Desde 2017 que publico nas redes sociais sugestões de leitura de obras angolanas, primeiro no perfil pessoal do Facebook e, actualmente, por intermédio das redes sociais da editora Elivulu, que coordeno. A recomendação é acompanhada com referência ao ano de publicação do livro e, logicamente, o nome da autora ou autor. Este exercício permitiu-me perceber a importância da biobibliografia de quem publica uma obra. Tomás Lima Coelho, amigo da editora desde a primeira hora, atento ao trabalho desenvolvido e, em especial, às sugestões de leitura, ofereceu-nos a segunda edição do seu livro Autores e Escritores de Angola – 1642-2018, e assim passamos a ter as nossas sugestões de leitura mais completas: título da obra, ano de publicação, autoria e o seu local e ano de nascimento. Esta obra é um trabalho monumental organizado ao longo de mais de dez anos, com imenso sacrifício e consequências a nível pessoal, como a falta de tempo para dedicar-se a outros projectos literários e até à família. O próprio admitiu-o. E acrescenta que, como precisa de dedicar-se a outras coisas e escritos, era urgente encontrar um sucessor para o fantástico trabalho, mas hercúleo, que é esta obra. Pensei imenso antes de aceitar esta responsabilidade, mas adianto o que fez-me aceitá-la. No momento que precisamos de sair de cena, surge-nos a questão sobre quem dará continuidade ao nosso trabalho. John Maxwell fala sobre o legado no livro As 21 irrefutáveis leis da liderança, apontando que o legado ocorre quando líderes estão em condições de se afastarem sem receio de colocar em risco os projectos, isto porque conseguiram garantir a existência de outros líderes em posição de dar continuidade ao que dedicamos a nossa vida para construir. É com esta preocupação que fui abordado por Tomás Lima Coelho, e foi com este dilema com que me debati: honrar o legado. Aceitei o desafio, e fi-lo pela necessidade de que o seu magnífico trabalho tenha continuidade, para que não fique desactualizado e ultrapassado passado o tempo. Entretanto, ao mesmo tempo, temia pela tamanha responsabilidade que assumia. A fase de transmissão de projectos/trabalhos para outrem é crucial, pois pode ocorrer a sua extinção. Sem experiência de trabalho similar, esta missão revelou-se extremamente delicada e difícil. O processo de recolha e registo exige imensa disponibilidade, além do que julgava à partida. O contacto directo com editoras, escritoras e escritores, livrarias e alfarrabistas a pedir informações sobre determinados livros e suas biografias traduziu-se numa colossal aventura. Não deixei de pensar em desistir diante de tantas dificuldades em obter os dados exactos e, às vezes, até mesmo perante incompreensões quando solicitava pelos mesmos. Mas a importância deste trabalho é superior aos constrangimentos e dificuldades que acarreta. Felizmente, Tomás Lima Coelho continua disponível, pelo que me acompanhou ao longo desta primeira etapa da entrega do bastão, qual estafeta que corre lado a lado na pista com o colega para garantir que agarra firme o objecto e marca com firmeza os primeiros passos do sprint. Desta corrida resultou num total de 515 novos autores e escritores registados. É este o resultado destes três anos que se incrementam ao trabalho, reunindo agora os autores e escritores angolanos de 1642 a 2022.
Está disponível para pré-encomenda a nova edição do livro “Autores e Escritores de Angola 1642-2022” (Ed. 2024), de Sedrick de Carvalho e Tomás Lima Coelho. São duas edições conjuntas, em Angola editada pela ElivuluEditora e em Portugal publicada pela Perfil Criativo – Edições.
Sobre esta obra recordamos as palavras do poeta Adelino Torres in Prefácio da Primeira Edição: “Este verdadeiro guia de Autores e Escritores de Angola é, sem dúvida, pela sua evidente utilidade, uma obra que se revelará indispensável para os poetas e escritores angolanos. O esforço abrangente de recolha do que se tem produzido desde os tempos mais longínquos que é possível alcançar em matéria de publicações na literatura angolana, foi um critério acertado.”
Na alocução da apresentação da 1ª Edição em 2016 o médico Miguel Kiassekoka: “O livro tem a particularidade de apresentar a Angolanidade, espalhada no mundo inteiro, desde 1642 aos nossos dias. Tomás Lima Coelho tem o mérito de não fechar essa Angolanidade nos marcos de um incompreensível chauvinismo registado ultimamente, ligado a um certo preconceito de “genuinidade” que tanto mal já provocou no continente berço, a nossa África.”
Relativamente à passagem de testemunho de Tomás Lima Coelho a Sedrick de Carvalho, editor da Elivulu, o actual ministro da Cultura de Angola, Filipe Zau, escreveu na segunda edição (edição de bolso) “Tempo de Maturação e Abertura à Descoberta”: “É certo que a dinâmica cultural de saída a público de mais publicações faz com que este trabalho ganhe um carácter permanente, como forma de se manter sempre actualizada a informação bibliográfica. Talvez por isso, Tomás Lima Coelho tenha ultimamente solicitado o pedido de passagem de testemunho…”
O editor da Elivulu, Sedrick De Carvalho, registou as dificuldades deste projecto, no texto “O Desafio da Continuidade e a sua Necessidade”, publicado nesta nova edição: “O processo de recolha e registo exige imensa disponibilidade, além do que julgava à partida. O contacto directo com editoras, escritoras e escritores, livrarias e alfarrabistas a pedir informações sobre determinados livros e suas biografias traduziu-se numa colossal aventura.”
Para o editor da Perfil Criativo a passagem de testemunho entre autores e editores é um processo positivo de cooperação, desenvolvimento e divulgação deste enorme registo. Esta é uma obra única, nos territórios da língua portuguesa, que muito dignifica a República de Angola. Fica o agradecimentos a todos os que apoiaram e divulgaram esta publicação inédita, sem esquecer que este trabalho foi apresentado com muito sucesso em Lisboa, na sede da CPLP (2016), e em Luanda, na sede da União de Escritores Angolanos (2017).
Tomás Lima Coelho
Tomás Daniel Gavino Lima Coelho nasceu em Moçâmedes, Angola, em 5 de outubro de 1952. É o mais velho de cinco irmãos, todos naturais de Angola. O pai, Ápio de Andrade Coelho (1918-1983), nascido no Lobito, filho de um minhoto natural de Braga que arribou Angola em 1898, descendia pelo lado materno de uma família angolana originária do Ambriz. A mãe, Maria Lúcia Gavino (1928-1988), nascida em Aljustrel, chegou a Angola com apenas seis meses de idade, e pertencia a uma família muito conhecida em terras do Sul. Sendo o pai funcionário da Fazenda Nacional, e por isso sujeito a transferências sucessivas, percorreu desse modo grande parte do território angolano. A primeira deslocação, aos 6 anos de idade, foi para Lândana, no enclave de Cabinda, onde nasceu o seu irmão António Manuel (1959) (durante a viagem de Moçâmedes para Lândana nascera a sua irmã Maria da Luz (1958), a bordo do navio “Império”). Depois rumaram a Caconda onde nasceu outro irmão, Luís Pedro (1963). Seguiram-se Camacupa, Caála e, finalmente, Malanje, onde nasceu Miguel, o mais novo dos irmãos (1973). Fugindo da guerra civil que assolou Angola, em 1975, através da ponte aérea viaja com toda a família para Portugal. Aqui reside desde então. É casado com a malanjina Ilda Coelho (1954), artista plástica, tem dois filhos, Daniel (1980) e Inês (1985), e uma neta, Mariana (2008). Sobre as suas origens, naturais e afectivas, gosta de se definir com as palavras do poeta: “No Namibe vi a primeira luz do dia, mas foi em Malanje que nasci.”
PUBLICAÇÕES
– Chão de Kanâmbua (ou “O Feitiço de Kangombe”). Chiado Editora, 2010. 1ª edição. Prefácio de Manuel da Maia Domingues. Capa de Guilherme Gustavo Condeixa. 184 páginas. ISBN 978-989-8389-22-0 (com uma segunda edição em 2015)
– Autores e Escritores de Angola (1642-2015). Perfil Criativo, 2016. 1ª edição. Prefácio de Adelino Torres. Capa de Ricardo Rodrigues. C/ fotografias. 350 páginas. ISBN 978-989-98398-8-5
– Autores e Escritores de Angola (1642-2018). Alende/Perfil Criativo, 2019. 1ª edição de bolso. Prefácio de Filipe Zau. Capa de Ricardo Rodrigues. 643 páginas. ISBN 978-989-54354-3-2
PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS E COLECTÂNEAS
– Ocultos buracos. Histórias Horríveis ou Impossíveis. Pastelaria Studio, 2012. 1ª edição. 556 páginas. ISBN 978-989-8629-03-6 (conto “O segredo”, pág. 535)
– Antologia de Poesia Contemporânea. Volume III. Entre o sono e o sonho. Chiado Editora, 2012. 1ª edição. Selecção e organização de Gonçalo Nuno Martins. 479 páginas. ISBN 978-989-697-527-2 (poema “Ali, bate o meu coração”, pág. 465)
– Antologia de Poesia Contemporânea. Volume IV. Entre o sono e o sonho. Tomo II (J-Z). Chiado Editora, 2013. 1ª edição. Selecção e organização de Gonçalo Nuno Martins. 634 páginas. ISBN 978-989-51-0290-7 (poema “Sonhar sempre”, pág. 600)
– Alhos Vedros da minha alma. Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro de Alhos Vedros, 2013. 1ª edição. 204 páginas. (crónica “Bebé a bordo! ou como não se pode mandar na Mãe-Natureza”, pág. 201)
– Taras de Luanda. Organização de Eduardo Águaboa e Luís Fernando. Caxinde Edições, 2016. 2ª edição ampliada. Prefácio de Jacques Arlindo dos Santos. Capa sobre pintura de Guilherme Mampuya. 273 páginas. ISBN 978-989-8498-53-3 (crónica “Tara por uma certa Luanda”, pág. 14)
– Meus poemas, meus amores. Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros, 2020. 1ª edição. 135 páginas. ISBN 978-989-8983-66-4 (poemas “Sou de lugar nenhum” e “Paz”, pág. 133 e 135)
OBRAS PREFACIADAS
– CANÇÕES AO VENTO, de Soberano Canhanga. Edição de Autor, 2015. 30 páginas.
– BRANCO NO PRETO, PRETO NO BRANCO, de Salvina Ribeiro. DG Edições, 2016. 244 páginas. ISBN 978-989-8661-58-6
– PRAIA DA MIRAGENS, de Cacimbué. Organismos Populares de Base da Baixa da Banheira, 2017. 113 páginas. ISBN 978-989-99952-3-9
– ÁFRICA EM MIM, de Maria Manuela Rocha. Perfil Criativo, 2017. Capa sobre pintura da Autora. 54 páginas. ISBN 978-989-99756-8-2
– DOIS CORVOS AMARELOS, de Bernardete Pinheiro e Matamba Joaquim. Obnósis Editora, 2018. 53 páginas. ISBN 978-989-8920-01-0
– DOUTRINA COM FABULAÇÕES, de J. A. S. Lopito Feijóo. Perfil Criativo, 2019. 69 páginas. ISBN 978-989-54517-3-9
– 10 + 3 ESTÓRIAS REAIS… OU NEM TANTO, de Da silva. Modocromia Edições, 1924. 1ª edição. 57 páginas. ISBN 978-989-35581-1-9
Sedrick de Carvalho
Sedrick de Carvalho nasceu em 1988, em Luanda. Jurista, editor, jornalista e activista. Foi professor do ensino de base. Fundador e coordenador editorial da ELivulu Editora.
Trabalhou nos jornais Folha 8 e Novo Jornale tem artigos publicados em jornais em Portugal. Consultor de comunicação e imagem.
Co-fundador da associação cívica Uyele, da qual foi presidente de direcção (2022-2024). Membro da Transparência Internacional – Portugal.
Autor dos livros Prisão Política (2021, Perfil Criativo, Lisboa; 2022, Elivulu Editora, Luanda) e Cabinda: Um Território em Disputa (Org.) (2018, Guerra e Paz, Lisboa, Lisboa).
A sociedade perdeu um resistente antifascista, um economista, um professor, um ensaísta.
E um poeta, que era como ele gostaria de ser recordado quando partisse, confidenciou-me um dia.
Retenho o tempo que passei ouvindo-o falar de Angola, da resistência ao colonialismo, das clandestinidades, dos episódios em Argel e Paris, da sua vida de docente em França, país que lhe concedeu a nacionalidade.
Ou ainda o entusiasmo com que me falava dos filósofos africanos, de quem era estudioso e um profundo conhecedor, sendo ele também um filósofo, conforme se avalia num poema seu que aqui deixo.
E expresso a minha eterna gratidão pela sua generosidade em ter prefaciado e participado na apresentação do meu trabalho sobre os Autores e Escritores de Angola, na sede da CPLP em 2016.
Estamos juntos, Adelino Torres, meu amigo poeta.
INUTILIDADE
A questão dos mortos que morreram,
o que lhes acontece e para onde vão
é um dilema filosófico
sem alcance nem utilidade,
tão inútil como um sonho
que se desvaneceu ao acordar.
Ocupemo-nos antes dos vivos
da dor e do remorso
que podem ser recuperados
quando alguma coisa vale a pena.
(in Vida Breve, 2016)
Informação sobre as cerimónias fúnebres:
Domingo (10 de março), das 17h00 às 22h00: Velório na Capela Mortuária da Igreja da Parede Segunda-feira (11 de março), das 13h30 às 15h00: Homenagem na Capela Mortuária da Igreja da Parede; às 16h00: Crematório de Rio de Mouro, Sintra