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Universidades brasileiras promovem debates sobre a colectânea de Mafrano

Universidades brasileiras promovem debates sobre a colectânea de Mafrano

JORNAL DE ANGOLA (17/10/2023)

O docente universitário Kabengele Munanga, considerado o pai da moderna Antropologia Cultural no Brasil, confirmou a sua participação numa vídeo-conferência sobre a colectânea “Os Bantu na visão de Mafrano”, que está a ser organizada pela docente Lima Sueli de Lima, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).

A vídeo-conferência está agendada para o dia 10 de Novembro deste ano, às 10h00, horário de Brasília (14h00 em Angola). Um dia antes, a 9 de Novembro, pelas 19h30 (horário de Brasília), Kabengele Munanga vai animar um debate idêntico com o Centro Universitário Campos de Andrade, de Curitiba (Uniandrade), a convite da docente universitária Greicy Pinto Bellin.

Ambos os encontros terão a participação de estudantes, académicos, público interessado e membros da família de Maurício Francisco Caetano “Mafrano”.

Os Bantu na visão de Mafrano”, colectânea póstuma em três volumes e mais de 700 páginas, foi compilada a partir de trabalhos dispersos em vários jornais e revistas, entre 1947 e 1982, com ênfase para os jornais “O Apostolado”, “Angola Norte”, “O Angolense”, a Revista Angola da Liga Nacional Africana e o “Boletim de Finanças”, de que Maurício Caetano, o autor, foi correspondente, redactor e colaborador.

O seu vasto espólio literário inclui temas como Antropologia Cultural, “Crónicas ligeiras”, “Notas a lápis”, “Episódios Vividos”, “Tertúlias”, contos e textos lidos aos microfones da “Rádio Ecclesia de Angola”, a emissora católica. 

O autor estudou e observou hábitos e costumes autóctones em províncias como Malanje, Uíge, Cabinda, Cuanza-Norte, Bengo, além de Luanda, onde trabalhou como oficial de impostos dos então “Serviços de Fazenda e Contabilidade”, mais tarde Ministério das Finanças, a partir de Novembro de 1975.  

Mafrano nasceu na cidade do Dondo, em Angola, onde teve como tutor o sacerdote santomense José Pereira da Costa Frotta, que acompanhou toda a sua formação até à idade adulta.

O autor de “Os Bantu na visão de Mafrano” faleceu a 25 de Julho de 1982, aos 65 anos.

Poesia de Álvaro Poeira* na “Sanzala dos Brancos”

Poesia de Álvaro Poeira* na “Sanzala dos Brancos”

“Tem gente que levita na duna

que nunca comprou,

Tem alma que almeja areia ou grão

que nunca doou…

Tem ser humano que sabe de cor a corrente

do rio onde se banha a lágrima

e onde se brinca com o crocodilo, 

Tem mulher Himba que no calor

do meu ser é minha sem a ter, 

É bebé, é mãe, avó, é a natureza

que me serena… nem que seja num dia já

deitado, num livro pleno de frases sem hiena, leões, palancas, zebra, macaco, planta ou seca, mesmo sem pó…

Aiuê, aiuê, “tou” numa margem que

“tu não me vê…”

(…)

ÁLVARO POEIRA* in Minha Terra!

*Alberto Poeira e Álvaro Poeira, são pseudónimos de António Manuel Monteiro Mendes

António Manuel Monteiro Mendes

VICTOR TORRES**

Rua Paulo Inácio Guerreiro, na Sanzala dos Brancos, em frente ao Rádio Clube do Namibe, com um areal convidativo para umas futeboladas e umas corridas aos “papa-areia” que por lá andavam a debicar a semente do capim, os pequenos passaritos que sempre nos enganavam com os seus movimentos repentinos, esses movimentos que nos deveriam ter servido de antecipação ao fim de um sonho que só soubemos depois que era um sonho nunca sonhado nem imaginado, tal a inocência que nos assomava.

Foram assim os últimos tempos. Os que nunca julgámos que iam acontecer.

E que nos serviram para os outros tempos na terra dos outros. E que nos ensinaram a sobreviver na chamada civilização e a ter uma capacidade de resiliência, a que chamo mais de teimosia, que nos levou a vencer as dificuldades da vida material, mas não da espiritual ou a do sonho.

Porque esse ficou lá, na terra, no sítio onde nascemos, onde brincámos, onde nos formámos moralmente, sim, lá na nossa terra, a que temos cá dentro e a que nunca nos podem tirar do nosso sentimento, pois lá está por amor, é esse o segredo.

Entendo o teu recuo quando te digo: “vamos, vai ver o que sobrou de ti, vai olhar para a baía, para a praia, vai poetar o teu íntimo com o que os teus olhos vêem, abre-te, vai com o coração e deixa a incerteza fechada no teu bolso, não percas o que ainda podes fazer”.

Será que ias desconseguir? Será que ali, já não te saía a poesia de dor que te transporta, mas antes a alegria do amor escondido desde que chegaste à Tuga, como lhe chamávamos?

E o que farias? Será que te ias reencontrar neste retorno? Ou que ficarias de novo a vaguear feito Cazumbi? 

Vamos só mesmo tratar dos nossos no nosso Kimbo e continuar a viver nos sonhos, agora que sabemos que podemos contorná-los e adaptá-los a nós.

É esse o nosso poder, o de transformarmos, a nosso favor, o que acharmos…

…e a nunca mais nos expulsarem, pois o que temos no coração não se rende.

Vamo só na Poeira do Alberto poeirando no quintal do jipe, felizes, ao sol, de cabelos compridos ao vento como se o amanhã não existisse.

Companheiro, uma boa jornada!  

** In Prefácio do livro “SUL“. Victor Torres é autor do livro “Caraculo a minha paixão | Deserto de Moçâmedes (Namibe) | Álbum fotográfico do século XIX e XX” (Ed. 2020). Kamba do autor em menino.


Álvaro Poeira***

Todos os textos são da autoria de António Manuel Monteiro Mendes, bem como os seus pseudónimos.

Nasceu em 1959. Numa pequena povoação no norte de Angola. Mavoio. Junto ao rio Tetelo. Filho de pais sem posses, mãe doméstica e pai serralheiro mecânico, viajou com eles e sua irmã, por Angola. Pouco tempo foi.

Em 1974, foi expulso da sua terra Natal.

Não conheceu a casa nem a terra onde a sua mãe o deu à luz. Veio como refugiado para Portugal. Quebrado.

Em estilhaços que ainda hoje tenta colar.

Tem três filhas de dois casamentos.

Viveu em tantas casas que só algumas retêm a sua memória.

Escreve desde sempre. Este é um pequeno grito de outros milhares que redigiu. Sabe, tem consciência que outros contos, lendas, prosas poéticas e poemas barafustar sob um Embondeiro,aclamando na sua justiça, pela identidade do autor, que aqui teriam lugar.

Não dá… Um dia, todas letras voarão por lá…

*** Alberto Poeira e Álvaro Poeira, são pseudónimos de António Manuel Monteiro Mendes

Danilo Facelli Fierro: “primera recopilación de lo inacabado”

Danilo Facelli Fierro: “primera recopilación de lo inacabado”

DANILO FACELLI FIERRO*

En Marzo de 2003 leí por primera vez mis escritos ante un público. Veinte años después sigo haciéndolo. De hecho, la columna vertebral de mi trayectoria en el mundo del arte es la sucesión de palabras que se han ido juntando una detrás de otra.

Pero hace mucho más de veinte años, quizás hasta haga más de treinta, que empecé a trazar el recorrido desde y por la palabra. Aquí se recoge un pequeño puñado de este kilometraje casi infinito.

La recopilación que os presento es de escritos nacidos para ser recitados.

De hecho, algunos como te dejo o cuña publicitaria salieron primero de manera oral y se escribieron después. El grueso del libro se ha hecho en directo. Los textos han experimentado transformaciones a fuerza de presentarlos en escena.

¿Se le puede llamar poemas a lo que encontraréis aquí? Esto lo dejo a vuestro gusto y criterio. Yo todavía no lo sé. El papel y el escenario son soportes distintos, que necesitan distintas maneras de accionar con la palabra sobre ellos. Por mi parte, después de buscar múltiples maneras de nombrarlos, no he encontrado ninguna que se le acerque más. Así que de momento, lo dejo en poemas. Si alguien da con un término más acertado, por favor, que me lo haga saber para próximas ediciones.

Lo poco que puedo decir sobre los textos que componen Material Inflamable, es que después de recitarlos o leerlos en voz alta, por un lado me siento mejor y por otro se produce un acto comunicativo con el público, que va más allá del intercambio de información. Algo se mueve en el grupo que somos, y ese movimiento genera una sensación más agradable a la que había antes de empezar el recital. Así que poner en carne las palabras genera una mejora colectiva. Esta es la razón principal por la que sigo escribiendo.

Volviendo a la selección del libro, deciros que los poemas elegidos, ni están puestos por orden cronológico (Excepto el último) ni ninguno de ellos es de antes de 2008. Los textos que han decidido quedar impresos en estas páginas, son aquellos que se han ganado un hueco en mi repertorio recital tras recital y otros a los que les tengo un cariño especial. Eso sí, no he puesto poemas que ya estuvieran o vayan a estar en otros libros.

En esta públicación solo hay agrupaciones de palabras sin hogar familiar sólido (Varios de los poemas han salido en fanzines y plaquettes, pero nunca en formato libro).

También, cuando lleguéis al final, encontraréis una invitación a invitarme: una cronología en enunciados que se escribirá por capítulos, si recibo veinte invitaciones distintas de las personas que hayáis leído el libro. Ahora no creo que se entienda, pero cuando llegue el momento estará bien explicado.

Espero que disfrutéis de Material Inflamable tanto como yo disfruto escribiendo, recitando y leyendo en voz alta ante personas, animales, microorganismos diversos, plantas y árboles. 

Muchas gracias por estar con los ojos puestos sobre estas palabras, nacidas siempre al borde del precipicio.

Pero el prólogo no acaba todavía. Continuará como una enredadera apareciendo por aquí y por allá durante toda la publicación.

Esta frase me genera otra pregunta:

¿Un prólogo que se desarrolla entre las páginas del libro, es un prólogo?…

*In prologo


Danilo Facelli Fierro

Ser humano que ejerce de poeta a tiempo completo. Desde 2004 distribuye su obra poética en la calle. Entre 2005 y 2010 forma parte de las compañías aQúTeatro y Los Estupendos Estúpidos. En 2007 crea Vivir del Bolo, un proyecto escénico que combina poesía, teatro y música en directo. En 2016 dirige el espectáculo de circo (In)*finit de la compañía Zero. En 2017 publica el poemario Soñando Con y en 2018 el libro de aforismos Chupitos. En 2019 presenta la verbena poética del Festival Barcelona Poesía y es seleccionado para crear y representar Aldarri, una obra de teatro de calle creada para el Festival Eztena en Rentería, Gipúzkoa.

En 2013 diseña los contenidos de la formación teatral intensiva La Palabra Viva que continúa impartiendo hasta el día de hoy. Desde 2014 coordina el ciclo de poesía escénica Perifèric Poetry Mataró y entre 2017 y 2021 fue presentador, junto a Marc Rodrigo del Lokal de Risc, cabaret trimestral que se celebra al Ateneu Popular de 9 Barris

El año 2020 co-dirige Toca Toc de la compañía Pakí Payá y ganan el premio Zirkólika al mejor espectáculo de circo en carpa, también publica el poemario La Tierra y el Barrio y entra en El Laboratorio de los imposibles: un grupo de performers que se reúne para llevar a cabo acciones artísticas en diferentes ciudades de Catalunya. En 2021 ejerce de presentador virtual de Vociferio, Festival de poesía de València, participa en la performance téxtil Kapada de Georgina Marqués y actúa en el espectáculo de circo-teatro Shake, Shake, Shake de la compañía Pakí Payá

En 2022 estrenó los espectáculos La Tierra y el Barrio (Marzo) y La Vida es una Fuerza Oscura (Octubre). En 2023 ha dirigido el Combinat de Circ 59 del Ateneu popular de 9 Barris y celebra que hace veinte años de su primer recital de poesía.