Na próxima segunda-feira, 5 de Fevereiro, entre as 18h00 e as 20h00, no Auditório B1.03 no edifício 1 do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, na avenida das Forças Armadas, em Lisboa, será realizado o lançamento oficial do livro “Angola: Cinco Séculos de Guerra Económica“, do Prof. Doutor José Manuel Gonçalves, em aula aberta (entrada livre) no âmbito do mestrado e doutoramento em Estudos Africanos.
O catedrático José Manuel Gonçalves, investigador do CEI-ISCTE (Portugal) e NEA/UFF (Brasil) conhecido como Jonuel Gonçalves, lutou pela independência e democratização de Angola, teve a maior parte da sua existência dividida entre o combate clandestino e o exílio. Aproveitou estes afastamentos para, aos solavancos, chegar até ao mestrado. Quando o fim das guerras angolanas do século XX permitiu, fez o doutoramento. A partir daí dedicou-se à docência (agora numa universidade brasileira), a escrever coisas diferentes das que escrevia nos anos de chumbo e a nomadizar entre África, Brasil e Portugal. Publicou vários livros.
“O colonialismo e a cleptocracia são dois regimes de guerra económica permanente. Ambos visam a captura de recursos com base em posições de privilégio ou de força nos centros de poder, mantendo-se pela repressão. Angola teve três séculos da sua construção como território sob regime de captura de escravos. A sua construção como país independente tem sido marcada pela captura de recursos financeiros do Estado, tanto das reservas em moeda convertível, como em favoritismo estrutural no acesso a contratos públicos e comissões para concessão dos mesmos.”
Este livro é o primeiro no projeto de estudo sobre Guerras Económicas, conduzido pelo autor.
O segundo focará o Brasil perante efeitos do mesmo problema no século XXI. A escolha dos dois países decorre da ligação entre ambos na criação de economias sob várias formas de violência, como aliás fica patente no presente texto.
“O colonialismo e a cleptocracia são dois regimes de guerra económica permanente. Ambos visam a captura de recursos com base em posições de privilégio ou de força nos centros de poder, mantendo-se pela repressão. Angola teve três séculos da sua construção como território sob regime de captura de escravos. A sua construção como país independente tem sido marcada pela captura de recursos financeiros do Estado, tanto das reservas em moeda convertível, como em favoritismo estrutural no acesso a contratos públicos e comissões para concessão dos mesmos.”
Este livro é o primeiro no projeto de estudo sobre Guerras Económicas, conduzido pelo autor.
O segundo focará o Brasil perante efeitos do mesmo problema no século XXI. A escolha dos dois países decorre da ligação entre ambos na criação de economias sob várias formas de violência, como aliás fica patente no presente texto.
ÍNDICE Capítulo I INTRODUÇÃO
Na vertente íngreme dos conceitos Fases, períodos, atalhos e desvios
Capítulo II ANGOLA NAS GUERRAS DO MERCANTILISMO
Formatação do território Entre ocidente e oriente Primeira corrida aos minerais Prática e teoria mercantil Njinga e as rivalidades europeias “E sem Angola não há pretos” O fator inglês
Capítulo III A COLONIAL-ESTAGNAÇÃO Economia entre repressão e incompetência
Transição sem rumo Capital e trabalho Partilha e ocupação de África Operacionalização da partilha em Angola Imprensa e vida económica Fraude de impacto internacional
Capítulo IV O ULTRA-COLONIALISMO (1934-1974)
Reforço material do sistema no curto prazo A guerra pela independência Custos coloniais da guerra e transição para a independência
Capítulo V PÓS COLONIAL: LUTAS PELO ACESSO ÁS FONTES DE RIQUEZA
Digressão pela economia do avesso Exemplos na justiça e da justiça Contexto macro-económico 2002-2017 Face às crises externas 2017 – mudança de Presidente
Os panos da minha avó eram os mais lindos de toda a cidade, em tons fortes como a nossa natureza. Vermelhos como o xinguilar das muxiluandas da Ilha de Luanda, negros como a bravura da nossa raça, amarelos como o sol que nos presenteia todos os dias. Algumas vezes eram verde-azulados como as nossas águas do mar, outras eram cor-de-laranja como sol a beijar o oceano Atlântico, desprendendo-se serenamente do azul celestial onde a mãe da minha mãe descansa em paz. Os panos da minha avó, que as outras avós vestiam, deambulavam por todas as ruas, riscando o asfalto e a terra quente, com as suas linhas verticais, em tons suaves ou fortes, tomando uma cor arenosa que deixava o tom deslavado para trás. Naquela altura os panos vinham do mato, ou eram comprados no musseque, na loja de um branco qualquer que falava kimbundu para melhor vender, e se possível enganar subtilmente. Entravam no atelier mamãs com vários níveis de exigências, mas no final todas queriam um bom corte, uma boa costura, um bordado perfeito, e um croché alinhado. À minha avó cabia bem confecionar com dedicação, carinho e amor. Quando na rua caminhavam, os seus portes transpiravam o charme de uma mulher angolana, fascinando homens e mulheres que abriam alas para as deixar passar. A minha avó era a mãe suprema de quem não tinha ascendente ou parente. Era o modelo de bondade, caridade, solidariedade, carinho e de miminho. Quando a minha avó foi descansar, eu não meti kisunde, a tira de pano ao pescoço como sinal de luto, nem fumo na manga da camisa, porque eu não uso camisa, nem meti o pano preto na janela, nem a rendada mantilha negra a cobrir a minha cabeça, descaindo em cascata sobre os ombros, o bófeta. O meu corpo encorpou a minha avó, e apesar de eterna ausência ser longínqua, eu ainda a sinto. Fiquei de tanga, na véspera dos meus anos, quando vestiram a minha avó com o rendado vestido azul, que ela tinha costurado há muitos anos, para quando chegasse o dia dela descer à terra, e eu chorar, sem estar presente. Restou-me ficar com a imagem bonita e carinhosa dela viva, da pessoa que me deu os primeiros e sábios ensinamentos. A minha avó, tal como tantas outras mamãs, já não tinha espírito nem físico para aguentar, outra vez, uma guerra civil. Eram as bombas colocadas nos prédios, as pessoas a serem levadas para lugares incertos por partilharem ideias diferentes, eram os parentes perseguidos, eram os parentes e os amigos que conseguiam subir o oceano Atlântico e virar as costas aos agrores da guerra. E ao fim de alguns meses da guerra de 1992, e da instabilidade, ela partiu para não mais voltar. A minha avó eternizou mais cedo do desgosto de ver e sentir a nossa sepultura cavada todos os dias, malembe, malembe. A minha avó era o Sol, a luz, o brilho que todos nós precisávamos para viver. A banga tinha acabado, agora restava-me, para além dos seus ensinamentos, as tangas que ela deixou. A verde-esmeralda, ácida como a urzela e gelatinosa como o quiabo, foi herdada pela minha mãe, na esperança de ser adocicada. A amarela alaranjada, igual ao azeite de palma, coube aos filhos homens, para que não escorregassem muito entre saias. A azul, esvoaçando como os peitos-celestes, de galho em galho, ficou para o Lindo, porque ele merecia o céu. A rosa avermelhada com veios escuros separando os quatro gomos, que nos estimula a circulação sanguínea, ligando-nos ao além e pequena como o makezo, foi dividida, cabendo cada kiesu, pedaço pequeno, a cada uma das filhas. Este representava o acordar diário da minha avó. Esfregava os dentes com pau de vikussi, raspava a língua com uma tira de lata de flocos de aveia ou de atum. Jejuava de seguida, mascando lentamente pedacinhos de gengibre e noz de cola (Sterculia Acuminata), acompanhados com vinho abafado, quinado ou maluvo, para enfrentar a dureza do dia. Ai, meu Deus! quanto é duro, Kikola.
A autora, Luzia Moniz, o director do Novo Jornal, Armindo Laureano, e o editor da Perfil Criativo – Edições têm o gosto de convidar V. Ex.a para a apresentação do livro:
“SILENCIOCRACIA, JORNABÓFIAS E OUTRAS MAZELAS” (ed.2022)
A apresentação do livro estará a cargo de: — Francisca Van Dunem, natural de Luanda, jurista, política portuguesa e ex-ministra da Justiça da República de Portugal; — Manuel dos Santos, natural de Benguela, historiador e sociólgo.
Quinta-feira, 24 de Novembro de 2022, pelas 17:00H, na CASA DA IMPRENSA.
Rua da Horta Seca, 20, 1200-213 Lisboa (213 420 277)
O primeiro volume “Os Bantu na Visão de Mafrano — Quase memórias” será apresentado pelo escritor Tazuary Nkeita na Biblioteca Nacional de Cabo Verde, no próximo dia 5 de Agosto, às 17h00.
No primeiro dia de Abril anunciámos a apresentação pública em Luanda, do Tratado de História de Angola “Angola: desde antes da sua criação pelos portugueses até ao êxodo destes por nossa criação“, do Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel. Um monumental trabalho científico publicado com a mais elevada qualidade e que representa para o Autor e para o Editor uma oportunidade para construirmos caminhos mais sólidos na unidade nacional e almejar o reencontro com os valores Bantu e Humanistas, sem esquecer a oportunidade de contribuirmos para o aumento da auto-estima de todos os Angolanos.
Há acontecimentos que são inesquecíveis. Depois do sucesso no Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, ver a Fortaleza de São Miguel a encher para um encontro inédito e inesquecível com a História, ouvir a generosa participação do Senhor Ministro da Cultura, Turismo e Ambiente, Prof. Doutor Carlos Mariano Manuel, do cientista social Dr. José Luís Mendonça, público, representantes da Liga Africana e sobreviventes da Luta de Libertação nacional.
A editora fica eternamente agradecido aos “magníficos, muito honrados e soberanos senhores da República de Angola”.