Angola celebra a Cultura: Prémio Nacional de Cultura e Artes 2024 reconhece a Excelência e o Património Cultural na sua 25ª Edição

Angola celebra a Cultura: Prémio Nacional de Cultura e Artes 2024 reconhece a Excelência e o Património Cultural na sua 25ª Edição

Prémio Nacional de Cultura e Artes 2024, promovido pelo Ministério da Cultura da República de Angola, homenageou destacados artistas, investigadores e especialistas que contribuem para o fortalecimento e preservação da identidade cultural angolana. Instituído pelo Decreto Presidencial Nº 31/00, de 30 de Junho, este prémio, que é a mais elevada distinção artística do país, reforça o compromisso do governo em apoiar e valorizar o legado cultural angolano em diversas áreas, tais como Literatura, Artes Visuais, Teatro, Dança, Música, Cinema e Ciências Humanas e Sociais.

Obra premiada de Mafrano: Um tesouro da antropologia Bantu

O juri do Prémio Nacional de Cultura e Artes 2024 atribui este reconhecimento à inédita obra “Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias”, de Maurício Francisco Caetano (Mafrano), na categoria de Ciências Humanas e Sociais. Uma obra póstuma organizada em três volumes pelo jornalista José Soares Caetano e publicada pela editora Perfil Criativo, esta colectânea foi aclamada pela sua profundidade e relevância antropológica no entendimento das tradições Bantu. Mafrano, natural do Dondo e falecido em 1982, dedicou-se ao longo da sua vida a documentar e analisar o património cultural angolano dos povos Bantu, oferecendo uma visão abrangente sobre costumes, rituais e valores que moldam a identidade nacional.

A obra premiada reúne escritos de Mafrano, recolhidos na antiga imprensa colonial e nos primeiros anos da república, abordando aspectos essenciais da vida dos Bantu, como a organização familiar, saudações, práticas de sucessão, rituais funerários, ética no casamento e tradições políticas. Esta coletânea é vista como uma contribuição valiosa para o campo da Antropologia Cultural Africana, desafiando antigas narrativas e reafirmando a importância de um olhar autêntico sobre a riqueza e a complexidade das culturas africanas. Com este Prémio, a obra de Mafrano (Maurício Francisco Caetano) consagra-se como uma referência literária fundamental para pesquisadores e interessados na história e identidade nacional.

Outros premiados de destaque na edição 2024

Além de Mafrano, o Prémio Nacional de Cultura e Artes também reconheceu trabalhos relevantes em outras áreas culturais:

  • Artes Visuais e Plásticas: Joaquim Pedro Teixeira (Tchombé) foi premiado por sua habilidade técnica e narrativa visual, que captura a vida e o ambiente angolanos em suas expressivas pinturas.
  • Cinema e Audiovisual: A produtora Diamond Films destacou-se pela qualidade e consistência nas produções televisivas e cinematográficas, fortalecendo a cadeia de valor do audiovisual em Angola.
  • Dança: O bailarino e coreógrafo Pedro Vieira Dias Tomás (Mestre Petchú) foi reconhecido por sua dedicação à internacionalização da kizomba, defendendo a identidade cultural angolana em várias partes do mundo.
  • Literatura: O escritor Carlos Ferreira (Cassé) recebeu o prémio por sua contribuição ao entrelaçar literatura e jornalismo, promovendo uma visão que une história e educação.
  • Música: Dionísio Rocha foi celebrado por sua trajetória musical, que enriquece o repertório cultural angolano e aproxima gerações por meio de suas composições e pesquisa sobre a música nacional.
  • Teatro: O Colectivo de Artes Ombaka foi homenageado pelo trabalho contínuo na cena teatral, apresentando obras que exploram a identidade e tradição cultural angolana.

25 anos na valorização da Cultura e Identidade

A 25ª edição do Prémio Nacional de Cultura e Artes reafirma o empenho do governo em reconhecer e incentivar o talento de artistas e intelectuais que promovem a identidade nacional. Esta edição contou com um júri composto por personalidades de mérito e idoneidade, presidido por Maria José Faria Ramos, que destacou a qualidade e a originalidade dos candidatos, após meses de avaliação minuciosa.

Este prémio não só celebra os laureados, mas também inspira novas gerações a manterem vivo o património cultural angolano, promovendo uma Angola onde a cultura e as artes podem vir a ocupar um lugar central na construção de uma sociedade mais rica e diversa.

Volume I
Volume II

 MINISTÉRIO DA CULTURA — PRÉMIO NACIONAL DE CULTURA E ARTES 2024 — 25ª EDIÇÃO 

 RELATÓRIO FINAL : CONSIDERAÇÕES GERAIS 

 Como expressão de reconhecimento da excelência e valorização do trabalho criativo e da investigação dos mais destacados artistas, investigadores e outros especialistas no domínio da Cultura e das Artes, desde o ano de 2000 o Governo da República de Angola e Sua Excelência Senhor Presidente da República, na qualidade de Titular do Poder Executivo, através do Ministério que superintende as Artes e a Cultura, outorgam anualmente o Prémio Nacional de Cultura e Artes, a mais importante distinção do Estado Angolano, instituído pelo Decreto Presidencial Nº 31/00, de 30 de Junho; visando incentivar a criação artística e cultural, bem como a investigação científica no domínio das ciências humanas e sociais. 

Nos termos do Decreto Presidencial Nº 133/17, de 19 de junho, o Prémio Nacional de Cultura e Artes compreende as seguintes categorias: Literatura, Artes Visuais e Plásticas, Teatro, Dança, Música, Cinema e Audiovisual e Ciências Humanas e Sociais, e, para o seu funcionamento conta com um júri constituído por catorze individualidades de reconhecido mérito e idoneidade, e um secretário. 

Na presente edição o Júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes nomeado pelo despacho Nº 23/2024 do Ministro da Cultura, Professor Doutor Filipe Silvino de Pina Zau, a 16 de Abril de 2024, foi presidido por Maria José Faria Ramos, coadjuvada por Manuel Muanza e integrado pelos seguintes: Álvaro Cardoso e Maria Belmira Seco de Oliveira Gumbe (Artes Visuais e Plásticas); Jorge Miguel 2 

Pinto Cohen e José António Rafael Silvestre (Cinema e Audiovisual); Minerva Aguirre Jacas e Nelson João Pereira Augusto (Dança); Aníbal João Ribeiro Simões e António Francisco Mateus Quino (Ciências Humanas e Sociais); Abreu Castelo Vieira dos Paxe e Manuel Muanza (Literatura); Carlos Alberto Correia dos Santos Lopes e Maria José Faria Ramos (Música); Francisco Makiesse Calongo Teixeira e Orlando Sérgio Henriques Azevedo (Teatro) e José Octávio Serra Van-Dúnem (Secretário). 

II RESULTADOS DA DELIBERAÇÃO FINAL DO JÚRI

O Júri do Prémio Nacional de Cultura e Artes, obedecendo aos artigos 18º e 19º do seu regulamento aprovado pelo despacho Presidencial Nº 133/17, de 19 de Junho e, estabelecendo parâmetros e critérios de qualidade por cada categoria, depois de vários meses de trabalho que compreenderam o acompanhamento e análise da actividade artística e cultural desenvolvida em território nacional e na diáspora, incluindo deslocações dos membros do júri à algumas províncias; além das reuniões parciais dos pares, realizou sete reuniões plenárias ordinárias. Reuniu-se na Sala de Reuniões do Ministério da Cultura, aos 20 de setembro do ano em curso, para a deliberação final, e decidiu atribuir o Prémio Nacional de Cultura e Artes – Edição 2024, tal e como a seguir se indica: 


ARTES VISUAIS E PLÁSTICAS  

Ao artista

JOAQUIM PEDRO TEIXEIRA (TCHOMBÉ) 

Pela sua coerência e tenacidade, pela afirmação granjeada na arena das artes plásticas angolanas, pelo rigor técnico empregue nas suas obras, por ser um interpretador nato das vivências do seu povo e, navegador de outras esferas quer técnicas, quer temáticas, contribuindo para o desenvolvimento das artes plásticas em particular e da cultura em geral, ao longo da sua carreira. 

Desenhador artístico virado para trabalhos gráficos como cartazes, ilustrações e, maquetes para pinturas murais de caris propagandístico, das quais algumas também por si executadas, nas cidades do Lobito, Benguela e cercanias. Com vasta experiência acumulada apresenta-nos pinturas de cavalete em óleo sobre tela, de uma composição esmerada pelo equilíbrio das formas, criando e respeitando os planos devidos, em que o desenho das figuras é preenchido geometricamente por espaços como se se tratasse de partículas aglomeradas, formando um conjunto único onde há a exploração da cor até à exaustão, através de um esbatido limpo, num jogo de luz e sombra em plena harmonia, adicionada à complementaridade das cores sabiamente selecionadas, dando vida a obra, cuja luminosidade fragmentada domina o ambiente ou o espectador em função da sua originalidade. 

Percorridos já alguns anos, entre as lides Benguelenses, Lobitangas e, Luandenses, o público amante das artes e não só, foi apreciando obras de um artista identificado com o seu meio ambiente e que privilegia a vida marinha, com destaque para a vida pesqueira, os elegantes e famosos flamingos da sua paisagem, com passagem igualmente de outras vivências características de Angola, através de uma linguagem pictórica dinâmica, sempre inovando na forma de representação, porém preservando os traços característicos das suas linhas construtivas, enveredadas ao estilo estético neorrealista. 

As suas obras têm estado patentes em variadíssimas exposições colectivas de carácter provincial, nacional e internacional, entre as quais se destacam Salão FENACULT/89-CABINDA, Salão do Movimento Benguela e o Mundo, Expo SHANGAI, EXPO em NOVA YORK – Campanha de Angola para membro do Conselho de Segurança da ONU. 

Outrossim, TSHOMBÉ, é uma marca das artes em Benguela e Lobito, instruindo pupilos, incentivando e promovendo actividades em prol das artes plásticas, contribuindo assim para o desenvolvimento da cultura nacional desde os primórdios da independência, tendo sido ao longo da sua carreira já agraciado com alguns certificados e prémios. 



CINEMA E AUDIOVISUAL 

À Produtora 

DIAMOND FILMS 

Pela sua consistência na produção, que tem tido um impacto positivo em toda a cadeia de valor cinematográfica, empregando centenas de profissionais, desde técnicos especializados, roteiristas, produtores, realizadores, e envolvendo várias gerações de atores. 

A DIAMOND FILMS, destacou-se nos últimos três anos no mercado pelo foco na produção para televisão, onde conta com mais de três novelas produzidas, dentre as quais destacamos: “O Rio”, a primeira telenovela angolana produzida para um canal da MNet e uma forte produção de ficção totalmente elaborada por angolanos para o público angolano. Com mais de 500 episódios, é a mais extensa novela produzida em Angola e tem servido como plataforma de formação de um inúmero Elenco de luxo; “Mahinga” uma novela de 210 episódios que contou com mais de 240 profissionais; “Windeck”, com várias temporadas e centenas de episódios exibidos; e, “Mussulando”, Sitcom de 21 episódios. 

Com um portfólio diversificado incluindo programas de televisão, lançou, recentemente, o filme “A Caixa”, estando em fase de pós-produção os filmes “Quem é o Pai do Miúdo” e “Plano B”. 

Esta produtora tem desempenhado um papel crucial no fomento do audiovisual em Angola, tendo as suas produções aproximado e familiarizado o grande público ao conteúdo local.

Este prémio, mais que celebrar uma obra, reconhece os feitos da Diamond Films como um todo, incentiva a busca de modelos de produção sustentáveis, assegura a continuidade dos profissionais e consolida a organização como uma força motriz do audiovisual angolano.  



DANÇA 

Ao Bailarino, Coreógrafo e Professor de dança 

PEDRO VIEIRA DIAS TOMÁS (MESTRE PETCHÚ) 

Pelo conjunto da sua obra e por ser um dos principais responsáveis pela explosão universal da “Kizomba”, sendo a figura mais conceituada e representativa das danças angolanas na diáspora, destacando-se além-fronteiras pelo seu engajamento na defesa da identidade nacional. 

“MESTRE PETCHU”, como é habitualmente tratado, vem divulgando a origem da Kizomba com a sua metodologia própria, que é aplicada por ele e pelos seus mais de mil instrutores, monitores e bailarinos, de várias nacionalidades, que difundem a cultura angolana pelo mundo afora. É o maior promotor da Kizomba de raíz, tornando-a um fenómeno internacional, mediante a participação e realização de cursos, workshops, congressos, concursos, opennings profissionais de danças de salão e eventos diversos, realizados maioritariamente no continente europeu, nos Estados Unidos da América, na América Latina e um pouco por todo o mundo. 

Nascido em Luanda e residente em Portugal há mais de 26 anos, PEDRO VIEIRA DIAS TOMÁS, tem 57 anos de idade, 46 anos de carreira artística e é um exímio Bailarino, Coreógrafo e Professor de danças angolanas, populares ou recreativas e folclóricas ou patrimoniais. Descendente de uma família de artistas, a dança e a música estiveram presentes na sua vida, desde a mais tenra idade. A sua jornada artística tem início em 1978 no “Grupo Carnavalesco Cassules do Maculusso”, do Bairro do Maculusso, onde permaneceu até 1979, a dançar e a tocar o estilo Semba de Carnaval. Foi como percussionista de ngoma (batuque) desse grupo que fez a sua primeira apresentação num desfile de carnaval no Largo do Kinaxixi. 

Membro fundador do “Ballet Tradicional Kilandukilu, criando em 1983, em Luanda, é igualmente fundador do Ballet Tradicional Kilandukilu em Lisboa-Portugal e seu director artístico. 

Em 2012 cria, em Portugal, o projecto “Kizomba-Semba, Course (KSC)”, curso comumente dirigido a instrutores e professores de Semba e de Kizomba, onde ministra as danças de salão: Semba e Kizomba de raiz em par, preocupado em manter na diáspora a identidade da dança angolana, numa altura em que se apercebe que a kizomba se estava a desvirtuar, implementando assim a primeira metodologia de ensino, denominada “Geometria da Kizomba” ou ainda de “Teoria e prática de Mestre Petchú”. 

Vencedor de várias distinções em Angola e no exterior foi o primeiro Professor a inserir as danças Tradicionais Africanas nas escolas de ensino oficial em Portugal, lecionando a kizomba, kilapanga, rebita, semba de carnaval, semba popular urbano, tarraxinha, kuduro e alguns ritmos tradicionais africanos. Ministra igualmente aulas em escolas e estúdios de dança a interessados, de todas as idades, em danças tradicionais e populares urbanas de Angola. 

É conselheiro artístico da organização do “África a Dançar”, Congresso-mãe de todos os festivais de kizomba em Lisboa, tendo sido já várias vezes presidente da Mesa do Júri de campeonatos, no marco deste congresso. 

Na sua longa carreira, entre outros feitos, destaca-se ainda a promoção, em 1998, do 1º Seminário Nacional de Assistentes de Direcção Artística e Produtores de Espectáculos e Técnicos de Dança, realizado pela Secretaria de Estado da Cultura, em Angola. 

Ao longo da sua carreira tem realizado várias digressões por inúmeros países sempre no âmbito da divulgação das danças e da cultura angolana pelo mundo e tem trazido várias vezes para angola, delegações integradas por bailarinos e amantes da dança, do folclore angolano e das danças do carnaval de angola, de diversas nacionalidades. 



LITERATURA 

Ao escritor 

CARLOS FERREIRA (CASSÉ) 

Pelo facto de o seu projecto artístico enlaçar poética e outras esferas da cultura, forjando a relação entre literatura e jornalismo, construindo, assim, um espaço de investigação histórica, tal como da arte pela educação e educação pela arte. 

CARLOS SÉRGIO MONTEIRO FERREIRA, mais conhecido como CASSÉ, é um proeminente poeta, jornalista e letrista, nascido em 1960 em Luanda, Angola, que tomou o domínio da literatura como lugar de experimentação, onde aspectos ligados ao brigadismo literário, à criação poética e à escrita de letras de música diluem as fronteiras entre a literatura e outras artes. Uniu todos esses domínios a uma oficina séria, onde se pode verificar tenacidade ao abordar o mundo que circulava nas práticas e nas representações de um país acabado de nascer. 

No conjunto da sua obra a ideia de acção está pensada no entrelaçamento dos elementos constitutivos das oralidades, das vozes, das sonoridades e da escrita, procedimento que rearruma o tempo em todos os tempos de que vamos tendo memória, tal como o ilustram os seus poemas, as antologias publicadas, letras de canções, a compilação de textos sobre a cultura nacional, com destaque para a colecção das edições do Boletim Cultura (nov. 1957-nov. 1960) e para livros de memória.

O seu projecto de criação e invenção leva-nos a compreendê-lo como um mediador, ao contrário de um construtor de identidades fixas na cultura das culturas da nossa Angola! 

Cassé iniciou sua carreira literária aos 21 anos de idade com a publicação do seu livro Ponto de Partida, em 1981. Além da sua produção literária, tem sido uma figura influente no jornalismo angolano. Escreveu para vários jornais nacionais e actuou como director de programas na Rádio Nacional de Angola. Também foi assessor de imprensa do Presidente da República de Angola até 1995. Deu contribuições relevantes para a música, tendo escrito letras para muitas canções angolanas conhecidas, ganhando vários prémios e reconhecimento. É membro da União dos Escritores Angolanos (UEA) e tem participado de várias organizações literárias e culturais. 

Na sua vasta biliografia podemos encontrar as seguintes obras: 

  1. Ponto de Partida (1981) 
  2. Projecto Comum I (1982) 
  3. Projecto Comum II (1983) 
  4. O Homem nos Quatro Andamentos (adaptação poética da Terceira Sinfonia de Beethoven [1985]) 
  5. Começar de Novo (1988) 
  6. Sabor a Sal – crónicas de dias cinzentos (1986) 
  7. Voz à Solta (1991) 
  8. Marginal (1994) 
  9. Namoro o Mar (1996) 
  10. Ressaca (2000) 
  11. A Angústia do Fim (2001) 
  12. Quase Exílio (2003) 
  13. A Magia das Palavras (2009) 
  14. Memórias de Nós [letras de música (2014)] 
  15. Meaidade (2021) 

Outros trabalhos da sua autoria: 

  1. Cacimbos (CD áudio) 
  2. À Reconquista (CD áudio/poemas. – Antologia/poetas angolanos dos anos 20, 30 e 40, Séc. XX) 

Obras em co-autoria: 

  1. Eugénio Ferreira – Um cabouqueiro da angolanidade (2008) 
  2. Dos Desertos, dos Sonhos, das Travessias e do Futuro (antologia de contos, 2010) 
  3. O Boletim Cultura e a Sociedade Cultural de Angola (2013) 
  4. Entre a Lua, o Caos e o Silêncio: A Flor (antologia/poemas, 2021) 



MÚSICA

Ao Cantor e Compositor 

DIONISIO ROCHA 

Pela sua longa carreira, versatilidade e contributo para a pesquisa, investigação e divulgação da música angolana e da cultura nacional. 

DIONÍSIO PATROCÍNIO NOGUEIRA DA ROCHA, mais conhecido como DIONÍSIO ROCHA, nasceu em Benguela, Angola, a 26 de agosto de 1945. Iniciou a sua carreira em 1950 sob orientação do músico, compositor, professor de canto e dança e humorista Moisés Mulambo, nas récitas do bairro Benfica, na sua cidade natal, em companhia de Fernando Rá, Timóteo, Paulo Augusto, Ratinha, os Pacavira, os Benchimol e outros mais. Em 1957-58, em Luanda, integrou o Botafogo, onde sob a batuta de Efigénia Mangueira, Aristides Van-Dúnem e Armando Correia de Azevedo participou em actividades ligadas ao teatro, poesia, canto e dança. 

Em 1959, integrou o conjunto os Negoleiros do Ritmo, pouco depois da sua criação, e estreou-se na Liga Nacional Africana no programa Pim Pam Pum, de Baptista de Sousa, transformando-se em líder desse conjunto até o seu desmembramento total em 2002. Trabalhou durante mais de 35 anos como director artístico da Direcção Nacional de Acção Cultural e continuou a sua carreira na música e noutras com ela relacionada de forma individual e em parceria, até à presente data.

Em 1964, deslocou-se pela primeira vez ao exterior do país, a Portugal, onde gravou o seu primeiro disco em companhia dos seus Negoleiros e Alba Clington, pela etiqueta Alvorada. Ainda como membro integrante e vocalista do agrupamento musical Negoleiros do Ritmo gravou diversos singles, tendo gravado pela etiqueta Bonzão, em 1968, os discos intitulados Lemba e Minha Cidade é Linda. Em 1972-73 gravou pela etiqueta da Lusolanda os temas: Lamento, Vamos Trabalhar, Casaco de Fardo e Riquita. 

Gravou temas de intervenção como Desculpa Vou Duvidar, Pouco a Pouco, A Cidade Iluminada, Eu Quero o Mar, Mundo Novo, Mandela, Pela Pátria, Unidade Nacional (com letra de Boaventura Cardoso), entre outros; e produziu diversas canções infantis gravadas na Rádio Nacional de Angola (RNA), em 2006. 

Organizou e participou na gravação de um CD intitulado “Sei que tu queres partir” com os membros ainda vivos dos Negoleiros do Ritmo, onde se fez uma recolha de diversas músicas antigas, algumas ainda não editadas. Em 2013, grava o CD “Luandos ao Luar”. 

O seu vasto repertório inclui músicas gravadas na RNA que marcaram várias gerações, tais como “Eu quero o mar”, “Dona Maria”, “Dipanda”, além do tema icónico conhecido como “hino” do clube Atlético Petróleos de Luanda: “Na hora da verdade ninguém segura o Petro”. Posteriormente gravou o CD “Mulher Angolana”, com temas de sua autoria, de Ana Maria de Mascarenhas, de Carlos Ferreira e de outros, com arranjos de Eduardo Paim. 

No âmbito dos diversos programas de rádio dos quais era realizador e apresentador, teve o cuidado de proceder a diversas entrevistas que resultaram numa pesquisa interessante sobre o historial da música urbana de Luanda, assim como de outras localidades de Angola, tendo tornado públicas gravações inéditas de importantes compositores e interpretes até então desconhecidos. Este trabalho permitiu um melhor conhecimento relacionado com a história da música de Angola devido ao facto dos respectivos programas serem difundidos pela RNA, órgão de difusão de abrangência nacional e de maior acessibilidade aos distintos ouvintes.

Durante a sua carreia musical, atuou em distintos palcos internacionais, com realce os de Portugal, Brasil, Cuba, Bélgica, Espanha, França, Estados Unidos, Holanda, Finlândia, Viena D’Áustria, República Checa, Alemanha, Zaire, Congo, Moçambique entre outros países. 

Nos últimos tempos sobretudo, tem sido homenageado por distintas instituições, como reconhecimento do seu trabalho ligado fundamentalmente ao mundo da música, ao longo dos seus 74 anos de carreia. A título de exemplo e por ocasião do seu mais recente aniversário, a TV Zimbo prestou-lhe uma singela homenagem no programa “Show da Zimbo”, onde jovens músicos interpretaram as suas composições. Entre os talentos que brilharam, a filha Berenice Rocha “Nicinha” destacou-se, recordando os passos que deu enquanto ainda menininha. Nicinha fez sucesso com a música “Ai Compadre, ai Comadre”, uma canção memorável, por sinal escrita pelo pai nos anos 80. 

Foi ainda homenageado pelo Circuito Internacional de Teatro (CIT), de Luanda, na sua 9ª edição realizada em 2024. 

DIONÍSIO ROCHA, teve atividades ligadas ao teatro como actor, integrou grupos de dança como bailarino, foi declamador de poesia, é músico e compositor, analista de questões de cultura nacional, nomeadamente sobre o Carnaval, realizador e apresentador de programas de rádio, actividade que mantém na actualidade, com o programa “Quintal do Dionisio”, na Rádio Cultura Angola, do grupo RNA, no ar desde 2022. Foi director artístico de eventos diversos e teve incursões na área da apresentação e representação televisiva, lembremo-nos do programa “Conversas no Quintal”, difundido pela TPA durante alguns anos. 

Sempre manteve uma ligação com as novas gerações, procurando transmitir valores e conhecimento, para além de proporcionar a abertura de portas para a projeção destes. De 1983 a 1987, foi director artístico do programa infantil da Rádio Nacional, onde surgiram nomes como José Machado, Nicinha Rocha, Joseca de Brito, Ângelo Boss, Maya Cool e muitos outros. Em paralelo foi director artístico do programa Explosão Musical da TPA, onde surgiram nomes como Diabik e outros.

É vulgar na sua residência realizarem-se tertúlias onde a música é uma constante e a presença da juventude uma nota marcante, proporcionando a transmissão de valores musicais a preservar. 

Independentemente de não ser uma figura constante nos palcos actuais como cantor, mantém uma séria actividade de divulgação da música de Angola, sobretudo no seu programa de rádio “Quintal do Dionisio”. 



TEATRO

Ao grupo de Teatro 

COLECTIVO DE ARTES OMBAKA 

Pelo conjunto da sua obra e trajectória artística que resulta da sua ininterrupta apresentação desde a sua fundação a 05 de Março de 2005. 

O COLECTIVO DE ARTES OMBAKA é um grupo vocacionado para actividades de teatro e artes performativas, desenvolve uma intensa acção de formação comunitária e de inclusão social. Participa regularmente em todos os festivais de teatro realizados em Angola e em festivais internacionais de Moçambique, Portugal e Brasil. As suas obras são carregadas dos aspectos importantes sobre a identidade cultural dos povos de Angola, em particular hábitos, costumes e tradições típicas das diferentes comunidades da Província de Benguela. 

As peças deste colectivo ajudam-nos a compreender assuntos específicos da cultura, da função social do teatro e da literatura angolana, através de distintas adaptações de obras levadas à interpretação teatral com fórmulas diferentes das habituais, onde os personagens e cenas concorrem para propostas novas com olhares e visão em busca de um teatro para entreter, e que sobretudo faz refletir e exalta a linha da tradição oral, transfigurando-a como meio para ajudar a traçar mecanismos que privilegiam os mais rígidos padrões da moral e da boa educação, inspirando outros como se pode entender, por exemplo na peça: A Lei, uma tragédia entre a razão e a emoção, com uma fórmula que se confunde com as tragédias gregas, em particular as de Sófocles, que conta a trágica história de dois reinos distintos, onde a lei é igual para todos. Nesta peça observa-se o reforço do sistema familiar e o sistema político sobre os quais se estabelecem as regras de convivência, a importância de um novo conceito de homem e da humanidade, e o questionamento do poder político das sociedades actuais e da autoridade, bem como a necessidade e respeito pelas regras estabelecidas. 

O COLECTIVO DE ARTES OMBAKA é uma das poucas instituições de teatro em Benguela, dirigido pelo Sr. Esteves Quina – “Dr. Stive”, Diretor-Geral e Paulo J. Dias Machado – “Sincero Muntu”, Encenador. Legalmente instituído na República de Angola com o número de contribuinte 711004531, Publicado em Diário da República Nº 117, III Série –– de 19 de Junho de 2015. 

A maioria das suas obras reflete o resgate inspirado na tradição oral e reforçam a necessidade de registo, preservação e divulgação dos aspectos culturais de Angola profunda, permitindo o intercâmbio entre culturas de diversos contextos ao nível nacional e internacional, demonstrado no exemplo das peças seguintes: A vida verdadeira de domingos Xavier; Meu amor da rua 11, Baixa de Cassange, Mulher em 3D, Macumba, Quando a realidade atinge, Sonhei com Manguxi, A independência, Como um raio de sol, O emigrante, Viva a dívida, Kapulungo, Laura, A liberdade, O Herói, O Técnico, Faceburla, O Paradoxo da paz, Paixão pela África, Procura-se boa pessoa para casar, O Drama da Vivi, Até que ponto os pais têm razão?, O Advogado patilin, Namoro proibido e Okukala Okay. 

Já foi distinguido em diversas categorias de premiação como: melhor grupo, melhor obra, melhor actor e melhor actriz, em vários festivais e prémios de teatro realizados em Angola, com destaque ao Prémio Provincial de Cultura e Artes de Benguela, com a peça A Lei. Talento igualmente reconhecido nos festivais do Brasil e de Moçambique onde participou. 



CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

À Obra 

“OS BANTU NA VISÃO DE MAFRANO – QUASE MEMÓRIAS”, de MAURÍCIO FRANCISCO CAETANO (MAFRANO) 

Pelo impacto significativo na documentação e interpretação das tradições Bantu, preservando e documentando a sua rica herança cultural e estabelecendo conexões com outras culturas, a obra de MAFRANO contribui para uma compreensão mais abrangente da Antropologia Cultural. Constitui, igualmente, um contributo de grande valia para a antropologia africana, desafiando as narrativas coloniais que frequentemente desvalorizavam essas tradições, proporcionando-nos uma compreensão mais holística das culturas africanas. 

Essencialmente, a colectânea “OS BANTU NA VISÃO DE MAFRANO – QUASE MEMÓRIAS” representa um legado vital para a compreensão, preservação e valorização das culturas tradicionais angolanas. 

MAURÍCIO FRANCISCO CAETANO (MAFRANO), nasceu no Dondo em 1916, vindo a falecer em 1982. Estudou no Seminário de Luanda, onde fez o curso de Filosofia e Teologia. Iniciou carreira como aspirante administrativo nos Serviços de Fazenda e Contabilidade, na era colonial. Após a independência de Angola, em Novembro de 1975, Maurício Caetano foi secretário e Director Nacional no Ministério das Finanças. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), foi ainda professor e tem colaboração dispersa em vários jornais e publicações, nomeadamente Revista Angolana da Liga Nacional Africana, Angolense, O Apostolado, Angola Norte e Boletim de Finanças. 

A obra laureada resulta da compilação dos textos escritos pelo autor entre 1947 e 1982, a partir das pesquisas realizadas pelo filho do autor, nos jornais e revistas nos quais Mafrano colaborou. É, portanto, uma obra póstuma (ponto 2 do artigo 19º do Regulamento do PNCA), publicada em 2022 e 2023, que nos oferece uma visão aprofundada e abrangente das culturas Bantu e constitui um marco 15 

significativo na pesquisa e documentação dos povos Bantu, nomeadamente descrições de hábitos e costumes da vida ancestral de ascendentes angolanos. 

A obra destaca-se pela qualidade da recolha dos textos do autor, que permitiu a publicação dos volumes, tendo como grande pertinência académica o facto de incidir sobre a preservação do património cultural e de promover estudos comparativos como reforço da identidade africana. O livro também se tributa como uma fonte valiosa de conhecimento para pesquisadores e interessados na história e cultura africana, examinando diversos aspectos da cultura e sociedade Bantu em temas como tribunais bantu, saudações, formação profissional, direito sucessório, óbitos e funerais, parentesco, tradição política, literatura e solidariedade humana e ética nos matrimônios bantu. 

O JÚRI 

PRESIDENTE — MARIA JOSÉ FARIA RAMOS 

VICE-PRESIDENTE — MANUEL MUANZA 

(ARTES VISUAIS E PLÁSTICAS) — MARIA BELMIRA SECO DE OLIVEIRA GUMBE , ÁLVARO CARDOSO 

(CINEMA E AUDIOVISUAL) — JOSÉ ANTÓNIO RAFAEL SILVESTRE, JORGE MIGUEL PINTO COHEN 

(DANÇA) — MINERVA AGUIRRE JACAS, NELSON JOÃO PEREIRA AUGUSTO 

(CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS) — ANÍBAL JOÃO RIBEIRO SIMÕES, ANTÓNIO FRANCISCO MATEUS QUINO 

(LITERATURA) — ABREU CASTELO VIEIRA DOS PAXE, MANUEL MUANZA 

(MÚSICA) — CARLOS ALBERTO CORREIA DOS SANTOS LOPES, MARIA JOSÉ FARIA RAMOS 

 (TEATRO) — FRANCISCO MAKIESSE CALONGO TEIXEIRA, ORLANDO SÉRGIO HENRIQUES AZEVEDO 

(SECRETÁRIO DO PNCA) — JOSÉ OCTÁVIO SERRA VAN-DÚNEM 

O SECRETARIADO DO PRÉMIO NACIONAL DE CULTURA E ARTES,

em Luanda, 02 de Outubro de 2024. 

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