Kalunga no “Mar de Letras”

Kalunga no “Mar de Letras”

Aos 28 anos é o mais jovem membro da União de Escritores Angolanos. João Fernando André é também Kalunga, um poeta que gosta de ampliar a noção de texto para todos os campos da Arte. O Mar de Letras (RTP África) desta semana dá-lhe a conhecer o percurso do jovem autor de “Evangelho Bantu” e “Lumbu – A Alquimia das Palavras“.

https://www.rtp.pt/programa/tv/p44944/e12

Corte do Rei do Huambo presente na apresentação de «Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias»

Corte do Rei do Huambo presente na apresentação de «Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias»

Foi apresentado na Biblioteca Provincial do Huambo o segundo volume da colectânea «Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias» (Ed. 2023), de Maurício Francisco Caetano (1916-1982). Esta apresentação a cargo do historiador, antropólogo e linguista angolano, Prof. Dr. Venceslau Casese, contou com a presença de várias individualidades onde se destacou o Rei do Huambo.

Notícia da ANGOPLivro “Os Bantu na visão de Mafrano” apresentado no Huambo“: A agência de notícias refere que durante a apresentação do livro, o historiador Venceslau Casese disse que a obra é uma visão completa dos povos africanos “Bantu”, desde a sua génese linguística à identidade cultural. Acrescentou que o livro narra a caracterização dos africanos, independentemente da sua zona de origem, que têm como hábitos a partilha dos momentos de alegria e de tristeza, usos e costumes, com a noção da preservação dos valores sagrados e da vida. Em breves declarações, o jornalista José Caetano, um dos filhos de Mafrano, disse que a obra é uma recolha de textos de antropologia cultural de várias regiões de Angola, sobretudo, nas províncias do Bengo, Cabinda, Cuanza-Norte, Luanda e Malanje, para além de algumas referências históricas do Planalto Central.

Muitas palmas para a brilhante intervenção de Venceslau Casese: “Mafrano mostrou que temos uma cultura comum”!

Prof. Dr. Venceslau Casese

Apresentação do segundo volume de «Os Bantu na Visão de Mafrano – Quase Memórias», extractos da intervenção do Prof. Dr. Venceslau Casese (*)

Quero, em primeiro lugar, saudar Sua Majestade o Rei do Huambo; a ilustre família Mafrano e, finalmente, saudar de igual modo a todas e todos os presentes!

Agradeço em ter sido convidado a apresentar esta magna obra e também agradecemos em ter sido contemplada a província do Huambo para colher este acto de apresentação da obra do Sr. Maurício Francisco Caetano, “Mafrano”, num dia em que comemoramos mais um aniversário da Libertação da África Austral.

Maurício Francisco Caetano é uma figura que se deu à grande pesquisa da cultura dos povos Bantu, à semelhança de outras ilustres figuras como Carlos Estermann, Heli Chatelin, Óscar Ribas, Raúl Altuna, Mário Milheiros, dentre outros tantos.

Em poucas palavras, podemos dizer que Mafrano tocou em todos os aspectos da vida dos Bantu, desde a dimensão social, cultural, política, religiosa e até mística.

Como dominador da cultura greco-latina faz um paragono, ou comparação, entre a concepção do mundo negro-bantu e a indo-europeia, sobretudo no concernente a mitos, mitologias, lendas, ciências, técnicas, tecnologias; filosofias e outros saberes da vida, chegando à sublime conclusão de que o que nos separa é muito insignificante. Com esta abordagem, desabam por terra os preconceitos contra os ditos aborígenes, como seres desprovidos de valências humanas como acontece com outros seres humanos de outras latitudes ou geografias.

Mafrano considerado, como um dos maiores senão mesmo o maior antropólogo de Angola, por sua Reverendíssima Dom Zacarias Kamwenho, constitui motivo de orgulho para Academia Angolana e exemplo a seguir para os estudantes de diversos níveis e para o escol de investigadores de Ciências Sociais, Filosóficas, Antropológicas, Culturais e quiçá Humanas no seu verdadeiro sentido.

Parabéns família Mafrano, parabéns Angola e parabéns África Negro-bantu, em particular.

Feito no Huambo aos 23 de Março de 2024.

VENCESLAU CASESE
(*) Historiador, antropólogo e linguista.

Os elogios à obra de Mafrano pelo Chefe do Departamento da Cultura do Governo do Huambo. Na mesa de honra, da esquerda à direita: Venceslau Casese, Apresentador; Mariana Caetano, filha mais velha do autor, e Pascoal Nhanga, Chefe do Departamento de Cultura do Governo Provincial do Huambo

O Rei do Huambo, Sua Majestade Artur Moço

Volume II
Volume I

Com Inês Bandua membro da corte do Rei do Huambo e soba do Bairro da Chiva.
À direita, o Prof. Dr. Venceslau Casese, apresentador da obra

Angola regista 3031 autores com livros publicados entre 1642 e 2022

Angola regista 3031 autores com livros publicados entre 1642 e 2022

Está disponível para pré-encomenda a nova edição do livro “Autores e Escritores de Angola 1642-2022” (Ed. 2024), de Sedrick de Carvalho e Tomás Lima Coelho. São duas edições conjuntas, em Angola editada pela Elivulu Editora e em Portugal publicada pela Perfil Criativo – Edições.

Sobre esta obra recordamos as palavras do poeta Adelino Torres in Prefácio da Primeira Edição: “Este verdadeiro guia de Autores e Escritores de Angola é, sem dúvida, pela sua evidente utilidade, uma obra que se revelará indispensável para os poetas e escritores angolanos.
O esforço abrangente de recolha do que se tem produzido desde os tempos mais longínquos que é possível alcançar em matéria de publicações na literatura angolana, foi um critério acertado.

Na alocução da apresentação da 1ª Edição em 2016 o médico Miguel Kiassekoka: “O livro tem a particularidade de apresentar a Angolanidade, espalhada no mundo inteiro, desde 1642 aos nossos dias. Tomás Lima Coelho tem o mérito de não fechar essa Angolanidade nos marcos de um incompreensível chauvinismo registado ultimamente, ligado a um certo preconceito de “genuinidade” que tanto mal já provocou no continente berço, a nossa África.”

Relativamente à passagem de testemunho de Tomás Lima Coelho a Sedrick de Carvalho, editor da Elivulu, o actual ministro da Cultura de Angola, Filipe Zau, escreveu na segunda edição (edição de bolso) “Tempo de Maturação e Abertura à Descoberta”: “É certo que a dinâmica cultural de saída a público de mais publicações faz com que este trabalho ganhe um carácter permanente, como forma de se manter sempre actualizada a informação bibliográfica. Talvez por isso, Tomás Lima Coelho
tenha ultimamente solicitado o pedido de passagem de testemunho…”

O editor da Elivulu, Sedrick De Carvalho, registou as dificuldades deste projecto, no texto “O Desafio da Continuidade e a sua Necessidade”, publicado nesta nova edição: “O processo de recolha e registo exige imensa disponibilidade, além do que julgava à partida. O contacto directo com editoras, escritoras e escritores, livrarias e alfarrabistas a pedir informações sobre determinados livros e suas biografias traduziu-se numa colossal aventura.”

Para o editor da Perfil Criativo a passagem de testemunho entre autores e editores é um processo positivo de cooperação, desenvolvimento e divulgação deste enorme registo. Esta é uma obra única, nos territórios da língua portuguesa, que muito dignifica a República de Angola. Fica o agradecimentos a todos os que apoiaram e divulgaram esta publicação inédita, sem esquecer que este trabalho foi apresentado com muito sucesso em Lisboa, na sede da CPLP (2016), e em Luanda, na sede da União de Escritores Angolanos (2017).

Tomás Lima Coelho

Tomás Daniel Gavino Lima Coelho nasceu em Moçâmedes, Angola, em 5 de outubro de 1952. É o mais velho de cinco irmãos, todos naturais de Angola. O pai, Ápio de Andrade Coelho (1918-1983), nascido no Lobito, filho de um minhoto natural de Braga que arribou Angola em 1898, descendia pelo lado materno de uma família angolana originária do Ambriz. A mãe, Maria Lúcia Gavino (1928-1988), nascida em Aljustrel, chegou a Angola com apenas seis meses de idade, e pertencia a uma família muito conhecida em terras do Sul. Sendo o pai funcionário da Fazenda Nacional, e por isso sujeito a transferências sucessivas, percorreu desse modo grande parte do território angolano. A primeira deslocação, aos 6 anos de idade, foi para Lândana, no enclave de Cabinda, onde nasceu o seu irmão António Manuel (1959) (durante a viagem de Moçâmedes para Lândana nascera a sua irmã Maria da Luz (1958), a bordo do navio “Império”). Depois rumaram a Caconda onde nasceu outro irmão, Luís Pedro (1963). Seguiram-se Camacupa, Caála e, finalmente, Malanje, onde nasceu Miguel, o mais novo dos irmãos (1973). Fugindo da guerra civil que assolou Angola, em 1975, através da ponte aérea viaja com toda a família para Portugal. Aqui reside desde então. É casado com a malanjina Ilda Coelho (1954), artista plástica, tem dois filhos, Daniel (1980) e Inês (1985), e uma neta, Mariana (2008). Sobre as suas origens, naturais e afectivas, gosta de se definir com as palavras do poeta: “No Namibe vi a primeira luz do dia, mas foi em Malanje que nasci.”

PUBLICAÇÕES

Chão de Kanâmbua (ou “O Feitiço de Kangombe”). Chiado Editora, 2010. 1ª edição. Prefácio de Manuel da Maia Domingues. Capa de Guilherme Gustavo Condeixa. 184 páginas. ISBN 978-989-8389-22-0 (com uma segunda edição em 2015)

Autores e Escritores de Angola (1642-2015). Perfil Criativo, 2016. 1ª edição. Prefácio de Adelino Torres. Capa de Ricardo Rodrigues. C/ fotografias. 350 páginas. ISBN 978-989-98398-8-5

Autores e Escritores de Angola (1642-2018). Alende/Perfil Criativo, 2019. 1ª edição de bolso. Prefácio de Filipe Zau. Capa de Ricardo Rodrigues. 643 páginas. ISBN 978-989-54354-3-2

PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS E COLECTÂNEAS

Ocultos buracos. Histórias Horríveis ou Impossíveis. Pastelaria Studio, 2012. 1ª edição. 556 páginas. ISBN 978-989-8629-03-6 (conto “O segredo”, pág. 535)

Antologia de Poesia Contemporânea. Volume III. Entre o sono e o sonho. Chiado Editora, 2012. 1ª edição. Selecção e organização de Gonçalo Nuno Martins. 479 páginas. ISBN 978-989-697-527-2 (poema “Ali, bate o meu coração”, pág. 465)

Antologia de Poesia Contemporânea. Volume IV. Entre o sono e o sonho. Tomo II (J-Z). Chiado Editora, 2013. 1ª edição. Selecção e organização de Gonçalo Nuno Martins. 634 páginas. ISBN 978-989-51-0290-7 (poema “Sonhar sempre”, pág. 600)

Alhos Vedros da minha alma. Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro de Alhos Vedros, 2013. 1ª edição. 204 páginas. (crónica “Bebé a bordo! ou como não se pode mandar na Mãe-Natureza”, pág. 201)

Taras de Luanda. Organização de Eduardo Águaboa e Luís Fernando. Caxinde Edições, 2016. 2ª edição ampliada. Prefácio de Jacques Arlindo dos Santos. Capa sobre pintura de Guilherme Mampuya. 273 páginas. ISBN 978-989-8498-53-3 (crónica “Tara por uma certa Luanda”, pág. 14)

Meus poemas, meus amores. Círculo de Animação Cultural de Alhos Vedros, 2020. 1ª edição. 135 páginas. ISBN 978-989-8983-66-4 (poemas “Sou de lugar nenhum” e “Paz”, pág. 133 e 135)

OBRAS PREFACIADAS

– CANÇÕES AO VENTO, de Soberano Canhanga. Edição de Autor, 2015. 30 páginas.

– BRANCO NO PRETO, PRETO NO BRANCO, de Salvina Ribeiro. DG Edições, 2016. 244 páginas. ISBN 978-989-8661-58-6

VIAGENS À LIBERATURA. POÉTICA DA GERAÇÃO ENSONADA PARA O ALVORECER, de Igor de Jesus, Shafu Duchaque e Nazário Muhongo. Perfil Criativo, 2017. 115 páginas. ISBN 978-989-99756-5-1

– PRAIA DA MIRAGENS, de Cacimbué. Organismos Populares de Base da Baixa da Banheira, 2017. 113 páginas. ISBN 978-989-99952-3-9

ÁFRICA EM MIM, de Maria Manuela Rocha. Perfil Criativo, 2017. Capa sobre pintura da Autora. 54 páginas. ISBN 978-989-99756-8-2

– DOIS CORVOS AMARELOS, de Bernardete Pinheiro e Matamba Joaquim. Obnósis Editora, 2018. 53 páginas. ISBN 978-989-8920-01-0

DOUTRINA COM FABULAÇÕES, de J. A. S. Lopito Feijóo. Perfil Criativo, 2019. 69 páginas. ISBN 978-989-54517-3-9

– 10 + 3 ESTÓRIAS REAIS… OU NEM TANTO, de Da silva. Modocromia Edições, 1924. 1ª edição. 57 páginas. ISBN 978-989-35581-1-9 

Sedrick de Carvalho

Sedrick de Carvalho nasceu em 1988, em Luanda. Jurista, editor, jornalista e activista. Foi professor do ensino de base. Fundador e coordenador editorial da ELivulu Editora.

Trabalhou nos jornais Folha 8 e Novo Jornal e tem artigos publicados em jornais em Portugal. Consultor de comunicação e imagem.

Co-fundador da associação cívica Uyele, da qual foi presidente de direcção (2022-2024). Membro da Transparência Internacional – Portugal.

Autor dos livros Prisão Política (2021, Perfil Criativo, Lisboa; 2022, Elivulu Editora, Luanda) e Cabinda: Um Território em Disputa (Org.) (2018, Guerra e Paz, Lisboa, Lisboa).

Viúva de Amílcar Cabral agraciada em Luanda

Viúva de Amílcar Cabral agraciada em Luanda

Luanda, 14 de Março – Ana Maria Cabral, a viúva do fundador do PAIGC, Amílcar Cabral, foi presenteada esta quinta-feira, em Luanda, com os dois primeiros volumes da colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano – Quase Memórias», do escritor e etnólogo angolano Maurício Francisco Caetano

A colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano», antropologia cultural, contém um depoimento do médico angolano Manuel Rodrigues Boal, que que foi aluno de Mafrano em Luanda, e também um velho companheiro de Amílcar Cabral durante a luta de libertação na Guiné-Bissau.

Testemunhada pela filha, Indira Cabral, a oferta foi feita por Lusíndia Caetano, neta do etnólogo angolano, e decorreu momentos antes do regresso de ambas para a cidade da Praia, em Cabo-Verde.

Ana Maria Cabral e a filha Indira estiveram em Luanda como convidadas de honra do Colóquio Internacional sobre o Centenário de Amílcar Cabral, realizado no passado dia 12 de Março em Luanda.

O colóquio teve como oradores o antigo Presidente de Cabo-Verde e actual presidente da Fundação Amílcar Cabral, o comandante Pedro Pires, que falou por vídeo conferência, o historiador angolano Cornélio Caley, o moçambicano Óscar Monteiro, e Julião Soares de Sousa, da Guiné-Bissau

Segundo registos históricos, Amílcar Cabral esteve em Angola, entre 1955 e 1958, como engenheiro agrónomo, tendo trabalhado nas Fazendas Cassequel, Tentativa e São Francisco.  A Fazenda Tentativa onde mais se destacou entre 1956 e 1957,  era então a segunda maior produtora de cana de açucar deste território. Politicamente, Cabral destacou-se pela participação activa na mobilização anti-colonial e na criação de redes clandestinas de resistência, ao manter contactos com figuras de proa do nacionalismo angolano.

A colectânea «Os Bantu na visão de Mafrano», antropologia cultural angolana, foi apresentada na cidade da Praia, com a presença de figuras de proa como o cardeal de Cabo-Verde, Arlindo Gomes Furtado, a Embaixadora de Angola naquele país, Júlia Machado, o médico angolano Manuel Rodrigues Boal, a historiadora cabo-verdiana Antonieta Lopes, a escritora Vera Duarte, o também escritor e ex-embaixador Eugénio Inocêncio e o ex-presidente e escritor Jorge Fonseca.

Volume II
Volume I

Cidade do Huambo apresenta obra de Mafrano

Orlando Castro no “Mar de Letras”

Orlando Castro no “Mar de Letras”

Saiu de Angola, mas Angola não saiu dele e é a este país que regressa nos seus escritos. Orlando Castro está de regresso ao Mar de Letras com um livro de poesia, marcado pela dor dos tempos em que foi obrigado a deixar o seu país, e com um livro de vivências pessoais com a UNITA, incluindo com Savimbi. Uma conversa a não perder no Mar de Letras desta semana.

Episódio 11 de 47 Duração: 33 min

  • 20 Mar 2024 — 21:30 — RTP África
  • 24 Mar 2024 — 06:30 — RTP África
  • 25 Mar 2024 — 02:30 — RTP África

Luís Gaivão no “Mar de Letras”

Luís Gaivão no “Mar de Letras”

Luís Gaivão é um homem do Sul, nascido em Angola. Na sua escrita gosta de aliar o texto ao desenho e é com humor que gosta de contar a História e as histórias. Nos últimos tempos tem-se dedicado a escritos mais académicos e neste programa traz-nos novas obras que nos falam do escritor angolano Manuel Rui e dos conceitos de colonialismo, colonialidade e epistemologia descolonial.

RTP África — Episódio 10 de 47 Duração: 33 min

  • 13 Mar 2024 — 21:33 — RTP África
  • 17 Mar 2024 — 06:30 — RTP África
  • 18 Mar 2024 — 02:30 — RTP África

Faleceu o poeta Adelino Torres.

Faleceu o poeta Adelino Torres.

POR TOMÁS LIMA COELHO

Perdi um amigo.

A sociedade perdeu um resistente antifascista, um economista, um professor, um ensaísta.

E um poeta, que era como ele gostaria de ser recordado quando partisse, confidenciou-me um dia.

Retenho o tempo que passei ouvindo-o falar de Angola, da resistência ao colonialismo, das clandestinidades, dos episódios em Argel e Paris, da sua vida de docente em França, país que lhe concedeu a nacionalidade.

Ou ainda o entusiasmo com que me falava dos filósofos africanos, de quem era estudioso e um profundo conhecedor, sendo ele também um filósofo, conforme se avalia num poema seu que aqui deixo.

E expresso a minha eterna gratidão pela sua generosidade em ter prefaciado e participado na apresentação do meu trabalho sobre os Autores e Escritores de Angola, na sede da CPLP em 2016.

Estamos juntos, Adelino Torres, meu amigo poeta.

INUTILIDADE

A questão dos mortos que morreram,

o que lhes acontece e para onde vão

é um dilema filosófico

sem alcance nem utilidade,

tão inútil como um sonho

que se desvaneceu ao acordar.

Ocupemo-nos antes dos vivos

da dor e do remorso

que podem ser recuperados

quando alguma coisa vale a pena.

(in Vida Breve, 2016)


Informação sobre as cerimónias fúnebres:

Domingo (10 de março), das 17h00 às 22h00: Velório na Capela Mortuária da Igreja da Parede
Segunda-feira (11 de março), das 13h30 às 15h00: Homenagem na Capela Mortuária da Igreja da Parede; às 16h00: Crematório de Rio de Mouro, Sintra

Fonte: ISEG

Biblioteca Provincial do Huambo apresenta obra de Mafrano

Biblioteca Provincial do Huambo apresenta obra de Mafrano

O Gabinete Provincial da Cultura, Turismo e Ambiente, a família de Maurício Francisco Caetano e o editor convidam V/ Ex.a para a apresentação do segundo volume da colectânea “Os Bantu na visão de Mafrano — Quase Memórias“, de Maurício Francisco Caetano (1916-1982), na Biblioteca Provincial do Huambo, no dia 23 de Março de 2024, às 11h00.

Biblioteca Provincial do Huambo

Figueira da Foz esgota livros do “Sul”

Figueira da Foz esgota livros do “Sul”

24/02/2024 — Cinquenta anos após o 25 de Abril de 1974, o poeta António Manuel Monteiro Mendes apresentou o seu mais recente livro de poesia “Sul“, na Figueira da Foz. Terra que acolheu o autor como refugiado, em fuga à violência que escalou o processo de independência de Angola entre 1974 e 1975.

Álvaro Poeira é um pseudónimo de António Manuel Monteiro Mendes. O poeta nasceu no Mavoio, muito próximo de Maquela do Zombo e de Mbanza Kongo (São Salvador do Congo).

Na apresentação do livro “Sul” na Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, estiveram na mesa de honra para além do autor e do editor da Perfil Criativo, os antigos colegas São Simão, José Veríssimo e Carlos Santos, director deste estabelecimento de ensino. Os antigos colegas do liceu encheram a sala e levaram praticamente todos os exemplares disponíveis.

Palavras do poeta no dia seguinte

Ontem.

No significado do que passou.

Do agradecimento que ficou.

Tantos amigos, tantos.

Ontem. Hoje.

Na amizade que perdurou.

No abraço que foi partilhado.

Tantos senhores, senhoras, meninos, meninas, tantos amores.

Amanhã.

A rotina regressa. A memória é uma seta.

Besta. Doença. Benção.

Todos são palavras de ontem.

Serão frases de amanhã.

Obrigado, muito obrigado aos meus amigos do recreio, pátio interior, corredor e salas de aulas.

Partilha de segredos de intenso valor.

Refúgio do amor.

Obrigado.

Sobraram dois. Dois livros.

Aquela geração é assim.

Um hino à amizade.

Figueira da Foz apresenta obra de poeta do Mavoio (Angola)

Figueira da Foz apresenta obra de poeta do Mavoio (Angola)

O autor, António Manuel Monteiro Mendes, e o editor da Perfil Criativo – Edições têm o gosto de convidar V. Ex.ª para a apresentação do livro “SUL“, de Álvaro Poeira, na Escola Secundária Dr. Joaquim de Carvalho, no Sábado, 24 de Fevereiro de 2024, às 15h00.

O Outro Lado da Poesia

Nasci entre paredes cobertas no Miombo,

numa casa muito simples de cor branca, 

colocaram-me num cesto de verga em colchão 

almofadado, num país de Vales Verdes, 

Mandioca, Penhascos de Arenito, Imbondeiro, Múcua seu fruto inteiro.

*

Ali nascido, como diria mais tarde a poetisa, 

“de eu te dar sem tu dares(…)

morre o florir de mil pomares(…)

*

Cresci sem ver as Rosas de porcelana, 

fendas do Bimbe, o Morro Maluco 

só vi de longe nas viagens 

para Capunda-Cavilongo. 

Nunca aspirei a brisa molhada

das Quedas de Kalandula nem vi,

na copa das árvores 

o Macaco azul, nem as pedras 

em Pungoandongo.

*

Ali crescido, ainda não lido, como escreveu

outro poeta, “não me deixes perder o que me é,

acrescento eu, que por amor do outro lado, 

me foi dado”. 

*

Depois, numa madrugada ou manhã, 

de avião aterrei, num local onde meu pai e mãe

foram gerados, cada um em praias e rios, 

montes e montanhas separados…

*

Me abraçaram sem culpa nos seus olhos e, 

o poeta, de novo me deu alento, acenando-me que,

os meus pais o que queriam era um outro eu,  

o do outro lado da poesia, dito agora sem alarde

ao senhor, “que por eles, sim, 

vim decorar as águas dos seus rios com folhas 

deste Continente, agora, meu outono 

para sempre perturbado(…)

*

A Serra do Pingano, Rio Curoca, as halófitas,

Dunas brancas, Lírios d’agua da Lagoa 

dos Arcos, a Palanca Negra Gigante, Golungo 

e Boi-Cavalo, Zebra e Pacaças, que chegavam mortas,

atadas num jipe perto da minha casa, 

dividida a carne dos animais, por menos, 

por tantos outros mais. 

*

As Pedras Malachitas e Cupritos numa mina sita

na savana tropical molhada, a um sonho 

do Maiombe, longe das miragens do deserto, 

pedras semipreciosas ametistas outra vez mais 

a norte, miragens no asfalto a caminho 

do Porto pesqueiro do Pinda, 

mais a sul o Tômbwa.

*

Tudo isto é detalhe esculpido no meu rosto. 

*

Marcado a cinzel com bravura soube sempre. 

Uma escultura no Minho, Trás os Montes,

Beira Litoral, Baixa, vejo nos meus olhos

as velas na minha baía, errantes, sem ondas

de grande altura, morrendo breve, brevemente,

sem espuma, por acção do peito meu, que,

apesar da intensa espera, em quase nada

se pinta ou se altera.

*

Tenho a outra poesia numa escultura de ébano,

num coração retido no limiar de tanto rio,

nas margens da selva, e cresci assim, sem saber 

que um lá outra eira a do tio Joaquim,

me sentaria na beira descaroçando o milho.

*

A soberba dos projécteis disparados sem rigor 

mataram irmãos e meninos, mulheres

e homens para sempre cegos e feridos.

*

Cresci na leitura. 

No leito de uma cama nunca minha. 

Casas de berço foi só uma de vivência.

Corri o meu país de carro, comboio, barco

e avião e aí foi uma dezena, que, apesar

de pequeno me cedeu sementes de cultura.

*

Não me lembro de tudo, quase nada ficou,

apenas uma parte do nada de ti…

*

Nesse jogo, para lá da outra poesia, 

entre o mato, as picadas, mosquitos, animais 

de porte, lacraus e cobras verdes, fendas 

e massango, massambala, 

uma espécie de sorgo foi expulso. 

Numa tarde de vento quente quente 

imaginário, perto do fim da estação seca, 

fui escorraçado e na parte de trás 

de uma carrinha fiz uma última viagem 

como pendura.

Como refugiado.

*

Não sei como cresci…

*

Morri. 

Tenho a árvore da chuva que me dá água. 

*

O capim de sangue quase esgotado. 

Mas não, não posso dizer nada

sem o outro lado de um esgar, num poema,

ou um sufoco na garganta, uma convulsão

no peito, um som que não sai pela boca. Nada.

*

Escrevo a poesia, esta…de te amar,

vendo-te permanentemente sem te poder tocar.

ÁLVARO POEIRA

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Álvaro Poeira*

Todos os textos são da autoria de António Manuel Monteiro Mendes, bem como os seus pseudónimos.

Nasceu em 1959. Numa pequena povoação no norte de Angola. Mavoio. Junto ao rio Tetelo. Filho de pais sem posses, mãe doméstica e pai serralheiro mecânico, viajou com eles e sua irmã, por Angola. Pouco tempo foi.

Em 1974, foi expulso da sua terra Natal.

Não conheceu a casa nem a terra onde a sua mãe o deu à luz. Veio como refugiado para Portugal. Quebrado.

Em estilhaços que ainda hoje tenta colar.

Tem três filhas de dois casamentos.

Viveu em tantas casas que só algumas retêm a sua memória.

Escreve desde sempre. Este é um pequeno grito de outros milhares que redigiu. Sabe, tem consciência que outros contos, lendas, prosas poéticas e poemas barafustar sob um Embondeiro,aclamando na sua justiça, pela identidade do autor, que aqui teriam lugar.

Não dá… Um dia, todas letras voarão por lá…

*Alberto Poeira e Álvaro Poeira, são pseudónimos de António Manuel Monteiro Mendes


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