Dom Manuel Imbamba:”Mafrano deixa claro que não se forma um povo, uma nação, sem a sua cultura”

Dom Manuel Imbamba:”Mafrano deixa claro que não se forma um povo, uma nação, sem a sua cultura”

25/07/2023 — Está de parabéns a família de Mafrano pelo esforço hercúleo no levantamento e organização dos textos de Maurício Francisco Caetano, na sua publicação em três volumes (dois já impressos e apresentados em Luanda), e na militante divulgação nacional e internacional desta obra.

O ilustríssimo arcebispo, presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé, Dom José Manuel Imbamba, honrou os presentes no Edifício Michael Lemony Kennedy, da Universidade Católica de Angola (UCAN), no Largo das Escolas, em Luanda, onde apresentou o segundo volume da obra de Maurício Francisco Caetano.

Nesse mesmo dia Dom José Manuel Imbamba viajou de avião do Huambo para Luanda, por este motivo foi necessário atrasar em 120 minutos o início da sessão de lançamento.

Este ano, a data de lançamento do segundo volume de “Os Bantu na visão de Mafrano — Quase Memórias” coincide com o 41º aniversário do passamento físico de Maurício Francisco Caetano, que faleceu precisamente aos 25 de Julho de 1982.

Entre a assistência estiveram presentes alguns sobreviventes do histórico “Processo dos 50”.

A nossa editora, a Perfil Criativo, esteve muito bem representada pelo jornalista e director do semanário “Novo Jornal”, Armindo Laureano. Um verdadeiro activista cultural, nosso autor e amigo.

Sobre esta obra recordamos que Maurício Francisco Caetano que em vida foi director Nacional de Impostos no Ministério das Finanças, até 1982, e membro fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), destacou-se como professor de Português e de Filosofia em vários estabelecimentos de ensino, dentre os quais o Liceu Ngola Kiluanji, Instituto Makarenko, Instituto PIO XII e o ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola).

Este segundo volume da colectânea “Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias” traz como títulos de maior destaque o uso do telégrafo, o «ngolokele», entre os povos bantu, desde tempos remotos; os topónimos bantu e a sua lenda; a ética nos gémeos ambós e gémeos Kimbundu; a filosofia bantu sobre a morte; a origem de vocábulos nos idiomas bantu; relatos de Cabinda; hábitos e crendices alimentares, e outros temas sobre antropologia, arqueologia, etnografia e direito costumeiro num total de 256 páginas.

Tal como no volume anterior, Mafrano realça «pontos de contacto das lendas da civilização bantu com a mitologia clássica, construindo diálogos que nos fazem viajar por vários países, como a Alemanha, a China, os Estados Unidos, a França, a Itália, Portugal e o Reino Unido, sem esquecer as mitologias greco-romanas.

Segundo registos mais antigos, Maurício Caetano iniciou-se como colaborar do Jornal Independente «Angola Norte», em Malanje, onde fez publicar um artigo sobre «O perfil etnográfico do negro Jinga», em 1947, que foi dedicado a Lázaro Manuel Dias, seu amigo íntimo e anos mais tarde ministro da justiça em Angola, e também membro do «Processo dos 50».

O autor foi também colaborador da revista Angola, da Liga Nacional Africana, dos jornais «Farolim» e correspondente do Jornal «O apostolado», em Cabinda, Dembos e Kwanza Norte, desde 1954.

O seu vasto espólio literário foi agora compilado numa colectânea em três volumes, e mais de 740 páginas, inclui epigrafes como «Crónicas ligeiras», «Notas a lápis», «Episódios Vividos», «Tertúlias» e outros textos e contos dispersos.

O primeiro volume desta colectânea foi lançado em 2022 e apresentado até á data nas cidades do Lubango, Luanda, Ndalatando, Namibe, e Cabinda, assim como em Maputo, São Tomé, Praia, e na Feira do Livro na cidade do Porto. Entre 31 de Agosto e 3 de Setembro de 2023 estará disponível para os leitores portugueses na Festa do Livro de Belém, que se realiza nos jardins do Palácio de Belém, residência do Presidente da República Portuguesa.

Memória e Cultura é também a responsabilidade da família

Memória e Cultura é também a responsabilidade da família

No próximo dia 25 de Julho de 2023 vamos apresentar o segundo volume da obra “Os Bantu na visão de Mafrano — Quase Memórias” (Ed. 2023), de Maurício Francisco Caetano.

NOTA DO EDITOR: JOÃO RICARDO RODRIGUES

Em 2020 Tomás Lima Coelho, autor do compêndio “Autores e Escritores de Angola”, publicado pela primeira vez pela nossa editora em 2016, recomendou-me que falasse com o jornalista e escritor angolano José Soares Caetano (Tazuary Nkeita), uma vez que este escritor estava a organizar um conjunto alargado de textos publicados pelo seu pai, Maurício Francisco Caetano, para uma futura publicação em livro. 

No início do ano passado (2022), em Luanda, na Universidade Católica de Angola (UCAN), tivemos o privilégio e o orgulho de apresentar o primeiro volume destes mesmos textos, “Os bantu na visão de Mafrano — Quase memórias”. Foi aí que pude observar o brio profissional da família de “Mafrano”, nesse grande exercício que foi a recuperação da sua obra, sem reservas, e a alegria na apresentação pública deste extraordinário trabalho. Um exercício que tem sido acompanhado pelos altos representantes da igreja católica em Angola. Nesse sentido, aproveito com esta “nota do editor” para convidar o Ministério da Cultura e Turismo da República de Angola bem como as embaixadas de Angola, espalhadas pelo mundo, para que se envolvam e descubram “Mafrano” (1916-1982), definido pelo arcebispo emérito do Lubango, D. Zacarias Kamwenho, como “antropólogo maior” de Angola.

Aproveito também para fazer o mesmo convite ao Ministério da Cultura de Portugal, para também os portugueses tomarem conhecimento da obra de Maurício Francisco Caetano, e quem sabe, propormos, em conjunto, este autor a candidato a um grande prémio literário. Será uma oportunidade para os portugueses descobrirem esse grande grupo étnico linguístico conhecido por “Bantu”, que chegaram a Angola vindos do Norte, dos Camarões e da Nigéria, conseguindo criar um grande pólo no antigo império do Congo. E que a partir daqui, se espalharam pela África Austral e mantiveram relações históricas e especiais com Portugal.

Maurício Francisco Caetano revela, ao longo das páginas deste livro, um nível cultural superior tanto relativamente à cultura africana como à europeia. Prova disso, é a quantidade de obras que vai referenciando ao longo das suas crónicas. 

Está de parabéns a família pela coragem e dedicação para tornar acessível o conhecimento da obra deste autor. Um sonho que se tornou realidade.

A família de Mafrano

ATENÇÃO: Evento atrasado duas horas, vai ter início às 18h00, 25 Julho de 2023, no mesmo local: UCAN

Dom Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango e autor do prefácio de Os Bantu na visão de Mafrano – Volume I: “Felicito a Família de Maurício Caetano por nos brindar com mais esta obra”.