Malanje recebe e divulga obras literárias de Mafrano

Malanje recebe e divulga obras literárias de Mafrano

Malanje, 09 de Maio de 2025 – O Volume II da colectânea «OS BANTU NA VISÃO DE MAFRANO – QUASE MEMÓRIAS», antropologia cultural, do escritor e etnólogo angolano Maurício Francisco Caetano, “Mafrano” (1916-1982), será apresentado no dia 6 de Junho deste ano, sexta-feira, na cidade de Malanje.

A cerimónia decorrerá das 9:00 às 12:00 do dia 6 de Junho, no anfiteatro «Prof. Doutor Samuel Vitorino» da Faculdade de Medicina da Universidade Rainha Njinga A Mbande da cidade de Malanje, e está a ser organizada por uma equipa que integra representantes dos sectores da educação, cultura e comunicação social sob coordenação do Governo Provincial de Malanje. Será apresentador, o Dr. Adão Dala, director do departamento provincial da cultura de Malanje.

A colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano» é uma obra póstuma, em três volumes com um total de 799 páginas sobre a ancestralidade, hábitos e costumes de uma faixa muito numerosa dos povos africanos. Inclui epígrafes como «Crónicas ligeiras», «Notas a lápis», «Episódios vividos», «Tertúlias», textos sobre a civilização bantu e contos dispersos, compilados a partir de estudos e reflexões que o autor publicou em jornais e revistas de Angola, entre 1947 e 1982.

Segundo fontes familiares, foi na localidade de Kiwaba-Nzoji (Ex. Vila Brito Godins), na Província de Malanje, onde o autor já falecido iniciou a sua actividade profissional e de investigação antropológica, além de colaborador do jornal independente local «ANGOLA NORTE», em 1947, razão pela qual a apresentação desta colectânea terá um significado especial.

A colectânea de “Mafrano”, pseudónimo literário de Maurício Francisco Caetano, inclui temas como o uso do telégrafo, (o ngolokele), entre os povos bantu, desde tempos remotos; a escrita ancestral; a formação profissional; os matrimónios; a tradição política; os topónimos bantu e a sua lenda; a filosofia bantu sobre a morte e a origem do homem; relatos de Cabinda; hábitos e crendices alimentares, e outros temas sobre a antropologia, a arqueologia e o direito costumeiro.

Em Novembro de 2024, a colectânea ainda incompleta foi distinguida a título póstumo com o Prémio Nacional da Cultura e Artes 2024, na modalidade de Investigação em Ciências Humanas e Sociais, num reconhecimento unânime do seu legado vital para a compreensão, preservação e valorização das culturas tradicionais angolanas. O terceiro e último volume será publicada muito em breve.

Neste espólio literário escrito ao longo de 36 anos, Mafrano realça pontos de contacto entre lendas da civilização bantu e a mitologia clássica, sem esquecer as mitologias greco-romanas, e constrói diálogos que nos fazem comparar a cultura bantu a de vários países, como a Alemanha, a China, os Estados Unidos, a França, a Itália, Portugal e o Reino Unido. O norte americano Franz Boas (1858-1942) e o padre espanhol Raul Ruiz de Asua Altuna são dois dos especialistas em antropologia cultural que Mafrano menciona nos seus estudos e pesquisas.

Cumprindo uma longa carreira, Maurício Caetano foi professor desde 1945, oficial de impostos e secretário nos Serviços Gerais de Fazenda e Contabilidade desde 1946, até ser nomeado Director Nacional no Ministério das Finanças, depois da independência de Angola, em 1975.

O autor foi ainda membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), e destacou-se como professor de Português e de Filosofia em prestigiados estabelecimentos de ensino no período pós-independência, como o Liceu Ngola Kiluanji, o Instituto Makarenko, o Instituto PIO XII e o Instituto de Ciências Religiosas de Angola (ICRA).

Maurício Francisco Caetano nasceu a 24 de dezembro de 1916 na cidade do Dondo, Província do Cuanza-Norte, em Angola, onde foi educado por um sacerdote oriundo de São Tomé e Príncipe, enquanto órfão, com apenas 5 anos de idade. Faleceu aos 25 de julho de 1982, por doença.

Segundo registos mais antigos, “Mafrano” iniciou a sua actividade literária como colaborador do Jornal Independente «Angola Norte», em Malanje no ano de 1947. Anos mais tarde, tornou-se colaborador da Revista ANGOLA, da Liga Nacional Africana, dos jornais «Farolim» e correspondente do Jornal «O Apostolado», «O Angolense», «TRIBUNA dos Musseques», ao lado de figuras de proa como Agostinho Neto, o cardeal Dom Alexandre do Nascimento e irmãos Mário e Joaquim Pinto de Andrade.

Prefaciado por Dom Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango e Prémio Sakharov 2001, esta colectânea saiu a público em abril de 2022, tendo sido apresentada até à data em países como Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo-Verde, Portugal, Alemanha e por videoconferências em universidades de Curitiba e Rio de Janeiro, no Brasil e oferecida ao Cardeal José Tolentino de Mendonça, então conselheiro do Papa Francisco para a educação e a cultura no Vaticano.

Deixe uma resposta