de escritores e a valorização das vozes africanas na construção de uma memória histórica e cultural partilhada.

Domingo com encontros em Belém 

Domingo com encontros em Belém 

No final da tarde, junte-se a nós para uma sessão especial de autógrafos com autores de destaque:
— Rafael Branco
— Orlando Castro
— João Fernando André (Kalunga)
— Fernando Kawendimba
— Sedrick de Carvalho
— Domingos Cúnua Alberto

Uma oportunidade imperdível para conhecer os autores, conversar sobre literatura e levar para casa um livro autografado!

Local: Jardins do Palácio de Belém, Lisboa

Belém reúne literatura, música e encontro com autores

Belém reúne literatura, música e encontro com autores

Perdura nos Jardins do Palácio de Belém, de quinta-feira, 25, a domingo, 28 de setembro, a Festa do Livro de Belém, com entrada livre e acesso pelo Museu da Presidência da República ou pelo Jardim Botânico Tropical; na quinta-feira o recinto abre às 16h00 e encerra às 22h30, na sexta-feira funciona das 10h00 às 22h30, e no sábado e domingo abre às 11h00 e encerra às 22h30. Ao longo dos quatro dias, entre os espaços das editoras e centenas de iniciativas, a música volta a marcar o compasso das noites: na quinta-feira, 25, atuou Carolina Deslandes seguindo-se, já era noite, o concerto de Rui Veloso Trio; hoje sexta-feira sobe ao palco Bárbara Tinoco às 21h30; no sábado é a vez de Fernando Daniel às 21h30; e no fecho, domingo, os Xutos & Pontapés tomam conta do serão. No domingo a tarde traz também encontro direto entre leitores e escritores: às dezanove horas em ponto, realiza-se uma sessão de autógrafos com os nossos autores Orlando Castro, Rafael Branco, Sedrick de Carvalho, Domingos Cúnua Alberto e o poeta Kalunga, João Fernando André, momento de proximidade que antecede o concerto de encerramento. Para quem planeia a visita, vale reter que a circulação no recinto obedece às regras habituais de segurança de um espaço presidencial e que a entrada é gratuita; recomenda-se chegada antecipada nos dias de concerto.

Quanto às condições atmosféricas, sábado será um dia mais fresco, com máxima a rondar os 21º Celsius e mínima nos 19º, enquanto domingo poderá trazer períodos de chuva, com máxima de 23º e mínima de 16º; há ainda aviso amarelo para agitação marítima no domingo, com ondas de quatro a cinco metros ao longo da costa, pelo que se recomenda agasalho leve, guarda-chuva e calçado confortável para quem visitar o recinto, sobretudo à noite e durante o concerto de encerramento.

No espaço da www.AUTORES.club presente na Festa do Livro de Belém 2025, os visitantes poderão encontrar um conjunto diversificado de livros que marcam a edição deste ano. Entre as novidades disponíveis destacam-se Kimamuenho — Um Intelectual Rural do Período 1913-1922; Nuvem Negra — O Drama do 27 de Maio de 1977, uma abordagem a um dos episódios mais violentos da história; Crónicas do Homem — Pensamentos sobre a Nossa Sociedade e o Nosso País, com reflexões sobre os desafios sociais e políticos; Editoriais do Expansão 2019-2021; Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase Memórias — Volume III, distinguido com o Prémio Nacional de Cultura e Artes 2024; A Primeira Travessia da África Austral, que resgata a memória de dois luso-angolanos de uma epopeia histórica esquecida e que será desvendada publicamente na tarde de 29 de Outubro de 2025 no Padrão dos Descobrimentos; Memórias das Fala — O Avanço no Norte e a Guerra Psicológica (1975-1992), com testemunhos sobre o período de conflito; Holovida, obra de cariz reflexivo; Nutriterapia, dedicada à saúde; e O ‘Reconhecimento’ do Governo Angolano pelo Estado Português (1976) — As visões político-partidárias do PS, PPD/PSD e PCP, uma análise política e histórica do período quente da história de Portugal e que chamou a atenção do anfitrião do Palácio de Belém no primeiro dia da Festa. Todas estas obras estarão disponíveis para os visitantes explorarem e, em alguns casos acabarem por ler.


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