Crítica Literária de Su Maia*[2]: E AGORA QUEM AVANÇA SOMOS NÓS” de Jonuel Gonçalves

Crítica Literária de Su Maia*[2]: E AGORA QUEM AVANÇA SOMOS NÓS” de Jonuel Gonçalves

6.5/10

Rating: 3 out of 5.

Antes de começar esta crítica, gostava de realçar a realidade de que cada indivíduo tem as suas preferências literárias e que em nada a forma como uma pessoa se sente na leitura deve ser vista como algo generalizável, ou seja, esta crítica espelha somente a minha opinião pessoal e não uma verdade irrefutável.


Ao livro “E AGORA QUEM AVANÇA SOMOS NÓS” de Jonuel Gonçalves, dei 6.5/10.

Encontrei entre mim e este livro uma barreira… porquê? Senti que tive dificuldade em que a leitura fluísse, no sentido que, apesar da belíssima história com que fui presenteada, era bombardeada constantemente com informação e com pouco tempo por parágrafo para processar, ou seja: não é uma obra que o leitor se sinta puxado a ler sempre mais e mais, sempre na ânsia do próximo capítulo; é uma obra que, apesar do pequeno tamanho, é maciça e que me obrigou a pausar constantemente… acima de tudo é um livro que deve ser respirado! porque senão corresse o risco de nós sentirmos esmagados. Apesar de tudo gostei da forma como o autor encarregou a obra. E apesar da falta de fluidez, acho que é um livro “obrigatório” na estante das pessoas e importantíssimo na reforma de mentalidades.


Crítica Literária de Su Maia* [1]: “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa)

Crítica Literária de Su Maia* [1]: “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa)

7/10

Rating: 3.5 out of 5.

Em questão de conotações formais, teria de categorizar o livro “MÚRCIA” de Eugénio Inocêncio (Dududa) como 7/10 e passo já a justificar o porquê disso:

MÚRCIA” aborda de forma equiparada as suas temáticas, no sentido em que, em termos de pontos positivos, esta obra mostra-nos um lado oculto da homossexualidade em Cabo Verde, de forma realista, dando-nos elementos de libertação (flamingo, garoupa, cavalo, etc) do lado animal do ser, que ruge face à opressão! 

O armário, surpreendente, quebra o seu estereótipo e aparece como, na minha opinião,  uma segunda vida, bem como a ilusão de alcançar algo que a empatia falsa da máscara nos proíbe:

” — E se a máscara toma conta do indivíduo?

— É outro risco que o indivíduo corre.” – Eugénio Inocêncio (Dududa) em “MÚRCIA“.

Dentro da temática da empatia, o capítulo de “contextualização” foi absolutamente delicioso, pela maneira como abordou por exemplo, as parecenças e diferenças entre democracia e ditadura.

Entre os pontos positivos devo ainda salientar como a ideia do divino é lançada de forma assombrosa.

Porém, devo confessar que a ideia de que as consequências surgem como punições intrínsecas e não extrínsecas (ou seja, é uma reforma íntima de cada pessoa), foi algo que, para mim, criou uma descredibilização de todo o percurso a que o livro se predispôs desde o início, dando a ideia de duas correntes literárias opostas na mesma obra.

A minha personagem preferida foi o Tchibiliu, que é apresentado como uma não-pessoa dentro seu círculo — de certa forma, uma pessoa que nunca chega a existir para os seus parceiros — tornando-se na narrativa um personagem-adereço cujo propósito é somente servir de acessório à criação de uma outra personagem.

Por fim, gostava de elogiar o autor pela sua graciosa auto inserção passiva no livro, insinuando a importância dos seus próprios escritos na sociedade cabo-verdiana.


* Su Maia é uma dramaturga e atriz do Porto, formada na área de Interpretação pela Academia Contemporânea do Espetáculo.

Por entre as suas enumeras paixões, surge a arte crítica literária. Adora ler e esmiuçar as suas leituras, a fim de convencer as pessoas a dar uma oportunidade aos livros que a apaixonam.

A única coisa maior do que o seu amor à literatura é a sua lista de livros por adicionar à suas estantes.