José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

Apresentação do autor no lançamento de “A Primeira Travessia da África Austral”

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025

O autor José Bento Duarte fez uma intervenção extensa, luminosa e apaixonada no lançamento de A Primeira Travessia da África Austral, situando a obra como o fecho de uma trilogia de evocações históricas sobre o expansionismo português e as relações com os povos africanos. Entre recordações pessoais, método de investigação e leitura crítica das fontes, apresentou a travessia documentada de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811) como um feito de “primeira grandeza”, e como um teste moral à memória pública de Portugal, Angola e Moçambique.

“Coloquei Pedro João Baptista e Anastácio Francisco no termo do livro porque pertencem à galeria dos melhores que encontrei em quatro séculos de História.”

A trilogia e a motivação do autor

Bento Duarte enquadrou o novo título na trilogia composta por Senhores do Sol e do VentoPeregrinos da Eternidade e A Primeira Travessia da África Austral. Natural de Moçâmedes (Namibe), com raízes familiares de várias gerações em Angola, explicou que a obra nasce do “desejo de investigar de perto o longo convívio histórico entre portugueses e africanos”, com especial foco nos antepassados dos angolanos e moçambicanos.

  • Senhores do Sol e do Vento (1482–1917) abre com Diogo Cão e fecha com Mandume ya Ndemufayo, articulando figuras portuguesas e africanas num arco que desmonta simplificações coloniais.
  • Peregrinos da Eternidade revisita a ascensão de D. João I e da burguesia mercantil, preparando a expansão para lá das fronteiras (1415).
  • A Primeira Travessia da África Austral (1415–1815) caminha deliberadamente para o capítulo final, a proeza de Pedro João e Anastácio, “os meus conterrâneos”, que ligam Cassange–Lunda–Cazembe–Tete.

“Não escrevi um livro de figuras portuguesas em África; escrevi sobre portugueses e africanos que coexistiram: Bacongo, Ambundo, Ovimbundu, Herero, Nyaneka, Kwanyama, Ganguela, Kioko, Ambo, Chindonga…”

Como o livro está construído

O autor descreveu três blocos narrativos:

  1. Mitos antigos sobre a África Central e Austral (2 capítulos) — cinocéfalos, homens sem cabeça, antropofagia: imaginários que deformaram mentalidades e criaram preconceitos com efeitos históricos.
  2. Da orla atlântica à índica: fixações e rotas (cap. 3–18) — feitorias, portos, penetrações fluviais (Cuanza e Zambeze), Ilha de Moçambique como base para a Índia, e a centralidade do ouro de Sofala (Monomotapa) para sustentar o comércio de especiarias.
  3. Tentativas de travessia e a primeira travessia documentada:
    • Correia Leitão (1755–56): travado pelos Jagas do Cassange; ensinou a lógica das três etapas(Cassange → Lunda; Lunda → Cazembe; Cazembe → Tete).
    • Francisco José de Lacerda e Almeida (1798): parte de Tete, chega moribundo ao Cazembe e morre; “um homem trágico, de extraordinário espírito de missão”.
    • Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811): realizam a primeira travessia documentada. Partem de Cassange (nov/1802), chegam a Tete (2/fev/1811) e regressam a Angola (1814). Pedro João, alfabetizado, mantém diários e entrega carta oficial ao governador dos Rios de Sena, a prova administrativa do feito.

“Não foi acaso: foi projeto da Coroa. Está documentado. E Pedro João cumpriu ordens, levou a carta e entregou-a em Tete.”

Esclarecimentos históricos cruciais

Anastácio Francisco, não “Amaro José”: Bento Duarte desmonta o equívoco e identifica a fonte mal lida que gerou décadas de erro.

Os diários: parte perdeu-se, sobretudo no início (Cassange → Lunda) e no regresso (Moçambique → Angola), mas interrogatórios oficiais e reescritas posteriores preenchem lacunas.

Logística e anónimos: a travessia implicou mercadorias, guias, portagens e muitos carregadores (em regra, escravizados). O autor homenageia “os anónimos da História” sem os quais as grandes proezas não acontecem.

“Sem os anónimos não teríamos História. Estes 33 do monumento (Padrão dos Descobrimentos) não existiriam sem milhares de braços invisíveis.”

Reconhecimento em vida… e a injustiça no mapa de Lisboa

O feito foi reconhecido dentro e fora de Portugal. Em 1815, no Rio de Janeiro, o Príncipe Regente D. João quis conhecer Pedro João Baptista e determinou:

  • criação de companhia pedestre para rotas comerciais Angola–Moçambique,
  • nomeação de Pedro João como comandante,
  • promoção a capitão e vencimento (10$000 réis/mês).

“D. João VI não quis o governador, quis Pedro João. É extraordinário.”

Mas o autor confronta a memória toponímica: o edital de 23 de março de 1954 da Câmara Municipal de Lisboa criou ruas para várias figuras do “Ultramar” (como Lacerda e Almeida), mas não para Pedro João e Anastácio.

“É uma grande injustiça por reparar. Conhecemos o feito, sabemos da sua importância; falta poder para decidir.”

Encomende os livros por email (indicar nome e morada de entrega): encomendas@autores.club

Seis ideias-chave que o autor deixa a Portugal

Antiguidade do objetivo: a travessia era um projeto antigo (já no horizonte do Infante D. Henrique, entre mitos do Preste João e a luta geopolítica com o Islão).

Proeza documentada: a primeira ligação transcontinental provada é a de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco.

Quem eram: presumivelmente pombeiros, mas aqui em missão oficial; ambos escravizados do Tenente-Coronel Honorato da CostaPedro João lidera e escreve.

Nome correto: o companheiro é Anastácio Francisco, o erro “Amaro José” nasce de má leitura de fonte.

Diários e método: diários parciais, fontes cruzadas (interrogatórios, despachos, cartas, edição de 1843 nos Anais Marítimos e Coloniais).

Memória e reparação: reconhecimento histórico existiu (1815), mas a reparação simbólica na toponímia falta há 71 anos, 7 meses e 6 dias (contados até 29/10/2025).

Um apelo final à justiça histórica

Bento Duarte concluiu com um pedido simples e contundente: inscrever Pedro João Baptista e Anastácio Francisco na toponímia de Lisboa, e, por extensão, em Luanda, Moçâmedes, Tete, como gesto de reparação, reconhecimento e fraternidade.

“Se tivéssemos poder, já estava resolvido. Fica a esperança: que alguém com poder decida finalmente reparar esta injustiça.”

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Carlos Mariano Manuel: “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um ato redentor”

Carlos Mariano Manuel: “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um ato redentor”

Historiador angolano exorta Portugal e Angola à reparação simbólica durante o lançamento do livro “A Primeira Travessia da África Austral”

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025
(Registo em vídeo: Victor Hugo Mendes)

No lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, o Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, historiador e prefaciador da obra, proferiu uma intervenção que uniu erudição, emoção e apelo moral. Diante de um público composto por representantes de Angola e de Portugal, defendeu o reconhecimento dos feitos dos exploradores angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco e lançou um desafio à consciência histórica dos dois países.

“Revisitar a História é sempre pertinente, contanto que sirva para elucidar a sociedade sobre o seu património imaterial mais valioso: a sua própria identidade.”

Reparar o esquecimento e valorizar a História partilhada

O professor catedrático angolano, autor do tratado de História “Angola desde antes da sua criação pelos portugueses até ao êxodo destes por nossa criação” (Ed. 2021), recordou que a travessia de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, realizada entre 1802 e 1811, antecedeu as expedições europeias do século XIX, e que a sua omissão dos registos oficiais é “um erro histórico e moral que deve ser corrigido”.
Assinalou também que o livro de José Bento Duarte vem “restaurar a verdade” e mostrar que a História da África Austral foi escrita também por africanos sob bandeira portuguesa.

“Estes dois angolanos negros, escravos por condição, foram pioneiros de uma travessia que, em dignidade e coragem, não fica atrás de nenhuma das grandes expedições europeias.”

Um olhar crítico sobre o passado colonial

Na sua intervenção, Carlos Mariano Manuel revisitou a história das relações entre África e Europa desde o século XV, analisando as fases de cooperação inicial, domínio e colonização.
Citou o discurso do primeiro presidente de Angola, proferido em 1975, para recordar que o povo português também se libertou do fardo colonial com o 25 de Abril de 1974, recuperando a sua dignidade.

“Portugal contribuiu para a libertação de Angola e, ao fazê-lo, libertou-se também de um peso histórico. O 25 de Abril foi um ato de justiça para ambos os povos.”

A primeira Travessia da África Austral
A primeira Travessia da África Austral

O simbolismo do Padrão e o apelo à redenção

No local emblemático do Padrão dos Descobrimentos, o historiador sugeriu uma reflexão sobre o nome do monumento:

“Talvez um dia o possamos chamar Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas, pela sua natureza histórica e pela dignidade que representa.”

Recordando que o lançamento ocorreu no aniversário da Batalha de Ambuíla (29 de outubro de 1665), destacou o papel trágico do Rei do Congo, Dom António I (Muana Malaza), decapitado na batalha, e revelou que a coroa de prata oferecida pelo Papa Inocêncio VIII foi trazida para Portugal em 1666.

“Se conseguíssemos recuperar essa coroa, seria um acontecimento redentor. Um gesto simbólico de fraternidade e reconciliação entre Angola e Portugal.”

Um discurso de fraternidade e de futuro

Professor Doutor Carlos Mariano Manuel encerrou a sua intervenção elogiando o autor, José Bento Duarte, e o editor, João Ricardo Rodrigues, pela coragem intelectual e pela relevância histórica da obra:

Este livro é um ato de cultura e de consciência. Um convite a restaurar a verdade e a celebrar a fraternidade entre os nossos povos.”

A sua presença, vinda expressamente de Angola, e o discurso vigoroso gravado por Victor Hugo Mendes, transformaram o lançamento de A Primeira Travessia da África Austral num marco de diálogo histórico entre Angola e Portugal, onde a História e a memória se encontraram num mesmo ideal: o da verdade e da justiça.

Os livro podem ser encomendado pelo email: encomendas@autores.club

A Primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

José Ribeiro e Castro: “É extraordinário que não conhecêssemos a proeza de dois portugueses africanos, negros, escravos por sinal”

José Ribeiro e Castro: “É extraordinário que não conhecêssemos a proeza de dois portugueses africanos, negros, escravos por sinal”

Mensagem gravada para o lançamento do livro “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025

Na mensagem em vídeo apresentada durante o lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, o Dr. José Ribeiro e Castro, presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, saudou o autor José Bento Duarte e classificou a obra como “verdadeiramente extraordinária”, sublinhando o seu valor histórico e literário.

José Ribeiro e Castro destacou que o livro não é apenas sobre uma travessia geográfica, mas “uma nova travessia da história portuguesa por terras de África e do Índico”, iluminando relações e feitos anteriores ao colonialismo instituído após a Conferência de Berlim de 1885. Sublinhou a importância de resgatar o período anterior, entre os séculos XV e XIX, marcado por relações de comércio, diplomacia e trato igual entre europeus e africanos.

“O acontecimento deste livro, uma travessia feita por dois angolanos negros, por sinal na condição de escravos, é uma proeza extraordinária que merece ser conhecida e exaltada.”

Referindo-se a Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, José Ribeiro e Castro enfatizou a dimensão pioneira da expedição realizada entre 1802 e 1811, uma travessia de mais de oito anos entre o Planalto de Malanje e Tete, em Moçambique, regressando depois a Angola. Os dois exploradores, então ao serviço de Honorato da Costa, “cumpriram fielmente as instruções recebidas, revelando sabedoria diplomática e política nas relações com os soberanos africanos”.

“É absolutamente extraordinário que nós não conhecêssemos, até este livro vir a público, a proeza de dois portugueses africanos, negros, escravos por sinal.”

O presidente da Sociedade Histórica considerou que a narrativa “enriquece a compreensão da História portuguesa em África”, revelando um modelo de convivência e intercâmbio humano muitas vezes esquecido.

José Ribeiro e Castro encerrou a sua mensagem com um convite à leitura e divulgação.

Pode encomendar o livro indicando o seu nome e morada de entrega: encomendas@autores.club

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

29/10/2025 — O monumental Padrão dos Descobrimentos, em Belém, foi o cenário escolhido para o lançamento oficial do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, numa cerimónia que se transformou num marco de reencontro entre a História de Angola e a História de Portugal.

O evento reuniu personalidades de relevo das duas nações: representantes da Embaixada da República de Angola em Portugal, da Liga Africana, do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas, da Academia da Força Aérea, além de membros de instituições civis e militares de ambos os países.

Na mesa de honra destacaram-se o Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, o Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, que se deslocou de Angola especialmente para o evento, o editor João Ricardo Rodrigues, e o próprio autor José Bento Duarte. O Dr. José Ribeiro e Castro, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, enviou uma mensagem em vídeo, impossibilitado de comparecer por compromissos de agenda (ver vídeo da transmissão em directo).

Eng. Miguel Anacoreta Correia, Dr. José Ribeiro e Castro, Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel e o autor José Bento Duarte

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Um encontro de angolanos em Lisboa que ecoou desafios à História

O lançamento revelou-se mais do que uma celebração literária: foi um encontro de angolanos em Lisboa que lançou desafios históricos e culturais às instituições portuguesas.

O autor, José Bento Duarte, de uma família muito antiga do sul de Angola, defendeu com veemência a necessidade de corrigir erros históricos e administrativos que, segundo ele, “por discriminação ou descuido”, apagaram da História de Portugal dois heróis luso-angolanos: Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, os verdadeiros primeiros exploradores a realizarem a travessia documentada da África Austral.

“Seria um acto de justiça democrática, 50 anos após a independência de Angola, reconhecer e repor a verdade sobre estes dois heróis. A História deve ser corrigida, e é aos olhos da Democracia que o pedimos”, afirmou o autor, num discurso direto à Câmara Municipal de Lisboa e às instituições portuguesas.

História, reparação e justiça

Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, prefaciador da obra e considerado o mais importante historiador da República de Angola, sublinhou que Portugal tem hoje uma oportunidade única de fazer justiça histórica.

“Reconhecer o papel de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco é um gesto de reparação. É afirmar que a História da África Austral também foi escrita por africanos, e que estes devem ocupar o lugar que lhes pertence na memória comum”, afirmou.

Carlos Mariano Manuel foi ainda mais longe, propondo uma reflexão sobre o próprio nome do Padrão dos Descobrimentos, sugerindo que venha a chamar-se “Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas”, uma designação mais inclusiva e historicamente ajustada.

E lançou um desafio simbólico e poderoso:

“Peço aos portugueses que investiguem onde está a coroa do Rei do Congo, Dom António I, Muana Malaza, herói e mártir da Batalha de Ambuíla. Encontrá-la seria um acto redentor.”

A voz da História partilhada

O Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, que nasceu em Moçambique e cresceu no sul de Angola, recordou a figura de David Livingstone, destacando as contradições do explorador britânico, que, embora admirasse os portugueses, pretendia reservar toda a glória para os britânicos e os europeus brancos, excluindo os africanos.

“Livingstone elogiava os portugueses, mas omitia os africanos. Essa exclusão precisa de ser corrigida na narrativa histórica. Os africanos também foram protagonistas das grandes travessias e explorações”.

O apelo do editor: uma História em construção

Durante o encontro, o editor João Ricardo Rodrigues, da Perfil Criativo | AUTORES.club, apelou às instituições históricas portuguesas, como a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Academia Portuguesa da História e a própria Câmara Municipal de Lisboa, para que assumam uma posição pública sobre os factos revelados na obra.

“Estas instituições confirmaram presença, mas não compareceram. É tempo de abrirmos os olhos para a História que partilhamos. Este livro é um convite à verdade”.

O editor recordou ainda que o evento coincidiu com o 360.º aniversário da Batalha de Ambuíla (1665), acontecimento determinante na História de Angola e do Reino do Congo. Citando o Prof. Carlos Mariano Manuel, lembrou que “se quem escolheu o 11 de novembro como data da independência de Angola conhecesse profundamente a nossa história, teria escolhido o 29 de outubro”.

Um final inesperado e simbólico

No encerramento do evento, um momento inesperado emocionou os presentes: o jovem músico angolano Gari Sinedima, que se encontra em Lisboa, realizou uma performance espontânea em homenagem à origens comuns com o autor, num registo cultural do Sul de Angola.
Foi um gesto de gratidão, mas também uma afirmação simbólica da ligação viva entre as gerações angolanas e o seu património.

Gari Sinedima

Um novo capítulo para a História Luso-Angolana

O lançamento de A Primeira Travessia da África Austral foi mais do que uma apresentação literária, foi um ato de afirmação cultural e de revisão histórica, com ecos que ultrapassam a literatura e tocam a diplomacia.

O evento, transmitido em direto por Victor Hugo Mendes e disponível em vídeo, marca o início de uma série de artigos que o portal AUTORES.club publicará nos próximos dias, aprofundando as intervenções de cada participante e os desafios lançados ao conhecimento histórico entre Angola e Portugal.

A primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

Peregrinos da Eternidade: O primeiro capítulo da grande trilogia histórica de José Bento Duarte

Peregrinos da Eternidade: O primeiro capítulo da grande trilogia histórica de José Bento Duarte

A reedição revista do clássico antecede o lançamento de “A Primeira Travessia da África Austral”, a 29 de outubro de 2025

Lisboa —Perfil Criativo | AUTORES.club apresenta a reedição revista e atualizada (2023) de Peregrinos da Eternidade — Crónicas Ibéricas Medievais (Como nasceu a dinastia que lançou Portugal no Mundo), de José Bento Duarte, obra fundamental que abre a trilogia histórica do autor sobre as origens e as projeções da identidade luso-africana.
O relançamento desta obra antecede a chegada, no próximo 29 de outubro, do seu novo livro, A Primeira Travessia da África Austral, completando um arco narrativo que liga Portugal medieval ao surgimento histórico de Angola.

A trilogia da alma luso-africana

Segundo o autor, os três títulos formam uma linha contínua da História e devem ser lidos nesta ordem:

  1. Peregrinos da Eternidade — As raízes da nação portuguesa e o nascimento da dinastia de Avis;
  2. A Primeira Travessia da África Austral — A epopeia das primeiras ligações humanas e culturais entre o litoral e o interior do continente africano;
  3. Senhores do Sol e do Vento — A História de Angola, contada através de encontros, conquistas e memórias partilhadas.

“Trata-se de uma viagem que começa nas margens do Mondego, passa pelos reinos da Ibéria medieval e atravessa o oceano até ao coração de África”, explica José Bento Duarte.

Um clássico redescoberto

Publicado originalmente em 2003, Peregrinos da Eternidade regressa agora em edição revista pelo autor, enriquecida por novas notas e referências. O livro parte do episódio trágico da morte de Inês de Castro e percorre as cinco décadas que antecedem a batalha de Aljubarrota, num retrato vibrante da Península Ibérica do século XIV.
Através de 55 crónicas rigorosas e cativantes, o autor reconstitui o nascimento da 2.ª dinastia portuguesa e a emergência de um sentimento de nação, mostrando como o impulso peninsular viria a projetar-se nas descobertas e na expansão atlântica.

Um olhar humanista sobre o poder e a história

Mais do que um ensaio histórico, Peregrinos da Eternidade é uma viagem literária pelas paixões e contradições dos homens e mulheres que moldaram Portugal.
Nas palavras da historiadora Carla Varela Fernandes, a obra “não é um romance histórico, mas lê-se como um, ou melhor, como um romance muito bem escrito”, sublinhando “a reflexão crítica e o humanismo que iluminam cada página”.

Senhores do Sol e do Vento
Senhores do Sol e do Vento

Sobre o autor

José Bento Duarte nasceu em Moçâmedes, no sul de Angola. Licenciado em Economia pela Universidade do Porto, foi docente na Universidade de Luanda antes e depois da independência do país. É autor de várias obras que exploram os laços históricos entre Portugal e Angola, como Senhores do Sol e do Vento — Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos e A Primeira Travessia da África Austral (Ed. 2025).
A sua escrita alia rigor historiográfico, profundidade analítica e narrativa literária, ligando as dimensões peninsular e africana da história comum dos povos lusófonos.

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
A Primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

Uma história esquecida. Um feito notável. Um reencontro com a verdade

Uma história esquecida. Um feito notável. Um reencontro com a verdade

Lançamento oficial do livroA Primeira Travessia da África Austral” (Ed. 2025) de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos, Belém – Lisboa
29 de Outubro de 2025 (quarta-feira), 16h30
Entrada livre (sujeita a reserva)

No coração da História de África, há uma travessia épica que o tempo tentou apagar. Dois homens africanos sob bandeira portuguesa, Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, pombeiros angolanos, atravessaram o continente, de Malange a Tete, entre 1802 e 1814. Fizeram-no sem mapas, sem tecnologias modernas, mas com conhecimento profundo das rotas, povos e geografia do interior africano. Foram os primeiros a realizar e a documentar uma travessia completa da África Austral, de ida e volta.

Curiosamente, exploradores europeus como o escocês David Livingstone ou o português Francisco de Lacerda e Almeida, cujos nomes foram imortalizados na História oficial, beneficiaram das informações, rotas e registos produzidos por estes dois africanos — cuja memória, porém, foi injustamente silenciada. Este livro vem corrigir essa omissão histórica, devolvendo a Pedro João Baptista e Anastácio Francisco o lugar que lhes pertence.

PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

O lançamento contará com a presença de personalidades de relevo de Portugal, Angola e Moçambique, num momento simbólico de reencontro entre os dois países e de justa homenagem ao protagonismo africano na História.

SOBRE O LIVRO

A Primeira Travessia da África Austral (Ed. 2025) propõe uma leitura crítica e rigorosa da expansão portuguesa em África, desde os mitos europeus sobre o continente até à instalação do sistema colonial. O autor percorre os episódios fundamentais das descobertas, da ocupação e do contacto entre civilizações, culminando na epopeia dos dois pombeiros, baseada em fontes documentais e análises historiográficas.

A obra inclui ainda um prefácio de Uina yo Nkuau Mbuta (Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel), médico patologia, investigador e Prémio Personalidade Lusófona 2023, que sublinha a relevância histórica e política desta recuperação da memória.

SOBRE O AUTOR

José Bento Duarte, natural de Moçâmedes, é ensaísta e investigador, com um percurso dedicado ao estudo da História de Angola e Portugal. Autor de três livros que aliam rigor e sensibilidade humanista, tem sido uma voz ativa na divulgação de episódios esquecidos da História Portugal em África.

Em A Primeira Travessia da África Austral, José Bento Duarte recupera com lucidez e profundidade uma narrativa que honra a coragem de dois luso-angolanos e reequilibra o olhar sobre o passado comum, revelando os fundamentos de uma História partilhada que urge ser contada com verdade.

Peregrinos da Eternidade
Peregrinos da Eternidade — Crónicas Ibéricas Medievais
A primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral
Senhores do Sol e do Vento
Senhores do Sol e do Vento

RESERVAS

A entrada é livre, mas o espaço é limitado.
Reserve com antecedência através do telefone: 214 001 788
Ou envie um e-mail para: encomendas@autores.club

Organização: Autores.club | com o apoio do Padrão dos Descobrimentos
Data: Quarta-feira, 29 de Outubro de 2025
Hora: 16h30
Local: Auditório do Padrão dos Descobrimentos, Belém – Lisboa

Padrão dos Descobrimentos
Padrão dos Descobrimentos em Belém, Lisboa

Edição digital revela como o crash de 1929 adiou a autonomia de Angola

Edição digital revela como o crash de 1929 adiou a autonomia de Angola

PRESS RELEASE — AGOSTO 2025 (informação em actualização)

Depois do sucesso da edição em papel publicada em 2020, a editora Perfil Criativo | AUTORES.club apresenta agora a edição digital do livro As Contas da República (1919-29) e os Anos Loucos de Wall Street, disponível durante o mês de Agosto de 2025.

O ensaio do jornalista Álvaro Henriques do Vale liga, com uma abordagem inovadora e documentada, os bastidores financeiros da Primeira República Portuguesa ao colapso da Bolsa de Nova Iorque em 1929, e revela como esse evento global teve impacto direto no adiamento da autonomia de Angola, contrariando as recomendações da Sociedade das Nações.

Através de uma investigação minuciosa, o autor revela a fragilidade das finanças públicas portuguesas no pós-guerra, a especulação do Banco Nacional Ultramarino nos mercados internacionais e a pressão externa sobre os territórios ultramarinos. Figuras como Norton de Matos, Cunha Leal, Salazar, Roosevelt ou Keynes cruzam-se numa narrativa densa, que combina economia, diplomacia e geopolítica, abrindo novas perspectivas sobre o papel de Angola nas estratégias das potências ocidentais.

Com a edição digital agora acessível ao grande público internacional, esta obra volta a estar no centro do debate histórico, económico e político sobre o colonialismo português e os fatores internacionais que moldaram o século XX.

Sobre o autor

Álvaro Henriques do Vale é jornalista, investigador e autor com vasta obra dedicada à história contemporânea portuguesa, com especial enfoque nos temas da economia, colonialismo e relações internacionais. Ao longo da sua carreira, tem-se debruçado sobre os bastidores financeiros e diplomáticos da República Portuguesa e do Império Colonial, revelando interligações pouco exploradas entre os acontecimentos globais e as decisões políticas nacionais. É autor, entre outras obras, de Do Mapa Cor-de-Rosa à Europa do Estado Novo, e tem contribuído com estudos que cruzam a análise macroeconómica, a geopolítica e a história institucional. O seu trabalho destaca-se pela abordagem crítica e pelo rigor documental, tornando-o uma referência no estudo da história económica e colonial portuguesa do século XX.

Distribuição

A nova edição digital (apenas em língua portuguesa) estará disponível nas principais plataformas online:

África do Sul: (disponível em Agosto de 2025)

Alemanha: (disponível em Agosto de 2025)

Argentina: (disponível em Agosto de 2025)

Brasil: (disponível em Agosto de 2025)

Canadá: (disponível em Agosto de 2025)

EUA: (disponível em Agosto de 2025)

Espanha: (disponível em Agosto de 2025)

Japão: (disponível em Agosto de 2025)

Coreia do Sul: (disponível em Agosto de 2025)

Portugal: (disponível em Agosto de 2025)

Reino Unido: (disponível em Agosto de 2025)

Rússia: (disponível em Agosto de 2025)

As Contas da República (1919-29) e os Anos Loucos de Wall Street
As Contas da República (1919-29) e os Anos Loucos de Wall Street

Edição impressa:

Bertrand

Wook

FNAC

PromoBooks

AUTORES.club

Uma feira mais verde e inclusiva

Uma feira mais verde e inclusiva

Este ano, a Feira reforça o seu compromisso ambiental com a iniciativa “Vamos Plantar Livros”, em parceria com a The Navigator Company: por cada 100 livros vendidos, será plantada uma árvore. Com uma estimativa de 700 mil livros vendidos, prevê-se a plantação de cerca de 7.000 árvores .

A acessibilidade também é prioridade, com melhorias como rampas móveis, casas de banho adaptadas, sinalética inclusiva (em colaboração com a ColorADD) e interpretação em Língua Gestual Portuguesa em eventos selecionados .

Programação e destaques

Com mais de 3.000 atividades previstas, a Feira contará com 350 pavilhões, representando 963 marcas editoriais e mais de 85 mil títulos . A nova Praça Verde junta-se às seis já existentes, oferecendo um percurso mais fluido e espaços remodelados.

Entre os destaques da programação:

  • Apresentações de livros e sessões de autógrafos com autores como Miguel Francisco “Michel” (4/6/2025), Sandra Poulson (5/6/2025), Clément Mulewu Munuma Yôk (9/6/2025), João Fernando André (10/6/2025), João Armando (10/6/2025), Luís Gaivão (10/6/2025), F. Tchikondo (14/6/2025), Eugénio Monteiro Ferreira (22/6/2025), Jonuel Gonçalves (22/6/2025), Armindo Laureano (22/6/2025) e Eugénio Costa Almeida (22/6/2025).
  • Concertos às sextas-feiras à noite, incluindo atuações de Teresa Salgueiro.
  • Debates sobre temas atuais como inteligência artificial, sustentabilidade e o papel do livro na era digital .

Informações

  • Datas: 4 a 22 de junho de 2025
  • Local: Parque Eduardo VII, Lisboa
  • Entrada: Gratuita
  • Horários:
    • Segunda a quinta: 12h00 – 22h00
    • Sextas e vésperas de feriado: 12h00 – 23h00
    • Sábados: 10h00 – 23h00
    • Domingos e feriados: 10h00 – 22h00

A Feira é facilmente acessível por transportes públicos e oferece zonas de restauração, áreas de descanso e espaços com sombra para maior conforto dos visitantes .

Auditório Norte

As apresentações de livros da Perfil Criativo | AUTORES.club vão ser realizadas no Auditório Norte, localizado no topo da Feira do Livro de Lisboa. O livros podem ser adquiridos junto ao Auditório Norte no stand D-48 – POENTE 4,  PROMOBOOKS.NET | PAPA-LETRAS.

Sinais de crime no acesso a vistos

Sinais de crime no acesso a vistos

Há anos que alertamos para indícios preocupantes na forma como a República Portuguesa/União Europeia gerem, em Luanda, os vistos de entrada no Espaço Schengen. Os nossos autores angolanos enfrentam bloqueios constantes neste processo administrativo, com vistos frequentemente entregues após o prazo legal estabelecido.

Recentemente, recebemos denúncias sobre o acesso ao portal de marcação de pedidos de visto, que se tornou praticamente inacessível. O sistema está tão restrito que apenas indivíduos ligados ao esquema conseguem acesso. Agências que têm essa possibilidade estão a cobrar 750.000,00 Kz, além do valor do visto. É imperativo exigir transparência neste processo.

Denúncias apontam para a existência de um esquema de corrupção na obtenção de vistos para Portugal, com requerentes a serem vítimas de extorsão por parte de elementos supostamente ligados ao consulado luso em Luanda.

O embaixador de Portugal em Angola atribuiu responsabilidades na demora no agendamento de pedidos de visto a intermediários que bloqueiam as vagas, mas sublinhou que o consulado tem feito esforços para contrariar os atrasos. 

É fundamental e urgente que escritores, poetas, autores, artistas e agentes culturais circulem livremente com as suas obras no espaço da CPLP. A cultura não pode ser refém de burocracias ou esquemas corruptos.

João Ricardo Rodrigues [editor]

Fotografia: Angola24Horas

Editora Perfil Criativo | AUTORES.club anuncia novas edições EPUB com apoio da União Europeia e da República Portuguesa

Editora Perfil Criativo | AUTORES.club anuncia novas edições EPUB com apoio da União Europeia e da República Portuguesa

A editora Perfil Criativo | AUTORES.club reforça o seu compromisso com a transparência e a disseminação de obras literárias de qualidade ao anunciar que, no primeiro trimestre de 2025, serão disponibilizadas seis novas edições em formato EPUB nas principais plataformas de venda digital de livros, em todo o mundo. Estas publicações contarão com o apoio da União Europeia e da República Portuguesa.

Os títulos que serão lançados com este apoio incluem:

  • “Chão de Kanâmbua” (ou “O Feitiço de Kangombe”), de Tomás Lima Coelho;
  • “Eu e a UNITA”, de Orlando Castro;
  • “Sul”, de Álvaro Poeira;
  • “Foreign Office e a Península Ibérica: Lisboa, Madrid… Gibraltar (1919-1962)”, de Álvaro Henriques do Vale;
  • “Amor Verdadeiro Amor”, de Hugo Henriques;
  • “As Contas da República (1919-29) e os Anos Loucos de Wall Street ou como o Crash de 1929 influenciou o Acto Colonial e adiou a autonomia de Angola”, de Álvaro Henriques do Vale.

Adicionalmente, a editora informa que outras publicações já estão disponíveis em formato EPUB, embora sem qualquer apoio institucional. Entre elas estão:

Com essa iniciativa, a Perfil Criativo | AUTORES.club reafirma o seu papel na promoção da literatura em língua portuguesa e na ampliação do acesso a obras relevantes para diversos públicos. As edições digitais permitem que leitores de todo o mundo possam acessar conteúdos de alta qualidade de forma prática e acessível.

Livros para ler em qualquer lugar!


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