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Angola Colonial – Encontros e Desencontros de Culturas

Angola Colonial – Encontros e Desencontros de Culturas

30/3/2023 às 17h00 — Encontro na livraria Ferin com José Bento Duarte autor do livro “Senhores do Sol e do Vento — Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos”.

Sobre este livro publicado pela primeira vez em 1999, o historiador francês especialista na história de Angola, René Pélissier, escreveu no Le Sud-Angola dans l’Histoire, 2017:

José Bento Duarte efectuou uma investigação séria para oferecer ao grande público os acontecimentos mais importantes da presença dos Portugueses em Angola desde o século XV até 1917 (…) A bibliografia explorada é vasta e, por vezes, rara. Tendo recolhido numerosas informações sobre os Africanos, apresenta um mosaico de quadros históricos em que se empenha em alcançar um equilíbrio delicado entre as posições dos intervenientes. Servido por um estilo agradável, o autor consegue despertar o interesse do leitor leigo, encorajando-o, eventualmente, a ir mais longe na pesquisa dos factos. Desprovido de arrogância colonialista, este livro pode servir de sugestiva introdução à complexidade dos contactos luso-africanos no Sul de Angola, sem ocultar os erros, as fraquezas e os crimes das personagens em causa. A imagem que emerge dessa visão é a de um confronto desigual. Trata-se de uma divulgação recomendável e fiável. Para além disso, servindo-se de fontes pouco conhecidas, o autor escreve um dos relatos mais pormenorizados do massacre do Vau do Pembe (25 de Setembro de 1904), que ele pinta com cores intensas e imparciais, acentuando as falhas do comando português e a argúcia táctica dos Cuamatos (…) Consegue assim ser original na descrição da maior derrota sofrida pelos Portugueses numa batalha contra os Africanos a sul do Sahara.”


Jorge P. Pires, registou no semanário Expresso, 18 de Dezembro de 1999 e na revista Ler n.º 62, 2004:

“Quando se pensava que a tradição do grande livro de aventuras desaparecera sem deixar rasto, eis que José Bento Duarte publica esta notável colecção de “Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos”, que nos traz em anexo o rigor de uma minuciosa e densa bibliografia, e os mapas necessários à visualização dos acontecimentos descritos. Mas o que mais impressiona é a simplicidade com que ilumina a própria paixão pelas suas “duas pátrias”, Portugal e Angola (…). O autor [recupera] um lote de histórias, tão fabulosas quanto esquecidas e menosprezadas, para pintar um muito agradável fresco sobre as várias vidas e os diversos encontros de uma galeria de personagens pícaros que ao longo de cinco séculos cruzaram as terras de Angola e lhes determinaram a forma geográfica e espiritual.”


José Pedro Barreto, escreveu no Semanário Económico, de 1 de Outubro de 1999:

“(…) Caí sobre “Senhores do Sol e do Vento”, de José Bento Duarte. E com ele mergulhei na história de Angola (…) É a crónica cheia de peripécias da colonização do litoral, em busca de consolidar entrepostos de comércio ou pontos de apoio em rota para a suprema ambição das Índias. Bento Duarte conta-a em prosa absorvente, nomeando os protagonistas — gente de toda a espécie onde se misturam heróis, patifes, aventureiros, funcionários dedicados e rebeldes sem rei nem roque. Para esta gente, o vasto interior angolano sempre foi um lugar de mistérios e perigos sem nome, mas também de eldorados e riquezas à espera de ser tomadas (…) Bento Duarte evoca a terra angolana como tantos ainda a sentem.”


José Bento Duarte

Nasceu em Angola, na cidade de Moçâmedes, província do Namibe. Licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Exerceu funções de docência na Universidade de Luanda antes e depois da independência do país. Foi quadro superior numa empresa pública portuguesa. Tem livros publicados sobre temas históricos: para além de Senhores do Sol e do Vento – Histórias Verídicas de Portugueses, Angolanos e Outros Africanos, escreveu Peregrinos da Eternidade — Crónicas Ibéricas Medievais. Colaborou ainda em publicações de carácter colectivo com textos de temática histórica luso-angolana, como: Mandume, os Portugueses e a Definição do Sul de Angola; Missões no Planalto Central de Angola; Namibe – Das Origens à Independência.


Encontro com o autor na quinta-feira, 30 de Março de 2023, às 17h00, na livraria Ferin (no Chiado, em Lisboa)

Rua Nova do Almada 72, 1249-098 Lisboa — Telefone: 21 342 4422

“Identitarismos com cheiro de exclusão e de sangue”

“Identitarismos com cheiro de exclusão e de sangue”

TEXTO DE RAIMUNDO SALVADOR

E Agora Quem Avança Somos Nós “. Título da mais recente proposta literária do Jonuel Gonçalves . Um livro, brasileiramente falando, para ler de sopetão.

Texto denso, uma encruzilhada de personagens e histórias pejadas de notas aparentemente ou inicialmente dissonantes que se entrecruzam em nós que sufocam, em laços, preconceitos e dogmas.

Romance andarilho que em 150 páginas nos transporta por vários países. Angola, a terra do personagem principal, órfão adolescente, filho de portugueses, apanhado na espiral dos lancinantes momentos da Independência

Namíbia o país em que por força de um acaso, João Baptista, a figura central vai lá parar. Época do apartheid. É encontrado numa praia e tem o primeiro contacto com a ignobilidade do regime.

O seu benfeitor, um otchivambo, avisou-lhe que só escondido poderia ficar na sua casa. Relações de proximidade entre brancos e negros eram criminalizadas.

O Brasil também está presente. Angola, pois claro, país que acolhia bases da Swapo, organização em que João e seus amigos militaram.

E o Senegal, tão longínquo e afinal tão próximo. E a Mauritânia, terra dos mauberes que conquistaram a península ibérica e dominaram Portugal centenas de anos.

Mauritânia que tem digitais na génese da escravatura e que até hoje mantém parte significativa dos descendentes de escravazidos em situação análoga à escravatura.

Romance andarilho cujo cenário se confunde com a biografia de caminhante do seu autor. Angolano actualmente a viver no Brasil, morou no Senegal, África do Sul e Portugal.

Um livro para ler e partilhar numa época em que o toque dos extremos dos discursos populistas exala chauvinismo e identitarismos com cheiro de exclusão e de sangue. Acontece à esquerda e à direita nas democracias ditas consolidadas. E, obviamente, nas periferias globais.


Raimundo Salvador

Jornalista, homem da rádio e provavelmente o maior divulgador cultural de Angola. Neste momento integra a equipa da Blue Media.

Autor do programa cultural “Conversa à Sombra da Mulemba“. “No imaginário de diversas nações ancestrais angolanas, a Mulemba, uma árvore frondosa, tem um papel central. É à sombra da Mulemba que autoridades, e não só, reúnem para tratar dos problemas da comunidade. Os encontros à sombra da Mulemba visam dirimir desentendimentos, aproximar posições, estimular o diálogo, cultivar a harmonia, transmitir conhecimentos, preservar a memória. É esta tradição que pretendemos homenagear e resgatar.