“Raça não é ser, é maneira de ser” — “Um muito obrigado a Mafrano”

“Raça não é ser, é maneira de ser” — “Um muito obrigado a Mafrano”

20/12/2023 — Intervenção de Eugénio Inocêncio no lançamento do segundo volume da obra de Francisco Maurício Caetano, Mafrano, na Biblioteca Nacional de Cabo Verde

“Um muito obrigado a Maurício Caetano, Mafrano, por esta obra de estudo obrigatório, de antropologia cultural sobre os Bantu.

Um muito obrigatório ao Cardeal Arlindo Gomes Furtado, por estar aqui connosco, na apresentação do segundo volume do livro “Os Bantu na visão de Mafrano” (Ed. 2023).

Um muito obrigado à Família de Mafrano por esta brilhante iniciativa de edição das publicações de Mafrano.

Um muito obrigado à editora Perfil Criativo, por mais esta iniciativa de ligação cultural entre Cabo Verde, Angola e Portugal.

Este segundo volume da obra traz-nos igualmente um rico conjunto de muitas tradições e ritos dos Bantu, em Angola, que nos ajuda a perceber a sociedade angolana.

Destaquei algumas das ideias, muitas, recolhidas da leitura da obra.

Destaco as seguintes, a começar pela preocupação de Mafrano pelos jovens.

Citando um ditado Bantu, ele diz,

Aos jovens… Rumo às terras onde encontrareis sapatos. A estes calçai-os, mas sem perder de vista as sandálias. 

O valor desta citação aumenta quando Mafrano nos dá o significado de Bantu.

Ele diz,

Bantu é o plural de munto, que significa pessoa. Bantu significa, pois, pessoas.

E destaco um conjunto de outras ideias que tornam o pensamento do autor universal,

Raça não é ser, é maneira de ser. Surpreendente o fenómeno de osmose entre as fronteiras étnicas, tão permeáveis elas são.

Em Angola existem os Bantu, os pré Bantu e os não Bantu

Os Bantu distribuem-se em Angola por 9 ramos, que se subdividem em diversos grupos.

Particularidades antropológicas da vida Bantu

Prestígio: Progenitor de numerosa prole.

Os cuidados dos vizinhos da criança recém nascida e da mãe

O caso dos gémeos que despertam a atenção de toda aldeia

A circuncisão nos Bantu é um rito de passagem

Da leitura para esta apresentação, assaltou-me o seguinte pensamento:

(Ao ler o livro sobre os Bantu na perspectiva da antropologia cultural veio-me à mente o seguinte pensamento em relação ao passado mais distante, nomeadamente da época colonial, e que julgo ser válido também para os dias de hoje)

O contacto súbito ou a convivência prolongada entre seres humanos de proveniências diferentes DEVE OBEDECER A PRINCÍPIOS que procurem corrigir os males que têm afligido os seres humanos no passado e, infelizmente, no presente.

Os comportamentos humanos têm sido basicamente do seguinte tipo: 

Os que têm uma vantagem, geralmente dada pela história, procuram usar essa vantagem para se sobreporem e subordinarem os que não a detém.

Essa sobreposição e subordinação acontece independentemente dos bons costumes e valores praticados no seio do grupo que se passa a considerar vencedor.

O conceito que passou a dominar a fundamentação desta excepção de valores e comportamentos é o conhecido PRAGMATISMO.

Em nome do pragmatismo, isto é, de resultados geralmente materiais considerados relevantes, prescinde-se de variáveis que passam a ser consideradas descartáveis, tais com as que dizem respeito ao respeito pela natureza, ao respeito pelas diferenças culturais ou outras, ao respeito pelos princípios humanistas, ao respeito pelo equilíbrio social e outros.

O pragmatismo passou a ser a ideologia dominante dos nossos dias (com quantos séculos de predomínio?).

Ao ler os ensinamentos trazidos por Mafrano sobre a antropologia cultural dos Bantu, tentei visualizar a extraordinária riqueza cultural e material que o encontro entre comunidades com abordagens diferentes da vida poderiam trazer ao encaminhamento da humanidade.

Seguramente os resultados teriam sido imensamente superiores aos que hoje a humanidade exibe.

Em todos os domínios, tanto os de ordem cultural, como os de ordem material. Da ciência. Do espiritual. 

Obrigado Mafrano e obrigado família Mafrano por esta oportunidade.

Um obrigado muito especial a José Caetano, filho de Mafrano, com quem me encontrei hoje, pela primeira vez, na sequência de outros encontros, pela via da Internet, em outras lides de ordem cultural.”