Archives em Fevereiro 11, 2021

De onde venho, quem sou?

De onde venho, quem sou?

Caraculo, a minha paixão (Ed. 2021)

Rating: 4 out of 5.

De onde venho, quem sou?

Capítulo I: Victor Torres

A curiosidade levou-me a tentar descobrir as minhas origens. De onde venho, quem sou? As histórias de família permitiram-me conhecer o passado remoto, mas tentei ir ainda mais longe. Concentrei-me, sobretudo, na época em que teve início a migração de Pernambuco, no Brasil, para Angola. Como vai aparecer a minha família Torres na chamada ocupação Brasileira (título empregue já depois da independência de Angola), no processo que iniciou a colonização de um território do tamanho de Portugal continental, que se veio a chamar Moçâmedes, no Sul de Angola?


Qual terá sido a razão que levou a esta aventura o meu tetravô, Manuel Joaquim Torres, natural da ilha de S. Miguel, freguesia da Fajã de Baixo, Açores? Fome na ilha? Problemas com o Regime? Tentativa de ascenção social? Falência económica?


Consegui fazer um apanhado de várias gerações desde o ano de 1724. Anteriormente a esta data não se encontrou mais nenhum registo nas ilhas, o que me leva a deduzir que a transição da família do continente para o arquipélago se terá efectuado nessa altura… ou poderá ter acontecido mesmo antes e, devido aos incêndios e saques levados a cabo por piratas, a informação ter-se-á esfumado no tempo. Gostava de ter conseguido mais sobre a origem destes Torres dos Açores, ou seja, de que parte do continente europeu terão vindo. Seriam de Navarra? Os primeiros registos deste nome surgem em Espanha, no século XIV, e no século XV em Portugal. Por terem propriedades em locais que possuíam torres, adoptaram esse nome de família, que passou gerações até se tornar um apelido. Crê-se que este apelido estará ligado às comunidades judaicas oriundas de Espanha.
Reforçando estas origens, o nome Torres faz parte do grupo dos 23 sefarditas (judeus da Península Ibérica) que, fugidos da Inquisição, chegaram a Nova Amesterdão, futura Nova Iorque, em 1624. Vinham de Pernambuco, Brasil, onde antes se tinham radicado desde que aquela terra fora conquistada pelos Holandeses a Portugal. Tinham lá ido parar por serem Judeus e Portugueses a viver na Holanda, onde tinham chegado fugidos da Inquisição Portuguesa, e por serem necessários nessas novas terras pelo facto de saberem duas línguas e serem bons mercadores.

Quando Portugal reconquistou Pernambuco, foram de novo obrigados a fugir. O barco da fuga destinava-se a Amesterdão, mas foi interceptado por piratas Espanhóis, tendo os Judeus sido foram salvos por uma embarcação Francesa, a “Sainte-Catherine”. O capitão Francês deixou-os na costa Americana que, na época, era possessão Holandesa, obrigando-os a pagar a viagem, tendo essa dívida sido liquidada com tudo o que traziam, desembarcando sem nenhum valor em sua posse. Já na época não havia viagens grátis. 

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Hamupipőke, Piroska és a Farkas (Romance)

Hamupipőke, Piroska és a Farkas (Romance)

Verdadeiro Amor Verdadeiro (Ed. 2020)

Rating: 3.5 out of 5.

ROMANCE

A vörös ruha (o vestido carmim)

Capítulo 1: Hugo Henriques

A reunião de Varsóvia marcou a interrupção dos trabalhos na cidade de Bucareste em finais de 2005, mas também o estabelecimento de medidas imediatas para o início de actividades em Budapeste. Era Novembro quando pegou no caderno que dizia Hungria, o segundo destino estratégico antes da República Checa, terceiro e último do plano.

Tinha passado quase uma década desde a última vez que entrara em Magyarország, mais precisamente na República da Hungria, Magyar Köztársaság.


Alojado no magnífico hotel Nemzeti da praça Blaha Lujza, distraía-se em grande parte do tempo livre, gastava a solidão por assim dizer, a descobrir os afazeres dos turistas vizinhos pela transparência das janelas dos quartos e casas de banho, tão próximas umas das outras, mas intercaladas por belas estátuas brancas sobre um fundo azul das fachadas ortogonais do pátio interior. O anoitecer trazia aos mesmos espaços representações diferentes: Para alguns apenas o sono vencia o cansaço, enquanto para outros o romantismo de Budapeste tornava oportuno o amor ardente.


De vez em quando jantava no hotel outras vezes fora, muitas delas no Alcatraz, um restaurante-bar decorado ao ínfimo pormenor como se fosse uma prisão, onde nunca falhava em pedir uma sopa de cebola dentro de um pão desmiolado.


Certa vez passeava a ver montras na Király utca, naqueles dias em que o vagar é aliado do tempo, quando descobriu o vestido carmíneo da loja Siptár, um motivo de fixação. Se coisa desta natureza é classificável como vício, então seja, porque sempre que calhava a caminho ou lá perto, muitos foram os dias de Dezembro em que esteve ali imóvel frente ao vidro a tentar imaginar uma face diferente para o manequim, uma outra bela que não adormecida e desejou tanto, tanto encontrar essa “Cinderela”.


O Natal aconteceu em Lisboa, e a passagem de ano no Porto. Regressou a Budapeste em Janeiro.

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