Archives em Agosto 2022

Viajantes procuram informações sobre a República de Angola

Viajantes procuram informações sobre a República de Angola

O livro de crónicas de Sandra Poulson, “Tambwokenu – Viagens Pela Minha Terra” (Ed. 2019), tem recebido uma atenção especial, na Feira do Livro do Porto, dos viajantes residente na cidade invicta. Fechada ao turismo nas últimas décadas a República de Angola tem seduzido a atenção de potenciais turistas nos livros em exposição neste importante festival literário de Portugal.

Sobre este livro no prefácio o escritor Pepetela afirma que a autora apresenta um filme de Angola, nas suas paisagens deslumbrantes e nas suas gentes hospitaleiras.

homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola

homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola

Hoje, 31 de Agosto, na Feira do Livro do Porto é dia de homenagem aos Autores, Escritores e Poetas de Angola. O encontro está marcado com o Livro do Dia, “Autores e Escritores de Angola (1642-2018)“, de Tomás Lima Coelho, que tem um desconto especial de 40%. Com esta obra inédita nos Países de Língua Oficial Portuguesa podemos descobrir milhares de livros e escritores especiais como José da Silva Maia Ferreira (1827-1881), Agostinho Neto (1922-1979), Uanhenga Xitu (1924-2014) e Alda Lara (1930-1962).

No nosso pavilhão (76) todos os livros estão disponíveis com descontos de 5% a 50%, uma oportunidade única para todos os curiosos da cidade invicta, que nos jardins do Palácio de Ferro, junto à Capela Carlos Alberto, podem descobrir uma Angola muito diferente da que é apresentada na televisão.

“Egosismo” de Orlando Castro na Biblioteca Almeida Garrett (convite)

“Egosismo” de Orlando Castro na Biblioteca Almeida Garrett (convite)

Lançamento do livro de poemas “Egosismo” (Ed. 2022), de Orlando Casto, no próximo Domingo, 4 de Setembro 2022, às 19h45.

A Biblioteca Municipal Almeida Garrett é uma biblioteca pública situada nos Jardins do Palácio de Cristal, na freguesia de Massarelos, na cidade do Porto, Portugal. O edifício, da autoria do arquitecto José Manuel Soares aloja, para além da biblioteca, uma galeria, uma cafetaria com esplanada e um pequeno auditório.


PREFÁCIO | Eugénio Costa Almeida (ou Lobitino Almeida N’gola)

Quando o poeta é livre como o catuituí, nada há que o engaiole…*

Diz o adágio popular que de poetas e loucos todos temos um pouco. Eu acrescentaria de poetas, de loucos e de projectistas, na realidade além de tudo termos um pouco, também todos somos pouco realistas.


As nossas realidades estão sempre para além do que é convencionalmente definido como normal. Caminhamos sonhadores na lua, navegamos indolentes nas ondas marinhas dos nossos pensamentos, planamos nas vagas livres do vento. Ou seja, de facto, somos loucos, mas…


Somos loucos, porque queremos sempre mais e melhor o impossível, no que a verdade mostra, na maioria dos casos, ser impraticável, inexequível; como projectistas, nem sempre – em muitas vezes, nunca – conseguimos transmitir e reproduzir, convenientemente as nossas, para alguns estapafúrdias, ideias; como poetas, não raramente, somos pouco levados a sério porque brincamos com as palavras, fazemo-las dançar e misturamos a realidade concreta com a emoção afectiva, por vezes, dolorosa.


Por isso – e a culpa, uma grande parte da culpa do que nas palavras sou, é dele – me senti tanto honrado, como à vontade, para prefaciar esta obra de Orlando Castro.


Não vou me alongar muito sobre quem é – ou na lírica, mas não romântica, definição de José Filipe Rodrigues continua a ser, – Orlando Castro. Direi que a escola lhe disse que, se porfiasse, jornalista seria. Mas Orlando não quis ser só isso: ele é poeta e dramaturgo, pensador livre sem pensos para curar ou calar, jornalista firme nas ideias e nas convicções. Mas também, alguém que tem dado a mão e lançado nas acéticas páginas brancas de muitas folhas muita gente, Angolanos, principalmente ainda que não unicamente, que procuravam ser escritores.


Tem sido um Kamba que, alguns muitos, se acoitaram na sua simpatia, no seu companheirismo, no seu saber e, depois, se esqueceram de retirar as pedras que ele, como todos nós, foi encontrando ao longo deste seu sinuoso caminho que a vida lhe concedeu.


Alguns, muitos – embora Orlando Castro nunca o mostre claramente e nunca os denunciou –, não só não lhe tiraram as tais pedras no caminho como ainda ajudaram a montar mais pedras que lhe atulhassem essa vereda da vida.


Só que os poetas têm uma virtude, para muitos estranha, para outros, incompreensível, para outros mais, esotérica: as pedras no caminho não são escolhos, mas partes de uma via que nos fortalece e nos torna melhores entendedores das “loucuras”, do “farol”, da “desleixação” que – eternamente – “fecunda” o poeta, como Orlando Castro nos mostra no seu poema “Poeta” inserido na primeira parte da obra.


Orlando Castro tenta nos caracterizar a sua poesia, principalmente aquela que vem do seu mais profundo sentimento de Angolanidade, como se de um moderno bardo se cuidasse que canta as profundas mágoas que se adivinhavam, à época – como adiante perceberão –, na História nacional.


O seu primeiro livro de poesia, escrito e publicado na sua, então, Nova Lisboa – Huambo –, em 1975, intitulado “Algemas da Minha Traição” – que mereceu um louvor de um dos membros do então Colégio Presidencial do Governo de Transição, José Ndele, conforme se pode constatar pelo fac-simile da página 6 [a confirmar, posteriormente pelo editor] – mostrava já o que Orlando Castro previa, como todos nós que amamos o nosso País o sentíamos: Angola tinha entrado num perigoso vórtice que iria mudar a vida de muitos.


Mas, Orlando Castro, tal como todos os que sentem Angola como a proteína indispensável para uma boa e correcta fluidez sanguínea, sentia que teria, ou poderia vir a ter, a necessidade de procurar paragens, outros chãos, de certa forma agrestes – sempre que de nós saímos, / em nós nos enfermamos, / nos desconformamos, / e outros chãos nos achacam (inédito ) –, para não calar o sentimento que nele crescia de trovar o chão-pátrio onde o sol é mais forte, o vento mais longe as loas leva e a chuva mais pura a vida torna, na esperança de, como António Agostinho Neto cantou, Às casas, às nossas lavras / às praias, aos nossos campos / havemos de voltar. Porque, como Tomaz Vieira da Cruz escreveu, cantando a nossa Angola, esta é Jardim que é sol em cada flor selvagem, / Jardim que é febre em cada fruto amargo”! / E as flores dessas montanhas aromáticas, / céus e paisagens dramáticas, / são iluminuras / de apagadas criaturas / sepultadas nos caminhos / por onde a raça existe para além desses caminhos. / Caminhos que são almas legionárias / marcando novos trilhos…


E foi o que Orlando Castro procurou, fez, escreveu no período de 1975 a 1980 e que agora nos dá a ler. Com a devida vénia a Jorge Dario Santos Lapa, em comentário ao livro de Óscar Ribas, Misoso, “trata-se de um documento muito pessoal e cheio de valor sócio-cultural e até histórico” como se poderá ler nas cerca de 180 páginas que compõe o seu, e, em breve, nosso “Egosismo”.


A obra está dividida em duas partes e temporalmente compila toda uma colectânea de poemas que escreveu nos primeiros anos do seu – e ainda inacabado – nomadismo por terras lusitanas.


São versos, são carmes, que cantam e desafiam o seu mais íntimo ser, os seus mais profundos e introspectivos neuro-alvéolos, num desencadeamento livre, mas não desocasionados, são fluidos, mas não esconsos, são livres, mas não despendidos.


São versos, são poemas, que nos transportam para uma realidade dura e crua onde o autor sentiu que um terrível abalo lhe transmitiu uma nova verdade mais desnuda, mais desapiedada, mais neo-real. Tão real como na ode “Arco-íris do desterro” em que o autor descanta Vou sorrir, para ti bonina violeta, / No lídimo rosa do vento / Vou erguer meu roxo punho; / Soprar a bonómica laranja corneta, / Chorar a branca alegria, sem talento / Da guerra, bélica negra sem cunho.


Apesar de Orlando Castro temer – não esqueçamos, recordo, qual o período temporal a que esta obra se reporta – que o seu e nosso País entrasse, como trovoa no poema “Angola desespero” onde Filhos dolentes / Sem braços / Chorando; / Mães descrentes / Sem passos, / Orando. também se encanta na temperança e na esperança de um horizonte longínquo que o pólen derramado haveria de fazer florir numa Angola mais livre, mais fraterna, mais cristalina, mais próspera como se infere nestas primeiras estrofes do poema “Não chores poeta” Porque choras poeta / Que vagueias na minha rua / Lacrimejando o odor de uma fonte; / Diz-me qual a tua meta, / Amemo-nos como uma nuvem nua / Que se fecunda no pólen do horizonte.


Refirmando pelo eterno princípio da palavra, é a doce loucura do poeta que nos faz caminhar sonhadores pelo platinado luar, navegar indolentes nas ondas marinhas das nossas ideias, planar pelas desocupadas frívolas noites do vento livre que nos permite, ainda que sem perder o são sentido linear de um bom e claro trilho, estar desperdido da realidade e temperado na preservante vontade de nada deixar esmorecer.


Como escreveu aquele que alguns consideram o maior poeta romântico britânico William Wordsworth (1770-1850) – poeta, não escritor lato senso, que este é, como comummente é reconhecido, William Shakespeare (1564-1616), – no poema “O Carvalho de Guernica”, Como podes florir em tempos tais? / Que esperança o Sol te traz, ou que alegria? / São-te trazidas pela maresia, / Ou por leves orvalhos matinais? / Benvindo seja o golpe que em ti caia, / E em terra alongue a tua fronde imensa, / Se nunca mais, à sua sombra densa, ou seja, Orlando Castro não tendo a perene idade do secularíssimo carvalho, onde os Reis Católicos, Fernando TII e Isabel, de Espanha, prometeram, em Guernica, em 1476, que Biscaia veria os seus foros sempre respeitados, é todavia, um Mais Velho respeitado não só pela sua principal arte profissional, o Jornalismo, como pela poesia nos continuou a transmitir após este período temporal que o “Egosismo” nos transmite.


Como depois de um cataclismo natural, vem sempre a bonança e a fruição temperadas com os viridantes frutos da engenhosidade humana, espero – esperamos – que emerja uma nova obra complementar ao “Egosismo” porque, e como referia Orlando Castro sobre o seu primeiro “fruto” das florestas da província do Huambo, “Algemas da Minha Traição”, que para ele, valia o que valia, mas, sobretudo, mostrava que nunca há comparação “entre o que se perde por não tentar e o que se perde por fracassar”.


Até lá, porque esta obra não irá fracassar, desbravemo-la como se pelas chanas Angolanas penetrássemos esquecidos do tempo e embalados pelos alegres e sonoros chilreios do catuituí.

* Eugénio Costa Almeida (ou Lobitino Almeida N’gola) Investigador académico, ensaísta, escritor e poeta (nas horas vagas, quando as há…) Algures nos aromas atlânticos em 20 de Dezembro de 2021

Feira do Livro do Porto 2022

Feira do Livro do Porto 2022

26/08/2022 — Regresso das nossas editoras à Feira do Livro do Porto, nos jardins do Palácio de Cristal, com a visita do Presidente da República de Portugal, Marcelo Nuno Duarte Rebelo de Sousa, que revelou no nosso pavilhão (76) um interesse especial pelos livros de autores de Angola, tendo adquirido uma generosa colecção de livros. De partida para Luanda para participar no funeral do Presidente José Eduardo dos Santos, o Presidente de Portugal revelou à Comunicação Social presente uma grande paixão pelo Livro.

Palácio de Cristal recebe grande festival literário

Palácio de Cristal recebe grande festival literário

As editoras Alende (Angola), Perfil Criativo (Portugal), Elivulu (Angola), Panguila – Niterói (Brasil), Livraria Kiazele (Angola), Centro Documental Tomkiewicz (Portugal) vão estar representadas na Feira do Livro do Porto, entre 26 de Agosto e 11 de Setembro de 2022, pela AUTORES.club (Pavilhão 76).

A Feira do Livro do Porto, fundada em 1930, é desde 2014 organizada pela Câmara Municipal do Porto e decorre anualmente nos Jardins do Palácio de Cristal.

Mais uma vez a AUTORES.club terá disponível para os leitores da cidade invicta a maior representação de Autores, Escritores e Poetas de Angola. Os nossos descontos vão de 5% a 50%, uma oportunidade única a não perder na Feira do Livro do Porto.

Hoje, 26 de Agosto, os Livros do Dia da Feira são do escritor Jonuel Gonçalves “Economia e poder no Atlântico Sul. África do Sul | Angola | Argentina | Brasil” (Ed. 2022) e “E agora quem avança somos nós – Romance” (Ed. 2022).


FEIRA DO LIVRO DO PORTO 2022

26 AGOSTO — 11 SETEMBRO

Jardins do Palácio de Cristal

HORÁRIO

SEG A QUI 12H — 21H
SEX 12H — 23H
SÁB 11H — 23H
DOM 11H — 21H                  

LOTAÇÕES E BILHETES

ATIVIDADES NO AUDITÓRIO DA BIBLIOTECA MUNICIPAL ALMEIDA GARRETT

Entrada gratuita sujeita a levantamento de bilhete no Balcão de Informações da BMAG, 1h30min antes do início da atividade. Entrega limitada a dois bilhetes por pessoa, até à lotação da sala.

Lotação Auditório: 186 lugares mais 4 lugares reservados a mobilidade condicionada.

TERREIRO DA CASA DO ROSEIRAL

Entrada gratuita.

Número de lugares sentados: 150

CONCHA ACÚSTICA

Entrada gratuita.

Número de lugares sentados: 150

LAGO DOS CAVALINHOS

Entrada gratuita.

Número de lugares sentados: 150

EXTENSÃO DO ROMANTISMO

(TERREIRO)

Entrada gratuita.

Número de lugares sentados: 300

História da ANOP e NP (1975-1986)

História da ANOP e NP (1975-1986)

JORGE LACÃO in prefácio do livro “Heróis Anónimos: Jornalismo de Agência” (Ed. 2016)

Heróis anónimos: jornalismo de agência” fez perpassar sob o meu olhar – como certamente o fará perante o dos leitores que se embrenharem na leitura do livro – uma autêntica saga. A de quantos, ao longo de décadas, foram protagonistas de um verdadeiro drama, no caso o da emergência de uma comunicação social lutando por desempenhar essa função estruturante da liberdade que é a da realização do direito a informar e a ser informado.


O foco foi colocado, pelos autores, num ciclo temporal de meados da década de setenta a meados da de oitenta do século passado, seguindo as várias etapas dos primórdios, nascimento, crescimento, vigência, agonia, sobrevivência, morte e… ressurreição das agências noticiosas no nosso País. No mainstreaming da história feita de muitas histórias avulta, como não poderia deixar de ser, a ANOP e a Notícias de Portugal. Avulta, isso sim, uma impressionante recolha de dados, situações, percursos e testemunhos que põem em evidência as tensões, contradições, avanços, retrocessos e buscas de compromisso num tempo onde palavras como estabilidade política e tranquilidade de gestão parecem quase sempre arredadas. Não por qualquer arbitrariedade imposta pela revisitação histórica promovida pelos autores mas porque, efetivamente, os contextos da época visada projetam ao longo das densas páginas do livro um sem número de episódios e percalços a que sociedade e instituições estiveram sujeitas, em sucessivos processos de ajustamento e de tateante busca de novos caminhos.


A história das agências noticiosas aqui relatada está longe de evidenciar os variadíssimos sobressaltos do processo político – não é esse o objeto do livro – tal como ocorreram desde os alvores da Revolução de Abril. Porém, ao longo das suas páginas, é sempre bem visível o quanto as mutações políticas influenciaram (para não dizer determinaram) o destino das agências noticiosas, sempre dependentes, ontem como ainda hoje, do patrocínio financeiro público. Em face do que difícil seria conceber um estado de não controvérsia em relação a questões tão relevantes como as da salvaguarda da independência da atividade informativa, dos modos de ligação institucional às tutelas governamentais, das garantias destinadas a assegurar a autonomia de orientação por parte dos órgãos sociais das agências e, necessariamente, quanto à própria natureza destas. Clássicas empresas públicas? Entidades cooperativas? Regies-cooperativas? Com que cooperantes, os produtores de notícias (jornalistas e trabalhadores de agência) ou os utilizadores delas (os demais meios de comunicação social)? E, recorrentemente, que posição final do Estado na estrutura estatutária?


Para quem, como o autor deste despretensioso intróito, face às circunstâncias limitadas do mercado nacional dos media, sempre considerou o valor estratégico de uma agência noticiosa no perímetro público da comunicação social, o grande problema sempre foi o de saber como salvaguardar a atividade jornalística dos riscos de intromissão do poder político e, naturalmente, do poder económico.


Ao longo do tempo têm-se sucedido as respostas. Primeiro, na crença do papel decisivo dos conselhos de redação e, em geral, do (entretanto extinto) Conselho de Imprensa. Paralelamente, na consagração de órgãos externos de garantia da independência, objetividade e pluralismo da informação. Ocorreu assim, nos anos iniciais da democracia, com os conselhos de informação, cuja composição refletia a matriz partidária do parlamento e em muito prolongava uma visão partidocrática da função “fiscalizadora” dos meios de comunicação social. Mais tarde, com a extinção destes, sobreveio uma entidade independente com previsão constitucional, que, com diversos perfis de composição e competência, se foi afastando mais do registo partidário no desempenho das suas funções. Como quer que seja, com a diminuição do peso do setor público da comunicação social, a relevância dos órgãos de fiscalização oscilou entre ganhar e perder relevância, num quadro que é hoje mais pacificado quanto aos riscos das ingerências partidárias mas bem mais complexo no que diz respeito às exigências de transparência. Em particular no que diz respeito (ou deveria dizer) ao controle das estruturas de capitais das empresas, por um lado, e à defesa da natureza jornalística do exercício do direito a informar, por outro. Basta lembrar as transformações em marcha nas modalidades de acesso e partilha de material noticioso, na revolução tecnológica em curso nos domínios da comunicação e da informação, para percebermos o quanto as inovações ameaçam ir mais rápido do que as respostas institucionais suscetíveis de garantir a efetiva independência dos profissionais do jornalismo.


Ao mergulharmos na leitura de “Heróis Anónimos”, por não ser esse o propósito da obra, não encontraremos aí respostas doutrinárias para aquilatar da melhor ou pior validade e adequação dos modelos institucionais de comunicação. Mas encontraremos uma profusão de factos e sequências que dão dos acontecimentos vividos (por dentro, muitas vezes), em torno das agências noticiosas, um panorama extraordinariamente objetivo e exaustivo do que foram os seus dramas existenciais entre 1975 e 1986. Com muita investigação, rigor e exigência de verdade.


Através do livro fica documentada, através de um exercício impressionante de pesquisa e de registo, uma época de grandezas e misérias na comunicação social portuguesa. Acontecimentos, situações e vivências retratadas com preocupação constante pela tradução rigorosa do que foi, sem a interceção subjetiva dos autores. Que aonde se permitem deixar expresso algum juízo de valor, sempre o fazem na decorrência de uma clara e isenta documentação dos casos sobre que se pronunciam, com notável seriedade intelectual. No final, não parecem ter uma tese para provar. Antes, a preocupação de deixar para a posteridade a lembrança viva de um tempo pleno de marcas na vida de um sector tão relevante para a estruturação da sociedade democrática.


Também marcas de vida para muitos dos protagonistas que durante anos experimentaram um clima constante de incertezas e quanto ao futuro com que poderiam contar. À distância que a voragem do tempo implica, seria certamente estulto pretender esboçar juízos perentórios quanto a motivações e a resultados de muitos dos comportamentos descritos. Mas a prudência de julgamento não impedirá o leitor de se surpreender em relação a tantos procedimentos e caminhos erráticos com que se deparará neste livro. E não o impedirá de verificar quantas dessas errâncias foram o resultado de instrumentalizações demasiado obvias, quase sempre da responsabilidade direta ou indireta do poder político.


Na minha qualidade de Deputado cheguei a partilhar (como para o final do livro se dá conta) alguns dos momentos mais angulosos do debate político, particularmente em torno da situação da ANOP. Bem mais tarde, coube-me exercer uma fugaz tutela governamental em relação à LUSA, e restante sector da comunicação social, em todo o caso num contexto bem mais tranquilo face ao passado, em particular ao passado das agências noticiosas.


Em qualquer dos casos, de meados da década de 80 do século XX aos do final da primeira década do século XXI, o tema que sempre me acompanhou foi o de saber como garantir melhor a independência do direito a informar e a plenitude de realização do direito a ser informado. Hoje as ameaças, mais difusas ou concentradas, têm a sua sede principal nos poderes económicos privados, titulares maioritários dos meios de comunicação social. Não creio, todavia, que o risco das influências politico-partidárias possa ser dado como negligenciável. Pela simples razão de que, no caso em apreço, voltámos ao monismo de uma só agência noticiosa nacional carente do financiamento público e continuamos – e bem – a manter uma posição pública no setor do audiovisual, através da RTP e da RDP.


Quando, incidentalmente, na esfera governativa, admiti a possibilidade de agregação (sem perda de identidade) de algumas valências dos meios disponíveis no sector público, por exemplo para projetar uma rede mais consistente das delegações externas, tão importantes para a projeção internacional do País e para a diáspora portuguesa, bem como para a promoção internacional da língua, logo despertaram as tradicionais resistências à mudança que, ontem como hoje, são um pão nosso de cada dia.


O que todavia se impõe é fazer da transparência o alfa e o ómega das políticas públicas de comunicação social.


Transparência foi o que menos ocorreu nos conturbados processos que envolveram o destino das duas agências, com derivas kafkianas que à distância do tempo impressionam pelo que deixam revelado quanto à obsessão de manter sob influência política esse poderoso instrumento que constitui o serviço de informação de uma agência noticiosa.


No meio das tormentas, vários foram os pescadores de águas turvas e os relatos apresentados documentam-no suficientemente. O que mais ressalta, porém, é o esforço e a dedicação de muitos, que os autores qualificam de heróicos, anónimos uns ou melhor identificados outros, na concretização de uma vivência de liberdade democrática, então todos os dias reivindicada e frequentemente posta em causa ou em crise.


Depois de ler o livro, que por vezes faz lembrar um thriller, ocorre imaginar a construção de um argumento para uma obra de ficção, mas não menos realista, relativa às lutas do poder e às instrumentalizações de que é capaz.


Terá de ser sempre assim?


Como sempre, há uma resposta otimista e outra pessimista sobre a questão. E nenhuma delas é definitiva.

Wilton Fonseca, António Santos Gomes e Mário de Carvalho
Heróis Anónimos Volume 1
Heróis Anónimos Volume 1

Filipe Mukenga: “sou um músico autodidata”

Filipe Mukenga: “sou um músico autodidata”

“Muito jovem, despertou para a música ao som dos cânticos da Igreja Metodista. Cresceu com o rock, da década de 60. Descobriu os ritmos e as melodias da música tradicional e apaixonou-se. Explorou a música popular angolana, o jazz. Juntou todas as influências e criou alguns dos mais expressivos temas da música nacional das últimas décadas. Aos 72 anos, continua à procura de novos desafios.”
A jornalista Susana Gonçalves, da revista Austral, desafiou o compositor, durante o lançamento do disco “Canto Terceiro da Sereia: O Encanto” na Universidade Independente de Angola, “a recordar momentos de vida e companheiros de percurso, exercício que resultou numa sucessão de ternas
memórias e revelações que ajudam a contar a sua história.”

Uma grande entrevista na revista “Austral” nº 152 de Agosto-Setembro de 2022.

3ª edição do livro/disco “Marítimos” (2022) que incluí disco “Canto Terceiro da Sereia: O Encanto” está disponível para entrega.

Ler com liberdade!

Ler com liberdade!

A Leitura e a Liberdade são os desígnios das publicações da Elivulu, fundada em Angola, em Junho de 2019, pelo jornalista e ativista pelos direitos humanos, Sedrick de Carvalho. É uma editora independente e generalista, ciente da responsabilidade social e cultural do trabalho editorial. Segundo o seu responsável é um empreendimento em permanente evolução que prima pelo rigor e qualidade das suas obras.

Os seus livros estão disponíveis em Angola e Portugal. Podem facilmente ser encomendados para qualquer parte do mundo.

Os livros publicados pela editora vão estar disponíveis na Feira do Livro do Porto de 26 de Agosto a 11 de Setembro de 2022, no stand 76 da AUTORES.club. A Feira do Livro do Porto vai funcionar em 2022 no seguinte horário: abertura de segunda a sexta-feira, às 12h00; abertura aos sábados e domingos, às 11h00; encerramento de domingo a quinta-feira, às 21h00; encerramento às sextas-feiras e sábados, às 23h00 e está localizada nos jardins do Palácio de Cristal, junto ao pavilhão Rosa Mota, na cidade do Porto.