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Rahmat Anwar Al Owaysi: “Quem partilha dá de si mesmo o que partilha”

Rahmat Anwar Al Owaysi: “Quem partilha dá de si mesmo o que partilha”

INTRODUÇÃO ao livro “Os Sufis e o Sufismo | Amor e Liberdade ou Religião ou Pertença” — Rahmat Anwar Al Owaysi

Não sendo o Sufismo uma via de regras, de mandamentos e ritualidade rígida e inflexível, isso não significa que não tenha em si mesmo uma estrutura e conceitos, os quais são transversais à maioria das diferentes comunidades (Tariqah) Sufi, seja qual for a sua linha de pensamento ou orientação espiritual.
Ainda assim, este livro não é, nem pretende ser, um qualquer livro ritualístico, nem tão pouco um manual detentor de quaisquer afirmações inquestionáveis, ou um manuscrito onde uma qualquer verdade única é revelada sobre aquilo que é o Sufismo, seja sobre como funcionam os seus rituais, ou ainda, sobre como se deve de fazer, o que quer que seja, para se ser Sufi.


No entanto, também não deixa de ser um livro onde princípios, metodologias e reflexões são partilhadas, com quem assim as quiser receber, sendo que todas estas partilhas são feitas com base nos resultados obtidos e vivenciados por quem as escreve. Mas todas as partilhas, aqui constantes, são tão somente isso mesmo, meras e simples partilhas.
Aquilo que aqui é apresentado como uma verdade é tão somente e apenas a verdade daquele que as escreve, ou ainda a verdade de todos aqueles que nessa verdade se revêm, ou que também a experienciaram. Este livro pretende desvendar um pouco sobre aquilo que é a mística existente no Sufismo e vivenciada por quem é iniciado nos seus caminhos, ou seja, os Sufis.
Esse desvendar é feito ao longo dos sete capítulos os quais constituem este livro e através dos quais tento levar junto daqueles que têm, ou possam vir a ter, alguma curiosidade sobre o Sufismo, aquela que foi e tem sido a minha vivência e experiência.
O objectivo não é converter, ou convencer, quem quer que seja em torno do Sufismo, mas tão somente trazer alguma luz, junto do mundo profano sobre o que é o Sufismo. Pelo menos é essa a minha esperança, ou  em último caso poder gerar alguma curiosidade e depois alimentar mais um pouco essa mesma curiosidade e assim levar, cada um daqueles que buscam saber mais sobre o Sufismo, a perceberem que apesar de todo o misticismo e  pseudo-encantamento em torno do Sufismo e dos Sufis, esta via não é claramente a sua via, nem sequer é assim tão encantadora, ou suficientemente satisfatória, se aquilo que pretendem encontrar é uma via onde exista uma única resposta para todas as suas dúvidas e pretensões.
Assim, no primeiro capítulo é feita uma ligeira abordagem aos motivos que levam o Ser humano a fazer as suas buscas. 
Todas as abordagens e temas contidos nestas páginas são feitos  e afirmados de acordo com a perspectiva de quem o escreve, sendo que para este humilde e velho caminhante, os principais pontos que levam o Ser a querer encontrar respostas, é a essência daquilo que está por detrás dos conceitos mundanos de paz interior e do amor, ou ainda sobre a possibilidade de poderem vivenciar uma condição de pleno amor, feita em total liberdade e sem qualquer sentimento de posse, ou seja, poderem experienciar viver um amor livre dentro desta, ou destas ditas sociedades normalizadas, regulamentadas e padronizadas.


No segundo capítulo o leitor é levado a fazer uma viagem pelo tempo, naquela que é uma muito pequena parte, sobre a origem e história do Sufismo. Também neste capítulo são partilhados alguns daqueles que são os princípios e tópicos que são estudados e trabalhados na via designada por Sufismo universal. 
Para além da partilha desses princípios e tópicos é também feita uma partilha sobre quais as origens do Sufismo, seja no espaço geográfico, seja ao longo do espaço temporal.
Neste capítulo são também especificadas algumas das características as quais acabam por distinguir e diferenciar os trilhos calcorreados em cada uma das muitas diferentes Tariqah’s Sufi existentes.


Já no terceiro capítulo, todos aqueles que lá conseguirem chegar vão poder ser levados a viajar por aquilo a que se designa por etapas e caminhos calcorreados por aqueles que a esta via se entregam falo daquilo que é designado por os sete vales do percurso espiritual de um Sufi. 
Este é sem dúvida um dos capítulos onde aquele que for dotado de um olhar mais cuidado e estiver realmente interessado, vai poder perceber, em cada uma das sete etapas, aquilo que todo aquele que se entrega ao caminho acaba por trilhar e vivenciar.
É ainda neste capítulo que aquilo a que muitos designam por Tasawwuf é descodificado, desmistificado e desvendado. 
Tasawwuf é uma palavra (ou termo) a qual é muitas vezes utilizada, mas que na maioria dos casos aqueles que a proferem não fazem a mais pequena ideia sobre o que nela está contido e o que significa.


No quarto capítulo é partilhado, com o mundo profano, alguns daqueles que são os processos e rituais levados a cabo e executados por alguns Sufis, quer aquando das suas práticas em grupo, ou nas suas práticas individuais. Mas mais uma vez é importante registar que de comunidade para comunidade, esses rituais podem variar ou nem sequer ser usados, pois no Sufismo, tal como em outras correntes místicas e esotéricas, existem sempre traços e características que as diferenciam entre semelhantes, mas que também acabam por permitir que os seus membros se reconheçam entre si e fora da sua Tariqah.


No quinto capítulo, escrevo sobre aquela que é a Tariqah Sufi Al Habib, bem como sobre aquele que é o perfil e traços gerais daqueles que se designam por Sufis Al Habib, assim como escrevo um pouco sobre quem foi o fundador da comunidade.
Talvez a parte mais crítica ou sensível deste capítulo seja a abordagem àquela que é a forma ou fórmula, que alguns usam para se tentarem afirmar e impor diferenças entre si e os demais. 
(…)
Tratando-se de um dos capítulos mais extensos, é também nele que estão contidos alguns dos princípios e métodos praticados nesta mesma comunidade, tais como a ligação entre o Murid (Aprendiz) e o seu Sheikh (Mestre), bem como aquela que para um Sufi Al Habib é a sua principal condição de entrega ao acto de servir e ainda sobre qual a posição da Tariqah Sufi Al Habib face aos demais grupos e comunidades Sufi existentes, assim como sobre aqueles que são os sete grandes objetivos do caminho de um Sufi Al Habib.
Neste capítulo podemos dizer que termina também toda a partilha daquilo que, mesmo podendo ser visto ou afirmado como diferente, acaba por ter a mesma base e por isso aceitação entre as mais diversas e diferentes correntes, ou escolas, do misticismo Sufi.


O sexto capítulo deste livro é seguramente o mais polémico e, quem sabe, o tudo aquilo que sobre este livro venha a ser dito ou escrito. 
É neste capítulo que é feita uma partilha muito íntima e por isso mesmo muito pessoal, daquilo que é, ainda que de uma forma muito resumida e breve, a minha reflexão como Sufi e como Sheikh fundador da Tariqah Sufi Al Habib, bem como sobre aquele que é o meu entendimento do Sufismo, sobre quem são os Sufis e ainda da minha visão, a qual é feita a partir de um ponto de vista estritamente pessoal e por isso mesmo totalmente deformada, sobre aquilo a que designo de falsas e verdadeiras religiões.


Por fim, no sétimo capítulo, são partilhadas algumas das muitas parábolas e histórias Sufi, as quais são, por norma, utilizadas entre os Sufis como a forma para conseguir levar, a quem as lê ou escuta, uma mensagem, cujo objetivo é tão somente fazer reflectir sobre o que nelas está contido e sobre o que, para quem assim quiser e for capaz, está muito para além do que por via da palavra escrita é possível partilhar. 
Todas essas parábolas e histórias perdem-se no tempo, bem como vão sendo adaptadas e reconfiguradas à medida e no formato de cada um daqueles que as recontam, pois tal como afirma o velho ditado “Quem conta um conto, sempre acrescenta um ponto”. 
Assim e por via desta curta e muito resumida introdução, espero ter sido capaz de vos levar a quererem ler e a tomarem como vosso este livro, usando-o não só para uma leitura, mas também para nele escreverem novas partes e registarem, se assim quiserem, as vossas notas, apontamentos ou críticas, as quais, para cada um de vós, façam sentido.
Esta é a principal razão por que entre cada capítulo são deixadas páginas em branco, por norma, as designadas páginas interiores.
Como autor, posso apenas afirmar uma coisa:
Este livro foi escrito com muito amor, com uma entrega total e suportado naquilo que é a simples e modesta partilha do ponto de vista e da verdade deste humilde caminhante. 
Verdade essa que por ser a minha verdade, vale o que vale. Se em cada pessoa que ler este livro, o meu sentir for entendível, então o gesto de o escrever fez todo o sentido e transforma um caminho individual, nesse mesmo caminho individual, mas que a partir deste instante passa a ser partilhado com quem se dispõe a recebê-lo.

Quem partilha dá de si mesmo o que partilha.

Quem recebe o que é partilhado e o toma como seu, recebe com amor a entrega daquele que partilha.

“Com Mafrano surge do silêncio o saudoso Cônego Frotta e o valor do Evangelho”

“Com Mafrano surge do silêncio o saudoso Cônego Frotta e o valor do Evangelho”

“Com Mafrano surge do silêncio o saudoso Cônego Frotta e o valor do Evangelho” saudação que Dom Zacarias Kamwenho, arcebispo emérito do Lubango e prémio Sakharov 2001, enviou à família de Maurício Framcisco Caetano (Mafrano) a 2 de Outubro de 2023.

Mafrano foi discípulo do Cónego José Pereira da Costa Frotta na Escola da Missão Católica do Dondo e no Seminário de Luanda.

O volume II da sua colectânea sobre Antropologia Cultural, “Os Bantu na visão de Mafrano — Quase memórias”, volume II, será apresentado amanhã quarta-feira, 4 de Outubro, no Centro Cultural Português, em São Tomé.