Arrancamos o ano no de 2023 com uma nova colecção, “Trabalhos Académicos”, com dois autores de Angola, uma oportunidade para trazer para o grande público a voz das universidades através dos seus estudos de investigação. Esta colecção apresenta dois livros que estiveram a fermentar na editora durante muito tempo, demasiado tempo, e que agora ganham corpo. Aproveitamos esta oportunidade para celebrar a democratização do conhecimento entre Angola e Portugal.
João Ramos Piúla Casimiro nasceu em Lândana, na província de Cabinda, tem a seguinte formação: curso superior de Filosofia, Teologia e Direito. É mestre em Filosofia, em Direito, na área Jurídico-Civilística, Direito Internacional e Relações Internacionais. Este primeiro livro é uma reflexão sobre a cultura de Cabinda (Angola) e avança com os conceitos: Identidade e Cultura, trazendo para junto destes a Dignidade.
Luís Gaivão é escritor, investigador, agente cultural, humorista. Licenciado em Filosofia e Humanidades, mestre em Lusofonia e Relações Internacionais e doutorado em Sociologia. O segundo volume desta colecção é uma reflexão sobre o encontro em 1483 entre navegador Diogo Cão e o Reino do Congo, e vai até ao colonialismo, sem esquecer as culturas do Atlântico Sul e o Eurocentrismo.
Na mesa de hora estiveram os antigos jogadores Domingos Inguila João, Vadiago (Francisco Van-Dúnem) e em representação da editora o jornalista João Armando, director do semanário Expansão.
O Cantinho do Desportista encheu com antigos jogadores e no ar soprou uma brisa de memórias das velhas glórias de Luanda.
Reportagem
Velhas glórias do futebol luandense, José Luís Prata, Joaquim Dinis, Carlos Queiroz e Lourenço Bento
Nas fotos abaixo Domingos Inguila João e Francisco Van-Dúnem. Na fotografia ao lado as velhas glórias do futebol luandense: Mendonça, Carlos Queirós, Lourenço Bento, José Luís Prata, Domingos Inguila e Daniel N’Dunguidi
Na foto abaixo o artista plástico Álvaro Macieira, ao lado entrevista de Inguila à TV ZIMBO
O autor dos livros, Francisco Van-Dunem, com o deputado Virgílio de Fontes Pereira
A antiga estrela do futebol angolano Domingos Inguila João com os filhos Yuri e Carla Inguila
Encontro do jornalista José Soares Caetano (Tazuary Nkeita), filho de Maurício Francisco Caetano “Mafrano”, na sede da União dos Escritores Angolanos (UEA) com Leonel Romão, o jornalista da ANGOP que foi intérprete e acompanhante da Princesa Diana Frances Spencer, a mãe dos príncipes Harry e Willam, durante a célebre visita que esta efectuou a Angola, em 1997, por iniciativa da Cruz Vermelha Internacional. Lady Di, natural de Sandringham, Inglaterra, morreu em Paris na sequência de um trágico acidente de viação. Leonel Romão é actualmente alto funcionário do Ministério das Relações Exteriores, em Angola. O Volume II da colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano» está disponivel na sede da União dos escritores Angolanos, em Luanda.
O jornalista da ANGOP Leonel Romão à esquerda de Lady Di, com crianças vítimas de minas terrestres, num Hospital de Luanda, em 1997
27/07/2023 — O Seminário sobre doenças cancerígenas que decorreu esta quinta-feira no Memorial António Agostinho Neto sob o tema «Falar do Cancro» foi também um pretexto para a exposição do volume II da colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano», cujo foco é a cultura, usos e costumes de Angola, incluindo hábitos alimentares.
O Dr. Paulo Adão Campos, escritor, ginecologista e ex-vizinho de Mafrano na Travessa do Douro, bairro Terra Nova, em Luanda, foi o primeiro a adquirir o volume II desta colectânea com um total de 740 páginas, seguindo o director do Memorial, Dr. António Fonseca.
Neste segundo volume, Maurício Francisco Caetano, “Mafrano”, faz-nos penetrar em profundos mistérios do pensamento e cultura Bantu, despertando um interesse que cresce de narrativa em narrativa.
25/07/2023 — Está de parabéns a família de Mafrano pelo esforço hercúleo no levantamento e organização dos textos de Maurício Francisco Caetano, na sua publicação em três volumes (dois já impressos e apresentados em Luanda), e na militante divulgação nacional e internacional desta obra.
O ilustríssimo arcebispo, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, Dom José Manuel Imbamba, honrou os presentes no Edifício Michael Lemony Kennedy, da Universidade Católica de Angola (UCAN), no Largo das Escolas, em Luanda, onde apresentou o segundo volume da obra de Maurício Francisco Caetano.
Nesse mesmo dia Dom José Manuel Imbamba viajou de avião do Huambo para Luanda, por este motivo foi necessário atrasar em 120 minutos o início da sessão de lançamento.
Entre a assistência estiveram presentes alguns sobreviventes do histórico “Processo dos 50”.
A nossa editora, a Perfil Criativo, esteve muito bem representada pelo jornalista e director do semanário “Novo Jornal”, Armindo Laureano. Um verdadeiro activista cultural, nosso autor e amigo.
Sobre esta obra recordamos que Maurício Francisco Caetano que em vida foi director Nacional de Impostos no Ministério das Finanças, até 1982, e membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), destacou-se como professor de Português e de Filosofia em vários estabelecimentos de ensino, dentre os quais o Liceu Ngola Kiluanji, Instituto Makarenko, Instituto PIO XII e o ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola).
Este segundo volume da colectânea “Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias” traz como títulos de maior destaque o uso do telégrafo, o «ngolokele», entre os povos bantu, desde tempos remotos; os topónimos bantu e a sua lenda; a ética nos gémeos ambós e gémeos Kimbundu; a filosofia bantu sobre a morte; a origem de vocábulos nos idiomas bantu; relatos de Cabinda; hábitos e crendices alimentares, e outros temas sobre antropologia, arqueologia, etnografia e direito costumeiro num total de 256 páginas.
Tal como no volume anterior, Mafrano realça «pontos de contacto das lendas da civilização bantu com a mitologia clássica, construindo diálogos que nos fazem viajar por vários países, como a Alemanha, a China, os Estados Unidos, a França, a Itália, Portugal e o Reino Unido, sem esquecer as mitologias greco-romanas.
Segundo registos mais antigos, Maurício Caetano iniciou-se como colaborar do Jornal Independente «Angola Norte», em Malanje, onde fez publicar um artigo sobre «O perfil etnográfico do negro Jinga», em 1947, que foi dedicado a Lázaro Manuel Dias, seu amigo íntimo e anos mais tarde ministro da justiça em Angola, e também membro do «Processo dos 50».
O autor foi também colaborador da revista Angola, da Liga Nacional Africana, dos jornais «Farolim» e correspondente do Jornal «O apostolado», em Cabinda, Dembos e Kwanza Norte, desde 1954.
O seu vasto espólio literário foi agora compilado numa colectânea em três volumes, e mais de 740 páginas, inclui epigrafes como «Crónicas ligeiras», «Notas a lápis», «Episódios Vividos», «Tertúlias» e outros textos e contos dispersos.
O primeiro volume desta colectânea foi lançado em 2022 e apresentado até á data nas cidades do Lubango, Luanda, Ndalatando, Namibe, e Cabinda, assim como em Maputo, São Tomé, Praia, e na Feira do Livro na cidade do Porto. Entre 31 de Agosto e 3 de Setembro de 2023 estará disponível para os leitores portugueses na Festa do Livro de Belém, que se realiza nos jardins do Palácio de Belém, residência do Presidente da República Portuguesa.
INFORMA-SE a todos os interessados em assistir ao lançamento do Volume II da Colectânea «OS BANTU NA VISÃO DE MAFRANO – QUASE MEMÓRIAS» que por razões de agenda o inicio da cerimónia passa a estar marcado para as 18h00 do dia 25 de Julho, terça-feira, no mesmo Edifício da UCAN, situado no Largo das Escolas (Luanda), e já não no horário inicialmente previsto.
A organização do evento pede as suas mais sinceras desculpas a todos os convidados por este ligeiro ajustamento de horários, e fica extremamente grata pela melhor compreensão de todos os interessados.
A organização do evento informa ainda que serão projectados slides sobre o conteúdo deste Volume II, e a trajectória do Volume I de Maio de 2020 a Julho de 2023, para os convidados que por qualquer razão não tenham conhecimento deste AVISO sobre o inicio da Cerimónia que terá a presença de Dom Manuel Imbamba, Presidente da CEAST, e cuja abertura desejamos fazer pontualmente às 18h00.
Em 2020 Tomás Lima Coelho, autor do compêndio “Autores e Escritores de Angola”, publicado pela primeira vez pela nossa editora em 2016, recomendou-me que falasse com o jornalista e escritor angolano José Soares Caetano (Tazuary Nkeita), uma vez que este escritor estava a organizar um conjunto alargado de textos publicados pelo seu pai, Maurício Francisco Caetano, para uma futura publicação em livro.
No início do ano passado (2022), em Luanda, na Universidade Católica de Angola (UCAN), tivemos o privilégio e o orgulho de apresentar o primeiro volume destes mesmos textos, “Os bantu na visão de Mafrano — Quase memórias”. Foi aí que pude observar o brio profissional da família de “Mafrano”, nesse grande exercício que foi a recuperação da sua obra, sem reservas, e a alegria na apresentação pública deste extraordinário trabalho. Um exercício que tem sido acompanhado pelos altos representantes da igreja católica em Angola. Nesse sentido, aproveito com esta “nota do editor” para convidar o Ministério da Cultura e Turismo da República de Angola bem como as embaixadas de Angola, espalhadas pelo mundo, para que se envolvam e descubram “Mafrano” (1916-1982), definido pelo arcebispo emérito do Lubango, D. Zacarias Kamwenho, como “antropólogo maior” de Angola.
Aproveito também para fazer o mesmo convite ao Ministério da Cultura de Portugal, para também os portugueses tomarem conhecimento da obra de Maurício Francisco Caetano, e quem sabe, propormos, em conjunto, este autor a candidato a um grande prémio literário. Será uma oportunidade para os portugueses descobrirem esse grande grupo étnico linguístico conhecido por “Bantu”, que chegaram a Angola vindos do Norte, dos Camarões e da Nigéria, conseguindo criar um grande pólo no antigo império do Congo. E que a partir daqui, se espalharam pela África Austral e mantiveram relações históricas e especiais com Portugal.
Maurício Francisco Caetano revela, ao longo das páginas deste livro, um nível cultural superior tanto relativamente à cultura africana como à europeia. Prova disso, é a quantidade de obras que vai referenciando ao longo das suas crónicas.
Está de parabéns a família pela coragem e dedicação para tornar acessível o conhecimento da obra deste autor. Um sonho que se tornou realidade.
A família de Mafrano
ATENÇÃO: Evento atrasado duas horas, vai ter início às 18h00, 25 Julho de 2023, no mesmo local: UCAN
Dom Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango e autor do prefácio de Os Bantu na visão de Mafrano– Volume I: “Felicito a Família de Maurício Caetano por nos brindar com mais esta obra”.
Na madrugada de 7 de Janeiro de 1355, Afonso IV, rei de Portugal, entrou em Coimbra com um bando de homens determinados e invadiu os quintais adormecidos de um paço à beira do Mondego. Num horror de impiedade, ali fez dar morte crua a uma lindíssima bisneta de um rei de Castela, a galega Inês de Castro, apesar de ela ser mãe de três netos seus. Com isso satisfez as razões de Estado que o tinham conduzido até ali, mas, assim que virou costas ao local do crime, deixou legiões de demónios à solta.
Os antecedentes do episódio, e o que se lhe seguiu, formam uma trama espessa de factos históricos, contidos num período de cerca de cinquenta anos, que ajudam a compreender muitas coisas de então — e algumas de hoje. Podem sobretudo entender-se melhor os destinos imediatos de duas nações, Portugal e Castela, que, tendo pertencido durante largo tempo a um corpo comum, passaram a certa altura a fazer vida de parentes distanciados, acabando numa espécie de irmãos siameses pegados pelas costas, a espiar-se por cima das fronteiras como quem espreita, desconfiadamente, por cima do ombro.
Nesses anos — cinco décadas do século XIV —, as histórias dos reinos peninsulares construíam-se segundo linhas de parentesco que se cruzavam e confundiam amiúde: o que ditava em parte a sorte dos povos ibéricos eram os enlaces matrimoniais com que as grandes famílias se comprometiam entre si. Com fundamento nessas uniões, os senhores de um dado reino cobiçavam de vez em quando o que existia nos outros. Não foram só os de Castela, gigantesca e hegemónica, que sentiram vontade de se apoderar do alheio: os lusos também se dispuseram ao mesmo. No entanto, face à desproporção de territórios e de meios, essa política tinha de dar no que deu frequentemente — em sobressaltos da nação mais pequena.
Os propósitos expansionistas dos senhores peninsulares mobilizavam multidões de pés-rapados, que, com os corpos vergados à submissão ancestral, lhes serviam de degraus nas campanhas de conquista ou nos estilos folgados de viver. Mas esses zés-ninguém deram origem em Portugal a duas coisas fundamentais para o entendimento da nação que ficou. A primeira foi uma emoção colectiva inusitada e ainda vaga — um sentimento difuso de nacionalidade, uma certa ideia de pátria, que talvez se tenha consolidado definitivamente a partir de 1383, nas ruas de Lisboa, com os protestos anti-castelhanos do povo miúdo. Ao contrário dos poderosos, que abundavam de haveres e de luxos, os pés-rapados não tinham nada de relevante a que pudessem chamar seu senão os sentimentos e a pátria. E, então como hoje, digam as leis e os tribunais o que disserem, ao mais desamparado dos humanos pode tirar-se tudo — menos o seu sentir e a sua pátria.
A segunda das coisas originadas pelos pés-rapados foi uma classe de gente nova — saída deles, mas já diferente deles —, um núcleo de criaturas engenhosas e dotadas de espírito criador, com o instinto do cálculo, da empresa e do lucro. Essas personagens de fortuna recente, rivais dos senhores de altas linhagens que lhes obstruíam o caminho, associaram-se no último quartel do século XIV a um grupo de nobres de segunda linha e de futuros pouco promissores. Unidos, burgueses e fidalgos menores desencadearam, com os pés-rapados a reboque, um ataque às alavancas do poder. Apossando-se delas, fizeram nascer no extremo ocidental da Europa um complexo de ambições de tal forma desmedidas que não poderiam caber nas fronteiras do reino minúsculo.
Com efeito, foi dessa aliança que brotaram as gerações e a dinastia que — repelidas as intromissões de Castela e após o assalto a Ceuta em 1415 — impulsionariam a nação para uma notável e turbulenta aventura à escala universal. A bordo de precárias embarcações, flutuando sobre abismos oceânicos que imaginavam habitados por monstros aterradores, chegariam a longínquos litorais de glória e de perdição. Ali, por entre luzes e sombras, acabariam de forjar a alma de um país e modificariam radicalmente, e por vezes dramaticamente, os destinos dos povos desprevenidos com que passaram a conviver — na Ásia, nas Américas e, numa derradeira convulsão imperial, em terras africanas.
Este livro trata, numa perspectiva ibérica e integrada, dos antecedentes e do nascimento dessa dinastia primordial. Os diversos soberanos aparecem nele como os vultos mais visíveis, mas a sua notoriedade não apaga a relevância dos demais figurantes, sejam fidalgos, burgueses ou pés-rapados: voluntariamente ou à força, todos contribuíram para enformar a própria História. Pusilânimes ou destemidos, confiáveis ou desleais, clementes ou impiedosos, falhados ou triunfantes, o que mais me interessou neles foi a sua complexa essência de seres humanos. Por isso me empenhei em descobrir-lhes, nos textos e nos subterrâneos das crónicas antigas, os temperamentos, as ambições, os ódios, as paixões — e as eventuais vilanias e heroicidades.
Vitorino Nemésio, escrevendo sobre a avó aragonesa de um rei português, disse: Este livrinho é uma vida. Estimaria por minha parte, e guardadas as distâncias, que as páginas seguintes pudessem ficar também como um livrinho de vidas. Vidas que ajudem a explicar-nos, a muitos de nós, na Península Ibérica ou fora dela.
As ligações das famílias dominantes eram tão estreitas e os seus interesses tão entrelaçados, que a compreensão satisfatória dos acontecimentos obriga a lançar vistas por cima de diversas fronteiras. O que se passava num dos reinos ibéricos não era alheio ao que ocorria nos outros, e por essa razão se abordam as monarquias dos vários países peninsulares — Portugal, Castela, Aragão e Navarra. Quanto aos dois primeiros, conviveremos mais detidamente, do lado luso, com Dinis, Afonso IV, Pedro I, Fernando e João I; do lado castelhano, com Alfonso XI, Pedro, o Cruel, Enrique II e Juan I. Veremos ainda como irromperam no espaço ibérico as cimitarras de Alá, brandidas por cavaleiros tão inesperados como temíveis, saídos dos areais africanos para submeterem os cristãos e para acabarem, séculos depois, fatalmente entrincheirados no reduto muçulmano de Granada.
Embora ao primeiro relance o possa parecer, este não é um livro de ficção. Mesmo quando nele se assista ao tenebroso desempenho de bruxas malignas; ou quando se observe um nobre morto, e bem morto, a comandar os exércitos de uma rebelião; ou cavaleiros falecidos em batalha a pairar por cima das igrejas; ou uma procissão de monges a deslizar suspensa dos céus nocturnos de Lisboa — em qualquer desses episódios, ou doutros semelhantes, faz o autor questão de certificar que nada inventou. Tudo quanto aqui se relata pode ser encontrado nas páginas de diligentes e admiráveis cronistas — quase sempre nas linhas que eles escreveram, algumas vezes nas entrelinhas.
É certo, em todo o caso, que, em cada época e em cada comunidade, a verdade será sempre aquilo em que sinceramente se acredite.
Tradução em Crioulo, variante da ilha de Santo Antão, do Canto 5.º, Estâncias VIII e IX, d’ Os Lusíadas, datada de 1898, de autoria de um dos mais ilustres filhos dessa ilha, o Cónego A. da Costa Teixeira, que foi editor do Almanach Luso-Africano (S. Nicolau, 1895 e 1899) e da revista literária A Esperança (S. Nicolau, 1901) e autor da 1.ª cartilha caboverdiana: Cartilha Normal Portuguesa (Porto-Cabo Verde, 1902), destinado ao “Ensino primário completo“.
O texto está datado de 5 de Maio de 1898 e assinado com a indicação do autor ser “Caboverdiano”:
VIII
Depôs que nô passá quês îa Canária,
Q’otr’óra ês dá nôme de Furt’náde,
Nó’ntrá tá navegá lá pa quês ága
Quês térra onde mute maravia nôve
Nosse navi de guêrra j’andá t’oiá:
Lá nô ribá c’um vintim favoréve
Pa nô t’mésse na quês térra mantmente.
IX
Nòs antrá na pôrte d’un d’aquês îa,
Q’tmá nôme d’aquêll guerrente’Sam Thiágue,
Sánte q’ajdá mute naçom spanhòl
Fazê n’aquês geste môr mute strágue
D’êi, q’ande soprá um vintim de Nôrte,
Nô torná t’má noss’camim socégáde
Na mêi d’aquêll mar, e assim nô bá d’xande
Quell’terra, onde nô ochá refrésque sabe.
– Cónego A. da Costa Teixeira, “Chegada ás Ilhas de Cabo-Verde”, Revista Portuguesa Colonial e Marítima, Lisboa, 1º Ano, 2º Semestre, 1897-1898, p. 566.