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A Voz e o Som de Ébano de Lhé-Lhé Galiano

A Voz e o Som de Ébano de Lhé-Lhé Galiano

POR GABRIEL BAGUET JR

Escrever é simultaneamente tão profundo e gerador de contentamento, como é igualmente triste quando as circunstâncias das perdas de uma vida que conhecemos por narrativas de tantas Memórias vividas e partilhadas sai da Vida e do alcance do nosso seio fisico e nosso Olhar quotidiano fica a Saudade permanente, mas o acumular agregador de todas as vivências. Nesta reflexão de Vida e de opinião sentida falo do Parente, do Amigo de Infância e Juventude, do Colega dos Tempos do Liceu, dos Tempos familiares, da vivencia pessoal e familiar vivida, mas dos jogos de basquetebol sob a orientação do histórico treinador Mário Palma a par das de outras Historias igualmente marcantes para descrever um Ser Humano bom, fraterno, entendedor de diferenças, conciliador e a sua Voz era e serã (porque existem Arquivos com programas seus gravados) audivel como uma Marca forte e simbólica do seu SER. Esta minha visão não assenta numa visão baujuladora.Jamais seria e o Lhé-Lhé sabia disso. Mas falo do Inesquecível Lhé-Lhé no conjunto de partilhas concretas em diferentes dias, horas, espaços que estabeleciam pontes sólidas no nosso relacionamento pessoal e profissional. E essa experiência tão rica e genuina só pode ser equacionada por quem como eu entre outros, absorveu a postura de Saber Ser Amigo , um grande Camarada na luta da Vida e da paixão por Angola e do Mundo .Era um excelente Kamba.

E falo da Vida e do Olhar de alguém que jamais se esquece e foi tão especial como foi o Lhé-Lhé para os mais intimos e o Guilherme Galiano no seu modo tão peculiar de ser. Às seis e meia da manhã tinha acabado de saber que o Lhé-Lhé tinha falecido infelizmente depois de um longo periodo de internamento hospitalar.

A noticia triste, angustiante chegou via mensagem Whatsap pelos parentes e amigos Mira e João Carlos Pataca, filho do Saudoso Tio Pataca e que se cruzou com o Lhé-Lhé na Lisboa de várias estradas da vida, juntando parentes e amigos como Zé Octácio Van-Dunem, Quim Van-Dunem, Ruy Espirito Santo, Zé Lito, Saudoso FéFé Antunes ( Paz à sua Alma ), Toni Queluz, Dejó de Sousa, Gito Fonseca e onde eu me incluia também. Era o inicio de destinos de vida depois de chegarmos a Portugal e perante invernos rigorosos, os sonhos, as opções de vida como jovens que éramos, viviamos entre a saudade da terra e das avenidas a percorrer.

Estas referências traduzem um Tempo único vivencial para o nosso Saudoso Lhé-Lhé e para todos nós nos laços de Fraternidade vivida.

E se desta referência a Lisboa e aos destinos que se começaram a desenhar, Luanda e Angola e por via das circunstancias da Guerra Civil, também ocupavam sempre o nosso Pensamento. Falar do Lhé-Lhé para além do já referido e que não se esgota neste texto de Homenagem , é lembrar o nato e talentoso Realizador,a sua Voz unica e num Programa Radiofónico intitulado chamado ” SOM de ÉBANO”, emitido a partir dos Estúdios da Rádio Comercial em Lisboa e emissão nacional. Entre as 13 e 14 horas, ouvia-se em Portugal o primeiro Programa de Música Africana. Era uma vitória do mérito do Saudoso e Inesquecível Lhé-Lhé.

A partir de Lisboa ele ia conquistando ouvintes e eu na cidade do Porto onde trabalhava no republicano Jornal o ” Primeiro de Janeiro ” na secção de Espectáculos e Cultura. Começavam os nossos passos na Comunicação Social em Portugal e na trilha do tempo começam a surgir outras oportunidades . Eu começava em paralelo ao Jornal a trabalhar na RTP-Porto no primeiro Programa da manhã na TV portuguesa como Produtor Executivo de Programas e o Nosso Estimado e Talentoso Lhé-Lhé começava a abraçar outras áreas da Conunicação, da Publicidade, da excelente Animação Musical. e por mérito próprio torna-se sócio e Administrador de uma das mais emblemáticas discotecas africanas que foi o ” AI UÉ”.

Era um amante profundo da Arte da Música. Tinha um excelente gosto musical e nas manhãs diárias do canal das Antenas Internacionais do Serviço Público de Rádio e Televisão de Portugal, nomedamente no Canal RDP-ÁFRICA que de fomos co-fundadores entre outros para as Emissões FM 101.5, a sua Voz mais do que a capacidade vocal, permitia que ele espelhasse a Diversidade Musical de cada Geografia do Mundo. Tendo inatas condições para ser Director de Programas da RDP-ÁFRICA nuncam o deixaram ser. Mas a sua brilhante condição de Realizador deixou Memórias que o Tempo jamais apagará. E prova disso eram os nivéis de audiência que os seus Programas tinham.

Em declarações ao site Horizontes Viver Angola, o Escritor cabo-verdiano e africano Wladimir Romano da Cruz ( filho do célebre Compositor Francisco Xavier da Cruz e no plano musical conhecido por B.Léza) referiu e cito que” quando em 2003, na zona das Amoreiras a RDP-África dali emitia emissões, foi viver de alma aberta no primeiro instante quando conheci Guilherme Galiano, Gabriel Baguet Jr., entre outros colaboradores e colaboradoras, pelos anos que tenho fora de Cabo Verde, Portugal ou em viajantes cruzadas pelo mundo desta informação, embora tivesse passado vários anos pelos documentários e coberturas de conflitos.Da comunicação e da poltica voltei a ser marítimo cobrindo essa aventura 22 anos depois de haver abandonado os navios, correndo riscos apenas para despertar deputados do Parlamento Europeu e sindicatos da marinha mercante para os perigos, desastres ambientais, ilegalidades e bandeiras de conveniência numa destruição sem precedentes e ficaram na memória de Guilherme Galiano, histórias que lhe contei. E mais recentemente, já preocupado com a doença e voltando a Lisboa, foi para mim uma enorme alegria depois de alguns anos sem nos vermos, apenas pelo telefone ou correio eletrónico íamos sabendo das coisas e o meu abraço sempre fraterno com profundo prazer daquela voz inconfundível… lembro, dos meus primeiros dias em Lisboa ao chegar de mais uma viagem, a primeira coisa era saber dos dois mais profundos, dedicados, talentos e geniais Guilherme Galiano e Gabriel Baguet Jr., verdadeiros manos e homens de luta sinceros e transparentes como das águas mais cristalinas, no estrangeiro sempre lhes divulguei através das entrevistas, tarefas e depoimentos essa missão trazida no peito, ficaram conhecidos como os “2 icónicos da Rádio África de Lisboa”, junto das nossas comunidades onde quer eu tivesse a viajar, quer nas emissoras comunitárias, já que eram bem conhecidos e apreciados como as maiores referências da “Rádio África de Lisboa”.

Referindo essa minha passagem pelo mundo dos marítimos, depois de vários saudosos anos sem nos vermos, traz-me debaixo do braço envelope e, Guilherme, numa voz ainda repleta daquele timbre Imbondeiro quando abraça o vento: «…Anda cá meu crioulo, filho do Mindelo, anda cá que te trago um presente que vais adorar. Vem ao meu cuidado que te manda o nosso ministro da Cultura.»; Filipe Zau, conhecedor desta vida do mar que deu luz a uma não só saudosa situação, homenageando estes nobres marítimos do Canto e quando com Filipe Mukenga tomou tamanha e feliz ideia.

Apontamento magnífico [“Marítimos” na comemoração dos 46 anos da Independência e nos 67 anos da Fundação do Clube Marítimo], mal sabendo que seria a última de muitas imagens entre calorosos abraços e sincera amizade do nosso querido “irmão da alma”: Guilherme Galiano, junto com Gabriel Baguet Jr., tenham eles marcaram com muita honra, talento e dedicação, das melhores vibrações, pessoais e companheirismo profissional jamais vivida tanto em Portugal como na marcante memória deste passo existencial por onde nós vamos existindo, sim, até o adeus nos dizer que ele tem o seu amanhã… não o corpo, apenas como referência espiritual, mas a alma, como eterna Luz suprema, eleva-se abrindo caminhos no eterno Astral, parceira do Cosmos”.

E acrescentou o Escritor Veladimir Romano da Cruz que ” das quantas mais conversas em torno da Poesia quando recordamos personagens, muito abordámos pensamentos e da universalidade das pessoas sem olhar a quem, desde Tomaz Vieira da Cruz, Óscar Ribas, Fernandes de Oliveira, Manuel Lima, António Cardoso, etc., mas essencialmente lembro Agostinho Neto no seu poema: “O Caminho das Estrelas”… quando procurámos a seu tempo e a título de curiosidade, decompor nas palavras do poeta, este pensamento. Ele agora sabe, mas eu ainda estarei por saber até chegar a esse secreto amanhã que o nosso Irmão foi um exemplo vivo de de resistência e de sonho” disse Veladimir Romano da Cruz.

Quando em 2009 somos convidados pelo nosso Saudoso e Querido Parente João Van-Dúnem ( Paz à sua Alma e como Presidente do Conselho de Administração do Grupo Medianova ) ambos sentimos a Esperança e o justo desejo de abraçarmos um novo Projecto de Comunicação mais transversal e é justo reconhecer pela mão do nosso Inesquecível João Van-dúnem que esse sonho aconteceu. E nos últimos anos , Angola e o Projexto TV ZIMBO foram o seu mar de vida pessoal e profissional onde exerceu vários cargos entre os quais o de Administrador.

À sua querida e doce Mãe a quem sempre tratei por Tia Alzira Galiano, sua esposa Bela, a Irmã Arlete , e todos os seus filhos que vi nascer, demais Família, Parentes, Amigos e Colegas, curvo-me perante a sua Memória e expressar as minhas profundas Condolências. Meu Querido e Saudoso Lhé-Lhé estaràs como Sempre estiveste no meu Coração.

No Velório que ontem começou exprimo a minha singular Emoção e Gratidão pelos gestos do nosso Zequinha Van-Dunem , Mira, Natu Mamede, Nazaré Van-Dúnem, Ruy Espírito Santo, Many Azancot, Didi Leitão , Vadinho de Sousa e mais outros dois e respeitavéis Compatriotas, que entre a Tristeza profunda, também recordou-se a Voz do Lhé-Lhé, o seu contagiante sorriso, a sua Luta pela Vida e dos Sonhos vividos.

Estamos eternamente Juntos pelos Caminhos varios de mais 60 anos de Vida e pelo histórico ” SOM de ÉBANO”.

“Simples nota musical

indispensável átomo da harmonia

partícula

germe

cor

na combinação múltipla do humano…”,

Gabriel Baguet Jr

Gabriel Baguet Jr: Entre a Pena e a Verdade

Gabriel Baguet Jr: Entre a Pena e a Verdade

Iniciamos um espaço de opinião e reflexão do angolano Gabriel Baguet JR, amante profundo da cultura nacional e do mundo. O portal.AUTORES.club apresenta Gabriel Baguet JR através do olhar de Santos Monteiro, fundador do Portal de Angola

Por Santos Monteiro 29/08/2025 – Reino Unido

Falar de Gabriel Baguet Jr é falar de um homem que fez da palavra o seu maior instrumento de luta, da verdade o seu compromisso inabalável, e da literatura e do jornalismo o seu campo de batalha.
Nascido em Angola, num tempo em que o país ainda se debatia com as marcas profundas da colonização e da guerra, Baguet Jr cedo percebeu que a escrita não era apenas arte, mas também arma. Cresceu num contexto em que a informação era poder, e em que narrar a realidade significava escolher entre a cumplicidade do silêncio e a coragem da denúncia. Ele escolheu a coragem.
Como jornalista, Gabriel Baguet Jr construiu-se no rigor e na ética. A sua pena nunca foi cúmplice da manipulação. Ele investigou, questionou, expôs e explicou a realidade angolana sem ceder ao medo ou à conveniência. Foi — e é — um jornalista que entende que informar não é apenas relatar factos, mas dar voz aos que não têm voz, iluminar aquilo que o poder gostaria de manter na sombra.
A sua escrita jornalística é marcada por clareza, profundidade analítica e um sentido crítico que desafia os leitores a pensar além da superfície. Ler Baguet Jr é confrontar-se com verdades duras, mas necessárias.
Para além do jornalismo, a literatura abriu-lhe outra dimensão: a da reflexão mais ampla, filosófica, cultural e humana. Como escritor, Gabriel Baguet Jr constrói narrativas que dialogam com a identidade angolana, com a memória coletiva e com os dilemas universais da condição humana.
Ele não escreve apenas sobre Angola — escreve sobre o ser humano em Angola, com as suas dores, esperanças, derrotas e vitórias. É um escritor que entende que a literatura é também um ato político, no sentido mais nobre da palavra: o de pensar o destino da comunidade, de interrogar o tempo presente e de sonhar futuros possíveis.
Gabriel Baguet Jr não pertence apenas ao jornalismo, nem apenas à literatura. Ele pertence àqueles raros intelectuais que fazem da vida uma obra, e da obra um compromisso com o seu povo. Num mundo cada vez mais marcado pela pressa, pela superficialidade e pela desinformação, ele insiste na profundidade, no rigor, na responsabilidade.
É, por isso, uma referência para as novas gerações. Um farol para os jovens jornalistas que, muitas vezes desanimados, encontram nele um exemplo de perseverança. Um mestre para os escritores que desejam unir sensibilidade artística com consciência social.
Falar de Gabriel Baguet Jr é falar de uma vida dedicada à verdade e à escrita. É falar de um homem que não se rendeu às pressões do poder, nem se deixou seduzir pelo conforto da neutralidade. É falar de alguém que compreende que as palavras, quando honestas, podem mover consciências e transformar realidades.
Se o jornalismo é a primeira versão da História, Gabriel Baguet Jr é, sem dúvida, um dos cronistas mais fiéis do nosso tempo. E se a literatura é a memória viva de um povo, então a sua obra será, certamente, parte indelével da memória angolana.
Gabriel Baguet Jr não é apenas um jornalista e escritor. É um testemunho vivo de que a verdade, a coragem e a palavra continuam a ser as maiores forças de um povo.

FONTE: Horizontes Viver Angola

Poemário

Poemário

TEXTO: GABRIEL BAGUET JR, Jornalista/Escritor

Dizer, escrever, pensar ,ouvir e declamar Angola foi e é o Sonho de muitos anos para que a Poesia fosse o cheiro da nossa Utopia. A Poesia é entre outras Artes, a Arte maior e ancestral para exprimir o Amor, a Pertença, a Liberdade, o Pensamento , o Reflectir, o Silêncio e o Olhar do que se observa, do que se imagina e da essência do Sentir.

Ao aceitar com toda a honra pessoal o convite para adicionar letras que formam palavras para debruçar me em cada Amanhecer e Entardecer sobre o Poemário sobre o Manifesto por um “Novo 11 de Novembro“, as primeiras palavras que saíram e saem do meu coração, é o meu assumido Amor por Angola. Angola é e foi o meu caminho para o Mundo e o tempo passou, mas a Memória ficou. Este Poemário teve avanços e recuos diversos porque não é fácil falar da Poesia e da sua maresia sem falar do Amor dos nossos Antepassados, dos Ancestrais Familiares e dos demais Ancestrais e naturalmente porque o Amor assim o determina dos Nossos progenitores. E se a Poesia em si, é um todo que agrega Falas, Lugares, Olhares, Paixões, Dizeres, Expressões e o Sentir do Devir, a palavra Pai e Mãe são a nossa principal Arte de Amar a Poesia do nosso encontro com a Vida que é o Nascer.E assim SER. Saber SER, SER. É essa condição indispensável e de valor supremo com a condição de Crescer. E a Condição plena de Ser-se Humano. O Mundo também é o meu lugar de Existir.

Escrever um Poemário é um Olhar no Tempo de Todos os Tempos e na Ruas dos Dias Homenagear Todas as Poetisas e Poetas Angolanos. Mas igualmente pela inserção regional as Mulheres e Homens Africanos que fizeram e fazem da Poesia a porta de entrada para criar mais Consciência face à Liberdade de Pensar e Amar África. Se as Poetisas e os Poetas Angolanos ergueram as suas Vozes em momentos duros da nossa História recuada e actual, as Poetisas Africanas e os Poetas Africanos trilharam e deixaram em folhas de papel, os gritos da luta contra a Escravatura, contra a Colonização, contra o Apartheid e todas as formas de Opressão Cultural. Universalizar a Poesia é também um Dever de Cidadania e de dizer ao Mundo que a Poesia e as palavras inseridas na construção poética mudam a Narrativa de Existir , de Ser, de Estar, de Abraçar legítimas Causas e com as mesmas Evocar, sem esquecer Memorizar.

A Poesia tem uma essência perfumada em todos os Sentidos e em toda a plenitude das diferentes formas de Expressão Artística. Seja na Música, na Dança, na Pintura e na Arte da Vida. Há e haverá sempre Poesia quando os Nossos Olhares despirem-se de inúmeros preconceitos e sentirem o cheiro de cada Palavra dita, escrita e pensada como um Acto de Amor Eterno

No quadro deste caminho da Liberdade da Consciência Poética e da Poesia como Expressão do assumido e imperativo caminho de lutar pela Liberdade e pelo Direito à Dignidade, outros Povos de todo Mundo fizeram da Poesia o manto para derrubar Muros em Campos de Concentração. Em Angola, em África, na Europa, na América fixou-se na Memória Colectiva da Humanidade, a força,mas também a Leveza do Ser da Poesia para Libertar e Consciencializar o Mundo . A Poesia é libertadora em todos os Sentidos e não se esgota numa única visão e numa única Rua da Humanidade da Vida e no Silêncio das Estantes. A Poesia habita os Nossos Dias e os Dias Futuros. Os ais ecoados dos Navios que transportavam Seres Humanos chamados injustamente Escravos, os ais vindos das Prisões e dos Campos de Concentração não fizeram tremer as Mãos femininas e masculinas apesar da dor e do cansaço, sobreviveram e as suas inquietantes e legítimas Vozes fizeram a Poesia que agora lemos. É preciso continuar a Ler e a Escrever. E Pensar. Pensar na Poesia como as Folhas e as Palavras que escrevem a PAZ. A PAZ que faz falta de modo EMERGENTE face ao Mundo que habitamos.

Escrever um Poémário é um longo exercício de Pensamento pela sua abrangência e pelo sentido de justiça de não excluir nem um nome, nem autor, nenhuma Declamadora e Declamador das suas Poesias.

A Poesia é também um Olhar à Memória da Música da nossa Existência Humana. O que Somos e Fomos. O que deixamos de Ser e Fazer. A Poesia é a travessia que passa o Existir sem Exigir. A Poesia é a Melodia da Vida em diferentes cadências e em distintas Pautas..Homenagear a Poesia Angolana, é justamente Homenagear todas as Mulheres e Homens naturais de Angola na extensão do Tempo Passado, Presente e Futuro. A curiosidade da investigação remete me para o primeiro Poema que possa ter sido escrito em Angola e no Mundo. Mas no nosso caso as Falas diversas do nosso Território expressaram decerto essa palavra que hoje se chama Poesia. A Oralidade é uma Arte Poética. A Oralidade para além da Arte, tem Estética e aos Linguistas e outros estudiosos da Poesia e da sua origem e contemporaneidade, há decerto muito por Escrever e Dizer.

A Poesia dialoga com o Mundo e deriva para um extenso Oceano de Palavras que não nos abandonam na percepção de quem teima e em estar vivo num Mar de Identidades Diversas. Foi o nosso caso.É a nossa realidade.Ardentes Palavras e genuínas Reflexões foram feitas nos finais do Século XIX, princípio do Século XX onde se destaca de forma indelével a célebre Geração 1900 que deixou para a nossa Memória Colectiva pedaços imensos de sentimentos,anseios, de lucidez sem medo e que enfrentaram com toda a Claridade um sistema que negavam para o nosso Povo. Essa clarividência integrava nomes como António de Assis Jr, Cordeiro da Marta, Fontes Pereira, Apolinário Van-Dunem, Paixão Franco e Silvério Ferreira.

Percorrer algumas etapas da nossa História e da História Universal é um acto Poético. Porque a nossa Nação tem tido ao longo da sua práxis histórica percursoras e percursores que no domínio da Literatura Poética retiveram com coragem a verticalidade de deixar-nos ensinamentos, mas aprendizagens e iniciaram a viagem que se imponha à sua Geração.Anteciparam poeticamente o Tempo e o Agora transformando com determinação os espaços identitários e tão diversos e multifacetados da Nossa vasta Cultura e no domínio linguístico não se coibiram de defender as Línguas Nacionais, mas também as Tradições, os Costumes e com isso abriram perante o Poder Colonial uma estantes dos Nossos Diversos Saberes.As fontes consultadas são inúmeras e na escadas deste Poemário que reflecte um Olhar Pessoal e solitário nesta narrativa, surgiram outras mãos de Poetisas e Poetas Angolanos identificando os ais e as razões de um Povo que já existia e não foi descoberto,antes encontrado com as suas Falas, com as suas Expressões e diversas Tradições, repito. E acentuo esta posição porque a única forma de salvaguardar o nosso Património não é apagar ou excluir Bibliotecas, Arquivos e Memórias diversas. Antes preservar para Estudar, Conhecer, Não Esquecer e Transmitir Conhecimento Ancestral. A voragem do Tempo não deve apagar intencionalmente o fixado em inúmeras folhas de papel, cadernos e livros. A Cultura é um Bem essencial que a Nacão Angolana pode oferecer aos seus naturais, mas também o Conhecimento e o acesso ao mesmo erguem páginas para Ler e Saber.

A Poesia, a nossa Poesia atravessou Mares de todo o mundo. Exemplo disso e do já anteriormente referido face aos Autores citados da Geração 1900, surgiu em meados da década de 40 até 1961 , período que coincidiu com o início da Luta Armada, uma Geração de Intelectuais Angolanos que deram corpo e alma em Angola e nomeadamente no meio luandense às Revistas ‘Mensagem” e “Cultura” que de acordo com fontes históricas e bibliograficas lidas, estas publicações citadas eram por si só o Grito de uma Consciência que apelava e e enfrentava o Poder Colonial. De acordo com fontes que pediram anonimato e estão vivas, Viriato da Cruz, natural do Sumbe (antigo Porto Amboim) onde nasceu a 25 de Março de 1928, foi um dos mais destacados angolanos do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, fundado em Luanda em 1950 com a já mencionada e muito procurada Revista Literária a”MENSAGEM”, estrutura da Associação dos Naturais de Angola.

As Novas Gerações Angolanas talvez não se recordem de

“O Pregão da Avó Ximinha
É mesmo como os seus Panos,
Já não tem a cor berrante
Que tinha nos outros anos.

Avó Xima está velhinha
Mas de manhã,manhãzinha,
Pede licença ao reumático
E num passo nada prático
Rasga estradinhas na areia…”,

assim escreveu e disse para não Esquecer, o Poeta Viriato Clemente da Cruz, em “MAKÈZU”, publicado na Colecção Autores Ultramarinos na Colectânea de Poemas ( 1947-1950).

Ao citar estes versos, o meu Pensamento leva-me de novo à Escrita provinda da raiz interior do Poeta Angolano Viriato Francisco Clemente da Cruz. Entre 26 de Março de 1959 e 1 de Abril de 1959, no Congresso de Escritores e Artistas Negros, realizado em Roma disse: “No quadro da sociedade colonial, tanto os trabalhos culturais como o ensino oficial tem por finalidade falsear a nossa personalidade, criar em nós próprios profundos reflexos que irão obrigar-nos , quando a hora da liberdade soar, a um comportamento de fidelidade em relação à Europa. Este é certamente uma das maiores armadilhas montadas pelo colonialismo, mesmo o mais reformista”citando o Autor de “MAKÈZU”, “SÔ SANTO”, “NAMORO “,”SERÃO de MENINO”, “RIMANCE da MENINA da ROÇA”, “MAMÃ NEGRA”(Canto de Esperança).

A Poesia não tem cheiro e neste Canto de Esperança e Ventos de Fé, a Poesia tem a essência necessária para que decorridos 48 anos de Independência a Poesia Angolana e a Poesia do Mundo habitem o quotidiano Angolano e em cada Janela, Rua, Espaço Urbano ou Rural , sinta-se que a Poesia suaviza os Dias “pelos teus Olhos, minha Mãe”, in “MAMÃ NEGRA”, do Poeta e Escritor Viriato da Cruz.

Pelos teu Olhar minha Querida Angola, deixa que a Poesia te Abrace de forma profunda e para que o Sonho legítimo e inquestionável da Nossa Independência continue assente em antigas e renovadas estrofes e que o exercício da Política tenha esse perfume da Poesia.

Como me referiu um dia no seu escritório de Advocacia em Lisboa, sito no Largo de Santa Bárbara, o Nacionalista Angolano e exímio Jurista Gentil Viana , a “Arte e a Poesia são um caminho sábio para evitar as Guerras”. É verdade. Palavras ditas e transcritas para um bloco de notas pessoal que guardo até hoje como parte de uma estrofe.

Nesse entardecer de 1998, ambos sonhávamos Angola e o seu Futuro. E a Poesia pode ser o Abraço inesquecível que solidifique a Paz perante os desafios internos variados, mas também a ponte para os desafios regionais e externos.

A Nossa Poesia tem o som dos kissanges por vezes esquecidos e mais que Tempo que a Política ame a Poesia para a emergente Humanização da Sociedade Angolana, porque a Poesia deixa desejos constantes de Amar Angola e as Pessoas que Nela habitam e vivem. Sendo a Poesia transversal que se abra o Olhar para revisitar Tempos de Sonhos e das metamorfoses vindas das Vozes caladas e dos “banguês das tongas”.

Utopia ou não é possível Poetizar a Política e torná-la mais Fraterna e Solidária.

Viva a Poesia.Um Abraço profundo à mesma e a Angola. A Poesia deve ter lugar primordial nestes Tempos Angolanos