Fragmento do espectáculo “A Terra e o Bairro” 

Fragmento do espectáculo “A Terra e o Bairro” 

Partilhamos com os nossos leitores a gravação em vídeo de um fragmento do espectáculo “La Terra y el Barrio”, de Ana Alfaro, Danilo Facelli e Hugo Martínez.

Video registado no Cabaret del Lokal de Risc do Ateneu Popular de 9Barris a 12 de fevereiro de 2022, onde é possível ouvir o poema “Tarde” e a música “Gallo Rojo Gallo Negro”.

Poema: Danilo Facelli; 

Voz: Ana Alfaro;

Guitarra: Hugo Martínez.

É uma oportunidade para seduzir os nossos leitores e amigos a conhecerem a poesia de Danilo Facelli, que publicou com a Perfil Criativo – Edições o livro “Material Inflamable. Veinte años extendiendo palabras en voz alta” (Ed. 2023).

“A Terra e o Bairro”

Espetáculo poético-musical em constante percurso, o planeta gira. A vida movimenta-se, pulsa, ocupando tudo, e todo o universo cabe numa xícara de café. Continuamos girando. Do outro lado do mundo, é noite, e alguém dança, alguém observa, alguém morre. Ao lado de casa, alguém morre, alguém observa, alguém dança, é dia.

A Terra e o Bairro é um espetáculo de poesia cénica com música e canto ao vivo, baseado no livro de poesia com o mesmo título escrito por Danilo Facelli e publicado pela Edicions Tremendes (Girona). Este livro aborda as verdades que podem ser intuídas quando se está em contato com a natureza selvagem (tanto no mundo vegetal e animal quanto na natureza selvagem das pessoas) e com o pequeno grande universo que é cada bairro. Entendendo o bairro como um terreno de resistência, comunicação e autogestão.

Gallo Rojo Gallo Negro 

Cuando canta el gallo negro
es que ya se acaba el día.
Si cantara el gallo rojo,
otro gallo cantaría
 
¡Ay! Si es que yo miento,
que el cantar de mi canto
lo borre el viento
 
¡Ay! Que desencanto,
si me borrara el viento
lo que yo canto.
 
Se encontraron en la arena
los dos gallos frente a frente.
El gallo negro era grande,
pero el rojo era valiente.
 
¡Ay! Si es que yo miento,
que el cantar de mi canto
lo borre el viento
 
Se miraron cara a cara
y atacó el negro primero.
El gallo rojo es valiente,
pero el negro es traicionero.
 
¡Ay! Si es que yo miento,
que el cantar de mi canto
lo borre el viento
 
Gallo negro, gallo negro,
gallo negro te lo advierto:
no se rinde un gallo rojo
más que cuando está ya muerto.
 
¡Ay! Si es que yo miento,
que el cantar de mi canto
lo borre el viento

“A liberdade é um requisito universal dos indivíduos e dos povos”

“A liberdade é um requisito universal dos indivíduos e dos povos”

No dia 31 de Outubro de 2023 o presidente do Movimento Internacional Lusófono, Prof. Doutor Renato Epifânio, entregou ao académico angolano, Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, o Prémio Personalidade Lusófona de 2023, na sede da SEDES — Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, em Lisboa.

Reproduzimos o texto do discurso do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, ao qual juntámos o título “A liberdade é um requisito universal dos indivíduos e dos povos”. Segundo o autor esta intervenção foi um discurso com significado de auto de fé, pela promoção de contínuos tempos virtuosos nas relações entre as nações e as comunidades lusófonas.

Por: CARLOS MARIANO MANUEL

Introdução

A instituição em 2010 do prémio Personalidade Lusófona do Ano pelo Movimento Internacional Lusófono foi uma iniciativa virtuosa; e o facto do mesmo haver sido aceite ininterruptamente desde esse ano pelos 12 laureados, pertencentes a países ou comunidades lusófonas dos continentes onde se articula a língua portuguesa, depõe a favor da sua adopção internacional como um instrumento promotor de convergências em torno dos valores progressivos e multicêntricos da lusofonia.

Contudo, a sua relevância não deve depreender-se apenas do perfil das personalidades laureadas, dentre chefes e homens de estado, prémio nobel, cultores da ciência, cultura e acadêmicos e altas figuras do clero, mas também do esforço que se revela necessário de ser feito para transmissão inter-geracional da ontogénese, sublimar os espinhosos períodos e exaltar as componentes progressivas do processo subjacente à difusão secular da lusofonia pelo mundo.   

Nós pretendemos exaltar a acertada iniciativa do MIL pela vertente da ontogénese da lusofonia, na medida em que nos sentimos com méritos muito precários para merecermos a honra que nos foi concedida para integrarmos a nobre corte dos seus laureados.

Em sede desse esforço, permitimo-nos recordar que a migração e expansão dos Povos e das populações têm determinado ao longo de toda jornada da História da Humanidade não apenas a miscigenação fenotípica mas também a cultural, dos povoamentos nativos e migrados em várias coordenadas geográficas do planeta.

A associação da proximidade com os oceanos e mares com a disponibilidade do conhecimento e de tecnologia de navegação marítima ou transoceânica, bem como o proselitismo à uma fé, determinaram para algumas Nações a exequibilidade e consumação das suas aspirações à escala planetária de identificação de rotas comerciais, contacto com outras Nações e estabelecimento sucessivo de feitorias, capitanias e formas sucedâneas e expressivas da expansão nacional.

A sedentarização nas novas coordenadas geográficas dos grupos ou das comunidades emigradas manifestou-se ao longo da jornada da Humanidade, amiúde de forma anódina e sem grandes alterações nas culturas locais ou incorporativa de valores admitidos como socialmente progressivos nas comunidades aborígenes.

Assim ocorreu com a formação do Império Egípcio sob o reinado do Faraó da III Dinastia Thoutmés III (1504 – 1450 a.n.E.), no Médio Oriente, Mar Egeu e orlas mediterrânicas setentrional e meridional; do Império Helénico e dos Impérios Romanos Ocidental e Oriental (Bizantino).

Por via da dialéctica interactiva entre as comunidades ou do tipo particular de relacionamento entre indígenas e alienígenas, transferiram-se de algumas a outras partes do globo terrestre o conhecimento, a tecnologia, as religiões, a genética demográfica, a epidemiologia, as línguas e outros bensmateriais e imateriais de natureza diversa. 

A emigração e expansão dos Povos não foi consubstanciada apenas por processos nocivos e estigmatizados à luz dos paradigmas correntes de entendimento dos Direitos Humanos que, praticamente nunca existiram até ao séc. XIX com as iniciativas abolicionistas do tráfico de escravos, mas permitiram também a transmissão de valores materiais e imateriais que contribuíram para o progresso das comunidades ou povos envolvidos e da Humanidade.

Primeira edição, especial para coleccionadores

Primeira edição, de capa dura com tiragem limitada, especial para coleccionadores. Um monumental Tratado da História de Angola. Esta obra foi apresentada na antiga Fortaleza de São Miguel (Luanda), em 2022, e no Padrão dos Descobrimentos (Lisboa), em 2021.

Cada período da História apresentou desafios à Humanidade

A interacção menos ou mais virtuosa entre comunidades e povos foi sempre um elemento constante na História da Humanidade desde a migração do Homo sapiens sapiens, a partir da região dos Grandes Lagos de África, segundo a perspectiva monocêntrica da origem da Humanidade, para as coordenadas geográficas mais setentrionais (pelo Estreito de Gibraltar) e destas para outras cada vez mais orientais.

Porém, a consciência dos homens públicos não esteve sempre insensível ao humanismo, exemplificado pela circunstância de ter sido no reinado de José I e governo de Sebastião José de Carvalho e Melo (o Marquês de Pombal), em Portugal, que a partir de 1761 começou a vigorar a interdição do tráfico de escravizados na, altura, chamada metrópole.

E no preâmbulo do decreto com a pretensão abolicionista da escravaturaem todos os territórios portugueses, apresentado para promulgação à D. Maria II em 10 de dezembro de 1836 pelo Presidente do Conselho de Ministros, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, com o nome nobilísticode Marquês de Sá da Bandeira, atribuía com elevado talento eufemístico esse profícuo homem de estado português do séc. XIX a escravatura, aos “vícios do tempo” e não das pessoas, 

Não duvidamos que o “tempo” na altura estivesse, passado que haviam sido quase meio século desde o dealbar da Idade Contemporânea da História da Humanidade, muito viciado, como ocorrera, dentre muitos acontecimentos, até cerca de 15 anos e nove meses antes com a extinção do Tribunal do Santo Ofício, que se dedicara durante três séculos, especialmente, ao julgamento de heresias judaizantes.

E apenas para revisitar o quanto o léxico estava também “viciado” com o tempo, permitimo-nos citar os artigos 1º e 2º do supracitado decreto:

​Artigo 1º:

​Fica proibida a exportação de escravos, seja por mar ou por terra, em todos os Domínios Portugueses,

sem excepção, quer sejam situados ao norte, quer ao sul do equador, desde o dia em que na Capital de cada um dos ditos Domínios for publicado o presente Decreto

​Artigo 2º:

E do mesmo modo proibida a importação de escravos feita por mar, sob qualquer pretexto que se pretenda fazer.

Parágrafo único: Todo o escravo que for importado para terra deverá ser completamente manifestado à sua chegada ao território Português.

Nas duas citações anteriores reconhecemos os “vícios do tempo”, pois por um lado as pessoas eram mercadorias “exportadas e importadas”, em vez de recrutadas e transportadas; e por outro, eram portadoras da condição natural de “escravos” e não de “escravizados” a condição social que lhes era imposta. A escravatura foi uma tara, embora jamais susceptível de ser adornada nos seus fundamentos e nas suas consequências, com expressão multicêntrica e em muitas culturas à escala planetária, muito anterior às Idades Moderna e Contemporânea da História da Humanidade.

O sociólogo brasileiro Gilberto Freire analisou no seu Opus Magnum publicado em 1933, Casa Grande e Senzala, as consequências da escravatura na integridade física, psíquica e genética do escravizado, bem como os seus efeitos na história social do Brasil.

Entrega de Prémio no MIL

Entrega do Prémio do Movimento Internacional Lusófono.

A liberdade é um requisito universal dos indivíduos e dos povos

Concentrando-nos apenas nos acontecimentos ocorridos nos últimos dois séculos da História da Humanidade, não podemos deixar de reconhecer a concatenação entre aqueles e os seus efeitos tangíveis e intangíveis na contemporaneidade.

São os “vícios dos tempos”, parafraseando o legislador da Norma Abolicionista da Escravatura de 1836 nos Territórios Portugueses, que impelem os Povos a corrigi-los, de tal modo que, a 24 de Agosto de 1820 eclodiu no Porto a Revolução Liberal Portuguesa no termo da qual entre os outros resultados levou à dissolução da monarquia absolutista, convertendo-a em constitucional e foi aprovada a primeira Constituição Portuguesa; cerca de um século depois o honrado Povo Português dissolveu definitivamente a Monarquia, proclamando a República no dia 05 de Outubro de 1910 e após o advento da ditadura constitucional entre 1926 e 1974, o abnegado Povo voltou a corrigir os “vícios do tempo”, pois pelo veículo das Forças Armadas fizeram triunfar a Revolução de 25 de Abril de 1974, dissolvendo a ditadura e instaurando em Portugal o programa de democratização, descolonização e desenvolvimento.

A descolonização corrigiu os “vícios dos tempos” que faziam persistir o império colonial em África e na Ásia.

Da experiência pessoal de que somos portadores respigamos o facto de sermos provenientes da população nativa e aborígene de Angola, neto paterno de um nativo que, no contexto das iniciativas sucessivas de abolicionismo do tráfico de escravos do século XIX, esteve integrado no último grupo de cativos que esteve na iminência de embarcar para o Brasil a partir da localidade costeira do Ambriz; em substituição do embarque frustrado para o Brasil, foi integrado no grupo incumbido do trabalho compelido de desbravar o matagal de um latifúndio de uma empresa majestática nos arredores da actual cidade de Caxito, onde plantou um grande palmar de dendém, poucos anos depois convertido em fonte principal do óleo de palma que, era exportado de Angola para a ex-metrópole e outras localidades do império colonial, para fins industriais e de culinária.

O trabalho compelido dos indígenas em latifúndios e construção de itinerários rodoviários incipientes e ferroviários foi um dos severos “vícios do tempo”, que se abateram sobre os nativos em Angola no dealbar do século XX.

Somos ainda sobreviventes da violência entre as forças da autoridadeconstituída e instituída e nativos insurgidos no princípio das últimas 4 décadas do século XX, processo matizado episodicamente com abomináveis actos, mas correctivo dos “vícios do tempo” e que levou às reformas sociais do Ministro do Ultramar em funções na altura, com quem tivemos o privilégio de manter na Sociedade de Geografia de Lisboa um diálogo mútua e espiritualmente redentor, antes do seu relativamente recente falecimento, no decurso do qual ele expôs-nos com a sua autoridade nestoriana “os vícios dos tempos” da altura e nós, lhe manifestamos, humildes, gratos e regozijados, o testemunho da nossa educação se ter devido às reformas sociais por ele e tardiamente desfraldadas em Angola, com validade para todo o império colonialportuguês, a partir do mês de Abril de 1961.

A essas medidas reformistas do finado Prof. Adriano Moreira, sobretudo a de ter promovido a instrução nas comunidades rurais de Angola e generalizando-a às expensas do Estado, embora impelido pelos acontecimentos empreendidos pelos nativos de correcção dos “vícios do tempo”, devemos também o privilégio de agora estarmos a partilhar com V. Exas. este redentor momento e a celebrar a lusofonia.

Entrega do Prémio Personalidade Lusófona 2023, do Movimento Internacional Lusófono.

A Lusofonia é um património comum

A lusofonia foi e tem sido construída desde há séculos com denodadaparticipação de hóspedes e hospedeiros em cada coordenada geográfica, o que também tem suscitado a partilha de afectos entre cidadãos de Nações lusófonas diferentes, extinguindo cada vez mais percepções misógenas e esculpindo progressivamente uma cidadania lusófona.

Por ocasião da participação no Congresso da SEDES de Dezembro de 2021 da actual Presidente do Parlamento de Angola, mandatada especialmente para representar o Chefe de Estado de Angola, Sua Exa. João Manuel Gonçalves Lourenço, aquela alta figura do Estado de Angola referiu a importância da língua portuguesa, especificando que ela é “mais do que um idioma de sinergias que liga mais de 280 milhões de falantes no contexto dos cinco continentes” e que ela “assume-se como factor de unidade estratégica dos nossos povos e nações e como pilar de sustentação  cultural, social, económica e até política, um potencial estratégico que Angola tem sabido preservar e promover”.

A História da Humanidade não foi isenta de elementos adversos; e tendo sido ou estando a ser a lusofonia construída por uma parte da Humanidade, nunca poderia estar dissociada de espinhos.

Mas, os seus elementos estruturantes devem servir de fonte de inspiração para alijar os “vícios dos tempos” e fazer medrar no seu lugar as “virtudes dos tempos”.

Essas “virtudes dos tempos” devem consubstanciar-se no respeito da identidade de cada Nação, na priorização intracomunitária da mobilidade em segurança física e social das pessoas, da circulação de bens materiais e imateriais, em iniciativas susceptíveis de elevar o Índice de desenvolvimento humano, a justiça, a partilha de valores culturais progressivos, o desenvolvimento social e económico, a extinção do obscurantismo endêmico e a observância dos padrões do Estado Democrático e de Direito.

Luis Vaz de Camões exaltou nos Lusíadas em 1572 a visão Henriquina de sulcar os mares e oceanos, bem como a epopeia da expedição marítima de Vasco da gama para a Índia; anos luz muito distanciados do seu singularíssimo e inemulável mérito, nós com humildade e durante 30 anos investigamos, elaboramos a narrativa científica e publicamos em 2021 o Tratado de História de Angola, o primeiro disponibilizado aos interessados no País e no estrangeiro por um autor de nacionalidade exclusiva e originária angolana.

Fizemo-lo, dentre outros propósitos que a ciência almeja desvendar, também para promover o conhecimento exacto do substracto históricopassível de ser posto ao serviço da estruturação de relações cada vez mais entrosadas e relevantes entre as Nações lusófonas.

Finalmente e por tudo que precede, aceitamos com humildade, gratidão e regozijo o Prémio de Personalidade Lusófona do Ano de 2023, concedido pelo Movimento Internacional Lusófono, pois dentre outros muitos aspectos que podem ser trazidos à liça, entendemos que o mesmo honra igualmente todos os cidadãos de Angola promotores da amizade e cooperação das sociedades e comunidades que em todo o mundo se exprimem oficial ou preferencialmente em Português e, especialmente,incita-nos e empodera-nos a contribuir, sem nos acanharmos, para o serviço da promoção de relações virtuosas e de defesa dos valores progressivos,materiais e imateriais, da parte lusófona da Humanidade.

Agradecemos, pela distinção que nos foi conferida como laureados deste prémio, o Exmo. Senhor Prof. Doutor Renato Epifánio, Presidente do Movimento Internacional Lusófono, os Excelentíssimos Senhores e Excelentíssimas Senhoras membros dos seus Órgãos Sociais, Agradecemoso Excelentíssimo Senhor Prof. Doutor Álavro Beleza, Presidente da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social por nos haver recebido no contexto de ter abrigado esta cerimónia e agradecemos a atenção e a honra da participação que nos foi dispensada por todos os presentes.

Prémio Personalidade Lusófona: homenagem dos familiares e amigos do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, na Casa de Angola (Lisboa)


“Angola cinco séculos de guerra económica”

“Angola cinco séculos de guerra económica”

ATENÇÃO: Evento desmarcado. Brevemente daremos informações de local e data de apresentação do livro “Angola cinco séculos de guerra económica”, de Jonuel Gonçalves

Leitura livre de 28 páginas do livro “Angola cinco séculos de guerra económica“, de Jonuel Gonçalves.

“O colonialismo e a cleptocracia são dois regimes de guerra económica permanente. Ambos visam a captura de recursos com base em posições de privilégio ou de força nos centros de poder, mantendo-se pela repressão. Angola teve três séculos da sua construção como território sob regime de captura de escravos. A sua construção como país independente tem sido marcada pela captura de recursos financeiros do Estado, tanto das reservas em moeda convertível, como em favoritismo estrutural no acesso a contratos públicos e comissões para concessão dos mesmos.”

Este livro é o primeiro no projeto de estudo sobre Guerras Económicas, conduzido pelo autor.

Poemário

Poemário

TEXTO: GABRIEL BAGUET JR, Jornalista/Escritor

Dizer, escrever, pensar ,ouvir e declamar Angola foi e é o Sonho de muitos anos para que a Poesia fosse o cheiro da nossa Utopia. A Poesia é entre outras Artes, a Arte maior e ancestral para exprimir o Amor, a Pertença, a Liberdade, o Pensamento , o Reflectir, o Silêncio e o Olhar do que se observa, do que se imagina e da essência do Sentir.

Ao aceitar com toda a honra pessoal o convite para adicionar letras que formam palavras para debruçar me em cada Amanhecer e Entardecer sobre o Poemário sobre o Manifesto por um “Novo 11 de Novembro“, as primeiras palavras que saíram e saem do meu coração, é o meu assumido Amor por Angola. Angola é e foi o meu caminho para o Mundo e o tempo passou, mas a Memória ficou. Este Poemário teve avanços e recuos diversos porque não é fácil falar da Poesia e da sua maresia sem falar do Amor dos nossos Antepassados, dos Ancestrais Familiares e dos demais Ancestrais e naturalmente porque o Amor assim o determina dos Nossos progenitores. E se a Poesia em si, é um todo que agrega Falas, Lugares, Olhares, Paixões, Dizeres, Expressões e o Sentir do Devir, a palavra Pai e Mãe são a nossa principal Arte de Amar a Poesia do nosso encontro com a Vida que é o Nascer.E assim SER. Saber SER, SER. É essa condição indispensável e de valor supremo com a condição de Crescer. E a Condição plena de Ser-se Humano. O Mundo também é o meu lugar de Existir.

Escrever um Poemário é um Olhar no Tempo de Todos os Tempos e na Ruas dos Dias Homenagear Todas as Poetisas e Poetas Angolanos. Mas igualmente pela inserção regional as Mulheres e Homens Africanos que fizeram e fazem da Poesia a porta de entrada para criar mais Consciência face à Liberdade de Pensar e Amar África. Se as Poetisas e os Poetas Angolanos ergueram as suas Vozes em momentos duros da nossa História recuada e actual, as Poetisas Africanas e os Poetas Africanos trilharam e deixaram em folhas de papel, os gritos da luta contra a Escravatura, contra a Colonização, contra o Apartheid e todas as formas de Opressão Cultural. Universalizar a Poesia é também um Dever de Cidadania e de dizer ao Mundo que a Poesia e as palavras inseridas na construção poética mudam a Narrativa de Existir , de Ser, de Estar, de Abraçar legítimas Causas e com as mesmas Evocar, sem esquecer Memorizar.

A Poesia tem uma essência perfumada em todos os Sentidos e em toda a plenitude das diferentes formas de Expressão Artística. Seja na Música, na Dança, na Pintura e na Arte da Vida. Há e haverá sempre Poesia quando os Nossos Olhares despirem-se de inúmeros preconceitos e sentirem o cheiro de cada Palavra dita, escrita e pensada como um Acto de Amor Eterno

No quadro deste caminho da Liberdade da Consciência Poética e da Poesia como Expressão do assumido e imperativo caminho de lutar pela Liberdade e pelo Direito à Dignidade, outros Povos de todo Mundo fizeram da Poesia o manto para derrubar Muros em Campos de Concentração. Em Angola, em África, na Europa, na América fixou-se na Memória Colectiva da Humanidade, a força,mas também a Leveza do Ser da Poesia para Libertar e Consciencializar o Mundo . A Poesia é libertadora em todos os Sentidos e não se esgota numa única visão e numa única Rua da Humanidade da Vida e no Silêncio das Estantes. A Poesia habita os Nossos Dias e os Dias Futuros. Os ais ecoados dos Navios que transportavam Seres Humanos chamados injustamente Escravos, os ais vindos das Prisões e dos Campos de Concentração não fizeram tremer as Mãos femininas e masculinas apesar da dor e do cansaço, sobreviveram e as suas inquietantes e legítimas Vozes fizeram a Poesia que agora lemos. É preciso continuar a Ler e a Escrever. E Pensar. Pensar na Poesia como as Folhas e as Palavras que escrevem a PAZ. A PAZ que faz falta de modo EMERGENTE face ao Mundo que habitamos.

Escrever um Poémário é um longo exercício de Pensamento pela sua abrangência e pelo sentido de justiça de não excluir nem um nome, nem autor, nenhuma Declamadora e Declamador das suas Poesias.

A Poesia é também um Olhar à Memória da Música da nossa Existência Humana. O que Somos e Fomos. O que deixamos de Ser e Fazer. A Poesia é a travessia que passa o Existir sem Exigir. A Poesia é a Melodia da Vida em diferentes cadências e em distintas Pautas..Homenagear a Poesia Angolana, é justamente Homenagear todas as Mulheres e Homens naturais de Angola na extensão do Tempo Passado, Presente e Futuro. A curiosidade da investigação remete me para o primeiro Poema que possa ter sido escrito em Angola e no Mundo. Mas no nosso caso as Falas diversas do nosso Território expressaram decerto essa palavra que hoje se chama Poesia. A Oralidade é uma Arte Poética. A Oralidade para além da Arte, tem Estética e aos Linguistas e outros estudiosos da Poesia e da sua origem e contemporaneidade, há decerto muito por Escrever e Dizer.

A Poesia dialoga com o Mundo e deriva para um extenso Oceano de Palavras que não nos abandonam na percepção de quem teima e em estar vivo num Mar de Identidades Diversas. Foi o nosso caso.É a nossa realidade.Ardentes Palavras e genuínas Reflexões foram feitas nos finais do Século XIX, princípio do Século XX onde se destaca de forma indelével a célebre Geração 1900 que deixou para a nossa Memória Colectiva pedaços imensos de sentimentos,anseios, de lucidez sem medo e que enfrentaram com toda a Claridade um sistema que negavam para o nosso Povo. Essa clarividência integrava nomes como António de Assis Jr, Cordeiro da Marta, Fontes Pereira, Apolinário Van-Dunem, Paixão Franco e Silvério Ferreira.

Percorrer algumas etapas da nossa História e da História Universal é um acto Poético. Porque a nossa Nação tem tido ao longo da sua práxis histórica percursoras e percursores que no domínio da Literatura Poética retiveram com coragem a verticalidade de deixar-nos ensinamentos, mas aprendizagens e iniciaram a viagem que se imponha à sua Geração.Anteciparam poeticamente o Tempo e o Agora transformando com determinação os espaços identitários e tão diversos e multifacetados da Nossa vasta Cultura e no domínio linguístico não se coibiram de defender as Línguas Nacionais, mas também as Tradições, os Costumes e com isso abriram perante o Poder Colonial uma estantes dos Nossos Diversos Saberes.As fontes consultadas são inúmeras e na escadas deste Poemário que reflecte um Olhar Pessoal e solitário nesta narrativa, surgiram outras mãos de Poetisas e Poetas Angolanos identificando os ais e as razões de um Povo que já existia e não foi descoberto,antes encontrado com as suas Falas, com as suas Expressões e diversas Tradições, repito. E acentuo esta posição porque a única forma de salvaguardar o nosso Património não é apagar ou excluir Bibliotecas, Arquivos e Memórias diversas. Antes preservar para Estudar, Conhecer, Não Esquecer e Transmitir Conhecimento Ancestral. A voragem do Tempo não deve apagar intencionalmente o fixado em inúmeras folhas de papel, cadernos e livros. A Cultura é um Bem essencial que a Nacão Angolana pode oferecer aos seus naturais, mas também o Conhecimento e o acesso ao mesmo erguem páginas para Ler e Saber.

A Poesia, a nossa Poesia atravessou Mares de todo o mundo. Exemplo disso e do já anteriormente referido face aos Autores citados da Geração 1900, surgiu em meados da década de 40 até 1961 , período que coincidiu com o início da Luta Armada, uma Geração de Intelectuais Angolanos que deram corpo e alma em Angola e nomeadamente no meio luandense às Revistas ‘Mensagem” e “Cultura” que de acordo com fontes históricas e bibliograficas lidas, estas publicações citadas eram por si só o Grito de uma Consciência que apelava e e enfrentava o Poder Colonial. De acordo com fontes que pediram anonimato e estão vivas, Viriato da Cruz, natural do Sumbe (antigo Porto Amboim) onde nasceu a 25 de Março de 1928, foi um dos mais destacados angolanos do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, fundado em Luanda em 1950 com a já mencionada e muito procurada Revista Literária a”MENSAGEM”, estrutura da Associação dos Naturais de Angola.

As Novas Gerações Angolanas talvez não se recordem de

“O Pregão da Avó Ximinha
É mesmo como os seus Panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.

Avó Xima está velhinha
Mas de manhã,manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia…”,

assim escreveu e disse para não Esquecer, o Poeta Viriato Clemente da Cruz, em “MAKÈZU”, publicado na Colecção Autores Ultramarinos na Colectânea de Poemas ( 1947-1950).

Ao citar estes versos, o meu Pensamento leva-me de novo à Escrita provinda da raiz interior do Poeta Angolano Viriato Francisco Clemente da Cruz. Entre 26 de Março de 1959 e 1 de Abril de 1959, no Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma disse: “No quadro da sociedade colonial, tanto os trabalhos culturais como o ensino oficial tem por finalidade falsear a nossa personalidade, criar em nós próprios profundos reflexos que irão obrigar-nos , quando a hora da liberdade soar, a um comportamento de fidelidade em relação à Europa. Este é certamente uma das maiores armadilhas montadas pelo colonialismo, mesmo o mais reformista”citando o Autor de “MAKÈZU”, “SÔ SANTO”, “NAMORO “,”SERÃO de MENINO”, “RIMANCE da MENINA da ROÇA”, “MAMÃ NEGRA”(Canto de Esperança).

A Poesia não tem cheiro e neste Canto de Esperança e Ventos de Fé, a Poesia tem a essência necessária para que decorridos 48 anos de Independência a Poesia Angolana e a Poesia do Mundo habitem o quotidiano Angolano e em cada Janela, Rua, Espaço Urbano ou Rural , sinta-se que a Poesia suaviza os Dias “pelos teus Olhos, minha Mãe”, in “MAMÃ NEGRA”, do Poeta e Escritor Viriato da Cruz.

Pelos teu Olhar minha Querida Angola, deixa que a Poesia te Abrace de forma profunda e para que o Sonho legítimo e inquestionável da Nossa Independência continue assente em antigas e renovadas estrofes e que o exercício da Política tenha esse perfume da Poesia.

Como me referiu um dia no seu escritório de Advocacia em Lisboa, sito no Largo de Santa Bárbara, o Nacionalista Angolano e exímio Jurista Gentil Viana , a “Arte e a Poesia são um caminho sábio para evitar as Guerras”. É verdade. Palavras ditas e transcritas para um bloco de notas pessoal que guardo até hoje como parte de uma estrofe.

Nesse entardecer de 1998, ambos sonhávamos Angola e o seu Futuro. E a Poesia pode ser o Abraço inesquecível que solidifique a Paz perante os desafios internos variados, mas também a ponte para os desafios regionais e externos.

A Nossa Poesia tem o som dos kissanges por vezes esquecidos e mais que Tempo que a Política ame a Poesia para a emergente Humanização da Sociedade Angolana, porque a Poesia deixa desejos constantes de Amar Angola e as Pessoas que Nela habitam e vivem. Sendo a Poesia transversal que se abra o Olhar para revisitar Tempos de Sonhos e das metamorfoses vindas das Vozes caladas e dos “banguês das tongas”.

Utopia ou não é possível Poetizar a Política e torná-la mais Fraterna e Solidária.

Viva a Poesia.Um Abraço profundo à mesma e a Angola. A Poesia deve ter lugar primordial nestes Tempos Angolanos

Lançamento do segundo volume “Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias” na cidade da Praia

Lançamento do segundo volume “Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias” na cidade da Praia

PRESS RELEASE — O Segundo volume da colectânea póstuma sobre antropologia cultural «Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias», do escritor e etnólogo angolano Mauricio Francisco Caetano, “Mafrano”, será apresentado no dia 20 de Dezembro, quarta-feira, na Biblioteca Nacional de Cabo-Verde (BNCV), cidade da Praia, às 17:00. Recorde-se que o primeiro volume desta mesma obra havia sido já apresentado no mesmo lugar, em Agosto do ano passado.

A colectânea póstuma de Maurício Francisco Caetano (1916-1982), contem registos inéditos sobre a ancestralidade da vida, hábitos e costumes da cultura bantu, incluindo a pré-história, organização social, a estrutura política dos Bantu, a origem da vida humana e animal, lendas e fábulas sobre a morte, iniciações relativas aos casamentos, a religião e outros temas de interesse antropológico.

Formado em instituições de ensino da igreja católica na cidade do Dondo, sua terra natal, e em Luanda, o autor foi oficial de impostos, secretário da Fazenda e director Nacional de Finanças em Angola de até 1982, o ano da sua morte. Maurício Caetano foi ainda membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), colaborador de proeminentes jornais e revistas da sua época, como o Jornal «O Apostolado» e a «Revista Angola», da Liga Nacional Africana, além de professor de Português e de Filosofia, em prestigiados estabelecimentos de ensino, nomeadamente no Liceu Ngola Kiluanji, o Instituto PIO XII, o ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola) e o Instituto Comercial de Luanda.

A sua obra ganhou notoriedade e tem sido recomendada como referência académica pelo facto de “Mafrano” ter apresentado pesquisas originais cujos temas eram, até então abordados apenas por estudiosos ocidentais, como Franz Boas, León Frobenius, Carlos Esterman e outros. Mauricio Francisco Caetano destacou-se com artigos dispersos na imprensa angolana, o mas antigo dos quais tem como titulo «O Perfil Etnográfico do Negro Jinga», com data de Agosto de 1947. O seu vasto espólio literário está agora a ser compilado nesta colectânea a sair em três volumes e que inclui “Crónicas ligeiras”, “Notas a lápis”, “Episódios Vividos”, “Tertúlias”, contos tradicionais e outros textos.

O primeiro volume desta obra foi apresentado Abril de 2022, no Seminário Maior Padre Sikufinde, do Lubango, Província da Huíla, por Dom Zacarias Kamuenho, arcebispo-emérito do Lubango e prémio Sakharov 2001m e dias mais tarde em Luanda.

Segundo a mais recente opinião do antropólogo Kabengele Munanga, professor Emérito da Universidade de São Paulo (USP), Brasil, esta colectânea e as outras obras a serem publicadas sobre Mafrano «são livros que podem ser utilizados por antropólogos angolanos e africanos, em salas de aulas, para explicar essas culturas ancestrais de origem bantu que hoje já não existem».

A publicação do terceiro e último volume de «Os Bantu na visão de Mafrano» está prevista para 2024, mas a família do autor tenciona trazer a público mais duas outras obras, sobre antropologia religiosa e outros temas sociais.

Além da Biblioteca Nacional de Cabo-Verde, a apresentação do volume dois da colectânea de Mafrano sobre os Bantu está a ter o envolvimento das editoras NOS RAIZ (Cabo Verde) e Perfil Criativo (Portugal), a Diocese de Santiago, na Praia, a Fundação Amílcar Cabral, a Academia de Letras de Cabo-Verde, o Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, Académicos Universitários e de um grupo que integra leitores, ex-alunos e amigos da família do autor.

INFORMAÇÕES: +238.520.28.13 | nosraiz.caboverde@gmail.com | info@autores.club

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Cabo Verde: Descobrir a História, a Geografia e as Nações de Angola

Cabo Verde: Descobrir a História, a Geografia e as Nações de Angola

PRESS RELEASE — Na próxima quinta-feira, 23 de Novembro, às 17 horas, a Biblioteca Nacional de Cabo Verde em conjunto com a NOS RAIZ vão apresentar na cidade da Praia o livro “Caraculo, a Minha Paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum Fotográfico do Século XIX E XX” (Ed. 2021), de Victor Torres. 

Neste evento inédito a jornalista Susana Gonçalves em parceria com o antigo jornalista e actual empresário cabo-verdiano, Eugénio Inocêncio [autor dos livros “Múrcia” (Ed. 2017), “Depois das Mangas Vêm os Abacates (Duplo Laço)”(Ed. 2019) e “Figueira Gorda. A procura da quarta dimensão (o eterno triângulo amoroso)” (Ed. 2024)], vão debater e revelar, juntos com o autor angolano, esta surpreendente obra. Victor Torres é já hoje considerado por muitos como um importante memorialista e responsável por um grande êxito da editora Perfil Criativo, disponível nas principais livrarias de Portugal. 

O Sul de Angola, em especial o deserto do Namibe (o mais antigo do mundo com mais de 55 milhões de anos) chegam de uma forma detalhada e vivida à cidade da Praia. Uma oportunidade única para conhecer melhor a História, a Geografia e as Nações de Angola, desde o tempo colonial, passando pela independência nacional até aos dias de hoje.

A magia da miragem

“(…) E eu continuei a regressar ao Sul, sempre na sua companhia. E ao mesmo tempo que a província do Namibe se impôs como destino turístico destacado em Angola, o Victor revelou-me os principais argumentos desta terra, simultaneamente inóspita e acolhedora. Visitámos antigas e férteis fazendas da Bibala e Kapangombe, logo ali, ao descer as estradas serpenteantes da Leba ou da Chela e onde o verde ainda domina, aproveitando a água que escorre dos precipícios do planalto; as belíssimas praias isoladas da costa que começam agora a ser exploradas por irresistíveis e originais resorts; o vasto vale do Caraculo, com as suas formações rochosas que se habituou a admirar desde pequenino a partir da varanda da casa da fazenda da família; o oásis da Lagoa dos Arcos, já a caminho da cidade do Tombwa onde termina a estrada que percorre toda a costa do país, desde o Soyo. E cumpriu a promessa de me levar ao Parque Nacional do Iona, no deserto do Namibe. Esse deserto onde a paisagem muda a cada instante (…)”

Susana Gonçalves, in “A magia da miragem”

Os mucubais

“Das muitas narrativas contadas, recordo que sendo Moçâmedes uma espécie de ilha, de um lado o deserto do outro o mar, o seu comércio era feito por barco na ilha de Santa Helena e no Congo, territórios distantes dos portos das cidades costeiras de Benguela e Luanda. Uma outra memória que retive foi a relação da família com os Mucubais, os verdadeiros “donos” da terra que foram assassinados e deportados pelo Estado Português, em 1940.

Estas são algumas das histórias incríveis de uma família, no tempo Colonial, que temos o privilégio de publicar e às quais juntámos uma pequena parte do seu álbum fotográfico do século XIX e XX. Do acervo publicado revelam-se fotografias inéditas de um dos mais estudados fotógrafos portugueses do século XIX, Cunha Morais, também ele membro da família Torres.”

João Ricardo Rodrigues, editor


Autor: Victor Torres

EditoraAlende – Edições (Angola) | Perfil Criativo – Edições (Portugal)

Ano de publicação: Janeiro 2021

Edição de Angola – ISBN: 978-989-54797-5-7

Edição de Portugal – ISBN: 978-989-54937-3-9

Ler Artigo: De onde venho, quem sou?

Língua: Português

Formato: 170 x 240 mm

Número de páginas: 214

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Lançamento oficial do livro “Angola e o Atlântico – Colonialismo, colonialidade e epistemologia descolonial”

Lançamento oficial do livro “Angola e o Atlântico – Colonialismo, colonialidade e epistemologia descolonial”

PRESS RELEASE — O Centro Nacional de Cultura, em Lisboa, vai acolher, no dia 4 de Dezembro, às 18h00,  o lançamento oficial do livro “Angola e o Atlântico – Colonialismo, colonialidade e epistemologia descolonial” (Ed. 2023), de Luís Gaivão. 

Esta obra, é o segundo volume da colecção “Trabalhos Académicos” publicada pela Perfil Criativo — Edições e será apresentada neste evento pelo jurista e político, Prof. Doutor Guilherme d’Oliveira Martins. O editor estará representado pelo escritor Tomás Lima Coelho.

Segundo o autor “o intuito deste livro é refletir sobre estes colonialismos no Sul, através de pensadores do Sul, cujas realidades são bem distintas dos colonialismos do Norte e ao pensar sobre o passado dos colonialismos ibéricos conhecer o que eles transformaram na História do Atlântico, particularmente, aqui, na de Angola. No fundo, trata-se de colocar Angola e a sua História diante de si própria, e ajudar a descobrir a união entre o que passou e o que se vai passar, preenchendo com novos padrões societais (ecologia de saberes) os espaços vazios que a permanência colonial provocou, mas aproveitando dela a entrada na modernidade. Não a eurocêntrica, mas humana e natural, do Sul, do Atlântico e de Angola.”

Luís Gaivão nasceu em Luanda, em 1948. É licenciado em Filosofia e Humanidades, mestre em Lusofonia e Relações Internacionais e doutor em Sociologia: Pós-colonialismos e Cidadania Global. É agente cultural de inúmeras intervenções quase sempre sobre temática angolana.

AutorLuís Gaivão

EditoraPerfil Criativo – Edições

Ano de publicaçãoSetembro de 2023 – 1ª edição

ISBN978-989-35076-8-1

Colecção: Trabalhos Académicos (Volume 2)

LínguaPortuguês

Nº de páginas: 148 páginas

P.V.P: 17,00 euros

Livro disponível para encomenda: https://shop.autores.club/pt/inicio/371-angola-e-o-atlantico-colonialismo-colonialidade-e-epistemologia-descolonial.html

Índice

  • Introdução
  • O começo das coisas
  • Colonialismo
  • Ferramentas do colonialismo: fixidez e estereótipo
  • Colonialismo ibérico no Atlântico: de exploração, de povoamento e periférico
  • Colonialismo periférico português em Angola: subcolonização
  • ou sobrecolonização? Especificidades
  • Transculturação nos espaços do colonialismo português – o caso de Angola
  • Colonialismo e guerra fria na África Austral
  • A longa temporalidade do colonialismo português – dessincronia e rutura do modelo eurocêntrico e a particularidade angolana
  • Colonialismo português e o retorno do “império”: colonialismo orgânico de Eduardo Lourenço e o império desterritorializado
  • Colonialismo e modernidade ­— África às escuras e a Conferência de Berlim 
  • América “iluminada” e o “ponto zero” racionalista
  • Consequências da colonização ibérica na América Latina: colonialidade e hierarquia das raças
  • Culturas atlânticas (do Sul)
  • Fronteiras, culturas fronteiriças e novas dinâmicas dos limites
  • Tradução cultural, hibridação e entre-espaço
  • “Esquecimento” da colonialidade pelo pensamento eurocêntrico
  • Colonialismo interno e marginalidade
  • Pensamento ameríndio e africano e a perversa sedução deste último pelo colonialismo
  • Teoria do “pensamento abissal”
  • “Este lado da linha”
  • O “outro lado da linha”
  • Ecologia de saberes, pensamento pós-abissal, cosmopolitismo subalterno
  • Angola, um Estado moderno pós-colonial e a guerra civil
  • Neocolonialismo
  • Eurocentrismo: capitalismo e materialismo histórico
  • Guerra civil, nomenclatura e corrupção
  • O Estado ineficaz e o neocolonialismo – a herança que é necessário mudar
  • Desadaptação do Estado-nação em África – colonialidade e Estado quase falhado
  • Conclusão
  • Glossário
  • Referências bibliográficas

Morada do lançamento: Centro Nacional de Cultura – Galeria Fernando Pessoa, Largo do Picadeiro, n° 10 – 1º (porta do lado esquerdo da esplanada do Café no Chiado)

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“A faca anti-Putin & outras coincidências”

“A faca anti-Putin & outras coincidências”

Crónica de TAZUARY NKEITA publicada no Jornal de Angola de 2 de Julho de 2023 e no no jornal Savana de 30 de Junho de 2023. Ilustração de TPYXA_ILLUSTRATION.

O 24 de Junho abalou o mundo, muito mais do que os dias narrados pelo norte americano John Reed, a propósito da Revolução Bolchevique de Outubro de 1917, na antiga URSS.

Desta vez, não foram os bolcheviques nem os mencheviques a abalarem o mundo em dez dias, mas sim os “wagneriviques”, de Yevgeny Prigozhin, antigo cozinheiro de Putin, ao assumirem o controlo da cidade estratégica de Rostov, durante algumas horas, e ameaçando marchar numa coluna militar até tomar Moscovo. E o mundo estremeceu com razão, num olhar clamoroso de transparente estupefacção por uma rebelião que estava a acontecer na maior potência nuclear do planeta, e em pleno teatro de guerra!

Ainda brinquei, inofensivamente, com quem me ouvia, dizendo:

“É o 27 de Maio russo, com a única diferença de que o nosso ocorreu mais cedo, em 1977, e o deles só acontece quase meio século mais tarde, em Junho de 2023. Aposto que Neto e Brejnev devem estar a discutir isto com antigos protagonistas, agora mesmo! E Neto diria certamente: – No passado, as minhas tropas foram mais eficazes do que o exército de Putin”…

“Eh! Foste longe”…, responderam-me.

“Sim. Fui longe de mais e já tinha escrito algo muito parecido à conspiração nas costas de Putin, no meu livro de crónicas romanceadas, ‘42.4 – A Voz do Dibengo’, em Junho de 2001, da página 63 à página 82.

Estávamos num reino imaginário, chamado Bakelele, sob a feroz autoridade de Sua Majestade o rei Makwinyi a Samanu Ni-Vwa, ’69’, nos seus 72 anos! E o cognome fora-lhe precisamente atribuído porque o ‘69’ não queria mudar! Era Sua Majestade ‘69’ à direita; Sua Majestade ‘69’ à esquerda; Sua Majestade ‘69’ para cima e Sua Majestade ‘69’ para baixo. Inalterável, o mesmo e eterno ‘69’, era o monarca absoluto!”

O que fazer então?!…

Os adversários – ninguém está a falar da NATO nem dos EUA – diziam que o velho ‘69’ tinha crises de histeria quando lhe sugerissem um sucessor democraticamente eleito. “Só se acalma ao ver o suposto sucessor lançado aos crocodilos”, diziam os detractores, especulando que o poder em Bakelele era exercido discretamente pelo cozinheiro real, uma eminência parda, Wollinho Kikussu, verdadeiro jovem turco. Até ao dia em que a iniciativa de uma suposta conspiração para afastar o “69” do poder partiu do próprio Wollinho Kikussu, o seu cozinheiro.

Há alguma semelhança entre Kikussu e o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, que dizem ter sido também um brilhante cozinheiro e oligarca da indústria alimentar na Rússia?

Não! Tudo isso foi mera coincidência….

A criação literária tem destas coisas. De tanto observarmos a realidade, acertamos por mero acaso num palpite do futuro. E, isto, por uma simples razão, e nada mais:

– A mentalidade, ambição e os sentimentos humanos têm traços comuns, em todas as fases da História da Humanidade, com raras excepções e alguns génios à cabeça!

O Wollinho Kikussu de “A Voz do Dibengo” era um destes génios. Fiel cozinheiro

de Sua Majestade o Rei Makwinyi a Samanu Ni-Vwa (O Sessenta e Nove), era tão hábil, tão popular e tão destemido que passou a ser odiado pelos “papões do reino” e querido por outros. Viam nele “o delfim de Sua Majestade a abater, e invejavam-no”, leia-se na página 63…

Um belo dia, o delfimcozinheiro foi preso por alegada “alta traição”, intriga na verdade, e atirado a crocodilos esfomeados. Com os rumores da sua morte o reino transformou-se num caos.

Brevemente vou reeditar este livro que já está em francês e nas mãos de uma editora, para revisão. Mas, contrariamente ao que se disse sobre o chefe do grupo Wagner, que partiu exilado para a Bielorrússia, o cozinheiro Wollinho Kikussu acabou morto, não pelos crocodilos porque escapou vivo, como um gato, e mais ágil do que um símio. Lutando com todas as forças, perdeu a mão direita, na boca de um crocodilo, mas salvou a vida.

Nomeado “embaixador” por extrema bondade e clemência de Sua Majestade o Rei “69”, Kikussu morreu, contudo, num insólito acidente de viação, quando viajava com o grande amor da sua vida!… (página 82).

Quem matou Wollinho Kikussu?

Nada se diz. Os mortos não falam nem se confessam

Jornal de Angola de 2 de Julho de 2023

Savana de 30 de Junho de 2023

Carta de Carlos Ferreira a “um Homem livre”

Carta de Carlos Ferreira a “um Homem livre”

Autor: CARLOS FERREIRA

Li o livro (E agora quem avança somos nós – Romance) de um só jorro. Como dá a sensação que ele foi escrito. Sem paragens, sem grandes interrogações, como se tudo já estivesse na tua cabeça quando o começaste. E dado que a tua escrita tem uma carga coloquial muito grande, é difícil parar quando se começa a ler. Algumas das minhas impressões correm o risco de ter alguma dose de subjectividade por te conhecer e por termos uma ligação grande e antiga, mas não me parece. Procurei ser o mais objectivo possível, mesmo que haja passagens que por esta ou aquela razão me tocam mais do ponto de vista emocional.
É comum, para quem como eu defende há muito tempo, provavelmente desde que ganhei alguma consciência, que as vivências do Autor, o seu caminho, as suas escolhas, o seu perfil humano e o seu posicionamento político são inseparáveis do que escreve. Nunca vi a literatura como algo inocente, mesmo quando aparecem algumas e alguns autores que se auto-definem como “apolíticos”. Uma aberração de uma direita descomposta, pouco democrática e normalmente reaccionária e conservadora. Lembrei-me agora, por exemplo do João Gaspar Simões, que a elite intelectual portuguesa ligada à direita, considerava como um grande crítico literário… E que ecoava normalmente o vazio que o “sal e azar” tanto apreciava. Mas continuemos.
Os teus romances, porque não podiam ser outra coisa. Demonstram claramente uma continuidade do que foste sendo ao longo da vida, enquanto militante da causa maior da libertação humana, de combatente contra muros e ameias, contra totalitarismos de qualquer espécie, sem cedências e sem contemplações. Lembrando a Mafalda do Quino, podíamos dizer não “Hay gobierno soy contra” mas “Há repressão, sou contra”. Seja a repressão efectiva, directa, de poderes legal ou ilegalmente constituídos sobre cidadãs e cidadãos, sejam os mecanismos psicológicos que com séculos de dominação, propaganda, por via do ensino, da comunicação social, de instituições pseudo-religiosas que são criminosas, e mais recentemente das televisões, das redes sociais e dos “influenciadores”. Que se inculcam na mente das pessoas, ferindo-as, magoando-as, envenenando-as, ao ponto de se submeterem à escravidão mais execrável. A de abandonarem o pensamento livre, autónomo e resultado das nossas escolhas conscientes de seres humanos maduros e pensantes.
Também este romance não foge a essa regra. E é um espelho fiel e sequente do que vens vivendo. Há uma lógica que acompanha a tua ficção que, como é natural, é o fruto das tuas experiências, vivências, vitórias, derrotas – a maior parte das vezes porque a esmagadora maioria dos factos que nos rodeiam e dos humanos que pululam à nossa volta asfixiam-nos a vida inteira e não deixam sequer, de muitas formas, que possamos atingir os outros mais rápida e imediatamente. Que seja.
O manancial de vidas vividas, de amizades conquistadas, de pontes construídas nos mais distantes pontos geográficos do mundo, solidariedades e cumplicidades criadas são-no em suficiente número e consistência para que haja a plena consciência que estás do lado da razão. E que assim sendo, o aumento substancial e agora de peito aberto de barões e marqueses nascidos da lumpenagem, fascistas e pseudo-fascistas, “libertadores” que apenas queriam copiar opressores, nada nem ninguém te fará mudar de opinião e de posição enquanto escreveres, enquanto deres aulas, enquanto estudares, enquanto reflectires, enquanto debateres.
É um romance do mundo porque tu és um Homem do Mundo. Não dos que se fecham à volta do umbigo, olhando-se para o espelho e pervertendo a verdade, matando a esperança, tolhendo a alegria de viver. Condensas neste novo título um sem número de acontecimentos, lugares, gente livre e soberana que obrigará o leitor ou a leitora a procurar, a buscar, a conhecer, a indagar. E a procurar-se, a buscar-se, a conhecer-se, a indagar-se.
Sem as “identidades” filhas da puta que são organizadas e estimuladas para nos dividirem, para nos separarem, para abrirem um fosso nos que, perante uma luta comum, se dividem com os cantos das sereias que os convidam a pensar em primeiro lugar na sua condição individual e de grupo, de classe, de género, de raça e tudo mais quanto vão inventando, enfraquecendo e fazendo esquecer o combate essencial e cada vez mais urgente que devia congregar tudo e todos.
Na discussão que há séculos se levanta sobre o papel do escritor, do autor, do criador, que bem maior pode haver do que este: abrir caminhos, obrigar a que os olhos se regalem com cada “curva” que fazes nas escolhas que vais oferecendo, na criatividade encontrada pelos kilómetros sem fim que percorreste, pelas realidades porque passaste, pelas solidariedades criadas, pelos sofrimentos que te marcam o lombo, em busca afinal de uma das maiores e mais sólidas buscas na Vida: ser um Homem livre. A única condição possível para solidariamente mostrar o caminho da liberdade plena e total aos outros.


* Carlos Ferreira nasceu em Luanda. Jornalista, foi director de Programas da Rádio Nacional de Angola, do semanário Novo Jornal e fez acessoria de imprensa ao Presidente da Republica de Angola até 1995. Premiado várias vezes, como letrista de canções, é poeta com mais de uma dezena de títulos publicados, novelista e cronista. É membro da União dos Escritores Angolanos, da União dos Jornalistas Angolanos, da Associação Tchiweka de Documentação e da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil.

Carlos Ferreira (Cassé) — Fotografia Jornal de Angola

** Este artigo foi publicado na Conversa à Sombra da Mulemba


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