Poemário
TEXTO: GABRIEL BAGUET JR, Jornalista/Escritor
Dizer, escrever, pensar ,ouvir e declamar Angola foi e é o Sonho de muitos anos para que a Poesia fosse o cheiro da nossa Utopia. A Poesia é entre outras Artes, a Arte maior e ancestral para exprimir o Amor, a Pertença, a Liberdade, o Pensamento , o Reflectir, o Silêncio e o Olhar do que se observa, do que se imagina e da essência do Sentir.
Ao aceitar com toda a honra pessoal o convite para adicionar letras que formam palavras para debruçar me em cada Amanhecer e Entardecer sobre o Poemário sobre o Manifesto por um “Novo 11 de Novembro“, as primeiras palavras que saíram e saem do meu coração, é o meu assumido Amor por Angola. Angola é e foi o meu caminho para o Mundo e o tempo passou, mas a Memória ficou. Este Poemário teve avanços e recuos diversos porque não é fácil falar da Poesia e da sua maresia sem falar do Amor dos nossos Antepassados, dos Ancestrais Familiares e dos demais Ancestrais e naturalmente porque o Amor assim o determina dos Nossos progenitores. E se a Poesia em si, é um todo que agrega Falas, Lugares, Olhares, Paixões, Dizeres, Expressões e o Sentir do Devir, a palavra Pai e Mãe são a nossa principal Arte de Amar a Poesia do nosso encontro com a Vida que é o Nascer.E assim SER. Saber SER, SER. É essa condição indispensável e de valor supremo com a condição de Crescer. E a Condição plena de Ser-se Humano. O Mundo também é o meu lugar de Existir.
Escrever um Poemário é um Olhar no Tempo de Todos os Tempos e na Ruas dos Dias Homenagear Todas as Poetisas e Poetas Angolanos. Mas igualmente pela inserção regional as Mulheres e Homens Africanos que fizeram e fazem da Poesia a porta de entrada para criar mais Consciência face à Liberdade de Pensar e Amar África. Se as Poetisas e os Poetas Angolanos ergueram as suas Vozes em momentos duros da nossa História recuada e actual, as Poetisas Africanas e os Poetas Africanos trilharam e deixaram em folhas de papel, os gritos da luta contra a Escravatura, contra a Colonização, contra o Apartheid e todas as formas de Opressão Cultural. Universalizar a Poesia é também um Dever de Cidadania e de dizer ao Mundo que a Poesia e as palavras inseridas na construção poética mudam a Narrativa de Existir , de Ser, de Estar, de Abraçar legítimas Causas e com as mesmas Evocar, sem esquecer Memorizar.
A Poesia tem uma essência perfumada em todos os Sentidos e em toda a plenitude das diferentes formas de Expressão Artística. Seja na Música, na Dança, na Pintura e na Arte da Vida. Há e haverá sempre Poesia quando os Nossos Olhares despirem-se de inúmeros preconceitos e sentirem o cheiro de cada Palavra dita, escrita e pensada como um Acto de Amor Eterno
No quadro deste caminho da Liberdade da Consciência Poética e da Poesia como Expressão do assumido e imperativo caminho de lutar pela Liberdade e pelo Direito à Dignidade, outros Povos de todo Mundo fizeram da Poesia o manto para derrubar Muros em Campos de Concentração. Em Angola, em África, na Europa, na América fixou-se na Memória Colectiva da Humanidade, a força,mas também a Leveza do Ser da Poesia para Libertar e Consciencializar o Mundo . A Poesia é libertadora em todos os Sentidos e não se esgota numa única visão e numa única Rua da Humanidade da Vida e no Silêncio das Estantes. A Poesia habita os Nossos Dias e os Dias Futuros. Os ais ecoados dos Navios que transportavam Seres Humanos chamados injustamente Escravos, os ais vindos das Prisões e dos Campos de Concentração não fizeram tremer as Mãos femininas e masculinas apesar da dor e do cansaço, sobreviveram e as suas inquietantes e legítimas Vozes fizeram a Poesia que agora lemos. É preciso continuar a Ler e a Escrever. E Pensar. Pensar na Poesia como as Folhas e as Palavras que escrevem a PAZ. A PAZ que faz falta de modo EMERGENTE face ao Mundo que habitamos.
Escrever um Poémário é um longo exercício de Pensamento pela sua abrangência e pelo sentido de justiça de não excluir nem um nome, nem autor, nenhuma Declamadora e Declamador das suas Poesias.
A Poesia é também um Olhar à Memória da Música da nossa Existência Humana. O que Somos e Fomos. O que deixamos de Ser e Fazer. A Poesia é a travessia que passa o Existir sem Exigir. A Poesia é a Melodia da Vida em diferentes cadências e em distintas Pautas..Homenagear a Poesia Angolana, é justamente Homenagear todas as Mulheres e Homens naturais de Angola na extensão do Tempo Passado, Presente e Futuro. A curiosidade da investigação remete me para o primeiro Poema que possa ter sido escrito em Angola e no Mundo. Mas no nosso caso as Falas diversas do nosso Território expressaram decerto essa palavra que hoje se chama Poesia. A Oralidade é uma Arte Poética. A Oralidade para além da Arte, tem Estética e aos Linguistas e outros estudiosos da Poesia e da sua origem e contemporaneidade, há decerto muito por Escrever e Dizer.
A Poesia dialoga com o Mundo e deriva para um extenso Oceano de Palavras que não nos abandonam na percepção de quem teima e em estar vivo num Mar de Identidades Diversas. Foi o nosso caso.É a nossa realidade.Ardentes Palavras e genuínas Reflexões foram feitas nos finais do Século XIX, princípio do Século XX onde se destaca de forma indelével a célebre Geração 1900 que deixou para a nossa Memória Colectiva pedaços imensos de sentimentos,anseios, de lucidez sem medo e que enfrentaram com toda a Claridade um sistema que negavam para o nosso Povo. Essa clarividência integrava nomes como António de Assis Jr, Cordeiro da Marta, Fontes Pereira, Apolinário Van-Dunem, Paixão Franco e Silvério Ferreira.
Percorrer algumas etapas da nossa História e da História Universal é um acto Poético. Porque a nossa Nação tem tido ao longo da sua práxis histórica percursoras e percursores que no domínio da Literatura Poética retiveram com coragem a verticalidade de deixar-nos ensinamentos, mas aprendizagens e iniciaram a viagem que se imponha à sua Geração.Anteciparam poeticamente o Tempo e o Agora transformando com determinação os espaços identitários e tão diversos e multifacetados da Nossa vasta Cultura e no domínio linguístico não se coibiram de defender as Línguas Nacionais, mas também as Tradições, os Costumes e com isso abriram perante o Poder Colonial uma estantes dos Nossos Diversos Saberes.As fontes consultadas são inúmeras e na escadas deste Poemário que reflecte um Olhar Pessoal e solitário nesta narrativa, surgiram outras mãos de Poetisas e Poetas Angolanos identificando os ais e as razões de um Povo que já existia e não foi descoberto,antes encontrado com as suas Falas, com as suas Expressões e diversas Tradições, repito. E acentuo esta posição porque a única forma de salvaguardar o nosso Património não é apagar ou excluir Bibliotecas, Arquivos e Memórias diversas. Antes preservar para Estudar, Conhecer, Não Esquecer e Transmitir Conhecimento Ancestral. A voragem do Tempo não deve apagar intencionalmente o fixado em inúmeras folhas de papel, cadernos e livros. A Cultura é um Bem essencial que a Nacão Angolana pode oferecer aos seus naturais, mas também o Conhecimento e o acesso ao mesmo erguem páginas para Ler e Saber.
A Poesia, a nossa Poesia atravessou Mares de todo o mundo. Exemplo disso e do já anteriormente referido face aos Autores citados da Geração 1900, surgiu em meados da década de 40 até 1961 , período que coincidiu com o início da Luta Armada, uma Geração de Intelectuais Angolanos que deram corpo e alma em Angola e nomeadamente no meio luandense às Revistas ‘Mensagem” e “Cultura” que de acordo com fontes históricas e bibliograficas lidas, estas publicações citadas eram por si só o Grito de uma Consciência que apelava e e enfrentava o Poder Colonial. De acordo com fontes que pediram anonimato e estão vivas, Viriato da Cruz, natural do Sumbe (antigo Porto Amboim) onde nasceu a 25 de Março de 1928, foi um dos mais destacados angolanos do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, fundado em Luanda em 1950 com a já mencionada e muito procurada Revista Literária a”MENSAGEM”, estrutura da Associação dos Naturais de Angola.
As Novas Gerações Angolanas talvez não se recordem de
“O Pregão da Avó Ximinha
É mesmo como os seus Panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.
Avó Xima está velhinha
Mas de manhã,manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia…”,
assim escreveu e disse para não Esquecer, o Poeta Viriato Clemente da Cruz, em “MAKÈZU”, publicado na Colecção Autores Ultramarinos na Colectânea de Poemas ( 1947-1950).
Ao citar estes versos, o meu Pensamento leva-me de novo à Escrita provinda da raiz interior do Poeta Angolano Viriato Francisco Clemente da Cruz. Entre 26 de Março de 1959 e 1 de Abril de 1959, no Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma disse: “No quadro da sociedade colonial, tanto os trabalhos culturais como o ensino oficial tem por finalidade falsear a nossa personalidade, criar em nós próprios profundos reflexos que irão obrigar-nos , quando a hora da liberdade soar, a um comportamento de fidelidade em relação à Europa. Este é certamente uma das maiores armadilhas montadas pelo colonialismo, mesmo o mais reformista”citando o Autor de “MAKÈZU”, “SÔ SANTO”, “NAMORO “,”SERÃO de MENINO”, “RIMANCE da MENINA da ROÇA”, “MAMÃ NEGRA”(Canto de Esperança).
A Poesia não tem cheiro e neste Canto de Esperança e Ventos de Fé, a Poesia tem a essência necessária para que decorridos 48 anos de Independência a Poesia Angolana e a Poesia do Mundo habitem o quotidiano Angolano e em cada Janela, Rua, Espaço Urbano ou Rural , sinta-se que a Poesia suaviza os Dias “pelos teus Olhos, minha Mãe”, in “MAMÃ NEGRA”, do Poeta e Escritor Viriato da Cruz.
Pelos teu Olhar minha Querida Angola, deixa que a Poesia te Abrace de forma profunda e para que o Sonho legítimo e inquestionável da Nossa Independência continue assente em antigas e renovadas estrofes e que o exercício da Política tenha esse perfume da Poesia.
Como me referiu um dia no seu escritório de Advocacia em Lisboa, sito no Largo de Santa Bárbara, o Nacionalista Angolano e exímio Jurista Gentil Viana , a “Arte e a Poesia são um caminho sábio para evitar as Guerras”. É verdade. Palavras ditas e transcritas para um bloco de notas pessoal que guardo até hoje como parte de uma estrofe.
Nesse entardecer de 1998, ambos sonhávamos Angola e o seu Futuro. E a Poesia pode ser o Abraço inesquecível que solidifique a Paz perante os desafios internos variados, mas também a ponte para os desafios regionais e externos.
A Nossa Poesia tem o som dos kissanges por vezes esquecidos e mais que Tempo que a Política ame a Poesia para a emergente Humanização da Sociedade Angolana, porque a Poesia deixa desejos constantes de Amar Angola e as Pessoas que Nela habitam e vivem. Sendo a Poesia transversal que se abra o Olhar para revisitar Tempos de Sonhos e das metamorfoses vindas das Vozes caladas e dos “banguês das tongas”.
Utopia ou não é possível Poetizar a Política e torná-la mais Fraterna e Solidária.
Viva a Poesia.Um Abraço profundo à mesma e a Angola. A Poesia deve ter lugar primordial nestes Tempos Angolanos