NOTA DO EDITOR JOÃO RICARDO RODRIGUES
Não foi com surpresa que recebi a informação, por parte do irreverente jornalista Orlando Castro, nosso autor, de que a leitura do livro “Eu e a UNITA” tinha sido proibida pela liderança do partido político UNITA. Nas redes sociais, o diretor-adjunto do Folha 8 escreveu: “Vários testemunhos dizem-me que a Direção da UNITA aconselha (ordena) os seus militantes a não lerem o meu livro ‘Eu e a UNITA'”.
Em privado, revelou-me que houve algumas pessoas que lhe manifestaram medo de ler o livro e que o fizeram às escondidas nas suas viagens a Portugal. Esta semana, o jornal Folha 8 publicou o artigo “Todos os ditadores têm medo da liberdade”, onde Malundo Paca, com base na mesma informação, afirmou: “A intolerância política não só enfraquece a democracia, mas também cria um ambiente de medo e desconfiança. Os cidadãos começam a autocensurar-se, temendo repercussões por expressarem as suas opiniões. Isso leva a um empobrecimento do debate público e a uma sociedade menos crítica e participativa.”
A Perfil Criativo existe há vinte anos (2004-2024) e publica livros, raros, desde 2015, maioritariamente de autores de Angola, com mais de cem títulos publicados em diversas áreas: Poesia, Romance, Conto, Música, Filosofia, Antropologia, Memória, Crónica, História, Jornalismo, Economia, Política, Educação, Técnico e Científico.
Neste complexo processo, privilegiámos a voz dos jornalistas, demos vida a manuscritos esquecidos em gavetas, a estudos académicos e incentivámos os mais velhos a registarem no papel as suas memórias.
Em 2022, na antiga Fortaleza de São Miguel (Luanda), numa sessão inédita perante um conjunto alargado de representantes da atual sociedade angolana, incluindo antigos combatentes da Luta de Libertação, afirmei que o nosso propósito era apenas ajudar na “Democratização do Conhecimento” e ao mesmo tempo manter abertas as pontes culturais entre os nossos países.
Quem tem participado nos nossos eventos públicos sabe que damos sempre a palavra à assistência e que não nos coibimos de trazer temas complexos e de sentar lado a lado pessoas com ideias diferentes.
Dar aos nossos leitores a possibilidade de contestar ou corrigir os nossos livros é um princípio de que não abdicamos, por este motivo é um choque ouvir alguém dizer que se sente impedido, proibido, de ler um dos nossos livros.
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