“Michel” chega a Lisboa para partilhar o seu testemunho dramático sobre os campos de concentração

Lisboa, 19/05/2025 — Acaba de chegar a Lisboa Miguel Francisco, conhecido pelo pseudónimo literário Michel, sobrevivente dos campos de concentração em Angola e autor do impactante livro Nuvem Negra – O Drama do 27 de Maio de 1977. O autor desloca-se à capital portuguesa para participar no lançamento da nova edição da obra, que terá lugar no próximo dia 27 de maio de 2025, às 19h00, na Biblioteca Palácio Galveias.
Mais do que um livro, Nuvem Negra é um grito de memória. É o relato cru, vivido e doloroso de um homem que sobreviveu à violência política desencadeada após os acontecimentos do 27 de Maio de 1977, data marcada por uma insurreição popular em Angola seguida de uma repressão em massa, prisões arbitrárias, execuções sumárias e detenções em campos secretos como o da Calunda, no Moxico.
“A morte já não é algo que me faça temer. Já estou morto”, escreve Michel, descrevendo os dias de terror sob vigilância armada, fome, tortura e abandono.
Nascido a 27 de setembro de 1955, em Dala-Cachibo, Província do Kuanza-Sul, Miguel Francisco é licenciado em Direito pela Universidade Agostinho Neto, advogado e professor universitário. Militante do MPLA desde a juventude, viu-se acusado de envolvimento com a chamada “Intentona Fraccionista” e foi preso sem julgamento. O que viu, ouviu e viveu durante o seu cativeiro transformou-se num poderoso testemunho histórico, com potencial de esclarecer e comover leitores de várias gerações.
“Nunca, por nada deste mundo, aceitarei silenciar a existência daquele Campo”, escreve o autor, que dedicou o livro à memória dos companheiros que “não puderam regressar”.
Com apoio do Consulado-Geral de Portugal em Luanda, foi possível viabilizar a vinda do autor a Lisboa, garantindo a sua participação num evento que promete marcar a agenda literária e cultural do ano.
NUVEM NEGRA não é apenas um livro sobre Angola. É uma narrativa urgente sobre a necessidade de verdade, justiça e reconciliação, que toca em temas universais como os abusos de poder, a memória coletiva e a dignidade humana.
O lançamento será aberto ao público. Uma oportunidade rara para ouvir, em primeira mão, um dos testemunhos mais intensos da história contemporânea africana, agora revisitado e apresentado no coração de Lisboa.
