NOTA DO EDITOR (ACTUALIZADA): JOÃO RICARDO RODRIGUES
Os acontecimentos da disseminação do COVID-19 que acompanhámos à escala mundial, muito através das redes sociais digitais, revelaram uma alteração nos comportamentos dos consumidores. A simples ida a uma livraria foi substituída pela compra à distância, hábito do período de quarentena alargado a muitos meses de distanciamento social necessário para a contenção da doença epidémica. A partir desse momento, passou a existir um desafio enorme para a rápida adaptação, do pequeno comerciante ao grande industrial, à nova realidade que implica o desenvolvimento e utilização de plataformas on-line, de acesso universal, muito especializadas na comunicação e comercialização de produtos e serviços. Foi nesse cenário muito desafiante, que apresentámos o livro “110 ERROS QUE PREJUDICAM A SUA LOJA ONLINE”, de Vera Maia (ecommerce specialist), Sónia Costa (social media specialist), Nelson Peixoto (performance marketing specialist), Bárbara Peixoto (ecommerce specialist), Antoine Soares (performance marketing specialist), uma parceria entre a nossa editora e a “Tudo sobre eCommerce”, uma jovem empresa portuguesa com muita experiência no desenvolvimento de projectos de comércio electrónico. É também mais um livro que associamos aos nossos projectos editoriais de Marketing Digital, um território fundamental para a promoção de novas relações comerciais e também para a internacionalização e exportação de produtos e serviços à escala global, ou em territórios muito específicos em qualquer dos cinco continentes. É por este motivo, e na necessidade de não se perder tempo nem dinheiro com erros já identificados, que lançamos esta obra no circuito nacional e internacional de comercialização de livros em língua portuguesa. Um antídoto à apreensão, ao pessimismo e à desistência, uma verdadeira ferramenta para responder com sucesso ao maior desafio do nosso tempo.
This Editor’s Note was published in the first volume (2022).
According to the Portuguese news agency LUSA, a team has mapped the genetic trail of Bantu populations from their region of origin, at the current border between Nigeria and Cameroon, through their process of expansion across Sub-Saharan Africa and their migration to North America. The article “Dispersals and genetic adaptation of Bantu-speaking populations in Africa and North America,” published by Science Magazine (a scientific journal from the USA) in May 2017, reveals that almost all populations of Sub-Saharan Africa, below the Equator, descend from this ethnic group, which migrated there five thousand years ago.
Interestingly, in studying a population from Angola for the first time, researchers found that this region played an important role in the dispersal of this large group. They confirmed the “late split” model, meaning that migration first moved toward the region that is now the Republic of Angola, where it split into two waves: one that continued south along the west coast to South Africa, and another that first moved east toward the Great Lakes region, and then southward along the east coast, reaching Mozambique and, eventually, also South Africa. The study’s results revealed that Eastern and Southern Bantu populations have more genetic similarity to Angolan populations than they do with each other or with the original population further north. (2)
We recall that at the end of last year (2021), we presented the art exhibition BOBA KANA MUTHU WZELA | Here It Is Forbidden to Speak!, at the National Museum of Ancient Art in Lisbon, where we revealed a Bantu genetic presence in the Portuguese population and strong Angolan roots in the city of Lisbon since the 15th century. Despite the ties that have united them for over five hundred years, Bantu and Portuguese people have not, in our time, created exchanges that could enhance their past or future cultural interactions. Proof of this is the profound lack of knowledge within European societies about these intercultural relations. (3)
It is in this context that we publish and present this year (2022), in Angola and Portugal, the first volume of a collection of four books on our Bantu cultural heritage, organised from short articles by a prominent figure in 20th-century Angolan society, Maurício Francisco Caetano (1916-1982) — known as Mafrano, originally published in the old Catholic Church newspaper, O Apostolado.
We take this opportunity to applaud the desire and perseverance of the author’s family in bringing the memory of a man of Culture like Maurício Francisco Caetano to light in our time, allowing for a deeper understanding of Bantu civilisation.
(1) See foreword by Zacarias Kamwenho in this edition (2) Portuguese news agency Lusa, 5 May 2017 (3) Catalogue of the exhibition BOBA KANA MUTHU WZELA | Here It Is Forbidden to Speak!, p. 14, Perfil Criativo Edition, Lisbon, 2021, ISBN 978-989-53348-1-0
Passou quase uma década desde que na tarde da sexta-feira de 30 de Outubro de 2015, na desaparecida livraria Bulhosa de Entrecampos (Lisboa), em conjunto com a editora Vivências Press, concretizámos, com muito sucesso, o lançamento do nosso primeiro livro “Essências e Vivências” (Ed. 2015), do jornalista Armindo Laureano.
Esta foi uma edição comemorativa do 40º aniversário da República de Angola, depois de o autor ter recebido o Prémio Maboque de Jornalismo em 2014, na categoria de Entrevista. Nessa altura, escrevi na Nota do Editor: “Este é o nosso contributo para conhecermos uma outra face do país irmão, mas também para sentir aquilo que nos une, redescobrindo nas palavras de lá, a nossa própria identidade.”
Foi um primeiro passo com o Laureano que me levou a palmilhar Portugal de Norte a Sul, e a capital de Angola, com o objectivo de promover a(s) cultura(s) dos dois países, em grandes encontros de apresentação de novos autores e de muitas obras inéditas.
Na memória colectiva ficou registado o inesquecível lançamento do livro “Autores e Escritores de Angola (1642-2015)”, de Tomás Lima Coelho, (Ed. 2016), que encheu a União dos Escritores Angolanos. Partimos os dois para Luanda numa altura em que este livro estava envolvido numa artificial polémica racialista e política, alimentada pelos mais radicais do partido-estado.
Recordo outro grande encontro, na Casa da Imprensa (Lisboa), onde lançámos o livro “Comunicação, o Espelho de um País” (Ed. 2017), de Wylsony dos Santos. Estávamos nas vésperas da chegada ao poder de um novo inquilino, e este surpreendente livro era uma reflexão pluralista e actual sobre os limites profissionais dos diferentes sectores da Comunicação Social.
Entretanto, o Armindo Laureano assumiu a direcção do semanário “Novo Jornal”, revelando verticalidade, cultura, qualidade e principalmente uma assunção dos princípios do jornalismo livre, tornando este semanário num exemplo maior de liberdade de expressão.
Para melhor compreender esta caminhada, apresentamos o segundo volume da Colecção Novo Jornal, que integra um conjunto alargado dos últimos editoriais.
Como diz o director “Entre nós há sempre histórias para contar…”
Não foi com surpresa que recebi a informação, por parte do irreverente jornalista Orlando Castro, nosso autor, de que a leitura do livro “Eu e a UNITA” tinha sido proibida pela liderança do partido político UNITA. Nas redes sociais, o diretor-adjunto do Folha 8 escreveu: “Vários testemunhos dizem-me que a Direção da UNITA aconselha (ordena) os seus militantes a não lerem o meu livro ‘Eu e a UNITA'”.
Em privado, revelou-me que houve algumas pessoas que lhe manifestaram medo de ler o livro e que o fizeram às escondidas nas suas viagens a Portugal. Esta semana, o jornal Folha 8 publicou o artigo “Todos os ditadores têm medo da liberdade”, onde Malundo Paca, com base na mesma informação, afirmou: “A intolerância política não só enfraquece a democracia, mas também cria um ambiente de medo e desconfiança. Os cidadãos começam a autocensurar-se, temendo repercussões por expressarem as suas opiniões. Isso leva a um empobrecimento do debate público e a uma sociedade menos crítica e participativa.”
A Perfil Criativo existe há vinte anos (2004-2024) e publica livros, raros, desde 2015, maioritariamente de autores de Angola, com mais de cem títulos publicados em diversas áreas: Poesia, Romance, Conto, Música, Filosofia, Antropologia, Memória, Crónica, História, Jornalismo, Economia, Política, Educação, Técnico e Científico.
Neste complexo processo, privilegiámos a voz dos jornalistas, demos vida a manuscritos esquecidos em gavetas, a estudos académicos e incentivámos os mais velhos a registarem no papel as suas memórias.
Em 2022, na antiga Fortaleza de São Miguel (Luanda), numa sessão inédita perante um conjunto alargado de representantes da atual sociedade angolana, incluindo antigos combatentes da Luta de Libertação, afirmei que o nosso propósito era apenas ajudar na “Democratização do Conhecimento” e ao mesmo tempo manter abertas as pontes culturais entre os nossos países.
Quem tem participado nos nossos eventos públicos sabe que damos sempre a palavra à assistência e que não nos coibimos de trazer temas complexos e de sentar lado a lado pessoas com ideias diferentes.
Dar aos nossos leitores a possibilidade de contestar ou corrigir os nossos livros é um princípio de que não abdicamos, por este motivo é um choque ouvir alguém dizer que se sente impedido, proibido, de ler um dos nossos livros.
Na próxima semana estes pequenos livros, carregados de poesia irreverente, chegam a Luanda.
NOTA DO EDITOR: JOÃO RICARDO RODRIGUES
Depois de termos publicado, na colecção “Poesia no Bolso”, a geração mais recente de poetas de Angola, decidimos, no início de 2024, dar voz a “Frei Maneco”, um pseudónimo de Manuel Fonseca de Victória Pereira, um poeta de humor e sarcasmo virtuais, com intervenção crua nas redes sociais, ao estilo de “Literatura de Cordel” (ler o texto de introdução “Uma Poesia Distópica para Míopes”, de E. Bonavena, na página 10).
Manuel Fonseca de Victória Pereira nasceu em 1958, ao Sul de Angola, em Moçâmedes, na Província do Namibe. Estudou no Instituto Superior de Ciências e Educação de Angola, foi professor, formador de professores e ocupou o cargo de vice-presidente no sindicato de professores de Angola, SINPROF.
Tem sido uma voz inconformada, com uma incisiva intervenção política, fruto do seu principal lema de vida: “Servir a sociedade e os seus ideais e mudar o que puder dentro das minhas possibilidades”.
Faz parte da tradição da família Victória Pereira a intervenção política e cultural. Na memória colectiva fica a intervenção musical “JÁ”, de Manuel Fonseca no concerto “Liberdade JÁ”, pela libertação dos presos políticos na República de Angola, no Elinga Teatro, em Agosto de 2015.
Neste pequeno livro, isento de qualquer censura, encontramos também um conjunto alargado de desenhos — irreverentes — de Manuel Fonseca.
A publicação da obra de “Frei Maneco” é uma homenagem dos amigos da escola primária 55, amigos de sempre, Pedro Lara, Mário Ferrão, Mário Vaz e Victor Torres.
É com profunda tristeza que comunicamos o desaparecimento físico do autor, advogado, jornalista e professor angolano, António Pinto.
António Pinto nasceu na Gabela-Amboim, na província do Cuanza-Sul, a 11 de Dezembro de 1937, foi aluno no Liceu Salvador Correia, licenciou-se em Direito com distinção, pela Universidade Independente de Angola (UnIA), em 2010. Faleceu a 29 de Janeiro de 2024, o funeral está marcado para hoje, 1 de Fevereiro de 2024, no Cemitério de Santana (Luanda).
Como jornalista, António Pinto, publicou mais de 500 peças no Correio da Semana, Jornal de Angola e Semanário Agora, entre 1998 e 2012.
Foi docente universitário, consultor jurídico e advogado, inscrito na Ordem dos Advogados de Angola.
António Pinto foi traído pela má interpretação das palavras do título de um livro
Publicou em 1974 o livro “13 Anos de Luta Armada. Porquê?” Um extraordinário “best-seller” (livro mais vendido), entre 1974 e 1975. Após o 25 de Abril de 1974, a população em Angola, maioritariamente sem cultura política, queria perceber o que se estava a passar. Mesmo por aqueles nativos, de origem portuguesa, que estavam a ser encaminhados para uma diáspora forçada na África do Sul, Brasil e Portugal, nas vésperas da independência.
O livro começa com uma declaração de António Agostinho Neto, em 1968, em Dar-es-Salan: “Para o MPLA nunca a existência de uma grande comunidade branca em Angola constituiu um problema em si, pois o nosso partido é por princípio anti-racista.”
Segundo António Pinto, nunca ficaram devidamente esclarecidas as reais motivações políticas que em 1976 ditaram que o livro “13 Anos de Luta Armada. Porquê?” Fosse retirado das livrarias angolanas.
Em 1977, em tempo de caça às bruxas que se prolongou até 1979, durante a construção da República Popular na sua fase mais acalorada e empenhada num socialismo radical, não surpreendeu que esta obra viesse a desagradar alguns sectores que consideraram este pequeno livro contrário à linha política e ideológica.
Anteriormente em 1976, durante a presidência do Doutor António Agostinho Neto, o livro foi objecto de uma análise promovida pela Comissão Directiva do MPLA e o autor, já militante do Movimento Popular de Libertação de Angola, foi chamado a depor, o que fez com a entrega de um extenso relatório justificativo de 38 páginas.
Capa do livro publicado em 1974, a imagem é da Associação TCHIWEKA de Documentação (ATD)
Fica a saudade
O nosso ponto de encontro era na marginal de Luanda, junto à fortaleza, e sou testemunha da tenacidade de António Pinto na construção da República, na verticalidade, no humanismo e acima de tudo no seu empenho em ser um homem melhor. Nunca desistiu, exemplo disso é ter concluído com êxito os seus estudos académicos aos 73 anos. Uma proeza que é também um exemplo para todos nós. À família e amigos de António Pinto desejamos muita coragem e muita força nesta hora difícil.
Em 2020 Tomás Lima Coelho, autor do compêndio “Autores e Escritores de Angola”, publicado pela primeira vez pela nossa editora em 2016, recomendou-me que falasse com o jornalista e escritor angolano José Soares Caetano (Tazuary Nkeita), uma vez que este escritor estava a organizar um conjunto alargado de textos publicados pelo seu pai, Maurício Francisco Caetano, para uma futura publicação em livro.
No início do ano passado (2022), em Luanda, na Universidade Católica de Angola (UCAN), tivemos o privilégio e o orgulho de apresentar o primeiro volume destes mesmos textos, “Os bantu na visão de Mafrano — Quase memórias”. Foi aí que pude observar o brio profissional da família de “Mafrano”, nesse grande exercício que foi a recuperação da sua obra, sem reservas, e a alegria na apresentação pública deste extraordinário trabalho. Um exercício que tem sido acompanhado pelos altos representantes da igreja católica em Angola. Nesse sentido, aproveito com esta “nota do editor” para convidar o Ministério da Cultura e Turismo da República de Angola bem como as embaixadas de Angola, espalhadas pelo mundo, para que se envolvam e descubram “Mafrano” (1916-1982), definido pelo arcebispo emérito do Lubango, D. Zacarias Kamwenho, como “antropólogo maior” de Angola.
Aproveito também para fazer o mesmo convite ao Ministério da Cultura de Portugal, para também os portugueses tomarem conhecimento da obra de Maurício Francisco Caetano, e quem sabe, propormos, em conjunto, este autor a candidato a um grande prémio literário. Será uma oportunidade para os portugueses descobrirem esse grande grupo étnico linguístico conhecido por “Bantu”, que chegaram a Angola vindos do Norte, dos Camarões e da Nigéria, conseguindo criar um grande pólo no antigo império do Congo. E que a partir daqui, se espalharam pela África Austral e mantiveram relações históricas e especiais com Portugal.
Maurício Francisco Caetano revela, ao longo das páginas deste livro, um nível cultural superior tanto relativamente à cultura africana como à europeia. Prova disso, é a quantidade de obras que vai referenciando ao longo das suas crónicas.
Está de parabéns a família pela coragem e dedicação para tornar acessível o conhecimento da obra deste autor. Um sonho que se tornou realidade.
A família de Mafrano
ATENÇÃO: Evento atrasado duas horas, vai ter início às 18h00, 25 Julho de 2023, no mesmo local: UCAN
Dom Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango e autor do prefácio de Os Bantu na visão de Mafrano– Volume I: “Felicito a Família de Maurício Caetano por nos brindar com mais esta obra”.
Ao tomar conhecimento do conteúdo desta obra, deparei-me com detalhes da História medieval de Portugal sobre os quais não estava suficientemente esclarecido, como por exemplo, a organização política da Península Ibérica, as relações familiares e de interesse de algumas personagens desse tempo e a sua proximidade com outros reinos da Península, mas também a revolução da burguesia na gestão política do reino, sem esquecer a concepção da ideia de “território-nação” do fidalgo Nuno Álvares Pereira.
Esta magnífica obra regista, numa perspectiva ibérica, integrada, e não ficcionada, a história dos antecedentes e do nascimento da 2.ª dinastia da monarquia portuguesa que lançou Portugal na aventura ultramarina, aventura essa que se prolongaria, à escala universal, por quase meio milénio.
Em pormenor, observamos um período de cerca de cinquenta anos do século XIV, com eventos interligados nos diversos reinos cristãos de Portugal, Castela, Aragão e Navarra que culminaram na subida de D. João I ao trono, em 1385.
É ainda incorporada na obra, a propósito da batalha do Salado (1340), uma abordagem breve da presença e da influência muçulmana na região peninsular e a sua redução final ao emirado de Granada. Sobre esta relação com os mouros aproveito para trazer à memória o multicultural brasão do “Reino do Algarve” (1249), que em 1471 foi transformado em “Reino dos Algarves“, devido à elevação dos senhorios do norte de África à condição de reino, vindo daí o título de “Rei de Portugal e dos Algarves d’aquém e d’além mar”.
É com enorme júbilo que regressamos, em 2023, à publicação em livro de textos de Sandra Poulson que nos apresenta desta vez uma verdadeira “manta de retalhos” de memórias perdidas no tempo, sendo uma parte dessas memórias ainda do desaparecido tempo colonial.
Nesta recolha de memórias de sua avó, a autora vai criando um fio condutor que tece um caminho literário, num diálogo permanente de vozes que nos levam a outros tempos, outras histórias e onde se escondem emoções que nos espelham possivelmente também emoções que guardamos.
E por lá descobrimos que o “cão tinha um pacto com o galo” e que “dinheiro não há”. Sentimos também o sabor da kissângua e as cores fortes dos panos mas também alegria da Vida. Ao apresentar aos leitores estas memórias a autora e o País estão de parabéns!
Recordo que em 2019 apresentámos em Lisboa o livro “TAMBWOKENU viagens pela minha terra”, uma verdadeira carta de amor a Angola, que merece ser descoberto em conjunto com este “MUKUA MILELE — Panos da minha avó” e eventualmente celebrado num grande encontro em Luanda.
Nota da autora Sandra Poulson
Este livro é um tecido de relações amorosas produzido de vários retalhos que fui cosendo e remendando ao longo de vários anos. Há mais de uma década que eu venho aprendendo a confecionar esta manta de retalhos, mesmo não tendo a menor ideia se ia conseguir ser perfeita. Comecei a apanhar alfinetes, que neste caso são palavras, depois enfiei uma linha numa agulha qualquer, destas que vagueiam por aí, peguei nos trapos, juntei-os com os alfinetes e comecei a alinhavar os retalhos. Se eu fosse designer, ao raiar da ideia traçava as linhas de criação na minha mente. Quando o lápis e o papel chegassem à minha mão desenhava a peça. Noutra altura já de tesoura em punho separava o trigo do joio e mais tarde alinhavava. Mas como sou uma simples cosedora de palavras, fui cosendo. Mas nada me parou. Ano após ano acrescentava mais uns pontos. Entretanto aprendi, não sei se bem, a fazer bainhas, circunscrevendo pequenos capítulos. Com o tempo abri casas, e para que estas não dilacerassem chuleei-as antes de coser os botões. Estes por vezes não casavam, e eu descosia e cosia outra vez. Como qualquer criativo, tenho alturas que paro. Depois de algum tempo estagnada retomei e aí reparei que os retalhos viraram trapos e velhos, e, alguns já com buracos, peguei numa agulha mais fina e em linhas de cor variada e fui cerzindo. Ainda não foi dessa vez. A peça adormeceu e tempos depois acordou. Quando despertou tinham decorrido mais anos. Reli e achei que eram só alinhavos. A determinada altura cortei os retalhos que não estavam conforme eu costurei na minha mente e avancei mais um pouco. Não sei se escrevi bem, ou tudo o que pensei. Mas escrevi. A maciez dos meus panos, que são de algodão, era tal, que a ficção e a realidade acabaram se dando encontro frequentemente, e cada uma delas tentou sobressair. Ambas queriam ser vedetas. Até que um certo dia eu pensei: as memórias são como as catedrais, a sua construção nunca acaba. Eu já alinhavei, já fiz casas, cosi os botões, até já cerzi pequenos buracos, agora vou recoser todos os pedaços e dar por terminada a minha obra de memórias ficcionadas. Deixo agora ao critério dos leitores a avaliação desta peça de corte e costura.
Patchwork Blanket
It is with great joy that we return, in 2023, to the publication of Sandra Poulson’s texts in book form, which this time presents us with a true “patchwork blanket” of memories lost in time, some of which are still from the disappeared colonial era.
In this collection of memories from her grandmother, the author creates a guiding thread that weaves a literary path, in a permanent dialogue of voices that lead us to other times, other stories, and where emotions are hidden that possibly reflect emotions we also keep.
And there we discover that “the dog had a pact with the rooster” and that “money is scarce”. We also feel the taste of kissângua and the strong colors of the fabrics but also the joy of life. By presenting these memories to readers, the author and the country deserve congratulations!
I recall that in 2019 we presented the book “TAMBWOKENU travels through my land” in Lisbon, a true love letter to Angola, which deserves to be discovered together with this “MUKUA MILELE – My grandmother’s fabrics” and eventually celebrated in a great meeting in Luanda.
Note from author Sandra Poulson
This book is a fabric of loving relationships produced from various scraps that I’ve been sewing and patching over several years.
For over a decade, I’ve been learning how to make this patchwork quilt, not having the slightest idea if it would turn out perfect. I started by picking up pins, which in this case are words, then I threaded a needle with any needle that was lying around, picked up the scraps, joined them with pins, and started basting the pieces together.
If I were a designer, at the dawn of an idea, I would sketch the creation lines in my mind. When the pencil and paper reached my hand, I would draw the piece. At other times, already with scissors in hand, I separated the wheat from the chaff and later basted it. But as I am a simple seamstress of words, I sewed.
But nothing stopped me.
Year after year, I added a few more stitches. In the meantime, I learned, not sure if it was good, how to make hems, outlining small chapters. Over time, I opened up seams, and so that they wouldn’t fray, I overcast them before sewing on the buttons. Sometimes the buttons didn’t match, and I ripped out the stitches and sewed them again.
Like any creative person, I have times when I stop. After some time stagnating, I resumed and then noticed that the scraps had turned into rags and old ones, and some with holes. I picked up a finer needle and threads of various colors and started darning.
But it wasn’t that time yet.
The piece fell asleep and some time later woke up. When it woke up, more years had passed. I reread it and thought it was only basting stitches.
At a certain point, I cut the scraps that were not as I had sewn in my mind and moved forward a little more. I don’t know if I wrote well, or everything I thought. But I wrote.
The softness of my fabrics, which are cotton, was such that fiction and reality often came together, and each one tried to stand out.
Both wanted to be stars.
Until one day, I thought: memories are like cathedrals, their construction never ends. I’ve already basted, made seams, sewn on buttons, even darned small holes, now I’m going to resew all the pieces and consider my work of fictional memories finished.
Now I leave it to the readers to evaluate this piece of cutting and sewing.
Vinte anos após a conclusão da imponente Ponte Infante D. Henrique que liga as margens do rio Douro, e as cidades de Vila Nova de Gaia e do Porto, o nosso autor Hugo Henriques, participou na construção deste grande empreendimento de 2000 a 2003, reuniu com os sobreviventes da equipa técnica que construiu este colosso em betão, em 2022, e recolheu e organizou a informação que agora publicamos em livro.
Esta é uma edição especial, da Perfil Criativo, dedicada à memória deste grande projecto das obras públicas em Portugal, a montagem da maior ponte em arco, na sua relação entre a flecha e o vão. Esta travessia foi concluída em 2002 e inaugurada em 2003. Neste livro apresentamos os bastidores desta realização e publicamos muitas informações técnicas da construção desta moderna ponte, como por exemplo: os desenhos, as correcções, os modelos matemáticos, a cronologia fotográfica da construção da obra, o betão, os cabos de retenção e toda a equipa envolvida.
Na reportagem fotográfica, mês a mês, é possível sentir a energia humana, internacional, usada na construção deste grande desígnio, sentido no poema “O Homem sonha, o Homem faz”.
Desta forma convidamos a população das cidades do Porto e Vila Nova de Gaia a virem conhecer melhor a Ponte Infante D. Henrique, e desta forma celebrar o desenvolvimento de Portugal. Aproveitamos esta oportunidade para recordar que o Infante Dom Henrique, nasceu na cidade do Porto, a 4 de Março de 1394 e faleceu em Sagres a 13 de Novembro de 1460. Foi primeiro duque de Viseu e primeiro senhor da Covilhã é também a mais importante figura ligada às Descobertas, conhecido como Infante de Sagres ou O Navegador. Foi o quinto filho de João I, fundador da Dinastia de Avis, e de Dona Filipa de Lencastre.
Por fim, uma nota para o falecimento do Professor Manuel Oliveira Marques a 22 de Junho de 2014.
Informações e Encomendas
PONTE INFANTE D. HENRIQUE — livro de prestígio disponível no final do mês de Março, com tiragem limitada para colecionadores, ISBN 978-989-53574-8-2 Encomendas com 15% de desconto.