Eugénio Monteiro Ferreira revela códice nº 2337

Eugénio Monteiro Ferreira revela códice nº 2337

4/2/2025 — No fim da tarde do histórico dia de 4 de Fevereiro o historiador Eugénio Monteiro Ferreira, revelou na Biblioteca Palácio Galveias o códice nº 2337 de Custódio Dias Bento de Azevedo, durante a apresentação da reedição da obra Kimamuenho — Intelectual Rural 1913-1922.

O publico participou activamente colocando várias questões sobre o trabalho de investigação histórica, chegando mesmo a propor ao autor a redefinição do termo “açambarcamento” utilizado para definir o roubo das propriedades no Dande. Na verdade o termo “açambarcamento” pode ser entendido como uma prática de apropriação indevida de recursos, mas dependendo do contexto histórico e jurídico, poderia ser mais corretamente descrito como “roubo da propriedade” ou “expropriação forçada”.

Eugénio Monteiro Ferreira informou o público que foi o seu irmão, o jornalista Carlos Monteiro Ferreira que lhe disse que a pessoa referenciada no códice nº 2337 estava vivo o que abriu as portas para a recolha da informação publicada neste livro.

O editor da Perfil Criativo | AUTORES.club referiu alguns acontecimentos ao longo do início do século XX, que moldaram a personalidade de Custódio Dias Bento de Azevedo e criaram as condições para a explosão da revolta popular no 4 de Fevereiro de 1961 (para além de ter sido uma resposta do povo de Luanda aos covardes ataques do Estado na Baixa de Cassanje): 1910 — 5 de Outubro; 1912 — Fundação em Lisboa da Junta de Defesa dos Direitos dos Africanos, que apela ao regime de autonomia das colónias de África; 1913 — Revolta dos Dembos e a fundação da Liga Angolana e do Grémio Africano de Luanda e a definição de indígena e de assimilado; 1914 — Primeira Guerra Mundial; 1917 — Revolução Bolchevique na Rússia; 1918 — A intervenção do jornalismo de nativos, como jornal Angolense e A Verdade; 1919 — I Congresso Pan-Africano; 1920 — Liga Africana de Lisboa. Disse ainda que Custódio Dias Bento de Azevedo dividia o meio social em dois grupos: de um lado os que apoiavam o trabalho livre e bem remunerado e outro que impunha o trabalho forçado.

Códice nº 2337

códice nº 2337 do Centro Nacional de Documentação e Investigação Histórica (CNDIH), em Luanda, é um documento histórico raro e fundamental para a compreensão da trajetória de Custódio Dias Bento de Azevedo, o intelectual rural conhecido pelo pseudónimo Kimamuenho.

Este códice contém um conjunto de documentos manuscritos reunidos entre 1913 e 1922, incluindo:

  • Cartas privadas e públicas escritas por Custódio de Azevedo, refletindo sua visão sobre as transformações sociais e políticas de Angola sob domínio colonial;
  • Artigos de imprensa publicados e inéditos, onde ele expressava suas ideias e denúncias sobre a apropriação de terras e os desafios enfrentados pelos camponeses angolanos;
  • Telegramas e vales que documentam transações e relações de poder na região do Dande;
  • Registros administrativos que ilustram a atuação de Custódio de Azevedo como funcionário público e sua posterior trajetória como proprietário rural e “escritor público”;
  • Notas e reflexões pessoais, nos quais ele se debruça sobre temas como identidade cultural, resistência camponesa e os impactos das políticas coloniais.

Este códice foi descoberto e preservado no CNDIH por pesquisadores portugueses e angolanos ao longo das décadas, sendo uma fonte primária essencial para reconstruir a história dos intelectuais rurais de Angola e compreender as relações entre poder colonial e resistência.

A obra Kimamuenho – Intelectual Rural 1913-1922, de Eugénio Monteiro Ferreira, baseia-se amplamente nesse códice, analisando seus conteúdos e contextualizando-os dentro da complexa história social, económica e política de Angola no início do século XX.

Coincidências

Entretanto, na manhã seguinte ao evento em Lisboa recebemos de Luanda uma mensagem do escritor/poeta Ventura de Azevedo, publicado pela Perfil Criativo | AUTORES.club: “Custódio Bento de Azevedo, o célebre defensor das Terras do Dande e arredores, foi meu bisavô.”

“Kimamuenho — Intelectual Rural 1913 - 1922”
“Kimamuenho — Intelectual Rural 1913 – 1922”

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