José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

José Bento Duarte: “Pedro João Baptista e Anastácio Francisco pertencem à galeria dos melhores”

Apresentação do autor no lançamento de “A Primeira Travessia da África Austral”

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025

O autor José Bento Duarte fez uma intervenção extensa, luminosa e apaixonada no lançamento de A Primeira Travessia da África Austral, situando a obra como o fecho de uma trilogia de evocações históricas sobre o expansionismo português e as relações com os povos africanos. Entre recordações pessoais, método de investigação e leitura crítica das fontes, apresentou a travessia documentada de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811) como um feito de “primeira grandeza”, e como um teste moral à memória pública de Portugal, Angola e Moçambique.

“Coloquei Pedro João Baptista e Anastácio Francisco no termo do livro porque pertencem à galeria dos melhores que encontrei em quatro séculos de História.”

A trilogia e a motivação do autor

Bento Duarte enquadrou o novo título na trilogia composta por Senhores do Sol e do VentoPeregrinos da Eternidade e A Primeira Travessia da África Austral. Natural de Moçâmedes (Namibe), com raízes familiares de várias gerações em Angola, explicou que a obra nasce do “desejo de investigar de perto o longo convívio histórico entre portugueses e africanos”, com especial foco nos antepassados dos angolanos e moçambicanos.

  • Senhores do Sol e do Vento (1482–1917) abre com Diogo Cão e fecha com Mandume ya Ndemufayo, articulando figuras portuguesas e africanas num arco que desmonta simplificações coloniais.
  • Peregrinos da Eternidade revisita a ascensão de D. João I e da burguesia mercantil, preparando a expansão para lá das fronteiras (1415).
  • A Primeira Travessia da África Austral (1415–1815) caminha deliberadamente para o capítulo final, a proeza de Pedro João e Anastácio, “os meus conterrâneos”, que ligam Cassange–Lunda–Cazembe–Tete.

“Não escrevi um livro de figuras portuguesas em África; escrevi sobre portugueses e africanos que coexistiram: Bacongo, Ambundo, Ovimbundu, Herero, Nyaneka, Kwanyama, Ganguela, Kioko, Ambo, Chindonga…”

Como o livro está construído

O autor descreveu três blocos narrativos:

  1. Mitos antigos sobre a África Central e Austral (2 capítulos) — cinocéfalos, homens sem cabeça, antropofagia: imaginários que deformaram mentalidades e criaram preconceitos com efeitos históricos.
  2. Da orla atlântica à índica: fixações e rotas (cap. 3–18) — feitorias, portos, penetrações fluviais (Cuanza e Zambeze), Ilha de Moçambique como base para a Índia, e a centralidade do ouro de Sofala (Monomotapa) para sustentar o comércio de especiarias.
  3. Tentativas de travessia e a primeira travessia documentada:
    • Correia Leitão (1755–56): travado pelos Jagas do Cassange; ensinou a lógica das três etapas(Cassange → Lunda; Lunda → Cazembe; Cazembe → Tete).
    • Francisco José de Lacerda e Almeida (1798): parte de Tete, chega moribundo ao Cazembe e morre; “um homem trágico, de extraordinário espírito de missão”.
    • Pedro João Baptista e Anastácio Francisco (1802–1811): realizam a primeira travessia documentada. Partem de Cassange (nov/1802), chegam a Tete (2/fev/1811) e regressam a Angola (1814). Pedro João, alfabetizado, mantém diários e entrega carta oficial ao governador dos Rios de Sena, a prova administrativa do feito.

“Não foi acaso: foi projeto da Coroa. Está documentado. E Pedro João cumpriu ordens, levou a carta e entregou-a em Tete.”

Esclarecimentos históricos cruciais

Anastácio Francisco, não “Amaro José”: Bento Duarte desmonta o equívoco e identifica a fonte mal lida que gerou décadas de erro.

Os diários: parte perdeu-se, sobretudo no início (Cassange → Lunda) e no regresso (Moçambique → Angola), mas interrogatórios oficiais e reescritas posteriores preenchem lacunas.

Logística e anónimos: a travessia implicou mercadorias, guias, portagens e muitos carregadores (em regra, escravizados). O autor homenageia “os anónimos da História” sem os quais as grandes proezas não acontecem.

“Sem os anónimos não teríamos História. Estes 33 do monumento (Padrão dos Descobrimentos) não existiriam sem milhares de braços invisíveis.”

Reconhecimento em vida… e a injustiça no mapa de Lisboa

O feito foi reconhecido dentro e fora de Portugal. Em 1815, no Rio de Janeiro, o Príncipe Regente D. João quis conhecer Pedro João Baptista e determinou:

  • criação de companhia pedestre para rotas comerciais Angola–Moçambique,
  • nomeação de Pedro João como comandante,
  • promoção a capitão e vencimento (10$000 réis/mês).

“D. João VI não quis o governador, quis Pedro João. É extraordinário.”

Mas o autor confronta a memória toponímica: o edital de 23 de março de 1954 da Câmara Municipal de Lisboa criou ruas para várias figuras do “Ultramar” (como Lacerda e Almeida), mas não para Pedro João e Anastácio.

“É uma grande injustiça por reparar. Conhecemos o feito, sabemos da sua importância; falta poder para decidir.”

Encomende os livros por email (indicar nome e morada de entrega): encomendas@autores.club

Seis ideias-chave que o autor deixa a Portugal

Antiguidade do objetivo: a travessia era um projeto antigo (já no horizonte do Infante D. Henrique, entre mitos do Preste João e a luta geopolítica com o Islão).

Proeza documentada: a primeira ligação transcontinental provada é a de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco.

Quem eram: presumivelmente pombeiros, mas aqui em missão oficial; ambos escravizados do Tenente-Coronel Honorato da CostaPedro João lidera e escreve.

Nome correto: o companheiro é Anastácio Francisco, o erro “Amaro José” nasce de má leitura de fonte.

Diários e método: diários parciais, fontes cruzadas (interrogatórios, despachos, cartas, edição de 1843 nos Anais Marítimos e Coloniais).

Memória e reparação: reconhecimento histórico existiu (1815), mas a reparação simbólica na toponímia falta há 71 anos, 7 meses e 6 dias (contados até 29/10/2025).

Um apelo final à justiça histórica

Bento Duarte concluiu com um pedido simples e contundente: inscrever Pedro João Baptista e Anastácio Francisco na toponímia de Lisboa, e, por extensão, em Luanda, Moçâmedes, Tete, como gesto de reparação, reconhecimento e fraternidade.

“Se tivéssemos poder, já estava resolvido. Fica a esperança: que alguém com poder decida finalmente reparar esta injustiça.”

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Cartas que Atravessam Histórias

Cartas que Atravessam Histórias

A historiadora Constança Ceita escreve sobre a intervenção do Prof. Carlos Mariano Manuel: “Um gesto simbólico de fraternidade e reconciliação”

AUTORES.club | Perfil Criativo — Novembro de 2025

Perfil Criativo | AUTORES.club inaugura um novo espaço de diálogo, “Cartas que Atravessam Histórias”, dedicado a textos de reflexão, recensão e crítica provenientes de académicos, cientistas, escritores, artistas e cidadãos do mundo.
Um espaço aberto a quem deseja pensar os livros, os autores e as intervenções que têm marcado o reencontro entre Angola, Portugal e o mundo lusófono, a partir das publicações editadas pela Perfil Criativo | AUTORES.club.

O primeiro contributo chega da Professora Catedrática Doutora Constança Ceita, historiadora angolana, regente da Cadeira de História de Angola na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto, que escreve sobre a intervenção do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, prefaciador e orador no lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, apresentado no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, a 29 de outubro de 2025.

Carta da Prof. Doutora Constança Ceita

(Reprodução integral)

Prezado Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel,

Permita-me, como historiadora que acompanha atentamente a investigação e a redação científica da África Central/ Austral, expressar a minha profunda admiração pelo seu artigo intitulado “Se encontrássemos a coroa do Rei do Congo, seria um acto redentor”. A sua intervenção — que reflecte não apenas um domínio rigoroso das fontes como também uma consciência crítica da dimensão simbólica da História — revela-se um contributo de excepcional relevo para a nossa compreensão do passado colonial, da memória e da identidade.

Em particular, valorizo:

A sua delicada articulação entre os factos históricos — em especial ao referir-se à morte por decapitação de Dom António I (Nkanga Vita Lwa Mvemba/Mwana Nlaza) e ao percurso da Coroa de prata que poderá ter sido levada para Portugal em 1666 — e o chamamento a uma reparação simbólica entre Angola e Portugal.

O modo como associa a narrativa histórica à noção de “redenção”: não se trata apenas de recuperar artefactos ou factos esquecidos, silenciados, mas de restituir dignidade às vozes e aos agentes históricos africanos que o cânone colonizador marginalizou.

O tom científico e ao mesmo tempo humanista da abordagem — que conjuga erudição, rigor crítico e sensibilidade perante as implicações morais e identitárias da história partilhada de ambas as margens do Atlântico.

Este tipo de escrita — que não se limita à catalogação de factos mas avança para a reflexão sobre o significado social e simbólico da História — constitui um verdadeiro exemplo para a comunidade científica.

A sua proposta de redefinir, por exemplo, o Monumento do Padrão dos “Descobrimentos” como “Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas”, ou de considerar a recuperação da Coroa do Soberano do Reino do Kongo como “gesto simbólico de fraternidade e reconciliação”, são indicações fortes de como a História pode (e deve) intervir no mundo contemporâneo, para além do arquivo.

Em nome da academia e em reconhecimento do seu contributo valioso, gratidão pelo seu trabalho.

Espero que esta reflexão inspire novas pesquisas que sigam a mesma linha — exigente no método, audaz no tema e sensível ao impacto histórico-social.

CONSTANÇA CEITA
Professora Catedrática

Regente da Cadeira de História de Angola
Faculdade de Ciências Sociais — Universidade Agostinho Neto

“É tempo de repor a verdade histórica”, a intervenção do editor João Ricardo Rodrigues

“É tempo de repor a verdade histórica”, a intervenção do editor João Ricardo Rodrigues

Lançamento oficial de “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025

No Padrão dos Descobrimentos, o editor João Ricardo Rodrigues (Perfil Criativo | AUTORES.club) assinou uma intervenção emotiva e assertiva, enquadrando o lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, como um ato de memória, de comunhão e de justiça para com Pedro João Baptista e Anastácio Francisco — os luso-angolanos que, entre 1802 e 1811, realizaram a travessia terrestre entre Cassange (Atlântico) e Tete (Índico).

Perante representantes da Embaixada da República de Angola em Portugal, da Liga Africana, do Estado-Maior-General das Forças Armadas e de diversas entidades civis e militares de ambos os países, o editor agradeceu a presença e recordou a simbologia do local e da data, 29 de outubro, também aniversário da Batalha de Ambuíla (1665). Sublinhou a trilogia histórica do autor ( Peregrinos da Eternidade | A Primeira Travessia da África Austral | Senhores do Sol e do Vento ) como um arco de reflexão.

Ausências que interpelam

João Ricardo Rodrigues registou, com estranheza, a ausência de instituições portuguesas previamente confirmadas, nomeadamente a Câmara Municipal de Lisboa, a Sociedade de Geografia de Lisboa e a Academia Portuguesa de História. Para o editor, essas ausências “não diminuem” o sentido do encontro; sublinham antes a urgência de um diálogo público sobre a reposição da verdade histórica e o reconhecimento de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco no espaço da memória coletiva.

“A Perfil Criativo | AUTORES.club procura ser mais do que uma editora: um território de reencontros, onde a palavra faz pontes entre Angola e Portugal, entre o que fomos e o que queremos continuar a ser.”

Nota do Editor (integral, publicada no livro)

É TEMPO DE REPOR A VERDADE HISTÓRICA

Com enorme júbilo apresentamos “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte — uma obra que resgata um feito extraordinário da História: a travessia terrestre entre Angola e Moçambique, realizada pelos luso-angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco entre 1802 e 1811. Este episódio pioneiro, amplamente documentado mas longamente silenciado, constitui a primeira ligação transcontinental entre as margens do Atlântico (Cassange) e do Índico (Tete) feita por dois homens africanos sob bandeira portuguesa — um feito maior, que merece justo reconhecimento no espaço público e na memória coletiva.
O prefácio é assinado por Uina yo Nkuau Mbuta (Carlos Mariano Manuel), catedrático, investigador e autor do tratado de história “Angola desde antes da sua criação pelos portugueses até ao êxodo destes por nossa criação”, distinguido como Personalidade Lusófona 2023 pelo Movimento Internacional Lusófono. A sua participação confere a esta edição uma força simbólica e científica ímpar, num momento em que se assinalam os cinquenta e um anos da Democracia Portuguesa e os cinquenta anos de independência da República de Angola.
Neste espírito, convidamos o senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa a tomar iniciativa para que os nomes de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco sejam dignamente inscritos na toponímia da cidade, como homenagem a dois heróis que dignificam Portugal, Angola e Moçambique.
Estendemos igualmente este apelo ao senhor Presidente da República Portuguesa e aos corpos diretivos da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, instituições com longa tradição na preservação e valorização do património, para que se associem ao reconhecimento e divulgação deste extraordinário feito.

Síntese editorial

A intervenção de João Ricardo Rodrigues reafirmou a missão do projeto editorial: repor a verdade histórica, dar nome aos pioneiros africanos e convocar as instituições a um gesto concreto de reconhecimento público. Entre presenças significativas e ausências eloquentes, o lançamento transformou-se numa travessia moral e cultural que continua, das páginas do livro para a toponímia, para as salas académicas e para a consciência coletiva.

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Miguel Anacoreta Correia: “É tempo de devolvermos o nome e o lugar que estes homens merecem”

Miguel Anacoreta Correia: “É tempo de devolvermos o nome e o lugar que estes homens merecem”

Intervenção no lançamento oficial do livro “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte

Padrão dos Descobrimentos, Lisboa — 29 de outubro de 2025
(Reportagem vídeo de Victor Hugo Mendes)

Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, figura histórica da vida política portuguesa, protagonizou uma das intervenções mais marcantes do lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa.

Com a serenidade e clareza que lhe são conhecidas, começou por recordar a sua ligação direta a África, onde nasceu (Moçambique) e cresceu (Angola), reconhecendo-se “um homem de duas margens”. Essa vivência serviu de ponto de partida para uma reflexão sobre a omissão do contributo africano nas grandes narrativas históricas.

“Livingstone elogiava os portugueses, mas quis reservar a glória para si, depois para os britânicos, e, no fim, apenas para os brancos. Os negros, sem os quais nada teria sido possível, foram omitidos”, afirmou.

O engenheiro sublinhou que os angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco foram os verdadeiros pioneiros da travessia documentada da África Austral, um feito que a História portuguesa apagou e que o livro de José Bento Duarte agora restitui.

“É tempo de compensar o esquecimento de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, em Angola e em Portugal”.

No cenário simbólico do Padrão dos Descobrimentos, a sua intervenção ecoou como um apelo à reconciliação histórica, entre povos, memórias e verdades partilhadas.

Intervenção de Eng. Miguel Anacoreta Correia no Padrão dos Descobrimentos na fim de tarde de 29 de Outubro de 2025, durante o lançamento oficial do livro “A Primeira Travessia da África Austral” (Ed. 2025), de José Bento Duarte. Gravação em vídeo de Victor Hugo Mendes

A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, no Padrão dos Descobrimentos

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

Padrão dos Descobrimentos: Angola e Portugal um encontro olhos nos olhos

29/10/2025 — O monumental Padrão dos Descobrimentos, em Belém, foi o cenário escolhido para o lançamento oficial do livro A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte, numa cerimónia que se transformou num marco de reencontro entre a História de Angola e a História de Portugal.

O evento reuniu personalidades de relevo das duas nações: representantes da Embaixada da República de Angola em Portugal, da Liga Africana, do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas, da Academia da Força Aérea, além de membros de instituições civis e militares de ambos os países.

Na mesa de honra destacaram-se o Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, o Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, que se deslocou de Angola especialmente para o evento, o editor João Ricardo Rodrigues, e o próprio autor José Bento Duarte. O Dr. José Ribeiro e Castro, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, enviou uma mensagem em vídeo, impossibilitado de comparecer por compromissos de agenda (ver vídeo da transmissão em directo).

Eng. Miguel Anacoreta Correia, Dr. José Ribeiro e Castro, Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel e o autor José Bento Duarte

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
A Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

Um encontro de angolanos em Lisboa que ecoou desafios à História

O lançamento revelou-se mais do que uma celebração literária: foi um encontro de angolanos em Lisboa que lançou desafios históricos e culturais às instituições portuguesas.

O autor, José Bento Duarte, de uma família muito antiga do sul de Angola, defendeu com veemência a necessidade de corrigir erros históricos e administrativos que, segundo ele, “por discriminação ou descuido”, apagaram da História de Portugal dois heróis luso-angolanos: Pedro João Baptista e Anastácio Francisco, os verdadeiros primeiros exploradores a realizarem a travessia documentada da África Austral.

“Seria um acto de justiça democrática, 50 anos após a independência de Angola, reconhecer e repor a verdade sobre estes dois heróis. A História deve ser corrigida, e é aos olhos da Democracia que o pedimos”, afirmou o autor, num discurso direto à Câmara Municipal de Lisboa e às instituições portuguesas.

História, reparação e justiça

Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, prefaciador da obra e considerado o mais importante historiador da República de Angola, sublinhou que Portugal tem hoje uma oportunidade única de fazer justiça histórica.

“Reconhecer o papel de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco é um gesto de reparação. É afirmar que a História da África Austral também foi escrita por africanos, e que estes devem ocupar o lugar que lhes pertence na memória comum”, afirmou.

Carlos Mariano Manuel foi ainda mais longe, propondo uma reflexão sobre o próprio nome do Padrão dos Descobrimentos, sugerindo que venha a chamar-se “Padrão das Expedições Marítimas Portuguesas”, uma designação mais inclusiva e historicamente ajustada.

E lançou um desafio simbólico e poderoso:

“Peço aos portugueses que investiguem onde está a coroa do Rei do Congo, Dom António I, Muana Malaza, herói e mártir da Batalha de Ambuíla. Encontrá-la seria um acto redentor.”

A voz da História partilhada

O Engenheiro Miguel Anacoreta Correia, que nasceu em Moçambique e cresceu no sul de Angola, recordou a figura de David Livingstone, destacando as contradições do explorador britânico, que, embora admirasse os portugueses, pretendia reservar toda a glória para os britânicos e os europeus brancos, excluindo os africanos.

“Livingstone elogiava os portugueses, mas omitia os africanos. Essa exclusão precisa de ser corrigida na narrativa histórica. Os africanos também foram protagonistas das grandes travessias e explorações”.

O apelo do editor: uma História em construção

Durante o encontro, o editor João Ricardo Rodrigues, da Perfil Criativo | AUTORES.club, apelou às instituições históricas portuguesas, como a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Academia Portuguesa da História e a própria Câmara Municipal de Lisboa, para que assumam uma posição pública sobre os factos revelados na obra.

“Estas instituições confirmaram presença, mas não compareceram. É tempo de abrirmos os olhos para a História que partilhamos. Este livro é um convite à verdade”.

O editor recordou ainda que o evento coincidiu com o 360.º aniversário da Batalha de Ambuíla (1665), acontecimento determinante na História de Angola e do Reino do Congo. Citando o Prof. Carlos Mariano Manuel, lembrou que “se quem escolheu o 11 de novembro como data da independência de Angola conhecesse profundamente a nossa história, teria escolhido o 29 de outubro”.

Um final inesperado e simbólico

No encerramento do evento, um momento inesperado emocionou os presentes: o jovem músico angolano Gari Sinedima, que se encontra em Lisboa, realizou uma performance espontânea em homenagem à origens comuns com o autor, num registo cultural do Sul de Angola.
Foi um gesto de gratidão, mas também uma afirmação simbólica da ligação viva entre as gerações angolanas e o seu património.

Gari Sinedima

Um novo capítulo para a História Luso-Angolana

O lançamento de A Primeira Travessia da África Austral foi mais do que uma apresentação literária, foi um ato de afirmação cultural e de revisão histórica, com ecos que ultrapassam a literatura e tocam a diplomacia.

O evento, transmitido em direto por Victor Hugo Mendes e disponível em vídeo, marca o início de uma série de artigos que o portal AUTORES.club publicará nos próximos dias, aprofundando as intervenções de cada participante e os desafios lançados ao conhecimento histórico entre Angola e Portugal.

A primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral

 “É tempo de repor a verdade histórica” 

 “É tempo de repor a verdade histórica” 

O autor, José Bento Duarte, e o editor da Perfil Criativo I AUTORES.club têm a honra de convidar os nossos leitores para a cerimónia oficial de lançamento do livro A Primeira Travessia da África Austral que terá lugar no Auditório do Padrão dos Descobrimentos, na quarta-feira, 29 de Outubro de 2025, às 16h30. (Avenida Brasília, Belém) Este inédito encontro em Lisboa contará com a participação especial de Dr. José Ribeiro e Castro, Eng. Miguel Anacoreta Correia e Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel (República de Angola). Devido à limitação do espaço no Auditório do Padrão dos Descobrimentos solicitamos aos interessados que devem antecipadamente reservar o seu lugar pelo email encomendas@autores.club ou pelo telefone 214 001 788.

Nota do Editor

É tempo de repor a verdade histórica

Com enorme júbilo apresentamos “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte — uma obra que resgata um feito extraordinário da História: a travessia terrestre entre Angola e Moçambique, realizada pelos luso-angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco entre 1802 e 1811. Este episódio pioneiro, amplamente documentado mas longamente silenciado, constitui a primeira ligação transcontinental entre as margens do Atlântico (Cassange) e do Índico (Tete) feita por dois homens africanos sob bandeira portuguesa — um feito maior, que merece justo reconhecimento no espaço público e na memória coletiva. 

O prefácio é assinado por Uina yo Nkuau Mbuta (Carlos Mariano Manuel), catedrático, investigador e autor do tratado de história “Angola desde antes da sua criação pelos portugueses até ao êxodo destes por nossa criação”, distinguido como Personalidade Lusófona 2023 pelo Movimento Internacional Lusófono. A sua participação confere a esta edição uma força simbólica e científica ímpar, num momento em que se assinalam os cinquenta e um anos da democracia portuguesa e os cinquenta anos de independência da República de Angola

Neste espírito, convidamos o eleito Presidente da Câmara Municipal de Lisboa a tomar iniciativa para que os nomes de Pedro João Baptista e Anastácio Francisco sejam dignamente inscritos na toponímia da cidade, como homenagem a dois heróis que dignificam Portugal, Angola e Moçambique

Estendemos igualmente este apelo ao senhor Presidente da República Portuguesa e aos corpos directivos da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, instituições com longa tradição na preservação e valorização do património, para que se associem ao reconhecimento e divulgação deste extraordinário feito. 

Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte
Primeira Travessia da África Austral, de José Bento Duarte

A Primeira Travessia da África Austral

A travessia de África constituiu, por razões que foram evoluindo ao longo do tempo, um desígnio dos portugueses desde o começo da sua expansão marítima, no século XV. Após um decepcionante registo de fracassos, e por acção de dois corajosos luso-angolanos, eles alcançaram finalmente o objectivo no dealbar do século XIX. Este feito admirável precedeu, em cerca de quarenta anos, as caminhadas de renomados exploradores, como David Livingstone e outros, cuja exaltada glorificação foi empurrando para uma injusta obscuridade os verdadeiros vencedores da corrida. 

Este livro envolvente, emotivo e rigorosamente documentado contempla as diversas fases do expansionismo luso — focando-se na interpenetração de culturas e nas interacções de seres humanos que se encontravam pela primeira vez —, até desembocar na épica e inesquecível viagem dos homens que comprovadamente inauguraram a ligação terrestre entre Angola e Moçambique. Abordando momentos históricos determinantes no continente africano e na Ásia, A Primeira Travessia da África Austral assume-se, acima de tudo, como uma expressiva e merecida homenagem a esses homens — Pedro João Baptista e Anastácio Francisco.

José Bento Duarte 

Nasceu em Angola, na cidade de Moçâmedes, província do Namibe. Licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Exerceu funções de docência na Universidade de Luanda antes e depois da independência do país. Foi quadro superior numa empresa pública portuguesa. 

Para além da presente obra, tem outros livros publicados sobre temas históricos: Peregrinos da Eternidade — Crónicas Ibéricas Medievais e Senhores do Sol e do Vento – Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos (já reeditados pela Perfil Criativo – Edições e disponíveis na plataforma online www.AUTORES.club). Colaborou ainda em publicações de carácter colectivo com textos de temática histórica luso-angolana, como: Mandume, os Portugueses e a Definição do Sul de Angola; Missões no Planalto Central de Angola; Namibe – Das Origens à Independência

Ler PRESS RELEASE — Informação de Julho de 2025

Os livros de José Bento Duarte podem ser encomendados na Livraria Bertrand, Wook, FNAC e AUTORES.club

Grandes encontros em Belém

Grandes encontros em Belém

Lisboa, 29 de setembro de 2025 — O Presidente da Fundação Histórica da Independência de PortugalJosé Ribeiro e Castro, visitou a equipa da Perfil Criativo | AUTORES.club durante a Festa do Livro em Belém, realizada nos jardins do Palácio de Belém, e aceitou o convite para integrar a mesa de honra de um inédito evento histórico-cultural a ter lugar no próximo dia 29 de outubro de 2025, pelas 16h30, no Auditório do Padrão dos Descobrimentos (Belém).

Na ocasião, será apresentado o livro “A Primeira Travessia da África Austral”, de José Bento Duarte, uma obra que recupera do esquecimento um episódio extraordinário da História: a travessia terrestre de Angola a Moçambique realizada pelos luso-angolanos Pedro João Baptista e Anastácio Francisco entre 1802 e 1811.

Este feito, a primeira ligação transcontinental entre as margens do Atlântico (Cassange) e do Índico (Tete), foi levado a cabo por dois homens africanos sob bandeira portuguesa, tornando-se um marco pioneiro na história das explorações em África. Apesar de amplamente documentada, a travessia permaneceu durante séculos silenciada, carecendo de maior visibilidade na memória coletiva e nos espaços públicos dedicados à História.

O evento contará com a presença confirmada da Liga Africana herdeira da Liga Nacional Africana e de várias instituições históricas, num gesto de valorização da história partilhada entre Portugal e Angola.

José Ribeiro e Castro, filho do engenheiro agrónomo Fernando Santos e Castro, último governador-geral de Angola, é uma figura destacada da vida política e cultural portuguesa: foi deputado ao Parlamento Europeu, desempenhou funções como vice-presidente do Sport Lisboa e Benfica e, no cinema, interpretou o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa no filme Camarate (2001).

A cerimónia do dia 29 de outubro pretende ser não apenas um lançamento editorial, mas também um ato de justiça histórica, resgatando à memória coletiva um dos maiores feitos luso-angolanos do século XIX.

A Primeira Travessia da África Austral
A Primeira Travessia da África Austral